Preparação para receber a Eucaristia

Minha Mãe e Senhora do Santíssimo Sacramento, preparai-me Vós mesma para receber Nosso Senhor, dando-me todos os bons movimentos de alma, os bons impulsos para que eu tenha presente o que vai acontecer de extraordinário, a honra imensa que vou ter porque rezastes por mim e, por isso, vosso Divino Filho vem a mim.

Quando comungáveis, Vós compreendíeis inteiramente a grandeza desse ato. Peço-Vos, pois, que adoreis a Deus em meu lugar, porque não sou suficientemente grande para O adorar. Vinde espiritualmente à minha alma e cuidai de vosso Divino Filho como O tratáveis na Terra, porque não sou capaz de fazê-lo devidamente.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 5/1/1974 e 6/2/1981)

Caminho para a devoção eucarística

O devoto da Santíssima Virgem encontrará  no Coração de Maria o próprio Coração de Jesus, naquilo que este Coração tem de mais amoroso, mais terno e mais compassivo. Ora, onde mais se manifestam as finezas do Coração de Jesus é na Sagrada Eucaristia.

Assim, a devoção a Nossa Senhora leva natural e espontaneamente à devoção eucarística. E é aí — neste culto à Eucaristia, que só pode ser plenamente fervoroso com o culto mariano, pelo culto mariano e no culto mariano — que os católicos encontrarão o alimento de sua vida espiritual.

 

Eucaristia

Ao recebermos o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, devemos imaginá-Lo vindo à nossa alma da mesma forma como Ele entrava na casa dos doentes que ia curar: com afeto, semblante sereno, transbordante de bondade, disposto a ouvir e desejoso de fazer o bem. Em seguida, operava o milagre, concedia a graça.

Tal é o amor com que o Deus infinito olha para nossa alma e nos espera. É para tal intimidade que nos convida. Nunca seremos tão íntimos de alguém quanto de Nosso Senhor, na Sagrada Eucaristia!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 15/9/1973)

Corpo, Sangue, Alma e Divindade…

Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente na Sagrada Eucaristia, entra em contato conosco de um modo todo especial: de alma a alma! Cristo vem a nós quando comungamos. Nas páginas a seguir, Dr. Plinio nos sugere um modo eficaz e piedoso para bem aproveitarmos as graças que recebemos neste divino convívio.

 

Quando eu era menino, nas aulas de catecismo perguntava-se à criança se ela cria que Nosso Senhor Jesus Cristo estava realmente presente na Sagrada Eucaristia. Ela deveria dar uma resposta que me ficou até hoje nos ouvidos, muito bonita, como eram as respostas do catecismo: “Creio que Ele está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade”.

Nosso Senhor Jesus Cristo não possui corpo humano e alma divina: sua Alma é humana como a nossa. Se Ele não tivesse alma humana, não seria verdadeiramente homem. Ele é Homem-Deus, com duas naturezas, a humana e a divina, estando a humana hipostaticamente unida à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Para bem comungarmos, devemos ter presente a seguinte verdade: não vemos Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Ele está presente na Sagrada Eucaristia como esteve na Casa de Nazaré, em Betânia — com Marta e Maria —, nos braços sagrados da Santíssima Virgem, na Cruz.

E na Comunhão Nosso Senhor Jesus Cristo penetra em nós.

“Caro Christi, caro Mariæ”

Qual é a força da presença de Nosso Senhor Jesus Cristo em nós quando comungamos?

Imaginemos Nosso Senhor no seio imaculado e puríssimo de Nossa Senhora. A Santíssima Virgem, pelo fenômeno natural da geração, foi Lhe dando elementos para que seu Corpo se constituísse. Sendo Deus, desde o primeiro instante de sua Encarnação Ele possuía inteligência, mantinha comunicação direta, altíssima e insondável com a Santíssima Trindade, e recebia continuamente o culto de Nossa Senhora, a qual sabia que o Redentor estava presente n’Ela. Durante os meses da gestação, Nossa Senhora ia formando o Corpo de Jesus e fazia atos de adoração, de amor, cada vez maiores, porque conhecia o processo pelo qual Ele estava passando.

A Carne e o Sangue Sagrados d’Ele eram carne e sangue imaculados de Maria Santíssima.

“Caro Christi, caro Mariæ”, dizem os teólogos: a Carne de Jesus Cristo é a carne de Maria. A presença física de Nosso Senhor no claustro imaculado da Santíssima Virgem era tão íntima, interna, que determinava como que uma interpenetração das almas, assim como havia uma interpenetração dos corpos. E isso tornava a presença d’Ele extraordinariamente fecunda para sustentar ainda mais aquela montanha luminosa e cristalina de santidade que foi Nossa Senhora.

Cristo presente em nós pela Sagrada Eucaristia

Através da analogia com a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo no claustro de Maria Santíssima, podemos, então, compreender o que é a presença eucarística em nós.

Ele entra em nós e, enquanto permanece, há uma ação d’Ele sobre todo o nosso ser. E como o nosso ser é composto de corpo e alma, Ele misteriosamente entra em contato santificante com nossa alma. E sendo nossa alma o que temos de mais alto, mais nobre, mais essencial, essa é a bem-aventurança extraordinária que cada um de nós recebe no momento em que comunga.

Durante o período em que as sagradas espécies ficam em nós sem se corromperem pelo fenômeno da digestão, temos Nosso Senhor presente em nós, agindo misteriosamente em nossa alma. Para compreendermos a ação de Nosso Senhor sobre nossa alma durante a Comunhão, recordo um fato muito bonito, narrado pelo Evangelho(1).

Jesus estava andando, e uma mulher enferma que queria ser curada por Ele, vendo aquela turbamulta em torno do Divino Mestre, desejosa de ouvi-Lo e vê-Lo ou ficar livre de alguma doença, não pôde chegar pela frente. Então, ela, por detrás tocou na túnica sagrada d’Ele. Nesse momento, Jesus voltou-se e perguntou: “Quem tocou em Mim?”, porque — diz o Evangelho — sentiu que uma virtude tinha saído d’Ele e passado para outra pessoa.

Quer dizer, Ele percebia que uma força — nesse caso, evidentemente, tratava-se de uma força vital — que saía d’Ele e, transmitida para aquela mulher, curou-a.

Ora, se uma pessoa com Fé, tocando em Sua túnica podia ser curada, o que significa recebê-Lo inteiro dentro de nós? É uma graça que não se pode medir.

Contato de alma a alma

Imaginemos uma pessoa que vai todos os dias à casa de alguém e com ele conversa. Se for uma pessoa distinta, preclara, eminente, santa, honrará a casa. Muito mais importante do que isso será o convívio de alma a alma. Conversam, e alguma coisa do talento, da nobreza, da excelência, das virtudes ou da santidade da alma do visitante é comunicada ao visitado.

Em grau imensamente maior, a Sagrada Comunhão nos proporciona esses bens, porque Nosso Senhor tem um contato conosco muito mais íntimo do que um visitante em nossa casa. Entrar no nosso corpo e ter ali esse contato de alma é como que uma interpenetração.

Suponhamos que Nosso Senhor Jesus Cristo entrasse agora neste auditório. Teríamos a reação a mais viva possível: todos nós nos prosternaríamos para dar passagem a Ele!

O Evangelho nos fala das várias atitudes de Nosso Senhor. Aquelas que mais me tocam são de duas espécies. Uma é quando Ele se dirige ao Padre Eterno; suas palavras são lindíssimas, humílimas. Ele é Deus, mas também Homem. E se víssemos um homem como nós rezar a Deus daquele modo, com aquela humildade, mas ao mesmo tempo com aquela intimidade, nos sentiríamos nesse sulco de luz, quase que transportados para o interior da Santíssima Trindade. Imaginemos que Ele ficasse aqui sobre o estrado deste auditório e, como diz o Evangelho, postos os olhos no céu, elevasse a voz dizendo: “Meu Pai…” e começasse a rezar…

Para mim, as orações de Nosso Senhor são mais bonitas do que seus sermões e de tudo quanto Ele fez. É natural, pois falando com o Pai Eterno, Ele diria coisas mais belas do que para nós, a quem Jesus disse palavras tão admiráveis que até o fim do mundo não se terá acabado de estudá-las.

Suponhamos ainda que, além de rezar, Ele olhasse e dirigisse palavras a Nossa Senhora — para mim é a segunda coisa mais tocante. O último olhar do Redentor para Ela do alto da Cruz, que coisa maravilhosa! Eles se entreolharam e disseram, um para o outro, coisas indicativas do máximo do respectivo convívio. Nunca se saberá até o fim do mundo qual foi o esplendor dessa troca de olhares!

Se víssemos aqui Nosso Senhor falar com o Padre Eterno e depois com Nossa Senhora, faríamos deste local uma capela.

Eu dizia ser necessário considerarmos Quem vamos receber e a imensa honra, o benefício incalculável a nós concedido por Aquele que assim entra em nós e se digna de estabelecer conosco aquela união.

Bondosa visita

Não devemos ter apenas a sensação da honra, mas também da bondade. Nosso Senhor, na Sagrada Eucaristia, fica horas e horas sozinho, trancado num tabernáculo, isolado, numa capela onde apenas arde a lamparina do Santíssimo Sacramento. Muitas vezes as pessoas passam diante do templo e ninguém para para rezar, e Ele está ali à espera de alguém que venha comungar. O Redentor, então, se dá a qualquer um, entra em seu corpo e toma contato com sua alma para fazer-lhe o bem.

São Pedro disse a respeito de Nosso Senhor esta frase que me pareceu muito bonita, de uma simplicidade e profundidade assombrosas: “Pertransiit benefaciendum — Ele passou fazendo por toda parte o bem”(2). Nos lugares aonde ia, as pessoas mais pecadoras eram por Ele recebidas com bondade. Assim, durante a Comunhão devemos ter confiança de que Ele não é um juiz severo, mas um pai bondoso, um médico infinitamente poderoso e desejoso de nos perdoar.

Agirá de acordo com a condição de escravo de Nossa Senhora, segundo a espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort, quem se preparar para a Comunhão em união com Ela, pedindo-Lhe as graças necessárias. É assim que eu me preparo, dizendo à Santíssima Virgem: “Minha Mãe, preparai-me Vós para esta Comunhão, pondo-me na alma todas as boas idéias, todos os bons impulsos, para eu ter presente o que vai acontecer de extraordinário e a imensa honra que receberei. Porque rezastes, vosso Filho virá a mim”.

Em união com Nossa Senhora tudo se consegue.

Consideremos agora a entrada de Nosso Senhor em nós.

Antes da comunhão, se diz: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Quer dizer, sou indigno de comungar, mas sede Vós o ornato da casa onde deveis entrar, enchei-a das luzes dignas de Vos receber. Recebida a partícula em nossa língua, fazemos um ato de adoração e imediatamente a deglutimos.

Métodos para bem aproveitar a Comunhão

Há, entre outros, dois métodos de comungar. Um deles consiste em ter algum pensamento que nos tomou o espírito, nos interessou tanto que, durante o tempo de ação de graças, continuamos a desenvolvê-lo(3).

Existe outro método que eu, por cautela, sempre emprego quando sigo o primeiro. Às vezes, preparo-me para a Comunhão muito rapidamente, porque há tanto tempo comungo diariamente que essas idéias facilmente se me tornam presentes. Ao receber a hóstia, mesmo tendo o pensamento focalizado em algum ponto relacionado com a Sagrada Eucaristia, faço os atos que a seguir explicarei.

Filosoficamente, os atos de culto que um homem pode prestar a Deus são: adoração, ação de graças, reparação e petição. Ainda que sumariamente, devemos realizar esses quatro atos por meio de Nossa Senhora, quer dizer, pedir-Lhe que os faça conosco.

Adoração

Por exemplo, quanto à adoração: “Minha Mãe, sei que minha adoração não é nada em comparação com a vossa. Adorai Nosso Senhor junto comigo!”

Maria Santíssima atende meu pedido. Então, devo imaginar como Ela, no Céu, está adorando a Ele presente em mim. Mas não se trata de uma imaginação; é uma coisa real que devo tornar presente ao meu espírito.

Consideremos agora algo um tanto mais complicado, mas que espero tornar claro. Há vários modos de compreender esta adoração. Um deles pode ser assim formulado: Nossa Senhora é a síntese das santidades de todas as pessoas boas que houve, há e haverá na Terra até o fim do mundo. Ou seja, a forma de santidade de cada uma, Ela possui de um modo excelso, inimaginável. Cada pessoa é diferente da outra, e uma alma que se salvou, em algo dará glória a Deus como ninguém o fez antes, durante, nem depois da vida dela. Cada um dos que estão neste auditório, desde o mais jovenzinho até eu que sou o mais velho, é capaz de adorar a Deus, fazer ação de graças, reparação e petição de um modo como só ele realizaria. E Nossa Senhora possui, à maneira d’Ela, todos esses modos.

Podemos, então, fazer-Lhe um pedido assim:

“Minha Mãe, entre vossas excelsitudes incontáveis há uma perfeição por onde fazeis de modo sublimíssimo aquilo que especificamente eu realizo. E no vosso modo de adorar a Deus existe um filão que é a arqui perfeição do meu modo de fazê-lo.

“Então, eu me uno a Vós para adorar vosso Divino Filho, como se eu estivesse falando ao Redentor com um alto-falante celeste. Ainda que fosse gago e rouco, minha voz se tornaria encantadora porque passou a ser vossa voz, ó minha Mãe.

“Vou agora adorá-Lo, e Vós, ao mesmo tempo, o fareis de modo insondavelmente perfeito.”

Podemos, durante a Comunhão, adorar Nosso Senhor em algum dos aspectos de sua vida terrena. Admiro e adoro, de modo especial, o mistério da agonia no Horto das Oliveiras, quando houve a crucifixão de sua Alma sagrada.

Então, adoremos a Nosso Senhor, lembrando-nos, por exemplo, de sua agonia no Horto ou nos braços de Nossa Senhora, ou simplesmente enquanto Ele tendo a bondade de vir visitar-me. Eu O adoro em união com a Santíssima Virgem, a qual, em certo sentido, é arqui-eu mesmo.

Há uma outra maneira de fazer adoração, considerando como Nossa Senhora adora o Divino Salvador de um modo insondável, como nenhuma pessoa foi capaz de fazê-lo.

Podemos, então, dizer: “Meu Deus, eu quereria Vos adorar como Nossa Senhora Vos adora. Aceitai minha boa vontade. Ofereço-Vos toda a adoração que Ela tem por Vós”.

Repetindo. No primeiro modo, referi-me a Nossa Senhora adorando o Divino Salvador exatamente — se assim se pode dizer — na linha em que eu adoro.

Mas Ela não se limita a isso, pois contém todas as adorações do presente, do passado e do futuro da humanidade, inclusive as adorações dos que pecaram e não adoraram. Assim, posso pedir à Santíssima Virgem que não ofereça a Ele apenas o meu modo, mas o d’Ela de adorar, dizendo a Nosso Senhor:

“Senhor, Vós vindes agora à minha casa. Muito mais do que a mim mesmo, tenho uma boa surpresa para Vos oferecer. Aqui está vossa Mãe, adorando-Vos não do único modo como sei adorar, mas de todos os modos de adorações, em todos os tempos e lugares, inclusive das que não foram feitas, as quais estão Vos sendo apresentadas por Ela em meu nome. Ó meu Senhor, é um presente verdadeiramente régio!”

São dois modos, como a face e o reverso de uma medalha.

É possível que, pela graça obtida por Nossa Senhora, o que estou dizendo lhes toque a alma. Porém, não se trata de meras expansões sentimentais, mas tudo é raciocinado como os elos de uma cadeia. E se não fosse raciocinado, para mim não haveria beleza. Explicações onde não entra o raciocínio claro, certo, controlado, sério, afinado com a doutrina da Igreja, à qual nos entregamos com toda a alma, não valem nada. Devem elas estar conformes à razão controlada pela Fé. Se for puro sentimento, não admito.

De fato, estou desenvolvendo aqui uma tese.

 

Continua no próximo número…

(Extraído de conferência de 16/7/1977)

 

1) Mc 5, 30.
2) At 10, 38.
3) Conferir Dr. Plinio, nº 143, página 17.

A Eucaristia, eixo da piedade católica

Quão sensível era Dr. Plinio à ideia de um universo aberto, no qual a Igreja Triunfante e a Penitente se unem à Militante! Entusiasmava-o considerar a ação da graça divina, dispensada a rogos de Maria em favor de todos, e impetrada pelos méritos infinitos do Santo Sacrifício de Jesus, renovado nos altares do mundo inteiro.

 

Vós falastes sobre a tríplice devoção ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e ao Papa. Monsenhor Segur, prelado francês do século XIX, chamava essas três devoções de “rosas dos bem-aventurados”. Podemos dizer que são as três rosas dos contrarrevolucionários. Vós pedistes que se destacasse, na exposição de hoje, a parte referente à Sagrada Eucaristia. Este é um dos temas a respeito do qual mais gosto de tratar.

Embora todos compreendam uma mesma verdade objetiva, cada um deita a tônica da atenção num determinado ponto

Uma vez que me pediram para tratar da devoção ao Santíssimo Sacramento enquanto vivida por mim, eu gostaria de começar por ressaltar o seguinte:
Todo ato de piedade tem a sua justificação teológica; se não deitar raiz na Doutrina Católica de nada vale. Mas não basta ter fundamento na Doutrina Católica, porque nossas almas não são como páginas em branco de um livro, nas quais se pode escrever livremente. São almas vivas, que recebem as coisas e vivem em relação a estas. Todas as pessoas compreendem uma mesma verdade objetiva, mas cada uma deita a tônica da atenção num determinado ponto, de modo diferente das demais pessoas.

E um dos encantos do convívio humano consiste nisto: comunicar o que, entretanto, não se pode dizer. Vendo o outro que está ao nosso lado, percebemos que ele notou alguma coisa que não chamou tanto a nossa atenção; houve uma repercussão na alma dele, diferente da nossa; não sabemos exprimir, mas algo nós sentimos.

Uma das coisas que tornam a companhia de uma pessoa mais agradável ocorre quando, por exemplo, visitando um museu, apreciando uma cena humana, considerando um panorama, essa pessoa deixa entrever o que cogita, mas não diz.

Embora pouco se fale sobre esse assunto, isto se aplica às verdades da Fé.

A ação de Nossa Senhora se adapta a cada alma

Quando conhecemos uma verdade da Fé, sentimos em nossa alma uma repercussão que, embora não consigamos exprimir, é o melhor do que degustamos.

Por exemplo, analisemos o modo de nossas almas reagirem diante da imagem de Nossa Senhora que se encontra neste auditório(1). É impossível olhá-la sem sorrir; é impossível olhá-la sem que uma forma de otimismo da Fé sopre em nossa alma.

A ação de Nossa Senhora sobre cada alma se adapta de acordo com seu caráter único, de tal modo que é irrepetível. E na história de todas as graças concedidas por Maria Santíssima — no Céu isso se verá —, há incontáveis reações possíveis à vista dessa pequena imagem, indicando as inúmeras modalidades de Nossa Senhora ser graciosa.

Todos aqui estão prestando atenção na reunião, mas, às vezes, pelo movimento natural da cabeça, do corpo, dos olhos, olham para a imagem. E notam que ela reluz em sorrisos, como as pedrazinhas da imagem reluzem também. Conforme o lugar em que a pessoa está sentada, pequenas pedras se acendem em cor verde, vermelha, ou azul. A pessoa, então, se contenta e diz: “Oh! Nossa Senhora!”

É um carinho único que Ela tem para cada um de nós. Porque cada um é o filho único de Maria Santíssima. Ela é tão completa e tão perfeita como Mãe, que, a bem dizer, é como uma pessoa para cada filho. Nossa Senhora é Mãe do Unigênito, do Filho por excelência, e São Luís Grignion de Montfort gosta muito de considerar uma frase da Escritura: “Homo et homo natus est in Ea”(2). Ou seja, uma sucessão indefinida de homens nascerão d’Ela; gerando a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santíssima Virgem gerou para a vida espiritual todos os homens.

No Céu, isso poderá ser visto, e creio que quase se poderia fazer uma invocação especial de Nossa Senhora, ou até muitas invocações, para cada ser. Penso até que todos os seres no Paraíso cantam as invocações da Santíssima Virgem que lhe são próprias, as quais são as invocações da Igreja, mas com acento próprio de cada ser, e esse conjunto forma a harmonia dos coros celestes.

O assunto está preparado — dessa vez a preparação foi longa — para tratarmos da Sagrada Eucaristia.

O ato de piedade máximo — a recepção da Comunhão — deve repercutir, especialmente, em nossa alma

Se isto é assim com todos os atos da piedade católica, claro está que o será com o ato de piedade máximo: a participação da Santa Missa e a recepção da Comunhão.

A Missa é a renovação incruenta do Santo Sacrifício do Calvário, em que Nosso Senhor Jesus Cristo Se ofereceu como vítima expiatória por todos os homens; Ele, o Homem-Deus, Inocente, na sua natureza humana passou pelo castigo que Adão nos mereceu, e resgatou todos os homens.

No momento em que o sacerdote pronuncia as palavras da Consagração, a hóstia é consagrada, transubstanciando-se no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Da renovação deste sacrifício do Divino Redentor resulta esse dom inapreciável: a visita d’Ele às nossas almas.

O inefável da Sagrada Eucaristia sentido pela alma católica

Se Ele estivesse sensivelmente presente — realmente presente está —, e eu pudesse ver, por exemplo, um pequeno movimento de sua mão divina, e observar seu pulso, considerando que ali pulsa o Sagrado Coração de Jesus, uma vez que a pulsação do Coração se reflete nessas veias! Dessas pulsações divinas vive tudo quanto tem vida na ordem espiritual das coisas. Que respeito!

Se eu conseguisse, além disso, apalpar a orla de seu manto como aquela mulher que ficou curada ao tocá-la(3)! E se pudesse com esse ato atingir, num só momento, o grau de santidade que quereria obter, não era natural que eu rejubilasse inteiramente?

Recordo-me das palavras de um salmo e que acho uma beleza: “…se regozijarão os meus ossos humilhados”(4). Um indivíduo está reduzido a ossos, a uma caveira; pode ele estar numa situação mais baixa? Mas é dita uma palavra por Nosso Senhor e a caveira se refaz, ressuscita de júbilo!

As palavras d’Ele são de vida eterna. Ouvir uma palavra de Jesus! Ele está na Hóstia; eu não O vejo, mas creio.

Chega a hora de eu comungar, e Nosso Senhor vai estar realmente em mim.

Será que Ele não vai me dizer nada?

Sim, no interior de nossas almas, Ele dirá:
— Meu filho, quando dois estão juntos, um sente o outro. Será que quando Eu estou em ti não sentes nada? Ouve a linguagem silenciosa de minha presença, que não te fala aos ouvidos.

Às vezes, o silêncio diz de uma pessoa o que a expressão da fisionomia, as maneiras ou modo de ser, ou a palavra, não chegam a exprimir.

“Meu filho, tu sabes disso? Presta atenção em Mim! Eu estou em ti, a graça te fala. Tu não sentes nada?”

Assim é o inefável da Sagrada Eucaristia que a alma católica sente.

Posso dizer o que sinto.

É algo que comunica luz, amor, força. E permanece em nossa alma, embora para muitos pareça ser passageiro.

Então, pela Sagrada Comunhão, para os assuntos da Fé a inteligência fica mais perspicaz; quanto ao amor, torna-se mais aberto para tudo quanto é virtude; em relação à força fica-se mais pronto para tudo quanto é sacrifício, e a vontade de lutar se multiplica por si mesma.

Como uma Missa celebrada na Terra repercutirá no Céu?

Essa é uma hora de grande solenidade, para a qual devemos impostar a alma numa posição de veneração, gravidade e seriedade.

Eu não posso deixar de pensar, quando vai se aproximando a hora da Consagração, no que estará se passando de soleníssimo, festivo, vitorioso e grandioso no Céu neste momento. Que alegria e glória para Deus! Ainda que o Céu e a Terra tivessem sido criados para que houvesse uma só Missa, estava tudo justificado.

Ao se iniciar uma Missa, não estarão os Anjos — empregando uma linguagem antropomórfica — solenemente se preparando? Eu imagino que, nesse momento, o Céu deva estar como uma corte quando vai se realizar um ato mais grave e mais augusto do que a coroação de um rei.

Pouco depois do tilintar das campainhas, termina a Consagração, o Céu reluzirá de glórias.

A Santa Missa causa terror nos demônios!

Falei da comunicação das almas entre si na Terra. E também a respeito da comunicação mais perfeita das almas no Céu, bem como da visão beatífica. Entretanto, essas considerações ficariam incompletas se eu não acrescentasse o seguinte: embora, de certo modo, toda a Criação tenha sido considerada sumariamente, falta algo: o inferno.

Quando a Consagração se aproxima, eu imagino que o inferno fique aterrorizado, ele deve rugir de ódio e gostaria de fazer explodir o mundo para evitar que se celebrasse uma Missa. Ele sabe a derrota renovada que sofrerá.

A celebração eucarística relembra para Satanás o momento de sua derrota

A derrota dele se deu no momento em que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu e o gênero humano foi resgatado. Houve um sabá horrível lá embaixo, em que todos se agatanharam e se atormentaram em termos indizíveis.

A Missa é a renovação incruenta do Santo Sacrifício. E todas essas vergonhas para o demônio se acumulam.

A Alma santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, não abandonando jamais a união hipostática, foi ao limbo — com alegria prodigiosa de todos os justos, a começar por Adão e a coroar-se por São José — e levou todos para o Céu.

Podemos imaginar Jesus que, chegando ao limbo, falou para todos sobre a Redenção. Adão e Eva, que estavam esperando a milhares de anos… Santo Adão, Santa Eva aguardavam o momento em que aclamariam o Filho deles. Eles, pecadores, aclamando o Filho Redentor.

A Missa é a renovação incruenta do Santo Sacrifício. E todas essas vergonhas para o demônio se acumulam.

Quando a pessoa comunga, o demônio recua

Quando estivermos no Céu, talvez tenhamos algum conhecimento — que não nos molestará em nada — dos rugidos do inferno, e veremos o negrume hediondo, horrível, do mal; e então cantaremos com redobrado vigor porque estaremos esmagando os demônios.

O maligno faz tantas infiltrações nas almas, e as remexe sadicamente, porcamente, criminosamente. Quando a pessoa comunga, cresce nela essa luz do senso católico, essa força, esse amor; o demônio recua e fica torturado.

Ao se aproximar o momento de receber a Sagrada Eucaristia, podemos dizer contra o demônio: “Recuarás agora, bandido! Eu vou comungar!” De recuo em recuo, depois das expulsões provisórias chegará à expulsão total.

Aí estão as considerações que povoam a minha alma por ocasião da Comunhão.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de Conferência de 13/11/1982)

1) As conferências de Dr. Plinio davam-se, normalmente, com a presença de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima.
2) Sl 86,5.
3) Cfr. Mc 5,25-31.
4) Sl 50,10.

Divina visita

Qual não seria nossa alegria ao saber que à porta de nossa residência está um personagem ilustre, o qual veio nos visitar? Como o receberíamos?

Imaginemos que, de repente, parasse diante de nossa casa um magnífico Rolls-Royce, e dele descesse um ajudante de campo, esplendidamente fardado, tocasse a campainha e anunciasse a chegada da Rainha da Inglaterra, dizendo:
— Aqui mora fulano de tal?

A criada que o atendesse diria surpresa:
— Sim, é aqui que ele mora.
— Então abra as portas porque Sua Graciosa Majestade, a Rainha Elisabeth II, veio fazer-lhe uma visita a fim de demonstrar toda a estima que tem por ele, e aqui permanecerá por dez minutos. Imediatamente se abririam as portas, e nós não saberíamos o que fazer para agradecer à rainha que estaria honrando nossa casa com sua presença.

Mais ainda do que honrar a casa, ela nos estaria beneficiando com o seu convívio: quando se trata de um visitante tão especial, algo de sua nobreza, de sua excelência, de seu talento é transmitido ao visitado.

***

Pois bem, haveria algum propósito, ao cabo de dez minutos, nós dizermos à rainha: “Majestade, me desculpe, mas esta conversa está demasiado cansativa. Precisaríamos encerrá-la”?

Pelo contrário, ficasse a rainha o tempo que quisesse, multiplicaríamos nossos esforços para conseguir que ela permanecesse onze minutos em vez de dez; e, caso conseguíssemos, pensaríamos: “Está vendo? Ela iria ficar aqui por dez minutos, mas porque eu sou simpático ficou onze.”

***

Ora, quando na Sagrada Eucaristia, Jesus penetra em nós, dá-se um convívio infinitamente mais intenso do que aquele da visita feita pela Rainha da Inglaterra.

Na Sagrada Comunhão, Nosso Senhor Jesus Cristo visita nossa alma intimamente; não se trata de algo externo ao nosso ser — como visitar nossa casa —, mas sim, de algo interno: Ele entra em nós.

Poderíamos, após esta visita de Nosso Senhor, estar contando os minutos para encerrar nossa ação de graças?

Pelo contrário, devemos fazer uma compenetrada ação de graças após a Comunhão; e para isso é indispensável que para ela nos preparemos bem, adequadamente, tendo bem presente o ato maravilhoso e grandioso que vai se dar.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 19/2/1971 e 16/7/1977)

Eucaristia – Mane nobiscum Domine

A Sagrada Eucaristia constituiu um dos principais pilares da espiritualidade de Dr. Plinio. Inaugurando a seção “Ardoroso devoto da Eucaristia”, procuraremos dar a lume o amor que transbordava de sua alma: “A boca fala do que transborda o coração!” No presente artigo, Dr. Plinio nos ensina a bem nos prepararmos para a Sagrada Comunhão.

Para compreender a variedade de métodos e modos que há para realizar a ação de graças e a preparação para a Comunhão, é necessário compreender o modo pelo qual a graça trabalha as almas. O Apóstolo São Paulo afirma que “stella differt stella”(1) — uma estrela é diferente da outra. Desta forma, não existem dois santos iguais, pois cada qual tem sua vida espiritual própria, com características inconfundíveis. E, como não pode deixar de ser, a graça guia cada alma no caminho da virtude de acordo com seus desígnios, proporcionando atrativos, ou também aversões, que modelam o espírito e indicam o itinerário que a alma deve seguir.

Portanto, não se pode dizer que um método de preparação para a Comunhão é igualmente válido a todas as almas.

Entretanto, São Luís Maria Grignion de Montfort possui um ponto de vista marial para a Comunhão, onde ele coloca Nossa Senhora como mediadora entre Deus e quem recebe a Eucaristia. Isto sim é valido para todos os católicos, em todos os tempos e lugares. Sendo a variedade de métodos imensa, descreverei, então, um que possa ser benéfico a todos.

Ação de graças por meio de Maria

Sendo Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Maria Santíssima é perfeita. Ele A criou com tudo quanto Ela deveria possuir para ser sua Mãe. Concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser; Virgem antes, durante e depois do parto, de tal forma perfeita, que em todos os instantes de sua vida nunca deixou de corresponder inteiramente à graça de Deus, estava numa altura inimaginável de virtude quando chegou o momento bendito em que Deus resolveu colhê-La da Terra para o Céu!

Nossa Senhora é também Mãe de todos nós, e a Mãe tem sempre pena do filho mais esfarrapado, mais torto e mais desarranjado. Quanto pior o filho, mais Ela se compadece.

Devemos, pois, ao receber a Eucaristia, nos colocar na presença d’Ela como filhos necessitados, implorando que Ela tenha pena de nós. Naturalmente, Ela sempre se compadecerá em relação aos seus filhos. E quando o Divino Filho d’Ela vier a nós na Comunhão, será por sua intercessão.

Contudo, o pedido feito por Maria a seu Divino Filho, é que Ele entre na “cabana” que é a alma de cada um de nós. Mas essa “cabana” pode ser ordenada e enfeitada por Nossa Senhora, para que esteja agradável a Ele. E, como a intercessora é a própria Mãe d’Ele, Nosso Senhor se sentirá comprazido.

Por isso devemos pedir que Nossa Senhora esteja espiritualmente presente em nossa comunhão a fim de que preencha, de algum modo, o infinito espaço que nos separa de seu Divino Filho, o qual nos acolherá satisfeito por havermos recorrido à sua Mãe. Ele então nos dirá: “Tu és um filho de Maria, minha Mãe; pede-me o que queres”. Ao que devemos responder: “Senhor, antes de pedir, eu Vos agradeço! Quanta bondade, quanta misericórdia! Mas, como agradecer-Vos suficientemente? Suplico, pois, à Vossa Mãe — que também é minha — que agradeça por mim”.

Servir-se das moções espirituais na preparação para a Comunhão

Ao nos prepararmos para a Sagrada Comunhão, devemos também rememorar alguns momentos do dia que tivemos, como também as perspectivas do dia que ainda teremos diante de nós. Não me refiro aos problemas corriqueiros, mas sim, aos de nossa vida espiritual.

Supondo que se faça uma Comunhão vespertina, devo me perguntar como foi meu dia em matéria de vida espiritual: o que necessito, o que desejo, o que mais profundamente tocou minha alma e o que a atraiu mais durante o dia. Isto mais facilmente nos estimulará a um ato de amor, de louvor e de reparação mais perfeitos.

Caso haja um pensamento que considere ser mais fecundo para minha alma, é louvável concentrar nele minha atenção. Muitas vezes esses pensamentos correspondem a um atrativo especial da graça à alma.

Podemos também apanhar uma invocação de alguma ladainha que tenha tocado mais especialmente, por exemplo, a do Sagrado Coração de Jesus, e meditar sobre ela. Este é um modo muito vivo — e para muitas etapas da vida espiritual, excelente — de nos preparar bem.

Uma das invocações muito bonitas nesse sentido é: “Coração Eucarístico de Jesus”. Meditando nesta jaculatória, adoramos Nosso Senhor enquanto tendo o desejo de instituir a Eucaristia, movido por aquele amor especial que Ele demonstrou na última ceia: “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia”.

O Coração Eucarístico de Jesus, transbordante de misericórdia, vem a nós na Comunhão; peçamos então que o Imaculado Coração de Maria nos prepare para bem recebê-Lo, a fim de que na Sagrada Eucaristia recebamos especialmente as graças que dizem respeito ao cumprimento de nosso chamado individual.

Este é um modo bonito e lícito de variar as ações de graças e as preparações para a Comunhão, quase ao infinito, de acordo com a inclinação e as aspirações da alma.

Aridez e consolação: benefícios distintos, porém, eficazes!

Haverá também ocasiões onde nossas Comunhões — segundo a linguagem muito adequada da piedade católica — serão áridas. Assim como a terra árida não produz fruto, temos, muitas vezes, a impressão da aridez em nossa alma: comungamos e não sentimos nada.

Reza-se e pede-se, mas tem-se a sensação de que nossas súplicas foram meros termos piedosos sem nenhuma profundidade. Nessa situação, qual o valor de aproximar-se do sacramento da Eucaristia? A pergunta que parece ser tão razoável, quando bem analisada mostra-se infantil.

Seria como a pergunta de uma pessoa que toma um remédio cientificamente certo de produzir um bem incalculável. Após a ingestão, e nos dez minutos que se seguem, não se sente melhora alguma. Neste caso, diríamos que tal medicina é ineficaz? Claro que não: seus efeitos se prolongarão no decurso dos dias, e até dos anos. Só então sentir-se-á a melhora desejada.

Algo parecido dá-se, sem dúvida, com a Sagrada Comunhão. Muitas vezes comungamos, mas a ação de graças é árida; abrimos um livro de piedade, mas o livro não nos inspira nada; temos impressão de que não adiantou rezar.

Ora, Deus visitou minha alma, mas a presença d’Ele foi inútil? Aquele que é Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, de todas as maravilhas, esteve presente em mim, e não me fez um bem sequer?

Devemos ter presente que, não raras vezes, a Comunhão inteiramente árida traz, em si, mais vantagens para a alma do que aquela que nos dá consolações inúmeras. Isto porque Nossa Senhora e Nosso Senhor querem, como homenagem, que peçamos ainda quando não percebemos como nossa oração Lhes é grata.

Ou seja, Ele não desejou que este contato fosse sensível, para que minha Fé crescesse. Pois muitas vezes Ele nos prova a fim de verificar se somos daquela espécie de almas que só creem quando sentem: “Tomé, tu creste porque viste; bem-aventurados os que não viram, mas creram!”

São Francisco de Sales, exímio nas comparações encantadoras, tem um magnífico exemplo:

Dois cantores apresentam-se sucessivamente ao rei.

Um deles é normalmente constituído em sua natureza física, e, enquanto canta, vê a fisionomia de encantamento do rei ao ouvi-lo. Ele ouve sua própria voz, nota como ela é bela, compreende como o rei se deleita com seu cântico, e, enfim, contenta-se em ver o rei comprazido. Este homem possui duas alegrias: de ver o encanto do rei, e de ouvir a sua própria voz.

O outro cantor, por sua vez, é cego e surdo! Ele não vê o rei, contudo sabe que o rei está lá; não ouve sua própria voz, mas diz ao rei: “Senhor, eu estou aqui por obediência. Na minha ‘noite’, eu não vejo onde estais; na minha surdez, não ouço minha voz; mas para fazer a vossa vontade eu cantarei, encantado de saber que minha voz também vos agradou!”

Qual dos dois músicos dá maior prova de amor ao rei?

Pois bem, muitas de nossas Comunhões são as do “cego e do surdo”. Não vemos, nem sequer sentimos a presença de Nosso Senhor em nós. Não percebemos como é bela a nossa súplica, nem como Ele se encanta com ela. Mas, pela Fé, cremos que estamos em estado de graça, e que Ele se alegra de estar em nós, ao ponto de dizer: “Minhas delícias consistem em estar com os filhos dos homens”.

Ele estará realmente presente em mim, embora na aridez. Nestas horas, será de grande benefício lembrarmo-nos disso.

Aproveitando as perspectivas angustiosas…

Quando o meu dia não tenha contribuído para a sensibilidade eucarística, mas, pelo contrário, tenha sido um dia de luta, o qual deixa prever que o dia seguinte será angustioso, é louvável fazer que minha Comunhão centre-se nessa dificuldade, dizendo: “Senhor, em vossa agonia no Horto, quando suastes sangue, Vós fizestes a seguinte oração: ‘Pai, se for possível, afaste-se de mim esse cálice, mas faça-se a vossa vontade e não a minha’; Senhor, eu temo o que vai me suceder, e estremeço de terror diante de uma hipótese que me gela até os ossos. Peço-Vos, através de vossa Mãe Santíssima, que afasteis de mim essa provação, mas, se essa não for a vossa vontade, faça-se a vossa e não a minha. E Vos peço que isso concorra para o bem de minha alma”.

Podemos rezar repetidas vezes nesse sentido, no momento em que se recebe a Eucaristia: “Senhor, Vós estais presente em minha alma, com inteira intimidade. E não pode haver intimidade maior que a vossa, quando, através da Sagrada Comunhão, Vos fazeis presente numa alma. Neste momento de dificuldade, Vos peço que ouçais o brado de angústia vindo de minha alma. Quantos Salmos inspirados por Vós foram também brados de angústia! Aqui está também o meu: Tende pena de mim, e atendei-me”.

Desenvolver a ação de graças em função das necessidades diárias

Muitas vezes, para bem nos prepararmos para o divino encontro com Jesus na Eucaristia, bastará nos lembrarmos de algo que lemos em algum livro de piedade, que nos marcou profundamente, ou então de alguma graça que recebemos no decorrer do dia.

Às vezes, algum aspecto novo de Nossa Senhora nos impressiona. Neste caso, nossa preparação poderá ser: “Nossa Senhora é Mãe de Nosso Senhor; Ele concedeu a Ela tal privilégio que eu não conhecia. Vou pedir a Ela que me obtenha na Sagrada Eucaristia tal favor que necessito”.

A propósito de qualquer movimento de piedade durante o dia, pode-se articular a Comunhão e depois a ação de graças. Caso tenhamos um dia de grande alegria, e essa alegria tenha sido um sinal manifesto da bondade de Nossa Senhora e de Deus Nosso Senhor para conosco, podemos fazer a ação de graças tomando em consideração esta graça recebida.

Quem recebe uma manifestação da bondade de Deus, deve contemplá-Lo como Ele se mostra: sorridente, afável, manifestando afeto e desejo de proteger-me. Neste caso, quando recebê-Lo, devo adorar n’Ele a bondade, o amor especial que Ele me tem, o encorajamento que Ele quis me dar em meu apostolado ou em minha vida interior.

Ubi Spiritus, ibi libertas, onde está o Espírito Santo, aí sopra a liberdade. Enfim, há uma tal variedade de movimentações das almas, que é impossível descrever todos os métodos que cabem para alguém fazer a Sagrada Comunhão. Aqui ficam, entretanto, algumas sugestões.

Plinio Corrêa de Oliveira

 

(Extraído de conferências de 28/3/1967 e 4/2/1984)

1) I Cor 15, 41.