Oração à Rainha de Fátima

Ó Virgem, Rainha de Fátima, cuja mensagem é a inspiradora de minha vocação e a garantia da autenticidade de minhas esperanças! A Vós devo o fato de haver sido chamado ao vosso serviço e a felicidade de, por meio de vários atos de fidelidade, ter enfrentado vossos adversários e proclamado a vossa realeza no momento em que tantos a combatem.

Dai-me a graça de Vos amar cada vez mais, para que Vos possa retribuir em lutas cada vez maiores. De tal maneira que, chegando o momento culminante de minha vida, em que de Vós eu tenha recebido tudo quanto a mim destinais, e retribuído tudo o que de mim desejais, obtenha de vossa misericórdia o prêmio demasiadamente grande de ver-Vos face a face, junto ao vosso Divino Filho, por toda a eternidade. Amém.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 4/5/1973)

A maior tentação da História

A Revolução da Sorbonne, iniciada em maio de 1968, proclamou a liberação de todos os instintos, ou seja, os homens possuem o direito de realizar toda espécie de mal, porque isso se dá em virtude dos impulsos que provêm da natureza afetada pelo pecado original. Com essa Revolução, a humanidade se encontra diante da tentação de abandonar toda ideia de ordem e de moral, que é a maior tentação da História. Nunca houve tentação mais radical, porque não é feita para um homem, e sim para todo o gênero humano. A máquina montada para que essa tentação seja eficaz é fantástica.

 

Quanto aos objetivos do movimento operário-estudantil eclodido na França, são eles, a um tempo, muito radicais e inteiramente imprecisos. Por mais que essas duas notas sejam contraditórias entre si, entretanto, elas coexistem.

“Civilização do instinto”

No caso concreto, o movimento é muito radical devido à transformação imensa que ele tem em vista e, por outro lado, pela radicalidade nos métodos empregados. Contudo, apesar de ser radical nos seus propósitos e métodos, não sabe bem o que quer. Está em desacordo com o partido comunista, querem algo diferente e muito mais radical do que esse partido.

Percebe-se que essa coisa desejada por esse movimento é um impulso e não uma convicção. Trata-se, assim, de um elemento que está germinando neles, cuja meta é a igualdade completa, mas que não se apresenta como uma convicção doutrinária. É um impulso que nasce com esta característica: universal, sacode a mocidade inteira. Surge, então, uma era histórica nova: o homem que renuncia à razão, à ascese e espera de um instinto a ordem de coisas futura.

Assim como um vulcão em erupção, por exemplo, sofre uma explosão que, entretanto, tem uma ordem interna, pois todos aqueles gases caminham na mesma direção; ou a detonação de uma bomba atômica, em forma de cogumelo, que também tem certa ordem interna, embora seja uma explosão, assim também os instintos soltos possuem certa ordem interna, que a nós – por obscurantismo, dizem os revolucionários – parece desordem, mas é verdadeira ordem.

Então nós temos a “civilização do instinto” – se é que se pode chamar civilização – a qual se opõe à moribunda civilização da razão, da inteligência e da vontade. Esta “civilização do instinto” é evidentemente a glorificação do pecado original.

Portanto, a revolução desses moços é um movimento instintivo que proclamará como filosofia básica da ordem de coisas, não um sistema doutrinário, mas o instinto: “Deixe que as apetências, os impulsos, os movimentos que estão latejando nesse tumor explodam, e daí escorrerá seu pus imundo, e ninguém o limpará. Daí nascerá uma infecção, e ninguém a combaterá”.

Não se pode fazer uma negação maior da verdade, nem uma revolução mais profunda do que essa.

Eles prometem uma situação que nós qualificamos de desordem caótica, mas eles consideram um sadio terremoto rumo à ordenação. É preciso libertar. Libertando o impulso alcançam uma ordem, mas que não é mais a nossa ordem. É a ordem deles…

Primeira gota de uma chuva que acabará sendo uma tempestade

Por ocasião dessa revolução anarquista em Paris, as notícias provenientes da Sorbonne eram as mais horríveis que se possam imaginar, apresentando aquilo como um antro de imoralidade, de sujeira, uma sordície. Essa era a primeira figura da revolução anárquica, mas evidentemente não podia ser a figura definitiva. Depois de se ter apresentado como um caos, ela haveria de começar a soltar o seu próprio segredo, que era a ideia nova, espantosa, única, de que de dentro do caos podia aparecer a ordem.

Precisamente quando atingido o total desse caos, nasce a ordem nova. Então, se ideias dessas se multiplicarem e se sucederem, veremos o burguês de hoje aterrorizado que se prepara para se distender com o seguinte raciocínio: “Nós não vamos para um caos tremendo, mas é um caos fecundo que gera uma ordem superior à que conhecemos. Rumemos para o abismo de olhos fechados, para o paraíso anárquico”.

Isso é, provavelmente, a primeira gota de uma chuva que virá, primeiro como um chuvisco, depois como torrente, e acabará sendo uma tempestade, uma coisa enorme.

A humanidade se encontra, assim, diante da tentação de abandonar toda ideia de ordem e moral, e proclamar o oposto da ordem e da moral; ou seja, está na presença da maior tentação da História. Nunca houve tentação mais radical, porque não é feita para um homem, e sim para todo o gênero humano. Por sua universalidade, ela é prodigiosa. A máquina montada para que essa tentação seja eficaz é fantástica. Esse movimento universal, estamos vendo, é o leviatã, propriamente o elemento de sedução, o demônio do meio-dia que aparece para tentar os homens.

Essa tentação é universal no seu pior sentido, porque engloba todas as tentações possíveis. Quem capitulou diante dela cometeu uma ação pecaminosa. Ela se põe na raiz de todos os pecados, pois comete pecado contra o Espírito Santo, o mais radical que pode haver. Então, por sua universalidade, seu poder e radicalismo, é a maior tentação da História.

Uma revolução satânica

Se uma pessoa proclama que todos os instintos estão soltos, ela prega o direito a se realizar toda espécie de mal, porque isso se dá em virtude dos impulsos que provêm da natureza afetada pelo pecado original. Proclama-se, assim, que a razão e a vontade não têm mais o que fazer, e com isso procura-se cortar a raiz última de toda a moralidade.

Sem dúvida, se uma pessoa se deixa tentar por isso, tudo quanto há nela de ruim corre naquela direção e ela, portanto, é tomada inteiramente por esse pecado. Porque afirmar não haver bem nem mal é um pecado imenso, no qual estão contidos todos os outros pecados que o homem possa cometer.

Mas se essa é a maior tentação natural da História, é também a maior tentação preternatural da História. O Inferno inteiro está trabalhando para que aquilo chegue ao estado de pecado total. A partir do momento em que esse estado de pecado global esteja generalizado, eu pergunto: que obstáculo pode haver para o demônio se manifestar?

Portanto, isso traz consigo o prenúncio de uma invasão diabólica, de um reino de violência, porque gente assim quer reinar pela violência. Uma violência omnímoda, recíproca, geral, sob o sopro de um leviatã, de uma espécie de monstro que se agiganta e tenta devorar o universo para levá-lo à pior forma de mal possível. Quer dizer, essa é uma revolução satânica.

É uma “ordem” já preternatural, dentro da qual depois poderá haver outros paroxismos. É o clarim do reino do demônio.

Historicamente falando, com a Revolução da Sorbonne um meridiano foi transposto. Essas coisas que eram venenos imundos cultivados em pequenos cenáculos universitários, e que não saíam à rua, arrancaram a máscara, criando uma dessas situações irreversíveis à proclamação do reino do demônio. Porque o reino do instinto é o reino do pecado; e o reino do pecado é o reino do demônio.

Comunismo anárquico

Evidentemente, não se trata de afirmar que os instintos humanos são um mal em si. Desde que se deixem governar pela razão esclarecida pela Fé e pela vontade confirmada e fortalecida pela graça, os instintos são auxiliares preciosos do homem.

No caso dessa Revolução, quando se fala do instinto, entende-se o instinto desgovernado que sucumbiu habitualmente, e não uma vez ou outra, à pressão das tentações, tomando o hábito inveterado de viver no pecado.

Pode até acontecer como na maré montante: ela sobe, desce um pouco, depois vem outro vagalhão, sobe mais… Embora haja o vaivém da maré, trata-se de uma maré montante.

Um otimista, a cada retrocesso da maré, dirá: “Olha lá! Eu já estava vendo, isso está diminuindo”. Depois, quando a maré avança mais, ele diz: “Não é desta vez…” Até que a maré tenha acabado de subir e tomado conta de tudo. Assim também, esse arrancar de máscara proclamando o reino do demônio é irreversível.

A agitação universitária na França foi uma espécie de chama na qual culminou uma série de agitações anteriores, e que parecia propagá-las para o mundo inteiro. Na França, a revolução universitária caiu e se espatifou, e mais ou menos por toda parte ela começou a ficar no vácuo, a viver isolada. Entretanto, artificial como seja, ela continua a ser mantida e, por toda parte, vai crepitando de um comunismo que não visa mais um estado ditatorial arqui-organizado, que seria a ditadura do proletariado, mas uma ordem de coisas anárquica ainda misteriosa, a qual pressupõe uma transformação do homem também misteriosa, e que é a grande incógnita do mundo moderno.

Os teóricos do comunismo sempre afirmaram que o ponto terminal do processo – até onde chegava o horizonte deles – era a anarquia; e que a ditadura do proletariado era uma situação intermediária para chegar até essa anarquia.

O advento de um comunismo anárquico como força mais nova, mais dinâmica do que o comunismo ditatorial, burocrático, organizado, representa exatamente a aurora do fim do processo, devorando a penúltima etapa, como sempre acontece nesse processo: assim como a república comunista devorou a república burguesa, e esta já havia devorado a monarquia constitucional, o comunismo anárquico devora o comunismo estatal, organizado.

Nós temos, portanto, o alvorecer de uma era que começa já a se delinear, apontada como sendo da mocidade de amanhã.

Super-tirania num mundo tribalizado

Todos os acontecimentos estão centrados sobre esse plano de fazer vencer o comunismo anárquico, a proclamação da república universal não como um super-Estado, mas uma situação de coisas que é a fraternidade universal anárquica, sonhada como o fim do horizonte do mundo revolucionário. Vemos que tudo tem que correr para favorecer isto.

Não se trata mais de um Estado, e sim de uma super-tirania sobre tribos num mundo tribalizado, exercida por meios inteiramente desconhecidos, mas já não burocráticos e estatais. O mundo da economia, das universidades, da técnica, da organização e da ciência será desfeito para criar uma economia primária num estado anárquico.

A economia hoje existente é o fruto das universidades, com sua técnica, sua organização, sua ciência, produzindo homens capazes de tomar a produção econômica do mundo, racionalizá-la e montar uma máquina que se poderia chamar a indústria universal e o comércio universal.

A partir do momento em que a universidade se anarquize e tudo isso deixe de existir, tem que haver uma catástrofe da economia burocratizada e de uma sociedade desigual para passar para a economia primária do Estado anárquico, de uma “ordem” de coisas anárquica. Evidentemente, a agitação da Sorbonne é um primeiro estalido nesse sentido.

Na esperança dos evolucionistas está a possibilidade de uma “ordem” de coisas, onde haja um fator que permita a ilusão de que o desregramento dos instintos possibilite uma vida feliz nesta Terra.

Seria a ideia exatamente de uma “ordem” de coisas completamente anárquica, laica, sem sacralidade nenhuma, na qual, a título de religião, haveria uma religiosidade imanente, inteiramente desalienada, em que os homens viveriam numa sarabanda completa.

No outro extremo, o segredo de Maria

No extremo oposto nós temos o segredo de Maria. A esse respeito as coisas são muito misteriosas também. Lê-se em São Luís Grignion de Montfort que ele fala desse mistério, mas não o explica inteiramente.

A meu ver é uma forma mais generosa, mais ampla, muito mais fecunda de Nossa Senhora atuar nas almas do que anteriormente. De nenhum modo diminui o livre-arbítrio, mas o aumenta, porque o homem, quanto mais é assistido pela graça, mais livre é.

É uma coisa imponderável, mas a nossos olhos isso não nasceu ainda, ou surgiu de um modo tão incerto, tão indeciso, que um verdadeiro enlevo por Nossa Senhora nós ainda não temos. Ora, quando a devoção à Santíssima Virgem não é nessa base, não é completa; pode estar cheia de toda a Teologia que queiram, mas não é a perfeita devoção a Nossa Senhora.

É a mesma coisa que alguém viesse me dizer: “Eu conheço muito bem, segundo o direito natural, o que é uma mãe. E, portanto, trato bem a minha”. Assim não vai! Ou ele trata a mãe dele com um mundo de confiança, de ternura, com a certeza cega da bondade dela para com ele, um desejo, portanto, de servi-la por amor, ou a coisa não está feita.

Bondade e severidade sábia de Dona Lucilia

De tudo quanto minha mãe me legou, as duas coisas mais preciosas que conheço na ordem moral foram exatamente, de um lado, a bondade e, de outro, a severidade sábia. Mamãe era tão bondosa que eu não saberia dizer. Inclusive na hora de perdoar-me naquilo em que eu andava mal, era de uma indulgência, de uma suavidade… E nunca fazia uma reclamação porque algo tinha atingido a ela. Jamais entrava reivindicação de um direito dela.

Dona Lucilia possuía a cultura de uma senhora de antigamente e, embora pudesse às vezes não explicitar bem um princípio, tinha os princípios no espírito. Nunca o pito dela era por uma irritação pessoal, mas sempre por um princípio ofendido, inclusive o da autoridade materna. Porém, sempre com tanta bondade e com tanto perdão, tanta paciência no que dizia respeito a ela…! O que se fizesse a ela de pior, eu, em menino, ou que outras pessoas lhe faziam de horrível e que eu presenciava, enquanto algo que a atingia, ela engolia quietinha e não dizia uma palavra.

Como me lembro dos pitos dela… Que seriedade no olhar, que compenetração! Tratava-se de fazer prevalecer um princípio.

Havia em mamãe a convicção de que se eu não conformasse minha vida com aqueles princípios, para ela eu valeria muito menos; e ela mais via em mim o filho que precisava amar os princípios, do que o filho que deveria querer bem a ela.

Quanta sabedoria no que ela dizia! Que voz grave! Ao mesmo tempo a bondade não estava ausente.

A intransigência dela comigo chegava a este ponto: Certa vez, voltei do Colégio São Luís, da festa de distribuição de prêmios, com quatro medalhas no peito. Os meninos vinham à rua com medalhas, naqueles tempos ingênuos. Ainda me lembro, com roupa de marinheiro, e com quatro medalhas no peito.

Mamãe abriu a porta e me agradou, foi uma alegria.

No ano seguinte voltei com três medalhas. Ela abriu a porta, olhou e disse:

– Só três? Como é que você decaiu? Que aconteceu para você decair?

Mas isso misturado com tanto afeto, que posso dizer que me foi uma preparação para compreender o que é a misericórdia de Nossa Senhora.

Dou essas reminiscências para exemplificar um pouco o que estou pensando. Não sinto que nossa devoção à Santíssima Virgem seja inteiramente assim.

Então, voltando ao tema da revolução anárquica, vem-me a ideia de que haverá uma possessão do demônio, mas também uma influência de Nossa Senhora muito maior do que existe hoje em dia; e nós somos a larva que se vai arrastando no chão até o momento em que Maria Santíssima resolva nos transformar em crisálidas.     v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 3, 15 e 18/6/1968, 11/12/1968, 21/4/ 1969)

Revista Dr Plinio 242 (Maio de 2018)

Refúgio por excelência

Está na perfeição de Maria Santíssima ser um imenso, perene e contínuo refúgio para todos os seus filhos, de modo especial em relação aos pecadores, sejam eles quais forem, culpados de faltas leves ou graves. Tudo que diz respeito a Nossa Senhora é admirável, extraordinário, excedendo a nossa capacidade de cogitação. Assim também a sua disposição em amparar os que andaram mal, em perdoar pecados de tamanho inimaginável e ingratidões insondáveis, desde que a alma se volte para Ela e Lhe peça o maternal auxílio.

A Mãe de Deus pode cobrir tudo, proteger tudo, alcançar toda espécie de perdão para toda espécie de crime. Ela é, na verdade, o nosso refúgio por excelência.

Sabor das coisas celestiais

Senso católico, o espírito bom e reto são dons de Deus, e não algo que o homem seja capaz de adquirir com o mero exercício de sua inteligência. Esta alcançará aqueles movida e vivificada por uma ação sobrenatural procedente do Divino Espírito Santo. Por isso devemos rogar esses dons com empenho, humildade e insistência, persuadidos de que só assim nos serão outorgados.

Donde as tocantes e belas preces recitadas pela piedade católica, enriquecidas de modo extraordinário pelas suaves harmonias do canto gregoriano: o “Veni Creator Spiritus e o Veni Sancte Spiritus”.

Orações e cânticos nos quais rogamos com particular empenho a assistência da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, para que venha e encha os corações de seus fiéis, e neles acenda o fogo do seu amor. Ressalta-se a ideia de que nossa alma é templo do Espírito Santo, e desejamos que Ele desça do Céu — como já o fizera em Pentecostes — com intensidade ainda maior, uma plenitude cada vez mais plena, e habite em nosso interior. Então nos abriremos para os grandes pensamentos, as pujantes volições, as ilimitadas generosidades, as profundas percepções, ao crescimento na fé, esperança e caridade, e nos entregaremos ao necessário e superior esforço da nossa santificação.

Além disso, ao pedirmos que acenda em nosso peito o fogo do seu amor, suplicamos ao Divino Espírito Santo a graça de termos nossa alma repassada do desejo dos tesouros sobrenaturais, da apetência para a virtude, da contemplação das verdades eternas. E possamos assim, sob o influxo de sua luz infinita, saborear sempre o que é reto e gozar das suas consolações inexcedíveis.

Anseio tanto mais essencial e benéfico quanto, no mundo contemporâneo, corre-se o risco de se esquecer do sentido e do sabor das coisas retas. A civilização hodierna, com seus atrativos e seduções, não raro ofusca a admiração pelos monumentos e obras que ilustraram os séculos áureos da Cristandade, abrindo caminho, perigosamente, para o aumento da imoralidade, da agitação, desordem e subversão de todos os valores.

Longe vai o tempo em que se encontrava maior entretenimento na estabilidade de alma e na consideração das coisas retas. Estas são tidas muitas vezes como insípidas, sem se compreender as delícias que nos podem proporcionar. Que dizer, então, daquelas coisas imensamente retas, as que nos remetem para o Céu e nos dirigem para Deus?

Ora, esse gosto do que é reto, honesto, direito, nos é dado pelo Espírito Santo, e devemos implorar seja restaurado em nós.

Queira a Santíssima Virgem, sua Esposa Imaculada, na qual Ele encontra a plenitude de suas complacências, obter-nos esse favor inestimável de aprendermos a degustar sempre as coisas retas, elevadas, sublimes, o sabor daquilo que, na Terra, nos fala do Céu… 

 

Com filial intimidade…

A par de uma convicção profunda de tudo quanto a doutrina católica nos ensina a respeito da Santíssima Virgem, em nossa devoção a Ela devemos manifestar também uma espécie de “aisance”, de desembaraço, de intimidade de filhos os quais, embora se saibam muitas vezes indignos de serem atendidos pela Mãe, apresentam-se diante de Maria com inteira confiança, seguros de obterem seu amparo, seu socorro, seu sorriso…

Essa filial desenvoltura, estejamos certos, é o ponto de partida inefavelmente suave de uma sincera e viva devoção a Nossa Senhora. 

Plinio Corrêa de Oliveira

Luz de nossas almas

Quisera eu que um raio de graça descesse sobre cada um de nós, e nos fizesse compreender que, em relação a Nossa Senhora, devemos ser como era o Menino Jesus: filhos intimíssimos d’Ela, cientes de que sua misericórdia nunca se cansa, seu perdão jamais nos é recusado, e seu maternal sorriso sempre nos é concedido, adiantando-se a nós e para Ela nos atraindo.

Que o olhar da Virgem Santíssima seja a luz interna de nossas almas e a estrela que nos guie pelo mar tempestuoso desta vida.

(Palavras de Dr. Plinio em 6/5/1968)

A consagração ao Imaculado Coração de Maria

“Jesus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono” — afirmou a Santíssima Virgem em Fátima, há 90 anos. Como Dr. Plinio nos mostra a seguir, esse maternal e consolador apelo de Nossa Senhora conserva, mais do que nunca, toda a sua atualidade.

 

Fiéis à admirável vocação de seu Bem-aventurado Fundador, os Padres do Coração de Maria estão desenvolvendo um intenso trabalho no sentido de promover o maior número de consagrações ao Coração Imaculado da Mãe de Deus, consoante, aliás, o precedente do Santo Padre Pio XII, que lhe consagrou todo o mundo.

Refletido e profundo ato de piedade

Uma das características da devoção que devemos tributar a Nossa Senhora, consiste sem dúvida em ser terna. Entretanto, a devoção não se faz só de ternura, de efusões sentimentais e afetivas. Para ser sólida, é preciso que se funde em conhecimentos precisos, exatos, lógicos. Só da Verdade bem conhecida pode sair o amor durável e sincero. A piedade deve ser firmada no estudo da doutrina católica. É aí que ela há de encontrar seu melhor fundamento, sua verdadeira raiz.

Quando a Igreja promove a consagração de Nações, Dioceses, famílias ou pessoas ao Coração Sacratíssimo de Jesus, ou ao Imaculado Coração de Maria, tem em vista que as criaturas assim consagradas formulem a resolução de pertencer de modo particular ao Coração de Jesus ou ao Coração de Maria, obedecendo-Lhes mais fielmente as leis, tomando-Os mais perfeitamente por modelos, e, reciprocamente, recebendo de modo todo especial sua particular e vigilante atenção.

Assim, a Consagração não é um mero rito, uma fórmula vaga, a ser recitada em momento de emoção piedosa. Ela é antes de tudo um ato refletido, deliberado, voluntário e profundo, que implica no propósito de uma mais perfeita integração na doutrina e na vida da Santa Igreja Católica, o que é o único modo real de pertencer a Jesus e a Maria.

Compreende-se facilmente que este ato tanto pode ser feito por pessoas da mais alta virtude, quanto por almas que ainda estão nos primeiros passos da vida espiritual. A uns e a outros, será utilíssimo, porque atrairá para quem o faz uma proteção toda especial da Providência, e, com isto, garantias particularíssimas de salvação.

Meio mais rápido e fácil de se unir ao Sagrado Coração de Jesus

Nosso povo compreende facilmente que alguém se consagre ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Essa magnífica prática já tem sido posta em ação freqüentemente, e, graças a Deus, são numerosas as famílias que, hoje, se encontram consagradas ao Coração de Jesus, com o que manifestam o propósito de conformar toda a sua existência com o Sagrado Coração de Jesus, vivendo vida verdadeiramente piedosa e cristã, santificando os deveres de estado, vivendo-os com espírito intensamente sobrenatural e mortificado, e recomendando-se especialmente, para o êxito de tais propósitos bem como para a obtenção de todas as graças, ao Coração Divino que é a fonte, por excelência, de todo bem.

Entretanto, é menos freqüente que se compreenda entre nós a consagração ao Coração Imaculado de Maria. Não faltará, talvez, quem veja em um e outro ato alguma antinomia. Como pertencer ao mesmo tempo a dois senhores, obedecer a dois corações? Uma consagração não contradirá ou anulará a outra?

Nada de mais inconsistente. A consagração ao Imaculado Coração de Maria é um complemento da que se faz ao Coração Sacratíssimo de Jesus; não um complemento supérfluo, por certo, mas um complemento precioso e admirável, que dá à Consagração ao Coração de Jesus uma realidade e uma plenitude admiráveis.

O Coração de Maria é por excelência o reino do Coração de Jesus. A união de ambos os Corações é tão perfeita que há escritores que por assim dizer os fundem em um só, referindo-se ao Coração de Jesus e de Maria. Toda a piedade marial assenta sobre esta verdade fundamental de que Maria Santíssima é o canal pelo qual se chega a Jesus, é a porta, a vida, o caminho por excelência, onde com maior segurança, mais rapidez, mais facilidade, encontramos Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, a consagração ao Imaculado Coração de Maria é o meio mais seguro, mais fácil, mais rápido de conseguirmos a consagração ao Coração Sagrado de Jesus.

Com efeito, pronunciar um ato de consagração é fácil. Consagrar-se sinceramente, seriamente, a fundo, é muito mais difícil. Para conseguirmos as condições necessárias para uma perfeita consagração a Nosso Senhor nada mais perfeito, mais seguro, mais útil do que consagrarmo-nos a Maria Santíssima.

O Cristocentrismo consiste em ter a Nosso Senhor Jesus Cristo como centro de tudo. Ora, só será verdadeiro o Cristocentrismo que nos conduz ao centro pelo verdadeiro caminho. E esse caminho é Nossa Senhora.

Mais atual do que nunca

A consagração ao Coração Imaculado de Maria é mais atual do que nunca. Mais do que nunca, o mundo atribulado por mil vicissitudes de toda ordem, precisa de um coração materno que dele se condoa. Mais do que nunca, pois, torna-se necessário que apelemos para o coração de nossa Mãe, que imploremos, fazendo tanger suas fibras mais sensíveis, suas cordas mais íntimas, toda a sua misericórdia, todo o seu amor, toda a sua assistência.

Se o Santo Padre Pio XII consagrou o mundo inteiro ao Coração de Maria, imitemos seu gesto, completemo-lo por assim dizer, consagrando-nos sem reservas ao mesmo Coração Imaculado. Estaremos dentro dos desejos do Papa, dentro das vias da Providência Divina. 

 

(Transcrito da revista Ave Maria, n. 31, julho de 1943)

A Igreja e a Contra-Revolução

Visando a completa subversão da ordem temporal e espiritual, a Revolução tem por seu grande alvo a Igreja, fundamento último de tais ordens. Por isso mesmo, a Esposa Mística de Cristo deve ser considerada a alma da Contra-Revolução, a força primeira que conduzirá esta à vitória e à edificação de uma nova Cristandade. Esclarecimentos de Dr. Plinio.

 

Como o embate Revolução e Contra-Revolução se enquadra na história da Igreja?

“A Revolução e a Contra‑Revolução são episódios importantíssimos da História da Igreja, pois constituem o próprio drama da apostasia e da conversão do Ocidente cristão. Mas, enfim, são meros episódios.”

Missão mais ampla e muito acima do confronto R-CR

“A missão da Igreja não se estende só ao Ocidente, nem se circunscreve cronologicamente na duração do processo revolucionário. “Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas”(1), poderia Ela dizer ufana e tranqüila em meio às tormentas por que passa hoje. A Igreja já lutou em outras terras, com adversários oriundos de outras gentes, e por certo enfrentará ainda, até o fim dos tempos, problemas e inimigos bem diversos dos de hoje.” (pp. 144-145)

Qual é o objetivo da Igreja?

“Seu objetivo consiste em exercer seu poder espiritual direto e seu poder temporal indireto, para a salvação das almas. A Revolução foi um obstáculo que se levantou contra o exercício dessa missão. A luta contra tal obstáculo concreto, entre tantos outros, não é para a Igreja senão um meio circunscrito às dimensões do obstáculo — meio importantíssimo, é claro, mas simples meio.

“Assim, ainda que a Revolução não existisse, a Igreja faria tudo quanto faz para a salvação das almas.” (p. 145).

Cite um exemplo histórico para esclarecer esse tema.

“Poderemos elucidar o assunto se compararmos a posição da Igreja, em face à Revolução e à Contra‑Revolução, com a de uma nação em guerra.

“Quando Aníbal(2) estava às portas de Roma, foi necessário levantar e dirigir contra ele todas as forças da República. Era uma reação vital contra o potentíssimo e quase vitorioso adversário. Roma era apenas a reação a Aníbal? Como pretendê‑lo?

“Igualmente absurdo seria imaginar que a Igreja é só a Contra‑Revolução.” (pp. 145-146)

Grande interesse no esmagamento da Revolução

Considerando a situação da Igreja, a Contra-Revolução deve salvá-la?

“Cumpre esclarecer que a Contra‑Revolução não é destinada a salvar a Esposa de Cristo. Apoiada na promessa de seu Fundador, não precisa Esta dos homens para sobreviver.

“Pelo contrário, a Igreja é que dá vida à Contra‑Revolução, que, sem Ela, nem seria exequível, nem sequer concebível.

“A Contra‑Revolução quer concorrer para que se salvem tantas almas ameaçadas pela Revolução, e para que se afastem os cataclismos que ameaçam a sociedade temporal. E para isto deve apoiar‑se na Igreja, e humildemente servi‑La, em lugar de imaginar orgulhosamente que A salva.” (p. 146).

A derrota da Revolução será útil para a Igreja?

“Se a Revolução existe, se ela é o que é, está na missão da Igreja, é do interesse da salvação das almas, é capital para a maior glória de Deus que a Revolução seja esmagada.” (p. 146).

Exaltação da Igreja: objetivo primeiro da Contra-Revolução

Portanto, a Igreja é uma força fundamentalmente contra-revolucionária?

“Tomado o vocábulo Revolução no sentido que lhe damos, a epígrafe é conclusão óbvia do que dissemos acima. Afirmar o contrário seria dizer que a Igreja não cumpre sua missão.” (p. 147).

A Igreja é a maior das forças contra-revolucionárias?

“A primazia da Igreja entre as forças contra‑revolucionárias é óbvia, se considerarmos o número dos católicos, sua unidade, sua influência no mundo. Mas esta legítima consideração de recursos naturais tem uma importância muito secundária. A verdadeira força da Igreja está em ser o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (p. 147).

Qual o ideal da Contra-Revolução?

É exaltar a Santa Igreja. “Se a Revolução é o contrário da Igreja, é impossível odiar a Revolução (considerada globalmente, e não em algum aspecto isolado) e combatê‑la, sem, “ipso facto” ter por ideal a exaltação da Igreja.” (p. 148) (3). v

 

1 ) “Vi outros ventos; divisei com coragem outras tempestades” (Cícero, Familiares, 12, 25, 5).

2 ) General cartaginês (247-183 a.C.).

3 ) Editora Retornarei, São Paulo, 2002.

Consonância e saudade…

Determinadas coisas há nesta vida as quais, quando vistas pelo homem, estabelecem com ele uma tão intensa consonância que permanecem para sempre vincadas no espírito e na lembrança de quem as contemplou.

Para lançar mão de um exemplo pessoal, recordo-me das ocasiões em que admirei certos castelos de Portugal, algo semelhantes aos de Espanha, e senti vivíssima consonância com aquelas belas expressões da alma lusitana. Falando-nos ao mesmo tempo de força e dignidade, sobranceria e arrojo, coragem e proteção, audácia e solidez. Tudo isso me causou impressão extraordinária, como se eu estivesse à procura de uma coisa bastante amada e desejada por mim, e que, encontrada, completou-me pela admiração que lhe votei.

Resultado: vez por outra, vem-me à memória a silhueta daquelas moles imponentes e bem assentadas nos seus alicerces de rocha e montanha.

Desse sentimento de consonância nasce a palavra portuguesa — e, portanto, brasileira —, intraduzível em outros idiomas: saudade…

Quando se tem saudade, é de algo com o qual estabelecemos muita consonância. Este não se encontra perto, e a sensação de afastamento é, naturalmente, penosa. Mas, sob certo ponto de vista, é também embebida de alegria. O castelo português está lá. Sei que poderei revê-lo a qualquer momento, se o permitirem minhas condições materiais. Enquanto não se verifica essa feliz circunstância, recordo-o em espírito, contemplo-o novamente na imaginação. Estamos distanciados, porém prelibamos continuamente o reencontro.

Esses sentimentos que se alternam constituem a harmonia e a graça da presença daqueles monumentos na minha vida afetiva e intelectual.

Corolário dessa verdade é o princípio superior de que, quando amamos a Santa Igreja e as obras de Deus, devemos sentir profunda consonância entre elas e nós. O que exprime a palavra “consonância”? É o som e o eco. O sino dobra e seu toque tem consonância com o eco por ele emitido; formam um todo.

Assim também, aquilo com o que sentimos consonância tece uma espécie de entrelaçamento especial com nossa alma, nos liga fortemente a quem ou ao que devemos amar. Antes e acima de tudo, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a verdadeira Igreja do Deus verdadeiro. 

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 97 (Abril de 2006)

Como obter indulgências durante o Tríduo Pascal?

Durante o tríduo pascal, constituído pela Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia, os fiéis vivem o mistério central da Fé Cristã da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo; um tempo que também traz inumeráveis graças para os fiéis através das indulgências e seguindo simples condições.

Assim se pode obter a Indulgência Plenária durante o Tríduo Pascal:

Quinta-feira Santa

Neste dia se revive a Instituição da Eucaristia, tem lugar uma Missa comemorativa da Última Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo, com o lava-pés, se celebra a Ordem Sacerdotal e o “Mandamento do Amor”, que é a própria Eucaristia.

É possível ganhar a indulgência plenária se, após a Missa da Ceia do Senhor, se rezar piedosamente o hino eucarístico ‘Tantum ergo”, escrito por São Tomás de Aquino:

“Tantum ergo Sacramentum

Veneremur cernui:

Et antiquum documentum

Novo cedat ritui:

Præstet fides supplementum

Sensuum defectui.

Genitori, Genitoque

Laus et jubilatio,

Salus, honor, virtus quoque

Sit et benedictio:

Procedenti ab utroque

Compar sit laudatio.

Amen.”

***

Tão sublime Sacramento,

adoremos neste altar,

Pois o Antigo Testamento

deu ao Novo seu lugar.

Venha à fé por suplemento

os sentidos completar.

Ao eterno Pai cantemos

e a Jesus, o Salvador.

Ao Espírito exaltemos,

na Trindade eterno amor.

Ao Deus uno e trino demos

a alegria do louvor. Amém.

Também é possível obter a indulgência plenária se neste dia se visita por espaço de meia hora o Santíssimo Sacramento que tenha sido reservado no monumento Eucarístico.

Sexta-feira Santa

Na Sexta-feira Santa se comemora a Paixão e Morte de Jesus. Tem lugar a celebração da Paixão do Senhor com a adoração da Cruz, ato litúrgico que não se realiza com Eucaristia.

Neste dia se concede indulgência plenária aos fiéis cristãos que assistam piedosamente a adoração da Cruz na solene ação litúrgica.

Também se pode ganhar a indulgência se se realizar o exercício piedoso da Via Sacra diante das estações legitimamente estabelecidas e meditando a Paixão e Morte de Jesus Cristo.

Sábado Santo

Durante o Sábado Santo não há celebrações litúrgicas até a Vigília Pascal. É um dia de grande silêncio, para intensificar a oração em memória da morte de Cristo e acompanhar Nossa Senhora em sua dor. Se concede indulgência plenária quando duas ou mais pessoas rezam juntos o Santo Rosário.

Vigília Pascal

Esta é a celebração mais importante do ano litúrgico e dos fiéis cristãos, já que se faz memória da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Vigília ocorre na noite do sábado, e, em alguns lugares, se estende até o amanhecer do Domingo da Ressurreição.

Os fiéis podem obter a indulgência plenária se participarem na celebração da Vigília Pascal e renovarem nela as promessas batismais.

Condições da indulgência

Para que os fiéis ganhem a indulgência plenária é necessário ter em conta várias condições: exclusão de todo afeto para qualquer pecado, inclusive o venial; confissão sacramental, comunhão Eucarística e orar pelas intenções do Santo Padre.

As condições podem ser cumpridas alguns dias antes ou depois da ação para ganhar a indulgência, mas se recomenda que a comunhão e a oração pelo Sumo Pontífice ocorram no mesmo dia.

Toda indulgência plenária pode ser obtida somente uma vez por dia e pode ser aplicada aos fiéis defuntos.

 

João Sérgio Guimarães