REFLEXO DO INESGOTÁVEL ESPÍRITO DA IGREJA

Nascido e cultivado na Cristandade européia, o estilo gótico, em vários dos seus traços, representa de modo muito característico o espírito medieval que o inspirou.

O gótico é forte e, porque forte, tende ao perene. Suas construções têm um visível desejo de durar sempre, de se tornarem algo que nunca mais será substituído. E nisto o gótico bem se mostra um filho da Idade Média, a qual, diferentemente do homem moderno, não era escrava do tempo. Aquela foi uma época em que os edifícios — as catedrais, por exemplo — podiam levar cem, duzentos ou mais anos para serem completados. E as gerações que participavam da edificação de uma catedral, mesmo sabendo que dificilmente a veriam pronta, morriam em paz.

Eram gerações de Fé, imbuídas da noção de que, quando chegassem ao Céu, teriam diante de si uma visão incomparavelmente mais bela do que a catedral: a recompensa da paz com que elas adormeciam em Deus. Nas cercanias do templo, às vezes ainda em construção, os corpos eram inumados com as mãos postas, à espera do juízo e da infinita misericórdia de Nosso Senhor.

Gerações de Fé, numa época de Fé. Além de forte, o estilo gótico tem uma seriedade que confere ao interior de seus edifícios um certo recolhimento, uma compostura própria de quem é profundamente sério. A luz que neles penetra não é comum, mas tamisada pelo colorido feérico dos vitrais, fazendo-nos pensar num dia ideal, num sonho que está do lado de fora.

A esses vitrais deve o gótico a sua capacidade de apaziguar os espíritos, de transmitir serenidade e temperança. Imagine-se uma pessoa muito aflita, tomada por graves angústias e preocupações. Ela passa defronte a uma catedral gótica, resolve entrar e se senta próximo de um vitral. Repara na figura de um santo nele representado, ou numa imagem de Nossa Senhora da qual aquela luz filtrada serve de resplendor.

Começa a rezar. De início, pensa apenas nos seus problemas. Roga à Santíssima Virgem, aos Anjos e Santos que sejam seus intercessores junto ao nosso clementíssimo Salvador, para que a ajude nas dificuldades, obtenha-lhe o perdão de um pecado, a correção de um defeito, etc. Ao cabo de algum tempo de orações, a pessoa passa instintivamente a prestar atenção no vitral. Este, entretanto, antes mesmo dessa observação clara e explícita, já lhe vinha apaziguando a alma, pois nesses vitrais há grande harmonia, vida, riqueza de cores e matizes, abundância de arte nos seus menores aspectos.

Basta a alguém estar perto deles para se sentir tranquilizado. Quando começa uma análise explícita do vitral, a pessoa já está preparada para prestar atenção em algo que não é o seu mero interesse individual. Acalmada, ela volta a rezar, contemplando a imagem de Nossa Senhora, as figuras e as cenas desenhadas no vitral. E assim vai, numa alternância entre a prece, o pedido, a necessidade, e o deixar-se influenciar por uma arte inspirada pela Igreja, que dulcifica a alma e a enche de paz.

* * *

Forte, sério e temperante, o gótico é‚ ao mesmo tempo, delicado. Considerem-se, por exemplo, as formidáveis colunas de uma catedral.

Os medievais lograram atenuar nelas as características que poderiam transmitir a impressão de força quase bruta, dando-lhes o aspecto de um feixe de coluninhas, que parecem amarradas umas às outras para suportarem as grandes abóbadas. E assim, sustentando com toda a firmeza o que lhes vai por cima, esses pesadíssimos pilares góticos dão a ideia de serem leves e elegantes.

Elegância e leveza, entretanto, não dissociada da força. Daí, a extrema beleza das ogivas. De fato, a coluna gótica de grande estilo, ainda que talhada para dar aquela impressão de que acima falamos,
conserva algo de coluna de combate. E do combate medieval, que, quando justo, sempre visava à paz e a uma concórdia equilibrada. Disposição esta muito bem simbolizada pela ogiva: são dois arcos que podemos imaginar opostos, e que se resolvem numa posição de equilíbrio, ou seja, numa reconciliação.

Não é raro existirem florões e adornos no ponto de encontro das duas partes, quase como a festejar a paz.

Presente está também no gótico uma profunda noção do dever. Tal noção se exprime, por exemplo, através das colunatas das abadias e catedrais, que dão ao homem a ideia de um caminho alto, estreito, mas conducente a uma grande solução.

É o caminho do Céu. Uma estrada não larga, não folgada, não espaçosa nem agradável, mas apertada e difícil, sempre a dois passos de precipícios, problemas, tentações e perigos. Representa algo grandioso, metódico, do qual não se pode afastar nem um passo, porque se perderia de vista a meta e se transviaria.

Essa é a imagem da nossa própria existência enquanto vivida à luz dos Mandamentos.

E é precisamente o que nos sugere a colunata gótica: a ideia de um caminho apertado, estreito, sério, reto e, sobretudo, elevado. Quer dizer, se nos sentirmos opressos por estarmos cercados de colunas, nossos olhos e nossa alma encontram os grandes espaços olhando para o alto. O que, em outros termos, significa: “Quando a vida estiver apertada, olhemos para o Céu”. Assim era a alma católica medieval, que deu origem ao gótico.

Na colunata como na ogiva, essa mesma alma, depois de ter explicitado seu desejo e sua afirmação de força, começou a sorrir e a manifestar sua própria doçura, como quem continua a descrever em pedra os diversos aspectos de sua personalidade. Dessa maneira, sem atraiçoar a coluna, que será sempre o objeto do maior entusiasmo, surgem os florões, as figuras esculturais e toda espécie de adornos graciosos do gótico.

E assim, à maneira de alguém que vai retirando de sua arca as mais variadas peças de um opulento tesouro, o medieval foi lentamente manifestando as riquezas de seu espírito através dos requintes da arte gótica.

Esta parece, pois, descrever uma alma profunda e verdadeiramente católica. Sim, porque o gótico é, no fundo, um magnífico reflexo do imenso, inesgotável e fabuloso espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 16 (Julho de 1999)

São Caetano do Tiene

A respeito de São Caetano de Tiene e do significado de sua obra, convém fixar o seguinte: uma das causas da decadência da Idade Média foi o apego às riquezas e à vida de fausto e de grandeza.

Infelizmente, o clero também não foi isento desta culpa… Em vez de conduzir por amor de Deus a magnificência que lhes era devida, muitos dignatários eclesiásticos faziam dela um título de grandeza pessoal; e o que deveria ser um elemento de edificação para os outros se transformou em ocasião de mau exemplo.

Diante dessa situação, entrou um espírito de relaxamento no clero diante do orgulho e da sensualidade, que são as duas principais causas da Revolução. Nós podemos, portanto, localizar esse problema na origem da Revolução.

E, como sempre acontece na Igreja, quando o espírito do mal nela introduz algo de ruim, o Divino Espírito Santo suscita um bem muito maior do que o mal produzido.

Em virtude dessa regra, houve um santo que levou o espírito de pobreza até onde, sob certo aspecto, nem São Francisco de Assis tinha levado: São Caetano de Tiene, fundador dos Teatinos.

A fim de levar o espírito de pobreza a um limite quase inimaginável, São Caetano proibiu seus religiosos inclusive de pedir esmolas: quando precisavam de alguma coisa, deviam ficar parados em algum lugar à espera de que alguém viesse lhes atender…

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/8/1965)

Rei e centro dos corações – II

A queda singular de uma taça de água, durante a exposição em que Dr. Plinio concluía seus comentários a uma das tocantes invocações da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus, ofereceu a ele a oportunidade de exaltar e recomendar, uma vez mais a seus discípulos, a ardorosa prática da virtude da confiança: confiar contra todas as aparências da derrota, na misericordiosa e infalível assistência de Nosso Senhor e de sua Mãe Santíssima.

Após considerarmos os direitos de soberania do Sagrado Coração de Jesus sobre a vontade do homem, simbolizada pelo órgão que lateja em nosso peito, cumpre analisarmos o outro termo da invocação que diz: “centro de todos os corações”.

Eixo do qual tudo se aproxima ou se afasta

A palavra “centro” — não o geométrico, pois se trata de uma metáfora — sugere a idéia de uma multidão de corações com um ponto de atração em função do qual todos se movem para aceitar ou rejeitar algo. Ainda que não percebamos, os movimentos da vida particular de cada um, bem como os da História, se fazem em razão do Sagrado Coração de Jesus.

Imaginemos um ímã gigantesco em torno do qual uma imensa quantidade de limalhas de ferro estivesse disposta, e um vento soprando sobre elas. A viração tende a dispersar as limalhas enquanto o ímã busca atraí-las. Os minúsculos fiapos de ferro estão continuamente solicitados por duas forças distintas: a centrípeta, que os leva a se unirem ao ímã, e a centrífuga, a dele se separarem.

Suponhamos que cada uma das limalhas fosse dotada de inteligência e livre arbítrio, e a todo momento, por causa do vento e da atração, sinta-se obrigada a escolher se irá aproximar-se ou distanciar-se do ímã. Essa é uma metáfora para indicar o significado das palavras “rei e centro dos corações”. Assim, a todo instante de nossa vida, estamos nos acercando ou nos afastando d’Ele. É o sentido de todo ato que praticamos.

Entre Deus e o demônio

A imagem do ímã, da limalha e do vento não apresenta toda a realidade. Por exemplo, não alude à fonte desse vento que tende a dispersar as limalhas. Evidentemente, quem o sopra é Satanás o qual sempre procura nos afastar de Nosso Senhor. Devemos continuamente estar caminhando para o centro, ou seja, para Deus, opondo-nos à pressão e atração exercida pelo demônio. De direito, Nosso Senhor é o ímã.

E também o é no sentido de que efetua um poder atrativo sobre todos os corações. Porém, dá ao homem livre arbítrio. Se este recusar, pecará e, caso não se arrependa, será condenado. Esse é o verdadeiro significado da metáfora.

Tais considerações se aplicam igualmente aos países. Estes têm como que uma inteligência e uma vontade coletivas, as quais constituem a opinião pública. Esta se move como as idéias individuais, pois é a síntese ou a soma delas. Assim, cada um de nós exerce um papel — maior ou menor — na opinião pública, e tem responsabilidade sobre sua orientação para um lado ou outro. De modo especial o têm os que pertencem a um movimento (como o nosso) que visa especificamente atuar no consenso geral para combater o mau “vento” soprado em cima da limalha frágil da opinião dos indivíduos, ou seja, contrariar a ação do demônio sobre as almas.

Em favor do Rei e da Rainha, sua Mãe

Com efeito, visamos criar condições favoráveis para que a atração de Nosso Senhor Jesus Cristo se exerça inteiramente. Nesse sentido, somos os soldados do rei que procuram conquistar limalha por limalha, ou partícula por partícula da limalha, cujo conjunto constitui a opinião pública e levá-la para esse divino centro de todos os corações. E, como antes salientamos, segundo o ensinamento de São Luís Grignion de Montfort, o reinado de Maria se estabelecerá quando, pela intercessão d’Ela, a parte mais poderosa e ponderável, decisiva, da opinião pública tenha conduzido o gênero humano a pertencer efetivamente ao Coração de Jesus.

Há, portanto, uma forte analogia entre esta invocação tão bela, “Nosso Senhor, Rei e centro de todos os corações”, e a devoção a Nossa Senhora Rainha. Queremos que a Santíssima Virgem seja, não só Rainha de direito — pois Ela o é como Mãe de Deus e Co-redentora do mundo —, mas de fato, que as almas Lhe pertençam e, dessa maneira, pertençam a Nosso Senhor.

Numa palavra, o Reino de Maria é um meio necessário para existir o Reino de Jesus, o qual representará uma imensa graça para a humanidade, uma insondável misericórdia para os homens que pouco ou muito pouco têm feito para merecê-la. Esta dádiva somente nos será alcançada pelas mãos de Nossa Senhora, Medianeira de todos os favores divinos.

“Torrentes de graças!”: a taça de água que gira no ar e cai de pé

Compreende-se, assim, como nossa devoção ao Reino de Jesus e a seu Sagrado Coração, ao Reino de Maria e a seu Coração Sapiencial e Imaculado se completam, formando um só todo, propiciando grande alento para nós.

Por fim, se tomarmos em consideração que a vitória pela qual nos empenhamos tanto, depende primordialmente da graça — sem a graça, sem muita graça, sem torrentes de graças nada obteremos…

[NR: Neste exato momento de sua exposição, Dr. Plinio, ao fazer um gesto com o braço esquerdo, inadvertidamente derrubou a taça na qual lhe seria servida a água, colocada sobre uma mesinha ao seu lado. A taça, de fino cristal, bateu no bordo da pequena mesa produzindo um lindo som e projetou-se para o solo caiu com a boca para baixo. Depois de tocar no tapete, saltou ao ar, endireitou-se e finalmente pousou de pé. Não sofreu o menor arranhão, como se fora ali depositada por mão cuidadosa. O fato insólito produziu uma natural reação, misto de surpresa e encanto, em todos que o viram. Dr. Plinio aproveitou a circunstância para tirar dele mais um ensinamento, dizendo então:]

Faço notar a beleza peculiar do fato de esta cena não ter sido registrada em fotografia. Poderia sê-lo, como tantos instantâneos que são colhidos em nossas reuniões. Porém, Nossa Senhora não dispôs que houvesse uma máquina fotográfica preparada neste momento. Por quê? Para que ele ficasse gravado no coração de cada um dos meus ouvintes.

Recordemos: falávamos da necessidade de torrentes de graças as quais dependem da intercessão de Maria Santíssima, que escolhe as ocasiões adequadas para alcançá-las. Às vezes quando a alma, compenetrada de sua miséria, se encontra mais tocada e orientada para a receptividade; às vezes, nas piores horas de sua vida espiritual, quando a graça atua e vence nossa maldade.

Por exemplo, ninguém poderá pretender que São Pedro, quando negou Nosso Senhor durante a Paixão, estava com a alma disposta para receber graças. Entretanto, o dom divino pousou sobre ele e operou sua cura salvadora. O Príncipe dos Apóstolos não cessou de chorar, por assim dizer, até o momento em que morreu crucificado de cabeça para baixo.

História de uma gota d’água, lição de confiança

Insisto, pois, na ideia de que o papel soberano da graça e o de Nossa Senhora em obtê-la do Coração infinitamente misericordioso de seu Filho, são decisivos na História. Nessas condições, não nos devemos importar, de modo cruciante, com os fatores e circunstâncias humanos. O importante é que Deus, na sua clemência, nos seja propício, disposição divina esta que poderemos alcançar por meio de preces a Nossa Senhora. E para nos valermos do fato que acaba de ocorrer, acrescento: se estivermos numa boa situação e cairmos, confiando em Nossa Senhora, cairemos de pé!

Imaginemos que no fundo dessa taça houvesse uma gota de água dotada de pensamento. Estaria contente porque habita dentro de um cristal, com seus reluzimentos próprios. Ela não cogitaria que o recipiente pudesse ser derrubado e diria: “Estou na concha desta taça e nada me sucederá!”

De súbito, o cristal recebe uma cotovelada do orador pouco cauteloso… A gota se assusta, sente um estremecimento e, percebendo que a taça se inclina perigosamente, exclama: “Tenha confiança em Nossa Senhora, não há risco de cair!” Quando o cristal dá uma cambalhota, ela instintivamente se pergunta: “O que me irá acontecer agora? Vou cair…” Mas, continua afirmando: “Confiança em Nossa Senhora!” A taça cai de pé, com a gota ilesa em seu fundo.

Ou seja, a virtude da confiança é, ao mesmo tempo, fruto e condição para a perfeita devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Por maiores que sejam os embates que soframos, parecendo estarmos numa sucessão de desastres, devemos confiar em Nossa Senhora. E se os fatos desabonarem nossa confiança, e Ela permitir que passemos por cambalhotas, convém nos lembrarmos da metáfora da gota d’água: ela se agarrou com todas as forças à superfície lisa de um cristal fascinante e, por fim, notou que a taça caiu de pé.

Nada é impossível para o que confia

Quando nos dirigirmos, então, ao Sagrado Coração de Jesus, tenhamos principalmente em vista que Ele é o Rei e centro de todos os corações, centro e Rei da História. Além disso, consideremos a necessidade de cada um possuir uma mente e vontade firmes, uma sensibilidade varonil e forte, que resiste até aos grandes eclipses dos sentidos. E, na pior das aridezes, permanecer com o inabalável desejo de oferecer tudo a Nosso Senhor por meio de Maria, para que venha o Reino do Sagrado Coração de Jesus, através do Reino do Coração Imaculado da Mãe de Deus.

Alguém poderá dizer: “Como isto é penoso!”

Respondo: “A história da gota d’água na taça no-lo comprova: pode ser difícil, mas nada é impossível para quem confia em Jesus e Maria!”

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 100 (Julho de 2019)

Aceitar com alegria os sofrimentos morais

Minha Mãe, vejo tantos e tantos homens fugirem dos sofrimentos morais, no que há uma suprema covardia. A Vós suplico esta forma de integridade: que em todos os sofrimentos morais de minha vida, eu seja inteiramente varonil, um verdadeiro católico. Que veja esses sofrimentos um por um, conte-os, pese-os e meça-os ponto por ponto. Beba cada um deles como taça amarga, até a última gota.

Que eu os sorva com serenidade, clareza, fidelidade, e caminhando resolutamente para os novos sofrimentos que vêm. Que não recuse nenhum, assuma-os todos, dando o exemplo de um homem que sofre moralmente até onde se possa sofrer. E que, nesse sofrimento, minha alma, na sua fina ponta, experimente a alegria de Vos ter dado absolutamente tudo. Vós amais, ó Senhora, quem Vos oferece com alegria este sofrimento total.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 14/11/1979)

Admiração transformante

A experiência da vida nos confirma o princípio segundo o qual aquilo que admiramos penetra em nossa alma e nos transforma. Exemplo arquetípico dessa verdade encontramos em Nosso Senhor.

Percorramos as páginas do Evangelho sob este ângulo e veremos como Ele, durante todo o tempo de sua passagem pelo mundo, procurou despertar admiração. O povo que O ouvia não cabia em si de tanto admirá-Lo. E como se tal não bastasse, o Divino Mestre ainda se transfigurou no Tabor. Para quê? Para transformá-los, para obter o amor daquela gente, pois o autêntico amor começa pela admiração.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 30/9/1969)

Estarei sempre presente entre vós

Não posso imaginar como terá sido o luto da natureza com Nossa Senhora morta… Mas imagino-A saindo da sepultura com glória delicadíssima, suavíssima, virginalíssima e maternalíssima.

Ressurrecta, vai subindo ao Céu. Enquanto Nosso Senhor, em sua Ascensão, manifestava grandeza e bondade, Ela exprime mais bondade do que grandeza.

Todos os presentes, vendo seu sorriso materno, compreendem-nA cada vez mais e são atraídos por Ela, à medida em que Maria Santíssima vai se elevando ao Céu, até o momento em que Ela desaparece e uma claridade fica espalhada sobre tudo e sobre todos, como quem diz: “Eu, na realidade, fiquei. Rezai, porque estarei sempre presente e unida a vós”.

Lentamente aquilo se desfaz, deixando lembranças que durarão por toda a eternidade…

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/10/1971)

A perfeição da santidade

Os pintores costumam representar a Transfiguração de Nosso Senhor com uma fisionomia muito plácida e serena, e os três apóstolos olhando para Ele numa atitude de admiração.

Isto certamente estava presente em tal episódio. Mas o Redentor, na infinita riqueza de sua santidade, possuía ao mesmo tempo todos os aspectos de todas as virtudes, levadas ao último extremo e à perfeição mais sublime.

Assim, juntamente com a afabilidade, havia em Nosso Senhor majestade e superioridade sem proporção com nenhum conceito humano. A superioridade incutia respeito, afeto e medo, que é o temor de Deus. E a face de Jesus também apresentava ali sublimidade, nobreza régia, poder, seriedade, gravidade e força, deixando estupefatos e tremendo de medo aqueles que O viam.

Na junção de ambos os aspectos, a afabilidade serena e a sublime gravidade, podemos compreender algo de como foi magnífico esse acontecimento, pois a harmonia das virtudes extremas e contrárias constitui a perfeição da santidade.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/8/1965)

Lágrimas, milagroso aviso

Em 1972, uma fato despertara interesse nos católicos do mundo inteiro: uma imagem de Nossa Senhora de Fátima vertera lágrimas em Nova Orleans, Estados Unidos. A fim de atender aos anelos de seus leitores a este respeito, Dr. Plinio serviu-se de sua tribuna semanal na “Folha de São Paulo” para analisar o acontecimento.

Sob a direção imediata [da Irmã Lúcia], um artista esculpiu duas imagens, que correspondem o quanto possível aos traços fisionômicos com que a Santíssima Virgem apareceu em Fátima. Ambas essas imagens, chamadas “peregrinas”, têm percorrido o mundo, conduzidas por sacerdotes e leigos. Uma delas foi levada recentemente a Nova Orleans. E ali verteu lágrimas.

O Pe. Romagosa(1) tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo Pe. Joseph Breault, M. A. P., ao qual está confiada a condução da imagem. Entretanto, sentia ele funda relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao outro sacerdote que o avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir.

O Pe. Breault, notando alguma umidade nos olhos da Virgem peregrina no dia 17 de julho, telefonou ao Pe. Romagosa, o qual acorreu junto à imagem às 21:30, trazendo fotógrafos e jornalistas. De fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi logo fotografada. […]

Às 6:l5 da manhã seguinte, o Pe. Breault telefonou novamente ao Pe. Romagosa, informando-o de que desde as 4 horas da manhã a imagem chorava. O Pe. Romagosa chegou pouco depois ao local, onde, diz ele, “vi uma abundância de líquido nos olhos da imagem, e uma gota grande de líquido na ponta do nariz da mesma”. Foi essa gota, tão graciosamente pendente, que a fotografia divulgada pelos jornais mostrou a nosso público.

O Pe. Romagosa acrescenta que vira “um movimento do líquido enquanto surgia lentamente da pálpebra inferior”.

Mas ele queria eliminar dúvidas. […] Cessado o pranto, o Pe. Romagosa retirou a coroa da cabeça da imagem: a haste metálica estava inteiramente seca. Introduziu ele, então, no orifício respectivo, um arame revestido de papel especial, que absorveria forçosamente todo líquido que ali estivesse. Mas o papel saiu absolutamente seco.

Ainda não satisfeito com tal experiência, introduziu no orifício certa quantidade de líquido. Sem embargo, os olhos se conservaram absolutamente secos. O Pe. Romagosa voltou então a imagem para o solo: todo o líquido colocado no orifício escorreu normalmente. Estava cabalmente provado que do orifício da cabeça — único existente na imagem — nenhuma filtração de líquido para os olhos seria possível.

O Pe. Romagosa ajoelhou-se. Enfim ele acreditara.

* * *

O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda, na previsão do castigo que virá para os homens do século XX se não renunciarem à impiedade e à corrupção.

Ainda é tempo, pois, de sustar o castigo, leitor, leitora! Se vier, tenho por lógico que haverá nele, pelo menos, uma misericórdia especial para os que, em sua vida pessoal, tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria.

É para que minhas leitoras, meus leitores, se beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o presente artigo…

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído da “Folha de São Paulo” de 6/8/1972)

1) Pe. Elmo Romagosa, autor do artigo “As lágrimas da imagem molharam meu dedo” publicado em “Clarion Herald” — semanário de Nova Orleans distribuído em onze paróquias do Estado de Louisiana.

Transfiguração de Cristo

Poder-se-ia dizer que Nosso Senhor se valeu da capacidade do homem de recordar para estimulá-lo à fidelidade.

Pensemos, por exemplo, no maravilhoso episódio da Transfiguração: no alto do Monte Tabor, d’Ele se esparge uma irradiação das suas infinitas perfeições, e os apóstolos que presenciam tal cena não desejam outra coisa senão permanecer ali, contemplando aquela manifestação da divindade do Mestre.

Ora, quem sabe, no momento de cada um deles partir deste mundo, não lhes terá servido de coragem e firmeza as lembranças das fulgurações do Tabor?

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 19/7/1984)

Ensino imparcial da História: TRIUNFO DA IGREJA

A Carta Apostólica “Annum Ingressi”, diz Dr. Plinio, é a chave de cúpula de uma brilhante série de documentos redigidos pelo Papa Leão XIII, para mostrar o papel benéfico e insubstituível da Igreja Católica no desenvolvimento da civilização e na promoção do verdadeiro progresso. Dentro da série estamos publicando, ele continua a comentar o pensamento do Pontífice.

Conforme vimos, os documentos publicados por Leão XIII sobre os mais diversos temas constituíam um conjunto que visava ao mesmo fim: esclarecer e alertar, na tormenta, o povo fiel.

As Encíclicas sobre doutrinas sociais, sobre a família, sobre o poder político não são senão episódios de uma só e grande reação em face das “opiniões perversas”. E de tal maneira esses documentos se entrelaçam uns com os outros, que os maiores condensam muitas vezes, e genialmente desenvolvem, ensinamentos para os quais as Encíclicas anteriores já haviam preparado os espíritos, tocando ex professo ou incidentemente o mesmo assunto. Ele nolo diz, aliás, expressamente quanto a mais de uma delas.

Numa série tão concatenada, o último documento, feito por um autor que, como vimos, não ignorava estar prestes a transpor as “portas da eternidade”, tem evidentemente o caráter de remate, o papel de chave de cúpula, a importância de um complemento final e supremo, de uma mensagem extrema na qual se resume, e chega à sua mais nítida e sintética expressão, tudo quanto de mais essencial fora anteriormente ensinado.

A história de Leão XIII, a análise de seus documentos, a própria história do século em que ele viveu e no qual sua figura alcançou projeção mundial, não podem abstrair do estudo da “Annum ingressi”.

O estudo da História não pode ser “desinteressado”

Essa Carta Apostólica, que constitui importante trabalho histórico — pois é como que a síntese de uma fase crucial da História da Igreja, escrita por ela mesma —, apresenta para a historiografia católica e, a este título, também para a historiografia em geral, um interesse inegável. Pois ela nos faz conhecer o pensamento do grande Papa sobre a missão da História, bem como sobre o “tratamento ” do fato histórico com os recursos de uma sã filosofia e de uma teologia ortodoxa.

O pensamento de Leão XIII se nos apresenta bem definido nesse documento: a História não pode ser “desinteressada ”, isto é, o historiador deve ser imparcial na pesquisa da verdade histórica, mas uma vez tendo-a encontrado, pode e deve tomar partido por ela. No caso concreto, o historiador imparcial, bem informado e capaz, verá na História uma justificação da Igreja. Cabe-lhe dar testemunho deste fato.

E mais: como a Igreja é uma sociedade viva, que age e luta no presente; como o testemunho da História é elemento essencial para o êxito ou o insucesso desta luta; o historiador está no seu direito quando se empenha especialmente em desfazer o falso testemunho de uma História mentirosa.

A História apologética, assim entendida, não é um subproduto da História, e muito menos uma caricatura.

É, pelo contrário, História genuína e excelente, voltada para a realização de uma de suas mais altas missões. Se o Papa coloca, no ápice da grandiosa construção doutrinária, um documento histórico-apologético, um de seus objetivos expressos é exatamente “reabastecer de Fé e coragem” as almas que, opressas pelas “graves provações da Igreja”, poderão “recobrar alento”.

A História tem também outro fim, que é dos principais para Leão XIII: buscar nos fatos do passado uma explicação do presente, que sirva para a solução dos problemas atuais (veremos depois que Leão XIII aponta outra utilidade para a História: proporcionar elementos para fundadas conjecturas do futuro). Com efeito, se Leão XIII se propõe demonstrar na “Annum ingressi”, com argumentos históricos, a grande lei que nela enuncia, fá-lo para “assinalar os remédios” aos males de seu tempo: História “Magistra Vitae” — a História é a mestra da vida, diziam os antigos.

Muitas vezes o ensino da História é preconceituoso Aliás, nessa Carta Apostólica, Leão XIII outra coisa não faz senão pôr em prática os conselhos que, em outros documentos famosos sobre a História, ele deu aos historiadores católicos.

Referimo-nos em especial ao Breve Saepenumero Considerantes (“Consideramos freqüentemente”), de 18 de agosto de 1883, documento famoso, pelo qual Leão XIII franqueou os arquivos do Vaticano ao estudo dos historiadores.

É interessante ver como a “Annum ingressi” constitui um modelo de trabalho histórico feito segundo o espírito desse Breve.

Começa o Breve por lamentar “a força e perfídia” com que os adversários da Religião procuram tirar proveito da História para “tornar suspeitos e odiosos a Igreja e o Papado ”. Dá ele um apanhado da historiografia anticatólica, desde os “Centuriadores de Magdeburgo” (Alemanha) até nossos dias¹.

Ora, esta historiografia “invadiu até as escolas”, onde “freqüentemente se dão às crianças, para as instruir, livros cheios de erros”. No ensino superior, o estudo da História é aproveitado para “construir teorias baseadas em preconceitos temerários, o mais das vezes em desacordo flagrante com a Revelação divina”, o que enche a “chamada Filosofia da História” de “densas trevas”.

Em suma, “sem descer a pormenores, o plano geral do ensino histórico tem por fim tornar suspeita a Igreja e odiosos os Papas, bem como persuadir, sobretudo a multidão, de que o governo pontifício é um obstáculo à prosperidade e grandeza da Itália”. Leão XIII manifesta aqui uma preocupação muito acentuada com a História da Itália, país no qual a investida anticlerical estava em seu clímax. Não obstante, o panorama descrito se aplicava, mutatis mutandis, ao mundo inteiro.

Nesse Breve fica, assim, caracterizada em termos impressionantes a ofensiva desenvolvida contra a Igreja no campo histórico: “Hoje mais do que nunca”, assevera Leão XIII, “a arte do historiador parece ser uma conspiração contra a verdade”. O Pontífice emprega, a este propósito, expressões que insistem muito sobre a má-fé da historiografia anticatólica.

História anticatólica, eivada de erros e de injustiças

O Papa fala de “injustos ataques contra a honra e dignidade da Sé Apostólica”, “mutilações e hábeis omissões sobre o que constitui os maiores lances da História, a fim de dissimular, pelo silêncio, os fatos mais gloriosos e gestos memoráveis, enquanto se redobravam esforços para de pôr em evidência e exagerar” o que, no passado da Igreja, poderia ter sido “menos prudente ou menos irrepreensível”; “malevolência e calúnias” contra o poder temporal dos Papas; “mentiras que audaciosamente se esgueiram nas volumosas compilações e nos delgados panfletos ”, na imprensa e no teatro; quando a própria evidência dos fatos não permitia que se voltassem contra a Igreja “todos os negrumes da calúnia”, narravam-se os fatos de maneira a subestimar tanto quanto possível a glória dos Papas, “à força de atenuações e dissimulação”.

Pouco depois, Leão XIII denuncia os livros escolares “cheios de mentiras”, a “perversidade e leviandade” de certos professores; mostra que nas escolas superiores as teorias contrárias à Revelação eram elaboradas “com o único intuito de dissimular e ocultar o que as instituições cristãs tinham de mais salutar”.

Com isto chegavam a “inconseqüências e absurdos”. Quanto ao “plano de ensino da História tendente a tornar a Igreja suspeita, os Papas odiosos, e persuadir a multidão de que o governo pontifício era um obstáculo à gradeza da Itália”, “nada se pode afirmar que mais revolte a verdade”, diz Leão XIII; isto é “mentir violentamente sobre fatos evidentes e notórios.

Enganar conscientemente a outrem, com intuito criminoso, é por maldade envenenar a História”.

Quanto aos efeitos deletérios dessa ação anticristã, que dissemina uma História “escravizada ao espírito de partido”, o Breve os enumera com precisão e força².

O dever dos historiadores católicos

Tudo isto convida, a um nobre esforço de História apologética, “homens probos e versados neste gênero de estudos, que se consagrem a escrever a História de maneira que esta seja o espelho da sinceridade e da verdade”.³

A História apologética não é, pois, uma História feita com retoques fraudulentos, para servir às conveniências de uma causa. É proba, honesta, veraz, científica, inflexivelmente subordinada ao tríplice ditame de toda História digna desse nome: “não mentir, não temer dizer a verdade, não ceder ao desejo de lisonjear, ou de hostilizar”.

Se se pode falar de uma História apologética segundo a mente de Leão XIII, é simplesmente no sentido de uma História tão autêntica e científica como outra qualquer, mas que escolhe por temas os assuntos em que a História falsa procura guerrear a Igreja.

Quando falamos de História científica aludimos tão-somente a uma História feita segundo os bons métodos, e com o auxílio dos recursos científicos hodiernos. Os historiadores católicos devem ter em conta que “nada do que o engenho dos modernos inventou é alheio ao objeto de seus trabalhos” — escreveu Leão XIII noutro de seus documentos.

Além de ser obra rigorosamente imparcial, uma obra dessa categoria presta alto serviço à causa da religião e da sociedade, bem se vê. Tarefa digna de particulares “eruditos e adestrados na arte de escrever a História” – “historia scribendi arte” 6.

Tão nobre que constitui para a própria Igreja um direito e um dever: “já que o inimigo busca na História suas armas principais, cumpre que a Igreja combata em paridade de condições, e redobre seus esforços para repelir o assalto com valentia maior onde ele é mais violento”7.

E foi essencialmente com este intuito que Leão XIII franqueou “os depósitos literários” do Vaticano aos estudiosos. Tanto é legítima e gloriosa atarefa de uma História apologética bem entendida.

E, com efeito, não teria sentido o papel dos estudos bíblicos indispensáveis à Igreja para que ela exerça seu ministério num ambiente cultural cada vez ais trabalhado pela crítica científica, se não se reconhecesse francamente a liceidade de uma História apologética.

Na mente de Leão XIII, não só tais estudos bíblicoapologéticos eram cientificamente lícitos, mas da maior importância. Consagrou-lhes uma Encíclica que ficou famosa (Providentissimus Deus, de 18 de novembro de 1893), mas instituiu ainda a Comissão dos Estudos Bíblicos, para “assegurar a manutenção integral da verdade cristã e promover os estudos da Sagrada Escritura”8 e lhe pôs à disposição “uma parte de nossa Biblioteca Vaticana”, na qual prometia instalar, para uso da Comissão, abundante coleção de manuscritos e de volumes de todas as épocas, tratando de questões bíblicas.9

O apelo de Leão XIII deu origem a toda uma série de trabalhos históricos de orientação católica, que figuram com honra na bibliografia de nossos dias.

1 Saepenumero Considerantes II,2,a,b,c,d. Os chamados“centuriadores de Magdeburgo”, teólogos protestantes, escreveram no século XVI uma história da Igreja, de caráter fortemente anticatólico, com argumentos inconsistentes, distorções da verdade e muitos documentos falsos. Sua tese era de que a Igreja Católica havia sido infiel à primitiva Igreja cristã, tinha destruído a brilhante antiguidade grecoromana e jogado o mundo no obscurantismo, fanatismo e miséria da Idade Média. Felizmente, o Renascimento havia recuperado os valores do mundo antigo.
2 Saepenumero Considerantes IV,a,b.
3 Saepenumero Considerantes IV,b.
4 Saepenumero Considerantes IV,d.
5 Carta Apostólica Vigilantiae Studéique Memores, 30/10/1902.
6 Saepenumero Considerantes V.
7 Saepenumero Considerantes IV,i.
8 Vigilantia Studéique Memores, op. cit.
9 Ibid. Leão XIII apela nesta Carta Apostólica aos “católicos
mais favorecidos com bens de fortuna” para enriquecer
ainda mais este depósito. Na biblioteca do Vaticano, que o
próprio Pontífice expandiu pela aquisição da biblioteca
Borghese, bem como no arquivo do Vaticano, hauriram os
documentos para seus trabalhos, historiadores do valor do
Cardeal Hergenröther, do dominicano Deniffle, do
Cardeal Ehrle, do Barão Luís de Pastor e do Padre
Duchesne.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 52 (Julho de 2002)