Inteira e filial confiança em Nossa Senhora

Pedimos-vos, ó Mãe, que do alto do Céu desçam sobre nós, vossos filhos, as bênçãos maternais nascidas de vosso inesgotável afeto.

Como os discípulos de Emaús rogaram ao Divino Redentor, nós Vos pedimos que essas bênçãos “permaneçam conosco”, “porque se faz noite” sobre o mundo.

A cada instante, a cada angústia, a cada necessidade, ajudem-nos elas a manter a mais inteira e filial confiança em Vós.

Plinio Corrêa de Oliveira

Presença que emudecia os ídolos

São Saturnino possuía uma ação de presença pela qual o simples fato de passar diante dos ídolos, através dos quais os demônios falavam, fazia com que os espíritos maus fugissem e os falsos deuses emudecessem. Porque em face do varão de Deus o demônio se acovarda e foge realmente, e os ídolos não falam mais. Peçamos a Nossa Senhora, por intermédio deste Santo, que nos consiga a abreviação destes dias terríveis nos quais vivemos, para que possamos ter a alegria de ver os demônios fugirem envergonhados diante dos olhos de Deus.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/11/1968)
Revista Dr Plinio 260 (Novembro de 2019)

Simbolismo da Medalha Milagrosa

Numa face da medalha, a Santíssima Virgem pousa os pés sobre o mundo e calca uma serpente, exprimindo assim a sua realeza, lembrada em Fátima e afirmada como uma vitória sobre a Revolução: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”. A Revolução será derrotada, e na Contra-Revolução teremos a vitória do Coração Imaculado de Maria.

 

Comemora-se a 27 de novembro a festa da Bem-aventurada Virgem Maria da Medalha Milagrosa, dia em que, no ano de 1830, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, em Paris, e revelou-lhe o desenho da medalha milagrosa.

Nossa Senhora calca aos pés o mundo e uma serpente

Quando esta revelação foi divulgada, verificou-se que a Medalha Milagrosa era ocasião para um número enorme de graças de conversão, das mais extraordinárias. Com o que se patenteou ou se documentou mais uma vez que esta devoção era muito desejada por Maria Santíssima. Por causa disso, estabeleceu-se o excelente costume de colocar no ponto de entroncamento das contas do Rosário a Medalha Milagrosa; de fato seu culto é cercado de toda espécie de graças.

Essa devoção preparou as almas muito poderosamente para a definição de um dos mais importantes dogmas de Nossa Senhora: a Imaculada Conceição. Vale a pena, portanto, fazermos uma análise da medalha e de tudo quanto ela simboliza para compreendermos o que a Providência Divina teve em vista quando favoreceu com tantas graças essa devoção que a própria Mãe de Deus revelou a Santa Catarina Labouré.

Vemos numa face da medalha a Santíssima Virgem pousando os pés sobre o mundo, na afirmação de sua realeza sobre toda a Terra. É exatamente essa a doutrina da realeza de Nossa Senhora, lembrada em Fátima e afirmada como uma vitória sobre a Revolução: o comunismo espalhará os seus erros por toda parte, o Papa terá muito que sofrer, a Igreja será perseguida, “por fim o meu Imaculado Coração triunfará”. Quer dizer, a Revolução será derrotada, e na Contra-Revolução nós teremos, então, a vitória do Coração Imaculado de Maria.

Nossa Senhora aparece calcando aos pés não só o mundo, mas também uma serpente, o que é inteiramente coerente com o resto, porque nesse mesmo lado da medalha está escrito: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!”

É, portanto, a Imaculada Conceição, mas com um atributo que não se encontra nas imagens dessa invocação como tal: Nossa Senhora está com as mãos abertas em sinal de aquiescência, de atendimento, e delas partem fachos luminosos imensos. São as graças e os favores que por suas mãos – pela ação, por meio d’Ela – descem sobre o mundo.

Visão grandiosa da vitória de Maria Santíssima

Temos, assim, algo que faz pensar na verdade de Fé da mediação universal de Maria. As graças passam pelas mãos de Nossa Senhora –  elas são as distribuidoras dos dons divinos – e numa quantidade enorme se precipitam sobre a Terra.

Segundo diversas revelações, a vitória sobre a Revolução dar-se-á no momento culminante dos castigos descritos de vários modos. Ana Catarina Emmerich, por exemplo, em uma de suas descrições narra a vitória de Nossa Senhora no Vaticano. Ela vê Maria Santíssima entrando na Praça de São Pedro – dado muito curioso, porque dá a ideia de que Ela não estava presente no Vaticano –, elevando-se até o alto da cúpula de onde Ela estende a sua ação sobre o mundo inteiro e o cobre com seu manto; e, então, a Revolução cessou.

Nessa face da medalha temos, assim, uma série de conceitos que se conjugam para dar uma visão grandiosa da vitória de Maria no mundo. Essas graças descem para a conversão dos pecadores, dos hereges, mas também o castigo dos irredutíveis para a proteção daqueles que se mantiveram fiéis até o fim, e os auxílios para que se mantenham na fidelidade. Tudo isso sai das mãos de Nossa Senhora como de um manancial. Ela está afável, risonha, acolhedora para todos aqueles que, tendo em vista esse conjunto de fatos, de símbolos, de atributos, de noções, se dirijam confiantes a Ela, pedindo as graças de que precisam.

O verso da medalha não é menos simbólico. Ele contém os elementos de várias devoções conjugados: as doze estrelas lembram aquelas com que a Santíssima Virgem é representada coroada no Apocalipse; no centro vemos o “M”, primeira letra do nome de Nossa Senhora, sobre o qual está uma cruz. Isso recorda muito tudo quanto ensina São Luís Grignion de Montfort, no “Tratado da verdadeira devoção” e na “Carta Circular aos amigos da Cruz”; e, por fim, abaixo do “M”, as duas grandes devoções que constituem, no fundo, uma só: ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.

Graças concedidas para a luta contra a Revolução

São graças concedidas nos tempos modernos para a luta contra a Revolução: o dogma da Imaculada Conceição, que deveria ser definido algumas dezenas de anos depois da aparição da Medalha Milagrosa; as devoções ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, nascidas das revelações de Paray-le-Monial e dadas para evitar a Revolução na França; a obra de São Luís Maria Grignion de Montfort, também suscitada para impedir aquela Revolução.

De maneira que esses símbolos todos se conjugam como uma espécie de compêndio dos temas ou dos pontos mais sensíveis para a piedade católica, que lembram mais aos católicos o objeto natural de suas inclinações, de sua confiança.

Temos aí a razão pela qual essa medalha foi objeto de tantas graças. Lembrem-se que ela não foi composta por ninguém. Toda a sua constituição, todos os elementos que nela se encontram foram indicados por Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré. De maneira tal que isso tem um sentido muito profundo, é uma espécie de sumário das devoções que nós mais devemos considerar. Por essa razão precisamos amar muito essa medalha, vendo nela como que um programa para nós; e usá-la, tê-la sempre conosco.

Outra devoção esplêndida que os católicos sempre tiveram, desde a Idade Média para cá, foi o Rosário. Colocar essa medalha no Rosário é uma ideia felicíssima, muito harmoniosa, lógica, razoável, e constitui um todo de objeto de piedade que nos deve falar muito à alma e despertar a nossa devoção.

Escudo contra todas as tentações do demônio

Vamos pedir a Nossa Senhora o favor de, pelas graças da Medalha Milagrosa, apressar o dia de sua vitória. E também de nos ajudar a sermos fiéis durante todas as tormentas que se aproximam. Porque devemos nos lembrar bem disto: a perseverança é uma graça inestimável. Do que adianta uma pessoa ter Fé, virtudes, se depois vai cair no pecado? Essa perseverança não é fruto de nossas qualidades pessoais, mas da graça que se trata de pedir humildemente, de implorar com insistência, e à qual é necessário corresponder. Portanto, precisamos pedir as graças que nos assegurem a perseverança.

Há, hoje em dia, tantas almas tentadas levadas pelo o demônio para os rumos mais execráveis! Talvez nem todo mundo tenha a ideia de qual é a ação, a força do demônio na época em que nós estamos. Um Santo, cujo nome não me lembro, afirmou serem tão numerosos os demônios que pairam pelos ares para a perdição das almas que, se pudessem ser vistos, obscureceriam até o Sol, pois formariam uma espécie de capa em torno da Terra.

Esses são os demônios, os quais, segundo Ana Catarina Emmerich, atuam sobre as almas não diretamente para levá-las ao pecado, mas para criar um clima que torna depois a tentação dos outros demônios quase irresistível, avassaladora. Se o mal em nossos dias tem tanta possibilidade de progressão é porque ele encontra em toda parte o clima psicológico preparado.

A meu ver, muitas vezes por dia o demônio tenta as pessoas. Nem sempre serão tentações sensíveis, é evidente. Mas é uma ação quase imperceptível. Há também demônios que fazem assaltos violentos; estes, porém, não são os mais perigosos.

Então nós devemos compreender que essa medalha, com todos os seus símbolos e recomendada por Nossa Senhora, é um dos penhores da aliança d’Ela conosco. É um dos meios, uma espécie de escudo que Ela nos dá para a luta contra todas as tentações do demônio.

A invocação de Nossa Senhora das Graças ou da Medalha Milagrosa, por tudo quanto ela contém e, sobretudo, pela Imaculada Conceição que está esmagando a cabeça do demônio, é particularmente eficiente nessa luta contra o poder das trevas, que tanto e tanto nós devemos conduzir nos dias de hoje.

Eis uma razão a mais para nos aferrarmos a esses símbolos, a essa medalha, ao escapulário do Carmo, ao Rosário. Devemos ter sempre conosco esses objetos de piedade, como meio de luta contra o demônio. Essa é uma consideração que me parece particularmente importante nos dias em que vivemos.   v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 27/11/1964)
Revista Dr Plinio 260 (Novembro de 2019)

Sacrário de Nosso Senhor

Nossa Senhora é o sacrário onde está Nosso Senhor Jesus Cristo e o santuário de dentro do qual todas as graças se difundem para o gênero humano. Devemos rezar a Jesus enquanto vivendo em Maria porque Ele quer ser invocado dentro do seu templo, que é a Santíssima Virgem. Peçamos que Ele viva em nós como vive n’Ela.

Jesus Cristo viver em nós significa termos o espírito da santidade d’Ele, que é o espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Portanto, o espírito contrarrevolucionário, expressão mais característica do espírito da Santa Igreja. Eis o que devemos pedir a Jesus, por meio de Nossa Senhora, enquanto vivendo n’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 23/5/1966)
Revista Dr Plinio 260 (Novembro de 2019)

O pontificado aliado à santidade

São Leão Magno foi um dos maiores papas que a História registra. Lutou em seu pontificado contra numerosas heresias que então agitavam a Igreja.

Com a autoridade de Papa aliada à qualidade de Santo, cuja santidade foi confirmada por um dos maiores milagres da História da Igreja – a vitória sobre Átila e suas tropas que pretendiam invadir Roma –, fez sermões advertindo o povo contra os hereges, exortando-o a denunciá-los aos sacerdotes e vigários, para sofrerem as penas canônicas e, eventualmente, também as temporais.

Portanto, ele praticou uma virtude que hoje seria muito pouco apreciada, por ser oposta ao ecumenismo mal compreendido. O que diria São Leão Magno diante das heresias soltas em nossos dias?

Peçamos a ele que reacenda na Igreja esse espírito de discernimento, de intransigência e de luta, que seria suficiente para evitar ao mundo os terríveis castigos pelos quais inevitavelmente vai passar, se não se converter. Que ao raiar a aurora do Reino de Maria esse espírito esteja imensamente aceso e dure até o fim dos tempos.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/4/1967)

Revista Dr Plinio 248 (Novembro de 2018)

São Leão Magno

Sabendo da presença de hereges em solo pontifício, São Leão Magno empreendeu amplos esforços para combatê-los. Instituiu um tribunal em Roma — presidindo pessoalmente a muitas sessões —, com a finalidade de julgar as doutrinas heréticas. Proferiu sermões advertindo o povo, exortou a todos que denunciassem os praticantes das heresias.

Quando na Espanha rebentou a heresia priscilianista, São Leão prestou o devido apoio a São Turíbio, Bispo de Astorga, impulsionando os chefes de Estado a condenarem tal heresia, pois esta não era só a ruína da Igreja, mas também da ordem temporal.

São Leão Magno procedeu não somente com a autoridade de um Papa, mas, sobretudo, com a autoridade de um santo.

Os valores por ele defendidos de maneira heroica, foram confirmados por um impressionante prodígio: a grandiosa aparição de São Pedro nos céus, enfrentando Átila às portas de Roma. São Leão fazia assim retroceder o rei dos hunos. Um grande milagre da História da Igreja.

Utilizando-se da infalibilidade, a Igreja declarou heroica a prática de todas as virtudes por São Leão Magno.

Peçamos a ele que, quando raiar a aurora do Reino de Maria, as virtudes por ele praticadas.

 

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 140 (Novembro de 2009)

Harmonioso cântico de matizes

A Sainte Chapelle (Santa Capela), mandada construir pelo rei São Luís de França, é um desses tesouros da arte católica, inspirado por uma Fé tão rica e tão florescente, que sempre encontramos  algo de novo a se dizer e se comentar a respeito dela.

Por exemplo, acerca de seus magníficos vitrais.  Quando os conheci, tive a impressão de estar ouvindo um fabuloso coro cantando, no qual cada vitral era uma voz, e que entoava uma melodia  entendida de maneira peculiar por mim, assim como era compreendido de modo diverso pelas diferentes almas que o “escutavam”. E como é o próprio da interlocução, deram-me oportunidade de  discernir, no meu interior, mil virtualidades, anseios, sedes que eu tinha e que só percebi no momento de “beber a água”, ou seja, “ao ouvir” aquele cântico feérico dos vitrais da Sainte Chapelle.

Supérfluo dizer que me encantaram ao ponto do indizível. A partir desse momento, ao pé da letra, vários espaços de minha alma começaram a viver. Que lembranças guardo do que eles me diziam  com suas “vozes” que não emitiam sons, mas fabulosos coloridos? Eu não imaginava que daquelas cores — digamos, de um azul, de um vermelho, de um verde, etc. — fosse possível obter tantos matizes, finos, suaves, fazendo aparecer o que essas cores têm de mais delicado, sem se transformarem em cor-de-rosa, azul claro ou verde-água triviais que por aí existem.

Por outro lado, desmentiam para mim uma ideia primitiva, segundo a qual essas cores muito delicadas só eram obteníveis com matérias-primas raras e com elas apenas se podiam pintar  superfícies pequenas, deteriorando-se logo. E que, portanto, havia um irremediável divórcio entre a grandeza e aquela forma de delicadeza matizada que estava lá.

Ora, diante de mim reluziam vitrais enormes, apresentando matizes de extrema suavidade, sem serem homogêneos, com uma agradável variedade de tons dentro de cada painel. E então este  instantâneo da delicadeza fixada, tornada grandeza, e o débil que se apresenta rei, deu-me a impressão de uma vitória da alma justa, de uma vitória de tudo quanto é frágil, reto, inocente, sobre o  que é ruim, uma impressão de fato extraordinária, que produziu no meu espírito um “tressaillement” de contentamento.

Agora, num misto de análise artística e psicológica, notei também que esses matizes que assim se ostentavam não venciam com a arrogância de um “boxeur” que derruba o adversário, põe o pé em cima dele e depois acena para a platéia.

Nada disso. Essa delicadeza de matizes vencia com uma espécie de dignidade, com folga tal que ela não sentia sequer a necessidade de esmagar o adversário. Este não se encontrava estirado ao  solo: estava eliminado do panorama. Assim, criava-se a ideia de um mundo onde, desde o começo, só ele, vitral, existira. Algo parecido com aquela Sabedoria que, no princípio dos séculos,  brincava com todas as coisas…

Percebi que na delicadeza de cores daqueles vitrais havia a candura e a como que inexperiência do virginal, aliada à estabilidade e à dignidade da experiência de uma matriarca no auge mais dourado de sua vida, na plena lucidez e no pleno conhecimento das realidades da nossa existência terrena.

Ainda nessa linha de impressões, imaginando que cada vitral era como que alguém que tivesse a alma construída daquele jeito, imaginando que esses “alguéns” do mundo dos possíveis foram  sonhados pela Idade Média e tiveram começos de realização em milhares de almas, então eu pensava em São Luís, nos artistas dele que edificaram essa maravilha da arte católica, na multidão de súditos que amavam seu monarca santo e admiravam nele as suas semelhanças com o Rei dos Reis, Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu pensava nisso e entendia ainda melhor o que foi a época áurea da Cristandade.

Essa é a análise dos matizes. Agora, a impressão que tive do conjunto de todos os vitrais foi a de uma harmonia constituindo uma espécie de figura não-expressa, ideal, de um vitral arqui-delicado,  de um vitral perfeito contendo em si todas as cores arqui-suaves naquele estado que acabei de descrever. Trazendo consigo a noção de que essa delicadeza assim apresentada — longe de ser inimiga dos tons mais fortes, na linha dos estados de alma como na linha das cores e na dos sons — fazia pensar no desfile sem fim de todos os coloridos possíveis, mesmo os mais antitéticos, em todos os estados de espírito possíveis, mesmo os mais diversos, dentro daquela harmonia. E dessas impressões se desprende, afinal, uma ideia de perfeição enquanto perfeição, de harmonia enquanto  harmonia, de santidade enquanto santidade — portanto, de verdade enquanto verdade, e de beleza enquanto beleza — reluzindo neste píncaro da montanha da delicadeza, a partir do qual se percebe  toda a cordilheira dos sentimentos opostos e afins que constituem o espírito indizivelmente rico da Igreja Católica.

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 44 (Novembro de 2001)

O inimaginável e o sonhado se encontram

A prática da Religião assídua, séria, reta, durante séculos, levou as almas a desejarem o estilo gótico. Em certo momento, quando surgiram seus primeiros esboços, todos disseram: “É isso mesmo que almejamos!” E o gótico se espalhou pelo mundo inteiro.

 

Quando há uma sociedade — ou seja, o corpo social inteiro — que vive em uníssono, deseja muito uma mesma coisa, aparecem os artistas que, imbuídos do mesmo desejo, fazem o que a sociedade quer. E a obra de arte é uma consonância de um ou de alguns homens, dotados de talentos especiais para isso, com o que a sociedade deseja.

O encontro entre o inimaginável e o sonhado

Sempre que vejo esses monumentos góticos, e Colônia de um modo especial, fico tomado pelo encontro, no mais fundo de minha alma, de duas impressões contraditórias.

De um lado, trata-se de uma coisa tão bela que, se eu não conhecesse, não seria capaz de sonhá-la. Ela, portanto, supera qualquer sonho que eu pudesse ter. Mas de outro lado, olhando para aquilo, algo diz no fundo de mim: “Isso deveria existir! E essa fachada inimaginável me é, ao mesmo tempo e paradoxalmente, uma velha conhecida, como se eu toda a vida tivesse sonhado com ela!”

O inimaginável e o sonhado se encontram numa aparente contradição, e há qualquer coisa nesse encontro que satisfaz a minha alma profundamente. Tenho uma impressão interna de ordenação, elevação, apaziguamento e força, um convite — acabo de falar em apaziguamento — à combatividade, que me faz bem, até mesmo na idade em que estou(1).

Quer dizer, em última análise, há qualquer coisa em nós que deseja algo, que não somos capazes de imaginar. Mas, este fundo, que é feito para certas coisas, deseja-as e conhece-as tão bem que, quando as vê, tem a impressão de encontrar um velho conhecido. E, de outro lado, tem uma surpresa porque encontra o inimaginável. Então, há no mais profundo de nós mesmos algo que, sem percebermos, delineia uma figura de maravilhas, a qual eu não diria sonhada, mas é anelada, esboçada, que nasce das necessidades da nossa alma.

Quando encontramos essa maravilha, dizemos para nós mesmos:

“Ah! Aqui está a fachada esperada! Eu não podia morrer sem tê-la visto. A minha vida não seria completa; não seria inteiramente eu mesmo se não a tivesse contemplado. Ó fachada bendita, ó estilo bendito, que faz vir à tona algo de profundo de minha alma e, de certo modo, faz com que me conheça a mim mesmo, compreendendo aquilo para o qual fui criado.

“É algo de misterioso que pede toda a minha dedicação, todo o meu entusiasmo, e que minha alma seja inteiramente assim. Uma escola de pensamento, de sensibilidade, um estilo de vontade, um modo de ser dali se eleva e para o qual sinto que nasci. Algo muito maior do que eu. Esses homens que me antecederam tinham também no fundo de suas almas este desejo. E até conceberam o que não concebi e fizeram o que não fiz. Tinham eles um desejo tão alto, tão universal, correspondendo aos anelos profundos de tantos homens, que o monumento ficou para todo o sempre: a Catedral de Colônia!”

 O “lumen” de nossas almas: mais belo que os vitrais

Há um conceito de luz que nasce em meu espírito, a qual não é, bem entendido, a luz elétrica, nem sequer uma linda luz passando pelos vitrais. Mas é muito mais do que isso: uma luz que está dentro da alma humana, à procura do que é luminoso fora, para a festa do encontro e da participação. A luz de dentro encontra a luz de fora. Mais belo do que todos os vitrais da Catedral de Colônia é o “lumen” que há no fundo de nossas almas, por onde nos extasiamos quando vemos essa Catedral. É uma claridade existente em nós, um movimento de alma, um desejo, o qual é mais pulcro do que aquilo que desejamos.

Imaginemos que alguém fosse oferecer a Nossa Senhora uma flor. Ela olharia a rosa e daria um sorriso encantador. O que havia no fundo d’Ela, encontrando a rosa, brilhou. Mas… quanto o sorriso de Nossa Senhora é mais belo do que a rosa! Portanto, aquilo que há no fundo da alma d’Ela vale mais do que algo que A fez sorrir!

Podemos dizer algo semelhante das almas que amam a Catedral de Colônia. Cada vez que uma pessoa passa por lá, e em espírito de Fé olha aquilo e se entusiasma — admira um vitral, uma ogiva, uma escultura, as torres, aquela pequena agulha existente entre as duas torres —, a catedral que ela tem no fundo da alma, as maravilhas que possui em germe sorriem. E isto agrada mais a Nosso Senhor no sacrário e a Nossa Senhora no Céu do que a própria Catedral.

E quando vemos os esplendores da Catedral de pedra, o povo que entra e sai, dizemos: “Como os homens gostam disso!” Podemos afirmar também: “Deus, no mais alto do Céu, como gosta disso!”

Mais do que isso, Deus no mais alto do Céu e Nossa Senhora gostaram do nosso encanto por aquela Catedral. Mais belo do que a Catedral é o amor que o homem tem por ela. Porque o homem é a obra-prima de Deus nesse universo visível. E todos os movimentos de alma existentes em nós, que nos levam a amar aquilo que Deus fez, ou que o Espírito Santo sugeriu para a glória de Deus, são mais belos do que as coisas materiais realizadas pelo homem.

Nós sorrimos para a Catedral; o Criador e Maria Santíssima sorriem para nós. Exatamente como no caso da rosa. O ofertante dessa flor sorriria, vendo Nossa Senhora sorrir para a rosa. E diria: “Esse sorriso é mais belo do que a rosa. A alma que viu a rosa é mais pulcra do que a rosa vista por ela.”

Assim é o “pulchrum” que há no fundo da alma do inocente. Trata-se de uma forma de luz, que consiste no anseio, no desejo, na vontade de encontrarmos uma coisa que não sabemos o que é, mas quando a encontramos percebemos que a procurávamos. E isso é o enigmático.

Às vezes encontramos coisas inesperadas

Há um dito francês muito verdadeiro, que vez por outra repito nestas exposições: “Quem não sabe o que procura, não sabe o que encontra”. Porém, tem ele a sua limitação. Às vezes os grandes encontros de nossa vida são das coisas que procurávamos sem saber, porque são inefáveis. Quer dizer, não há palavras capazes de exprimi-las adequadamente. O melhor de nossa alma está no que procuramos, mas não temos palavras para exprimir. E quando encontramos, não temos palavras para suficientemente louvar.

E nesse encontro do inexprimível com o que está acima de qualquer louvor se forma um arco, que dá alegria para nossa alma. Aí está o sentido de nossa vida. Um homem que ao longo de sua vida encontrou o que deveria procurar pode dizer: “Eu vivi!” Se não encontrou, na hora de sua morte ele pode afirmar: “Eu andei pela vida como um cão sem dono. Comi nas latas de lixo, bebi nas sarjetas, descansei na garoa, na lama, na chuva ou no sol, mas não vivi. Porque não encontrei a mão amiga que me agradasse, o dono bom que me afagasse. Fui feito para a fidelidade, para servir, mas não encontrei a quem servir. Passei uma vida vazia e morro de qualquer jeito”.

Assim poderia dizer um de nós que não encontrasse aquilo que deveria procurar.

Quando o menino vai se fazendo moço, depois varão, e daí para a frente, essa procura vai sendo satisfeita pelas circunstâncias da vida, porque ele encontra, logo nos primeiros vislumbres — se de fato procura —, a sabedoria.

Diz a Escritura que a sabedoria é como uma mendiga, à porta de nossas almas desde a madrugada, à espera que abramos para a recebermos. Na realidade, ela tem o esplendor de rainha, que com as suas carícias de mãe, suas iluminações incomparáveis, vai convidando a inocência para segui-la. E a inocência que trilha o caminho da sabedoria é o pedúnculo, a raiz da santidade.

Então, esta inocência, que se deixa guiar pela sabedoria, faz com que o homem encontre bem cedo a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana e diga: “Aqui há mistério. Esta é a maravilha das maravilhas! A ela eu me dou e já de uma vez! E, através da Igreja, quantas outras maravilhas para ver! Na Civilização Cristã, quanta coisa no passado, isto, aquilo, aquilo outro!”

De todo verdadeiro contrarrevolucionário católico se pode dizer: ele é luz

E cada um de nós vai fazendo uma espécie de museu interior mais belo do que qualquer sala adornada, onde tenhamos recolhido os objetos que possuímos. São as lembranças das coisas que nos tocaram a alma, desses momentos nos quais tivemos tal entusiasmo, satisfação e equilíbrio, que ficamos de certo modo sem respiração e sem saber o que dizer.

Ao longo dos tempos colecionamos coisas que vimos, impressões que tivemos, raciocínios que fizemos, deliberações que tomamos, gestos que presenciamos, em relação ao verdadeiro, ao bom e ao belo; mas também ao mentiroso, ao ruim e ao feio, que constitui o horror simétrico com o belo e o realça.

E vamos ordenando tudo isso, explicitando nossa própria alma com essas coisas que selecionamos; ao explicitar, progredimos no conhecimento de nós mesmos. E a bem dizer, esta luz existente em nosso interior vai se definindo. Vamos nos tornando ela, e ela vai se tornando nós. Olhando-a, ficamos cada vez mais ela. Por outro lado, olhando-nos, ela fica cada vez mais nós.

Há uma reversibilidade. A luz entra em nós, e parece ser criada só para ser nós. Exatamente como num belo vitral onde incide um raio de sol: atravessa-o tão bem e transmite uma luz tão bonita, que se diria que o Sol existe para incidir aquele raio naquele vitral. Durante todo o dia, ele torrou o vitral, espelhando-se e colocando no chão rubis, esmeraldas, safiras ou topázios, e depois vai se deitar porque cumpriu sua tarefa. Começa a anoitecer.

Tem-se a impressão de que o Sol vive para aquela joia projetada no chão, a qual anda enquanto ele se move; o astro rei vai transformando cada centímetro do granito, sucessivamente, em joia. Até que, cumprida a tarefa, a joia vai desbotando e o Sol se escondendo. Já não se vê seu reflexo no chão, mas apenas no vitral. E até os últimos lampejos do dia, olha-se aquele pedaço de vitral que nos encantou: verde, vermelho, azul, amarelo. Quando o Sol se põe completamente, tem-se vontade de dizer: “Eu também vou dormir, porque tive o meu dia cheio. Vi a joia passar pelo granito da Catedral!”

Esses encontros de alma, que definem a vida do inocente, exprimem algo que nos diria mais ou menos o seguinte: “Você foi feito para aquilo; aquilo foi feito para você. E de tal maneira você o ama, que se diria que aquilo existe para você, que isto é você, ou você é aquilo. E quando você fala daquilo, mesmo que aquilo não esteja presente, tem-se a impressão de vê-lo, pois está na sua alma. E, presente na sua alma, talvez seja visto de modo mais belo do que em sua realidade policromada e material”.

Admirando as maravilhas da Criação, pratica-se o amor a Deus

Todos percebem que tudo isto é um modo de afirmar: “Credo in unum Deum, Patrem omnipotentem, Creatorem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium” — Eu creio em um só Deus, Pai onipotente, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Por que Deus?

Porque o homem sabe, perfeitamente, que um caco de vidro é um caco de vidro, e o Sol não é senão o Sol. E que tudo aquilo seria uma ilusão se não fosse a expressão de um Ser infinitamente maior, que se oculta aos nossos sentidos, mas se mostra através desses símbolos. Que toda essa feeria seria absurda se esse Ser não existisse.

Ora, como não é possível que tanta ordem e tanta beleza sejam absurdas, a conclusão é que aquilo é! E no fundo, sem percebermos, amando aquele rubi, aquele jogo de luz, aquele vitral, amando a alma que ama aquele vitral, nós amamos ainda mais o puríssimo Espírito, eterno e invisível, que criou tudo aquilo, para nos dizer:

“Meu filho, Eu existo. Ama-Me e compreende: isto é semelhante a Mim. Mas, sobretudo, por mais belo que isto seja, Eu sou infinitamente dessemelhante disto, por uma forma de beleza tão quintessenciada e superior, que só quando Me vires verdadeiramente te darás conta do que Eu sou. Vem, meu filho, que Eu te espero! Luta por mais algum tempo, que Eu te mostrarei no Céu belezas ainda maiores, na proporção em que for grande e dura a tua luta. Quando estiveres pronto para veres aquilo que Eu tinha intenção de que visses quando te criei, Eu te chamarei.

“Meu filho, sou Eu a tua Catedral! A Catedral demasiadamente grande! A Catedral demasiadamente bela! A Catedral que fez florescer nos lábios da Virgem um sorriso como nenhuma joia, nenhuma rosa, nenhuma das meras criaturas que Ela conheceu, fez florescer.”

Esta Catedral é Nosso Senhor Jesus Cristo. É o Coração de Jesus, que colocou no Coração de Maria harmonias inefáveis. Ali nós O conheceremos.

Quando vemos monumentos como esse, temos certa sensação do demasiadamente grande, de um demasiado delicioso, que não tem proporção conosco, mas para o qual voamos; é a esperança do Céu.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 13/10/1979)

 

1) Quando proferiu esta conferência, Dr. Plinio tinha 70 anos de idade.

 

Incansável e maternal proteção

Nossa Senhora está presente na ininterrupta luta que cada homem trava contra seus defeitos, para adquirir maiores virtudes. E ainda que não nos lembremos d’Ela, Maria intercede por nós no alto do Céu, com uma misericórdia que nenhuma forma de pecado pode esgotar.

Nossa Senhora não é um refúgio apenas para os que tenham cometido faltas leves, mas também para os autores de pecados de gravidade inimaginável e para os culpados das ingratidões inconcebíveis. Pois é próprio da grandeza da Mãe de Deus, na qual tudo é admirável e extraordinário, ser um imenso e perfeito refúgio.

Desde que o pecador se volte para Ela, a Virgem Santíssima cheia de bondade o protege, concede-lhe toda espécie de perdão, limpa-lhe a alma, dá-lhe forças para praticar a virtude e o transforma de filho pródigo em homem bom e fiel.

Plinio Corrêa de Oliveira – (Revista Dr Plinio 32 -Novembro de 2000)

Elevação e coerência

No espírito de quem a analisa, a “Escadaria Dourada da Catedral de Burgos” produz uma primeira impressão tão intensa, e apresenta uma ideia tão diversa de como se poderia imaginá-la, que o  observador sente a necessidade de pôr um pouco em ordem as considerações que ela lhe sugere.

Uma das belas gravuras que a retratam (p. 35) me faz pensar que ela é, em seu gênero, a escada. Ao construir esses sucessivos lances de degraus, o artista empreendeu uma verdadeira epopeia,  compondo uma maravilha de ordenação arquitetônica. Essa gravura poderia ter como título: “Elevação e coerência”, pois tais são os valores que a Escadaria Dourada exprime de modo extraordinário.

A elevação se manifesta, por exemplo, na disposição das janelas cegas e das portas ao longo de um muro muito alto, formando uma linha perpendicular tão ascendente que, para a limitação do  campo visual de quem a observa, ela como que se perde numa região superior, digamos o “céu” da atenção humana.

Essa linha vertical fica assegurada por uma obra-prima de equilíbrio, composta de dois elementos. Em primeiro lugar, as janelas cegas atenuam o que a parede talvez tivesse de muito pesado, ou  de muito liso e enfadonho. E depois, a força e o vigor da porta, que parece sustentar o bem-proporcionado de todo o conjunto. A nota de coerência, por sua vez, surge no “moucharabié”, todo ele feito de harmonias correlatas, que dão ideia de lógica, estabilidade e coesão. O teto, o corpo e a base, amparados por uma maravilhosa peanha — verdadeira obra de arte, com seus lavores que  parecem rendas de pedra — formam uma linda e suave harmonia.

Como harmônicas são também as duas extremidades simétricas, confinando ambas com as rampas laterais. Esse “moucharabié” assim concebido é rico em sugestões que se desdobram, como se  fossem grandes leques de conseqüências, que acabam se fechando no mesmo ponto de onde partiram. Quer dizer, as harmonias brotam dele e para ele voltam, como de um rio sairiam dois afluentes os quais, chegados a um extremo, começam a retornar para a via essencial. E nisso temos então realçada a nota de coerência.

Depois, como ponto terminal da escada, uma magnífica manifestação de certeza. Quando se esperaria que fosse morrer de modo comum e trivial, ela como que ressurge e se estende em  movimentos diversos. O seu fecho, com os dois braços ou corrimões, é uma espécie de afirmação fundamental, é a última conseqüência, segura e proclamativa. É o ápice da harmonia: a leveza e a força, o compacto e o filigranesco extraordinários! E o hierático. As figuras dos dragões parecem pensar e dizer: “Isto é assim mesmo, e nós atacamos quem o negar!” Dir-se-ia a robustez e a  vigilância a serviço da elevação e da coerência…

Por outro lado, o mesmo “moucharabié” dá a ideia de enquadrar algo mais delicado e mais interno. Ele tem seu segredo. É como que um sacrário. Sua porta, esguia e linda como peça arquitetônica, ladeada por figuras esculpidas que lhe constituem magnífica moldura, parece abrir para um corredor profundo, que se perde além. É o senso do mistério, presente em tantas e tão esplendorosas obras de arte.

Alguém poderia me dizer: “Mas, Dr. Plinio, essa é a porta da rua!”

Pouco importa. Para o olho humano, a arquitetura comporta também essas simbologias. E, a meu ver, mais uma vez temos aqui um superior exemplo de coerência e elevação, magnificamente  expressas no conjunto desse “moucharabié”.

A gravura retrata um aspecto muito bonito, que é a pequena vida de todos os dias ao pé do monumento. Então são duas mulheres, meio latinas, meio mouras, que se dirigem para os degraus; é um homem cheio de vitalidade e decisão, subindo a escada, ou um casal que por ali passeia e conversa calmamente. São dois fidalgos, compondo a cena com a riqueza de seus trajes e o luzir de suas espadas; é um fiel que se aproxima da pia de água benta, enquanto uma mulher ao mesmo tempo reza e descansa, observando outro grupo de pessoas que trocam idéias junto à imponente  escadaria.

Esta visão nos conduz aos adornos do monumento, igualmente belos. Vale notar que toda a ornamentação visa ao gracioso, e compensa o que o grandioso teria por demais de severo. Não se vê aí  um enfeite o qual, exceção feita dos dragões, não seja tão ameno que quase convide ao sorriso. Há, por exemplo, uma espécie de concha, soberba, cuja singeleza de linhas compensa o que ela tem   de extremamente trabalhado. É a graça suavizando a severidade da grandeza…

Uma última consideração. Dir-se-ia que essa construção, na qual se misturam estilos da Renascença e aspectos mouriscos, é o contrário do gótico. Entretanto, as ogivas da parede lateral se  harmonizam de tal maneira com o conjunto da escada que são indispensáveis para compor o quadro.

De fato, embora as decorações e os desenhos sofram influências renascentistas e árabes, o espírito inspirador dessa obra de arte ainda é o gótico. A nota ogival é a que nela predomina. O “moucharabié”, por exemplo, poder-se-ia chamar “variações dentro de uma ogiva”. Além do mais, o fator coerência de que acima falávamos,  presente em todo o conjunto, é também muito próprio  da arte ogival e, portanto, gótica. Como lhe é igualmente própria, na decoração, uma certa leveza, a mesma que se acha difusa nesse monumento. Assim, encontramos o casamento do gótico com a  Escadaria Dourada. Obra que reputo uma verdadeira magnificência!