“O rei e o menino”: a beleza da vocação

Como já vimos de outras vezes, Dr. Plinio servia-se amiúde de metáforas para explicar a seus jovens ouvintes as realidades profundas da vida do católico, à luz das verdades da Fé. Através da parábola narrada a seguir, faz-nos ele compreender a importância de um dos momentos mais decisivos na existência do homem sobre a Terra: aquele em que recebe o chamado de Deus, a vocação. Acompanhemos a linguagem clara e simples de Dr. Plinio descortinando o fascinante tema da voz divina a ressoar nas almas, convidando-as a seguir um caminho sublime e, não raro, semeado de provações…

 

Imaginemos um monarca que passeia de automóvel pela capital de seu reino. Viúvo, cujo filho único e herdeiro morreu ainda criança, o resto de sua família se extinguiu sem descendência e, portanto, não há quem dê continuidade à dinastia. Entretanto, por uma dessas coincidências existentes na natureza, reside na mesma cidade um menino que, embora de traços fisionômicos semelhantes aos do falecido príncipe, não tem com a casa real nenhum parentesco.

O encontro com outro possível herdeiro

Quando o carro do soberano se detém num cruzamento, os olhos dele recaem sobre aquele menino a atravessar a rua, e o rei, impressionado pela semelhança com o ex-herdeiro, manda chamá-lo. O garoto, ao mesmo tempo surpreso e maravilhado, aproxima-se timidamente e pergunta:

— Majestade: em que posso servi-lo?

— Sente-se ao meu lado, quero conversar com você.

O trânsito engarrafado não permite que o automóvel se desloque. O rei indaga do menino sobre seus estudos, sua família, trabalhos. Durante esse tempo, o menino não pensa em si, mas apenas no soberano. Este não observa o movimento das ruas e presta atenção somente no menino. Percebe que ele inspira boas esperanças e poderia ser adotado como seu filho.

Despedindo-se do jovem, o monarca lhe diz:

— Esteja às tantas horas no meu palácio com seus pais. Desejo conversar com os três.

O menino é adotado pelo rei

No momento aprazado, os três comparecem. São pessoas modestas, maravilhadas diante dos esplendores da residência palacial, entre as quais transitam com encanto e receio. Pisam sobre um tapete persa, e o marido diz à mulher:

— Que tapete magnífico! Parece até com o da casa do subprefeito de nosso distrito, que pertenceu ao xá da Pérsia e foi comprado num antiquário…

Após vários deslumbramentos, chegam à presença do rei. Este os recebe com extrema bondade, põem-se a conversar, e à certa altura o soberano diz:

— Desejo que este menino seja meu herdeiro. Se consentirem, eu o adotarei como filho e o educarei para as funções régias. Quando eu morrer, será o novo monarca, e vocês terão a honra que jamais imaginaram: tornar-se-ão pais do rei.

O casal possuía uma prole numerosa, e já não sabiam o que fazer com tanta criança dentro de casa. Estupefatos com a proposta do rei, pensam:

“Teremos um filho tão bem instalado! Que alto negócio! Depois, receberemos torrentes de dinheiro para educar de modo conveniente os outros e assim todos farão carreira promissora. Além disso, ganharemos um prestígio sem nome no bairro onde moramos. Ao chegarmos em casa e nos perguntarem pelo menino, poderemos responder:

“— Está no Palácio real. Ele agora é filho do rei.

“— Como?! Filho do rei?!

“E contaremos toda a história. Que ótimo negócio!”

Contentíssimos, aceitam a proposta do soberano e se retiram.

Sinceridade e gratidão submetidas à prova

Sobrevém a noite e o rei ordena aos seus mordomos:

— Levem o menino para o quarto de dormir de meu falecido filho. Está tudo preparado, vistam-no com aquelas roupas, ofereçam-lhe os alimentos que desejar, sirvam-no como o faziam ao príncipe. Quero que ele seja beneficiado com toda a largueza da munificência real.

O menino vai sendo educado, torna-se moço e convive de modo perfeito com o rei. Tudo corre com normalidade, porém no espírito do monarca nasce uma interrogação: “Esse menino me quererá verdadeiramente bem? Ser-me-á agradecido pelo que recebe de mim? Tornar-se-á digno de um dia dirigir meu reino? Ou é um ingrato que me agrada por interesse momentâneo, e, no fundo, não me tem sincera amizade? Para conhecer as respostas a essas indagações, vou submetê-lo a uma dura prova, pois se não o fizer, minha generosidade pode significar grande estultice. Mas, se corresponder às esperanças nele depositadas, dar-lhe-ei coisas ainda melhores e mais abundantes”.

O rei chama o jovem e lhe diz:

— Nossa situação parece maravilhosa. Você tem a certeza de herdar um trono. Portanto, posição magnífica o aguarda. Porém, precisa se preparar, pois a vida é feita de surpresas, e a História apresenta vários exemplos de reis que foram inesperadamente depostos do poder. Eis aqui um livro sobre monarcas destronados. Estude-o para conhecer o papel da traição na queda dos reis e aprender como a condição de soberano, embora firme na aparência, é de fato instável e mutável. Após esse estudo, você será examinado. Veja a vida em cor séria e compreenda o esforço necessário para se manter como rei. Se for mole, o monarca perde o trono e o poder.

Exerço a realeza há muitos anos. O povo me obedece, é verdade, mas que vigilância preciso ter! As coisas não são fáceis. Se o encargo de rei lhe parecer por demais árduo, dar-lhe-ei dinheiro para você seguir a profissão de seu pai, montar uma lavanderia maior e prosseguir na existência tranquila de um qualquer. Porém, não será rei, nem desfrutará das honras e glórias da condição régia. Você se enfurnará no anonimato. O anônimo: que homem feliz! A quem ninguém ama nem odeia. Possui dinheiro para subsistir e leva uma vida sossegada.

Você já pensou nas vantagens do anonimato? Passeie um pouco pelas ruas, observe os moços de sua idade, felizes nos seus automóveis, levando a existência agradável e sem incômodos dos homens abastados e desconhecidos.

Você, não! É um príncipe, e deve proceder como tal, em quaisquer circunstâncias. Os olhos de todos estão voltados para sua pessoa. Ainda ontem o criticavam pelo simples fato de brincar com os dedos enquanto conversava. Não é atitude permitida ao herdeiro do trono. Já pensou na vida dura que terá?

Meça o peso do fardo que cairá em suas costas. Receberá honras e riquezas, mas utilizá-las com desapego é como carregar um rochedo pela vida inteira. É o meu caso.

O menino pensa um pouco e responde:

— Obrigado! Vou ler o livro…

A resposta errada

Terminado o prazo estipulado para o estudo, o rei manda chamar o menino e lhe pergunta:

— Leu a obra?

— Sim, li.

— E a que conclusão chegou?

— Não pensei que exercer a realeza fosse tão difícil, pois conhecia apenas uma faceta dela. Porém, acredito que, sendo tantas as vantagens, vale a pena carregar o fardo. No total, prefiro herdar o trono. Desejo ser rei!

O monarca diz:

— Não é a resposta correta que esperava de você. Dou-lhe mais um prazo para pensar. Se, por fim, responder como deve, merece reinar. Do contrário, perderá seus direitos, porque ficaria demonstrado a nulidade de tudo que fiz por você.

Tendo acabado de declarar sua intenção de ser rei, o jovem vê seus planos caírem subitamente por terra. Como poderia encontrar a resposta adequada, sozinho, pois que lhe estava vedado consultar qualquer pessoa?

— Nesse período — dissera-lhe o rei — você estará proibido de conversar com quem quer que seja, assim como de se ausentar do palácio. Descubra a resposta correta. Quero ver que espécie de sentimento você guarda no fundo da alma.

A resposta perfeita

Estaria o monarca agindo bem, ao tratar o jovem dessa forma?

Sim, seria o normal. Ponha-se cada um na posição do rapaz. O que responderia ao rei?

A resposta perfeita seria a seguinte:

— Meu senhor e meu pai. Não me importa saber o que acho agradável e sim como vos poderei retribuir por tudo o que fizestes por mim. Se vos ampararei na vossa velhice; se, quando assumir o trono, terei bastante amor à altivez, à glória, à elevação dos princípios, à civilização cristã, a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Virgem, de maneira que eu faça do meu “métier” de rei um serviço de Deus. Houve tantos santos entre vossos antepassados! A capela do palácio é consagrada a São Luís IX. Nesta sala tendes uma imagem de Santo Henrique, imperador do Sacro Império e também vosso ascendente. Tudo isto ameaça se extinguir em vós porque vosso único filho faleceu. Cabe a mim a glória de dar continuidade a essa linhagem e não permitir que o fio se interrompa.

Meu pai e meu senhor: não me interessa saber se levarei uma vida gostosa e sim se estarei à altura dessa missão. Ensinai-me a ser cada vez mais piedoso, mais dedicado a vós, que sois a mão de Deus para mim. Quero a felicidade, mas sobretudo para o momento em que eu expirar e, comparecendo diante do Altíssimo, puder exclamar: “Senhor, vós me destes o ser e um pai adotivo me outorgou a realeza a qual aceitei para vossa glória. Dediquei-me totalmente a ele, pois assim o fiz por Vós, Criador de todas as coisas. Não temo encontrá-lo na vossa corte celestial, aonde ele me precedeu, porque sei que, pousando sobre mim seu olhar amoroso, dirá: ‘Meu filho, agora mais filho meu do que nunca, senta-te à minha direita! Vamos contemplar juntos a Deus, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, que domina todos aqueles que exercem domínio’”.

E o jovem, correspondendo às expectativas do monarca, deveria acrescentar:

— Posso sofrer muito, ser mal compreendido, perseguido, destronado. Posso, pelo contrário, ser glorificado, aclamado, tornar-me célebre. Pouco importa! O caminho que devo trilhar é o do dever, da gratidão a vós e do serviço de Deus.

Após dar essa resposta, o moço se retira da sala e o rei diz a si mesmo: “Minha dinastia renasceu!”

Segunda provação: a indiferença real

Prosseguindo em nossa metáfora, imaginemos que em determinado momento o rei decide sujeitar este filho a outra prova. Passa a fingir que já não lhe demonstra a mesma amizade, não o compreende bem. Olha-o com indiferença, até com certa distância. Concede-lhe audiências curtas, presta-lhe pouca atenção, evita-o em favor de outras coisas menos importantes. Chega a ponto de conversar com terceiros, na presença dele, sobre reis viúvos e sem filhos que casaram novamente, tiveram prole e asseguram sua descendência. “Quem sabe eu sigo o exemplo deles, contraio outras núpcias e tenho um herdeiro do meu próprio sangue?”

O menino adotado sente-se rejeitado, mas pensa:

— Recebi tanto dele! Ainda que me tire tudo, eu o servirei a vida inteira!

E ele passaria por essa segunda prova, ainda mais cruel que a anterior.

Terceira e última provação

Contudo, o soberano precisava de uma derradeira demonstração de fidelidade da parte do menino. Certa madrugada, manda acordá-lo e trazê-lo à sua presença:

— Preciso incumbi-lo de uma missão perigosa e confidencial. Em país distante há um preso que espera essa mensagem minha. Você terá de viajar para lá, dizer que é meu filho, deixar-se prender e, conduzido ao mesmo cárcere, transmitir o meu recado à pessoa em questão.

O jovem, embora surpreso, não hesita em responder:

— Meu senhor e meu pai. Se me permitirdes de vos tratar ainda dessa maneira, minha vida é vossa!

O rei então acrescenta:

— Não sei quanto tempo o manterão encarcerado. Pode levar anos. Se, estando lá, ouvir dizer que me casei e tive um filho, reze por mim e por este, pois será o sucessor do trono.

O rapaz diz:

— Meu senhor e pai, farei isso com todo o empenho. A que horas devo partir, com quem devo falar? Dai-me vossas ordens.

Responde-lhe o rei:

— Você tem uma hora e meia para estar pronto e sair. Já tratei muito com você e o conheço bem. Diga-me rapidamente até logo e vá embora!

O rapaz se inclina e se retira.

Na hora exata, ele se apresenta disfarçado diante dos guardas do palácio, pois, conforme as instruções do soberano, ninguém deveria saber de sua partida. Mas, para a surpresa do jovem, os sentinelas o impedem de sair, dizendo-lhe: “O rei ordena que volte para seu quarto!”

Ele retorna e o monarca o acolhe com transbordamentos de agrado.

Estava assegurada a sucessão do trono nesse reino mítico e maravilhoso…

Analogias com a vocação

Essa metáfora se aplica à história de cada um de nós que recebeu o chamado para seguir as vias de uma determinada vocação. Por exemplo, à do nosso movimento. Não nos convidou a ele um simples rei, mas alguém com brilho insondavelmente maior: Maria Santíssima, Rainha do Céu e da Terra. De modo semelhante ao do rei imaginado, por vontade divina Ela nos escolheu para servi-La de maneira muito especial.

Qual era a vida de cada um de meus ouvintes antes de pertencer à nossa família de almas?

 Fomos chamados em circunstâncias as mais diversas. Se procedemos de um ambiente que preparou nossa vocação, quanta graça a Providência nos concedeu nesse sentido, dispondo que tudo favorecesse a aceitarmos esse convite. Se, pelo contrário, viemos de um meio adverso, quanta misericórdia do Criador, ao olhar para o lugar em que crescemos e dizer: “Aqui escolherei um filho, um príncipe!”

A graça passou a latejar em nós

Sem sabermos, iniciaram-se movimentos no interior de nossas almas. Um senso moral mais vivo nos fez estranhar os procedimentos pouco recomendáveis que presenciamos neste ou naquele ambiente, e passamos a desejar as atitudes virtuosas contrárias ao que nos aborrecia. A graça latejava em nossos corações, dizendo-nos: “Que coisa péssima! E que linda, tal outra! Como são belos tais monumentos da Cristandade, tal música, tal época do passado! Como seria bom se o que há de errado no mundo moderno se consertasse!”

Começou a surgir em nossa alma a oposição ao mal.

Assim, cada um de nós foi chamado. Em diferentes cidades, Estados, condições de vida e, às vezes, até no fundo de uma queda moral. Caiu… e em determinado momento teve horror de si mesmo. Era Deus falando no interior da sua alma, chamado-o para amá-Lo. 

 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Continua em próximo número.)

Revista Dr Plinio 96 (Março de 2006)

 

Oração para a Semana Santa

Jesus é depositado no sepulcro. Na aparência, é o fim, tudo está acabado… Na realidade, em breve tudo começará a renascer.

Junto a Vós, ó Refúgio dos Pecadores, os Apóstolos começam a chorar seus pecados. Logo virão a Ressurreição, a Ascensão e Pentecostes!

Quanto mais vitorioso parece o demônio, mais próxima está a vossa vitória.

Nestes dias em que, pelo atrativo de uma liberdade mal compreendida, está-se chegando a um assombroso desregramento dos costumes, ao caos na cultura e à anarquia nos países, dai-me, ó Mãe, uma fé firme nas promessas que fizestes em Fátima, uma esperança abrasada de que elas não tardam em se cumprir, uma certeza da derrota da Revolução e da instauração de vosso Reino. Amém.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

São Leandro, Bispo de Sevilha

Sem o auxílio da graça, o homem é incapaz de obter êxito em seu apostolado; porém, amparado por ela, consegue o inimaginável. Disto nos dá um belo exemplo São Leandro de Sevilha, o qual extirpou a heresia que havia quase dois séculos grassava na Espanha.

Os grandes movimentos da História, em geral, são impulsionados por homens a quem Deus concede uma grandiosa missão, comunicando-lhes seu espírito e sua força. Um destes homens foi São Leandro de Sevilha. Convertendo os godos e salvando uma nação inteira do jugo dos arianos, ele bem pode ser considerado um dos fundadores da Idade Média.

Acompanhemos com especial veneração sua ficha biográfica(1):

São Leandro nasceu em Cartagena, Espanha. Seus pais pertenciam à alta nobreza, e sua família estava repleta de santos. Um de seus irmãos, Santo Isidoro, sucedeu-o no trono episcopal de Sevilha; o outro, São Fulgêncio, foi Bispo de Cartagena. Sua irmã, Santa Florentina, tornou-se religiosa.

Quando era jovem ainda, São Leandro retirou-se para um mosteiro, tornando-se perfeito modelo de ciência e piedade. Seus méritos o levaram à Sé Episcopal de Sevilha, onde não diminuíram em nada as austeridades que praticava.

Quando Leandro foi nomeado bispo, parte do território espanhol estava dominada pelos visigodos arianos havia cento e setenta anos. Entregando-se imediatamente ao combate da heresia, o novo Bispo rezava e implorava o auxílio de Deus. O sucesso coroou seu zelo, e em pouco tempo a heresia já contava com menos adeptos.

Entretanto, Leovigildo, então rei dos visigodos, e também ariano, irritado com a atividade de São Leandro, e principalmente com a conversão de seu filho primogênito, condenou o santo ao exílio e o filho à morte.

Seu segundo filho, Recaredo, que vindo a ser um fervoroso católico, ao herdar o trono conseguiu a conversão de todos os seus súditos.

São Leandro dedicou-se a manter o fervor dos fiéis e foi a alma de dois grandes concílios: o de Sevilha e o de Toledo, os quais condenaram o arianismo.

Homem de ação, Leandro a todos inspirava o amor à prece, especialmente aos religiosos. Escreveu instruções admiráveis à sua irmã sobre o exercício da oração e o desprezo do mundo. Reformou a liturgia na Espanha.

Afligido por numerosas enfermidades, o apóstolo dos visigodos faleceu em 596.

A ação do Espírito Santo e a pujança da santidade

A ficha é riquíssima de aspectos passíveis de comentário. O primeiro deles é o florescimento de santos numa mesma família da alta nobreza espanhola: Santo Isidoro de Sevilha — um dos maiores santos da história da Espanha —, São Fulgêncio, Santa Florentina e São Leandro.

Vemos que beleza há na conjunção de tantos santos numa mesma estirpe. Com isso, Deus faz sentir a importância do fenômeno “estirpe” na formação dos santos e na realização dos planos da Providência.

Por outro lado, observamos a pujança de santidade existente naquela época. Trata-se de um dos mais belos fenômenos da História, onde inúmeros santos inauguraram o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo durante a Idade Média; fenômeno não atribuível a nenhum homem, a nenhuma Ordem religiosa, mas diretamente oriundo da ação do Espírito Santo.

De fato, a não ser por um verdadeiro sopro universal do Divino Espírito Santo, não seria possível o surgimento de tantas almas santas ao mesmo tempo.

Em pleno domínio dos bárbaros arianos…

Ao ser eleito Bispo de Sevilha, São Leandro encontrou-se diante do seguinte problema: havia cento e setenta anos, bárbaros hereges exerciam uma função dominadora na Espanha.

Ao contrário do que muitos pensam, a maior parte dos bárbaros não era pagã, mas sim ariana. Quando invadiram o Império Romano, muitas tribos bárbaras já haviam sido visitadas, em suas respectivas regiões, por um Bispo ariano chamado Úlfilas(2), o qual as perverteu para o arianismo.

Desta maneira, enquanto descendentes dos antigos cidadãos do Império Romano, os católicos eram os vencidos, os pobres, estavam por baixo e gemiam sob o jugo dos arianos, os quais, por sua vez, constituíam o povo novo, forte e vencedor.

…a Providência suscita São Leandro de Sevilha

São Leandro recebeu, então, da parte de Deus, a missão de derrubar o domínio ariano. De que maneira ele o fez?

Em primeiro lugar, chorando diante de Deus e pedindo, por meio de Nossa Senhora, os auxílios necessários para a tarefa que deveria realizar de modo admirável. Cônscio da incapacidade humana perante as tarefas apostólicas, São Leandro sabia que o homem não é senão um instrumento de Deus e de Nossa Senhora, os verdadeiros realizadores do apostolado. Assim, as conversões deram-se em número colossal e o poder ariano foi diminuindo graças às suas pregações.

Aspectos fugazes, porém importantes, se desvendam na vida de São Leandro, uma das maiores figuras da hagiografia e da história espanhola.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 26/2/1964 e 27/2/1967)

1) Butler, Alban. Lives of the Saints – With Reflections for Every Day in the Year.
2) Educado no Catolicismo, Úlfilas aderiu ao arianismo por ocasião de uma viagem a Constantinopla, onde Eusébio o sagrou bispo. Tendo voltado para o grêmio dos godos, dedicou-se à conversão de seus irmãos de raça à fé ariana.

São José – Modelo de cavaleiro

Um dos episódios mais bonitos da vida de São José é a fuga para o Egito.

O Santo Patriarca recebe em sonho a visita de um Anjo que lhe diz que o Rei Herodes está querendo matar o Menino Jesus. Então ele sai às escondidas, com Nossa Senhora e seu Divino Filho, e vão para o Egito.

A defesa do maior tesouro que houve na Terra — e tesouro maior do que esse não há no Céu — ficou inteiramente confiada a São José, que representava o braço vigoroso, a previdência, a força varonil na defesa de um Menino que era ao mesmo tempo Deus, mas quis ser fraco nas mãos de São José.

Nós louvamos e apreciamos muito a vocação de Godofredo de Bouillon, que comandou as tropas na reconquista de Jerusalém. É o cruzado por excelência, é uma coisa linda! Entretanto, muito mais do que retomar o Santo Sepulcro para Nosso Senhor é defender a Ele próprio! E disto São José foi encarregado bela e gloriosamente. Ele foi, portanto, o cavaleiro-modelo na defesa do Rei dos reis, do Filho de Deus encarnado.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 30/7/1989

São Domingos Sávio – Alegre apóstolo da seriedade

Considerado a obra prima da educação Salesiana, Domingos Sávio, eminentemente piedoso e cumpridor de seus deveres, foi o grande discípulo de São João Bosco. Vivendo em fins do século XIX, doze anos de idade foram suficientes para demonstrar sua vida exemplar na prática das virtudes e na observância da Lei de Deus.

Sendo uma época em que tomava livre curso o ateísmo e a anti-religiosidade, penetrando até mesmo na mentalidade e na formação das crianças, São Domingos foi um admirável apóstolo da seriedade. Mostrando uma sabedoria muito superior à sua idade provou possuir uma compreensão profundamente séria e sobrenatural, baseada na Fé, de tudo quanto devia realizar.

Difundiu em torno de si uma atmosfera de compostura, seriedade e calma, que entretanto não fazia com que as crianças deixassem de serem autênticas, proporcionando um meio de reflexão e de compostura. Opondo-se, portanto, ao traço característico da Revolução na infância, que é a falta de educação e de cerimonial; que faz dos indivíduos, quando forem homens formados, os adversários de todas as tradições de um tempo em que se cultivava a seriedade e a cerimônia.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/3/1973)

São Domingos Sávio modelo de pureza e seriedade

A boa formação de uma criança e de um adolescente, observava Dr. Plinio, deve proporcionar-lhes um equilibrado e sadio impulso para a maturidade. Sobretudo, para alcançarem o ideal de perfeição moral a que todo homem é chamado. Como a seguir veremos, luminoso exemplo dessa educação bem assimilada encontramos em São Domingos Sávio, discípulo predileto do grande São João Bosco.

 

No mês de março a Igreja celebra a memória de um Santo cuja vida me causou grande admiração, e a respeito do qual gostaria de tecer alguns comentários. Não tanto evocando seus traços biográficos, quanto ressaltando sua fisionomia moral, que deixou profunda impressão no meu espírito. Trata-se de São Domingos Sávio, discípulo de São João Bosco.

Obra-prima da educação salesiana

Faleceu ele antes de seu mestre, aos 12 anos de idade, e foi considerado a obra-prima da educação dada pelo célebre apóstolo da juventude. Menino eminentemente piedoso, exímio cumpridor dos seus deveres, conservou sempre uma castidade exemplar, tendo sido proclamado pelo Papa Pio XI como o padroeiro da pureza, depois de São Luís Gonzaga.

Essas reflexões se prendem a uma recordação pessoal, que me parece oportuno registrar.

Há alguns anos, a convite do Arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, desloquei-me até essa histórica cidade de Minas para fazer uma conferência sobre São Domingos Sávio. Após o almoço, disse ao reitor do Colégio salesiano onde a sessão se realizaria à tarde:

— Peço que o senhor me consiga uma biografia de São Domingos, pois apesar de sabê-lo canonizado, ignoro os pormenores de sua vida.

Com muita solicitude ele me procurou uma biografia do Santo, porém bastante resumida. Comecei a lê-la e me lembro que o biógrafo acentuava diversas qualidades comuns aos bons meninos. Assim, São Domingos Sávio era muito devoto, obediente aos seus superiores, de modo especial a São João Bosco, além de fazer apostolado junto a seus colegas, sendo um exemplo de zelo pelas almas.

Os “birichini” de São João Bosco

Contudo, pensei: “Infelizmente, com esses dados, não me é possível proferir uma conferência que não seja uma repetição de tantas outras realizadas ou preparadas, a respeito de vários bem-aventurados…”. Com efeito, naquela época encontrava-se certos formulários para sermão ou exposição de vidas de santos, que diziam: “São tal, mudando a data e o nome, serve para tais e tais santos”.

Ora, ao ler o opúsculo que o reitor me conseguira, percebi que escapara ao biógrafo o traço mais marcante e acentuadamente contra-revolucionário da vida de São Domingos Sávio, que, creio eu, indicava o “segredo” de sua santidade.

Para que esse traço fique bem explicitado, importa considerarmos o fato de que nosso santo viveu em meados do século XIX, um período em que a Revolução atingia um auge, e o espírito revolucionário, portanto, lograva grande concessão da parte dos adolescentes que principiavam a frequentar escolas. De um lado.

De outro, temos que São João Bosco lecionava para os “birichini”, apelativo dado na região de Turim aos meninos de famílias modestas. Nesse sentido, é esplêndida a vocação dos salesianos: ensinar sobretudo para as classes populares, instruindo-lhes nos misteres profissionais em estabelecimentos para essa finalidade. Eram meninos com grande vitalidade e efervescência, mas tendentes a travessuras e à falta de seriedade (a qual, aliás, se alastrara por todas as camadas sociais).

Admirável apóstolo da seriedade

Nesses ambientes São Domingos Sávio mostrou-se um admirável apóstolo da seriedade, manifestando uma sabedoria superior à existente em meninos de sua geração. E na medida própria à mentalidade de uma criança, possuía uma compreensão invulgar de tudo quanto deveria fazer. De maneira que não praticava uma ação nem dizia uma palavra que não revelassem uma reflexão séria — nas proporções de um menino, insisto — baseada na fé e profundamente sobrenatural.

Por isso ele difundia em torno de si uma atmosfera de compostura, de seriedade, de calma, sem fazer com que os meninos deixassem de ser autênticas crianças. De outro lado, proporcionava-lhes assim um meio eficaz de se oporem à mania do brinca-brinca, da falta de educação, da ausência de cerimônia e boas maneiras.

“Morte ao pecado mortal”

Essa característica de São Domingos Sávio se faz notar num episódio de sua vida, do qual tomei conhecimento quando li outra biografia dele, escrita pelo próprio São João Bosco. Este escreveu:
Domingos veio ver-me no dia anterior ao início da novena da Imaculada Conceição, em 1854, e teve comigo o seguinte diálogo. Disse ele:
— Eu sei que a Virgem concede grande número de graças a quem faz bem suas novenas.
— E tu o que queres fazer nesta novena, em honra da Virgem?
— Quisera pedir muitas coisas.
— Quais, por exemplo?
— Antes de tudo quero fazer uma confissão geral de minha vida, para ter bem preparada a minha alma. Depois procurarei cumprir exatamente as florzinhas que cada dia da novena se darão nas boas noites.

“Florzinhas” (fioretti em italiano) significavam pequenos propósitos a praticar, recomendados na “boa noite”, gênero de alocução famosa que Dom Bosco dirigia aos seus alunos. Consistia geralmente de breves comentários de algum fato do dia, ocorrido no interior ou fora do colégio. Continua a narração, com a pergunta de São João Bosco:
— E não tens mais nada?
— Sim, eu tenho uma coisa: quero declarar morte ao pecado mortal.
— E o que mais?
— Quero pedir muito, muito à Santíssima Virgem e ao Senhor que me mandem antes a morte do que deixar-me cair no pecado venial contra a modéstia.

Ou seja, contra a virtude da castidade. E São João Bosco acrescenta:
“Deu-me então um papelzinho em que ele tinha escrito esse propósito e manteve suas promessas porque a Santíssima Virgem o ajudava. São Domingos Sávio tinha, nessa ocasião, doze anos de idade.

Ressalta-se, assim, na estrutura de alma de uma criança, o traço distintivo de São Domingos: extraordinariamente sério, conseqüente, lógico em tudo. Ao mesmo tempo, alegre, de espírito sadio e maduro.

Reflexão ratificada pelos devotos de São Domingos

Dando-me conta desse cunho característico de São Domingos Sávio, comecei a minha conferência em Mariana dizendo que me achava diante de todo o corpo docente de um colégio salesiano, numa sessão que se realizava sob a presidência de um Arcebispo também salesiano e, portanto, exporia minha impressão pessoal, submetendo-a ao juízo deles. Acrescentei que a leitura de uma vida de São Domingos Sávio deixara em meu espírito essa ideia: merecia ele ser chamado perfeitamente de apóstolo da pureza das crianças, mas deveria também ser denominado seu apóstolo da seriedade.

Desenvolvi o tema, mostrando a importância do papel da seriedade para se alcançar a perfeição espiritual: não basta ser sério para ser santo, porém não se pode ser santo sem ser sério.

Tão logo enunciei a tese de que São Domingos era o modelo da seriedade entre as crianças, houve um aplauso geral iniciado pelo Arcebispo e todos os professores, seguido naturalmente pelo público. Naquela época, São Domingos Sávio estava sob o foco das atenções, pois era recém-canonizado e os salesianos difundiam muito a devoção a ele. Sua vida, portanto, era bem conhecida de seus irmãos de vocação e devotos. A ratificação daquela tese concedida por esse corpo docente salesiano, com tal ênfase, demonstrava-me a veracidade da minha observação.

Como vivemos num tempo em que a falta de seriedade se torna cada vez mais aguda e crítica, parece-me de importância capital rogarmos a São Domingos Sávio que seja nosso padroeiro para a seriedade, e nos alcance do Sagrado Coração de Jesus, pelas mãos de Maria Santíssima, uma perfeita prática dessa virtude da qual ele é um excelso modelo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 9/3/1971 e 9/3/1973)

Vós fostes, Senhor

“Vós fostes, Senhor, um modelo de paciência. Vossa paciência não consistiu, entretanto, em morrer esmagado debaixo da Cruz, quando Vo-la deram.

Conta uma piedosa revelação que, quando recebestes das mãos dos verdugos vossa Cruz, Vós a beijastes amorosamente, e, tomando-a sobre os ombros, com invencível energia a levastes até o alto do Gólgota. Dai-nos, Senhor, essa  capacidade …. de sofrer heroicamente, não apenas suportando o sofrimento, mas indo ao encontro dele, procurando-o e carregando-o, até o dia em que tenhamos a coroa da vitória eterna.”

Plinio Corrêa de Oliveira

Rainha e Medianeira universal

Correlacionando dois especiais títulos de Nossa Senhora, Dr. Plinio discorre com grande profundidade sobre alguns pontos  da doutrina mariológica, tirando dela conclusões para os dias atuais, bem como princípios para a vida de piedade.

 

Dentre os diversos títulos de Nossa Senhora estão dois que me parecem ser de especial importância, sobre os quais gostaria de fazer alguns comentários: Nossa Senhora Rainha e Maria Medianeira de todas as Graças(1). Procurarei analisá-los juntos, pois, como se verá, ambos têm uma íntima relação.

Medianeira necessária, por livre vontade Deus

Pelo título de Medianeira de todas as Graças reconhece-se ser Nossa Senhora o canal das graças distribuídas por Deus, bem como o fato de ser através d’Ela que todas as súplicas sobem a Deus. Antes de tudo, é importante frisar que Ela não é um canal necessário em sentido absoluto. Ou seja, absolutamente falando, Deus não precisa ter Nossa Senhora como medianeira.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o único Mediador necessário e absoluto, entre os homens e Deus. Tendo Se encarnado, Ele Se fez Homem, tornando-Se o elo indispensável entre a humanidade e a divindade.

Ora, se a ordem das coisas determina que todas as graças dispensadas aos homens devem vir através de Deus Filho, a vontade de Deus dispôs que essas mesmas graças deveriam passar por Maria, sua criatura eleita. Então, Nossa Senhora é Medianeira por livre vontade de Deus.

Rainha porque medianeira

Do fato de Nossa Senhora ser Medianeira provém seu título de Rainha.

Deus, sendo Rei do universo, ao constituir Maria como Medianeira de todas as Graças e de todas as súplicas, outorgou-lhe o poder de governar. De tal modo que os desígnios e o governo de Deus sobre o universo podem ser alterados pelos pedidos e orações d’Ela. Ou seja, o reinado de Maria se torna efetivo através de sua Mediação Universal.

A mais excelsa dentre das criaturas

Nisso se vê o papel incomparável de Nossa Senhora no conjunto da Criação. Das meras criaturas Nossa Senhora é a mais alta, pois tudo o que existe, exceto Deus, está abaixo d’Ela.

Por sua vez, do fato de Nossa Senhora ser Rainha do Universo, decorre que Ela é também Rainha do gênero humano, uma vez que o gênero humano é, dentro do universo sensível, a realidade mais alta. Ora, sendo a alma do homem aquilo que ele tem de mais elevado, a realeza de Maria se exerce especialmente nas almas. Pois, a realeza sempre se exerce mais plenamente no que há de mais nobre num reino.

Por isso, bem caberia a Nossa Senhora o título de Rainha das Almas, ou então, o de Rainha dos Corações — o qual é especialmente considerado por São Luís Grignion de Montfort — e que equivale a dizer Rainha das Vontades.

Estes títulos de Nossa Senhora afirmam, em primeiro lugar, seu direito de possuir, de ser conhecida, amada e obedecida por todos os homens; em segundo lugar, seu poder de fazer valer tais direitos, de maneira a poder recompensar os que o reconhecem e punir os que o negam.

Assim, a direção das almas depende essencialmente de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também de Nossa Senhora, por vontade de Deus.

Uma Rainha destronada?

Alguém poderia pensar o seguinte: No mundo de hoje, Nossa Senhora está como uma rainha exilada, ou como uma ex-rainha; completamente rejeitada pelos homens, Ela tornou-se uma Rainha destronada.

Este modo de pensar é um grande equívoco, pois Maria Santíssima é indestronável, e quando Ela aparenta ter sido destronada, no fundo, trata-se de uma punição. Portanto, até nessa circunstância Ela está reinando.

Explico-me: Nossa Senhora obtém de Deus graças suficientes(2) em abundância para que as almas se salvem. Mas, a essas graças as almas têm possibilidade de rejeitar.

Porém, Nossa Senhora pode também obter-nos graças eficazes(3) — as quais não se podem recusar —, e assim fixar as almas na virtude.

Um clássico exemplo disso é o de São Paulo ao ser derrubado do cavalo, na via de Damasco. Ele foi objeto de uma ação de fulminante graça, que é a graça própria à conversão, a qual os teólogos afirmam ser irresistível.

Isso, em última análise, equivale a dizer que se Nossa Senhora quiser Se fazer obedecer por todos os homens, Ela o poderia. E se não o faz é porque está agindo por desígnios superiores, em plena harmonia com os desígnios de Deus.

Ora, o fato de Ela não obter essa graça irresistível para os homens constitui da parte d’Ela uma punição, que no fundo é o exercício efetivo de seu poder de Rainha. Daí decorre que ainda quando os homens A abandonam, Ela não deixa de ser Rainha.

O “Segredo de Maria”

Portanto, ainda que por vezes não o faça, Ela pode determinar que os homens não A abandonem. Essa graça especialíssima, que age por cima da vontade humana, fazendo a alma progredir e se converter, é o que São Luís Grignion de Montfort chama de “Segredo de Maria”. Pela ação de tal graça a pessoa não deixa de ser inteiramente livre, mas, sendo tão prodigamente iluminada e auxiliada, torna-se incapaz de escolher o erro e o pecado. Pois a verdadeira liberdade é a possibilidade de escolher o bem; pelo contrário, a possibilidade de escolher o mal se chama libertinagem. Quando Nossa Senhora, por razões misteriosas, obtém para alguém esta graça que trabalha a alma, transformando-a e fazendo-a florescer, dá-se com ela algo análogo ao que se deu com a água que, por sua intervenção, transmutou-se em vinho nas bodas de Caná.

Nossa Senhora intercede junto a Nosso Senhor, o Qual, impossibilitado de recusar um pedido de sua Mãe, pronuncia sobre nossas almas uma palavra que as transforma no mais saboroso dos vinhos.

Tais são as extraordinárias graças que podemos receber de Deus se o pedirmos por intermédio de Maria.

Simbolizar materialmente realidades espirituais

Há um modo de manifestar os desejos a Nossa Senhora que muito especialmente me atrai, mas que infelizmente tem se tornado cada vez mais raro. Ele me agrada, sobretudo, por atender a uma necessidade natural do homem, o qual, por ser composto de corpo e alma, tende a procurar expressar através de formas sensíveis e materiais os movimentos de seu espírito. Normalmente isto se realiza através de gestos do corpo, mas pode também ser praticado de outras formas.

Uma delas encontramos no costume de acender velas aos pés de uma imagem. Elas ardem até consumirem-se por inteiro em louvor a Nossa Senhora, simbolizando assim a pessoa que durante toda a sua vida se imola para louvar Maria Santíssima.

A vela quando acesa com este intuito torna-se um símbolo material da oração. O mesmo pode-se dizer a respeito da lamparina junto ao Santíssimo Sacramento, e do incenso, bem como de muitas outras coisas.

Lembro-me, por exemplo, de um ato de piedade que eu vi por primeira vez no Colégio São Luís, quando eu ainda era muito menino: em determinadas ocasiões, geralmente numa festa mariana, as pessoas escreviam num bilhete um ou mais pedidos, os quais eram depois reunidos e queimados de modo que a fumaça que deles se desprendia simbolizava as preces que sobem aos Céus, chegando a Nossa Senhora.

Isso, evidentemente, é um mero símbolo, pois não há de se imaginar que a fumaça em sua materialidade suba realmente até o trono de Nossa Senhora; porém, tal gesto representa de modo palpável algo de imaterial que são os desejos que temos na alma. Deste modo, de certa forma, contribui para tornar mais plena a nossa oração.

Por outro lado, isso certamente ajuda a que a oração seja mais bem recebida por Nossa Senhora, pois, apesar de simbólica, tal prática tem um valor efetivo.

O efetivo valor de um símbolo

Este valor é análogo ao da oração de uma pessoa que, contrita aos pés de um Crucifixo, chorasse seus pecados e com suas lágrimas umedecesse os pés do Crucificado. Evidentemente, o pranto vertido sobre a imagem não molha os pés de Nosso Senhor no Céu; entretanto, pelo fato de as lágrimas molharem os pés da imagem de Cristo, de certa forma, se torna efetivo o gesto de banhar com lágrimas os pés adoráveis de Nosso Senhor.

Da mesma forma, o ato de apresentar os pedidos a Maria Santíssima escritos num bilhete para ser queimado e oferecido a Ela, quando feitos com espírito de piedade, tem realmente muita profundidade e por isso mereceria ser perpetuado.

Muitas são as formas que temos para oferecer nossos pedidos a Maria. Seja qual for a que adotamos, o essencial é recorrermos sempre a Nossa Senhora Medianeira Universal, pedindo que Ela nos alcance de Deus a especialíssima graça de termos nossa alma inteira, irresistível e misteriosamente transformada, tal como a água nas bodas de Caná, para assim sermos verdadeiros súditos da Rainha do Universo e inteiramente conformes aos seus sapienciais desígnios.

 

(Extraído de conferência
de 31/5/1971)

1) Sobre a Mediação de Nossa Senhora, conferir a Encíclica Redemptoris Mater (38-41).
2) Graça suficiente: Graça atual que age unida ao esforço de quem a recebe. (Cfr. Pe. Garrigou-Lagrange, Les Trois Ages, pp. 116-121.)
3) Graça eficaz: Graça atual que, passando por cima das insuficiências da natureza humana, produz o ato sobrenatural em vista do qual foi concedida. (Idem)

As coisas terrenas passam, só a eternidade fica

A fisionomia de Santa Catarina de Bolonha é distendida. O mais expressivo deste semblante está nos lábios cerrados, longos e finos, com um leve sorriso, ao mesmo tempo de afabilidade e de  acolhida, como quem, com muita suavidade, mas com uma enorme transcendência, sorri de desdém de todas as coisas da vida, e diz:

“Olhe, tudo isso não é nada, tudo acaba, não tem importância; a figura das coisas terrenas passa, só a eternidade fica. Eu passei por tudo, sofri todas as dores, tive todas as provações, e terminados esses sofrimentos sorrio para eles. Porque aquilo que foram  mares encapelados, precipícios temíveis, montanhas intransponíveis, fica para trás. De longe, eu sorrio para tudo isso e percebo que só a eternidade é séria.”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 19/5/1971)

A ordem natural e os Dez Mandamentos

Resumindo toda a ordem natural em apenas dez princípios sublimíssimos, no alto do Sinai, em meio aos raios e toques de trombetas angélicas, Deus entregou as tábuas da Lei a Moisés.

 

Muitas pessoas queixam-se: “Oh, vida dura! Oh, vida complicada! Oh, vida difícil!” Até certo ponto — e eu diria que em larga medida — elas têm razão, porque nossa existência transcorre num vale de lágrimas. Chora-se porque se sofre.

Mas é verdade também que a vida oferece suaves e doces compensações, desde que se saiba procurá-las onde realmente estão. Assim, aprende-se a ver nela determinados aspectos que compensam sua dureza, dando-lhe um sentido e um bem-estar interior que o homem moderno não conhece.

Pela bondade de Nossa Senhora, um dos lenitivos que encontrei ao longo de minha vida foi o Tratado de Direito Natural, de Taparelli d’Azeglio

O homem: ápice e rei da criação material

Lendo tal Tratado, encontrei explicação para algo que eu nunca conseguira explicitar adequadamente: a razão de ser dos Mandamentos.

Eles me pareciam resplandecentes, fulgurantes; mas, por que razão eles se me apresentavam tão belos? Eu percebia ser lindo proceder de acordo com a Lei estabelecida por Deus, mas isto não me satisfazia. Sendo tão bonitos, era impossível não possuírem um fundamento racional, cognoscível ao homem. Qual era sua razão mais profunda? Deus poderia ter estabelecido outros Mandamentos? Terá, então, Deus agido arbitrariamente, promulgando estes e não outros?

Ora, Deus criou o Céu e a Terra; os animais, os vegetais e os minerais; os anjos e os homens. A cada um destes seres Ele deu uma natureza própria, colocando-os em movimento em perfeita colaboração com a ordem do universo.

Os animais e os vegetais, por exemplo, são de tal maneira ordenados que uns e outros se desenvolvem sem trazer dano para outras espécies. Mesmo quando uma fera devora outra — algo que até parece uma agressão selvagem —, vê-se que isto está na ordem da natureza. É a boa ordenação posta por Deus em todas as coisas.

No ápice e na realeza da Criação material Deus colocou o homem. Adão tinha de tal maneira o conhecimento e o poder sobre a natureza que, quando foi criado, todos os animais desfilaram diante dele. Imaginemos a beleza desse desfile: os animais passam e recebem de Adão o nome mais adequado segundo a sua espécie. Deus o colocou como o seu lugar-tenente, seu representante na Terra.

Estando no ápice da Criação, Adão tinha obrigação de agir de acordo com a sua própria natureza, de modo que a ordenação estabelecida pelo Criador se verificasse nele com mais perfeição do que em todas as outras criaturas visíveis.

Assim, ele atuaria conforme a natureza de todos os seres e poria em funcionamento essa imensa perfeição que vem a ser a Criação. Pacífica, tranquila, facilmente ele governaria toda a Terra, como príncipe herdeiro de Deus.

Pecado, a violação da ordem natural

Porém, Adão violou a ordem natural de relações entre o Criador e ele, cometendo o que se chama pecado. Agiu em desacordo com sua natureza criada e, sobretudo, com a natureza de Deus. Conhecendo-O e tendo d’Ele recebido inúmeras provas de bondade, Adão, entretanto, pecou contra Deus!

O que é então o pecado? É um ato de revolta contra Deus, que o homem praticou violando a ordem por Ele instituída.

Examinando então os Dez Mandamentos, numa rápida inspeção de horizontes, percebemos o que eles têm de profundo: são conseqüência da ordem natural das coisas posta por Deus.

Os Dez Mandamentos

A Lei imposta por Deus é bela e ordenada. Ela compreende dois grupos de Mandamentos: os que dizem respeito ao relacionamento do homem com Deus e os que tratam das relações dos homens entre si. Três Mandamentos pertencem ao primeiro grupo, sete ao ­segundo.

Quanto ao primeiro grupo, analisando-o, facilmente conclui-se sua objetividade: sendo o Criador infinitamente superior aos homens, devemos amá-Lo sobre todas as coisas, não tomar o seu Santo Nome em vão e guardar os dias a Ele consagrados; estes são exatamente os três Mandamentos que se referem ao primeiro grupo.

Analisemos alguns dos Mandamentos de ambos os grupos.

Não tomar seu Santo Nome em vão

O que quer dizer “não tomar o seu Santo Nome em vão”?

Significa nunca pronunciar o Nome de Deus, a não ser havendo uma razão à altura. Então, nunca blasfemar — é o arquétipo de tomar o Nome de Deus erradamente — nem empregar seu Nome numa conversa sem que seja razoável, porque Ele é tão supremo e sagrado, que usá-Lo sem necessidade já significa faltar-Lhe com o respeito.

Este preceito também se refere de algum modo àqueles que têm uma particular relação com o Altíssimo e, por causa disso, também às coisas sagradas as quais não podemos mencionar em vão, nem fazer brincadeiras, gracejos, porque elas participam de certa forma da dignidade de ­Deus.

Antes de tudo, o mais suave e santo dos nomes, usado pelo Homem-Deus: o Santíssimo Nome de Jesus! E depois, o mais doce e acessível dos nomes utilizado pela mais sublime das meras criaturas: o dulcíssimo Nome de Maria. São nomes que não podem ser empregados em vão. É preciso haver uma razão para usá-Los com respeito porque, do contrário, peca-se.

E, por conexão, também os nomes de pessoas, de instituições que merecem o devido respeito. Entre nós é costume, sempre que se fala de uma pessoa eclesiástica, mencionar o título antes de indicar o nome: Padre, Cônego, Monsenhor, Dom, Cardeal. Porque o nome da pessoa, pela função sagrada por ela exercida, se tornou tão respeitável que não deve ser usado sem o respectivo título.

É mais ou menos como numa família bem constituída: quando os filhos falam do pai, da mãe, não dizem o fulano ou a fulana, mas papai ou mamãe. E, referindo-se a um tio ou uma tia, tio Fulano ou tia Fulana, pelo respeito especial que lhes devem.

Terceiro Mandamento: Guardar os dias de festa

Acho o terceiro Mandamento uma linda coisa, uma espécie de imposto que Deus cobra dos homens. O Criador quer que o homem Lhe consagre um dia por semana, ou seja, nesse dia, não cuide de ganhar dinheiro.

O que há de Sabedoria dentro disso é verdadeiramente extraordinário! Não cuidar de ganhar dinheiro e não pensar no dinheiro que vai obter no dia seguinte. Nosso Senhor Jesus Cristo diria mais tarde: “Olhai os lírios dos campos, que não tecem nem fiam, entretanto nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como eles!”(1)

Consideremos a bondade de Deus. Ele tira da vida limitada do homem um sétimo dia, mas precisamente isso Ele lhe dá sob a forma de repouso… É bem à maneira divina! No momento mesmo em que faz a pessoa dar-Lhe algo, Deus põe na mão dela algo muito maior do que aquilo por ela doado: é o descanso, a distensão, o dia do Senhor. Como que lhe dizendo: “Pare, reze, eleve o seu espírito.”

Quantas pessoas há que, no domingo, preocupam-se apenas em conservar sua saúde com a distensão própria deste dia!

Enquanto o Criador lhe cobra, o homem se vê inundado por um novo dom de Deus. Já imaginaram a tristeza de uma vida em que nunca houvesse domingos?

Estes são dias que vêm acompanhados de uma bênção, de qualquer coisa de festivo, fazendo com que já no sábado se comece a respirar uma atmosfera especial. E aos domingos de manhã, quando se acorda, tem-se uma impressão de certa clemência de Deus, de uma distensão: “Agora chegou a sua vez de descansar; pare, não tenha preocupações…” É a bondade de Deus pairando sobre cada ser, fazendo-lhe sentir que Ele é Pai. Quanta beleza há nisso!

 É conforme a ordem natural das coisas que Deus possa cobrar do homem esse dia. Está na ordem da bondade de Deus que Ele “pague” desse modo maravilhoso o que o homem dá.

Honrar pai e mãe!

Está na natureza das coisas o seguinte: nossa alma é criada diretamente por Deus e insuflada por Ele no corpo que nossos pais geraram. A ação principal é de Deus. Nossos pais, quando nos geraram, cumpriram a intenção que está na ordem natural, tendo um filho. E se eu não posso, de nenhum modo, ofender a Deus, que criou minha alma, por uma razão menor, mas quão verdadeira, não devo ofender os meus pais que geraram meu corpo.

Lembro-me de que um livro de piedade apresenta um exemplo muito bem calculado, de um artista que esculpisse uma figura em pedra; e no momento em que a estátua estivesse concluída, ela desse uma bofetada no escultor. Este se sentiria ultrajado. É natural, pois ele é a causa da estátua. Ora, o filho é muito mais feito pelos pais do que uma estátua por um escultor. Então, “honrarás pai e mãe”.

E o pátrio poder é um padrão de todos os poderes que há na Terra, os quais, quando bem compreendidos e bem exercidos, têm algo de paterno. Quem exerce o poder deve governar paternalmente o súdito, e este precisa obedecer filialmente. Razão pela qual se deve prestar toda a honra àqueles que estão constituídos em poder. Do contrário, se transgride o Mandamento: “honrarás pai e mãe”.

Honrar pai e mãe não significa apenas obedecer, mas prestar respeito. Merecem respeito também os que estão constituídos em dignidade: o superior de uma ordem religiosa, o chefe de um exército, o reitor de uma universidade, quem dirige qualquer espécie de organização. 

Não matarás!

Quinto Mandamento: Não matarás!

Quem não percebe que o homem não tem o direito de matar outro homem? Quem tira a vida de outro abusa de sua própria natureza e atenta contra a natureza do outro. Caim quando matou Abel, vendo-o morto, saiu correndo e por toda parte aonde ia, sentia o castigo de Deus pesar sobre ele. Por quê? Matou seu irmão, matou outro homem.

O homem não tem o direito de matar aquele que é semelhante a ele. Matando uma pessoa, o assassino presumiu ser o que ele não é. Além disso, cometeu outro mal: tirou a vida que está na natureza da vítima possuí-la. Se espancar um outro, o indivíduo comete um pecado que está nas encostas do “não matarás”.

Não pecar contra a castidade; não cobiçar a mulher do próximo!

Sexto e nono Mandamentos: Não pecar contra a castidade; não cobiçar a mulher do próximo.

O que é a castidade? Como se prova que ela não deve ser violada? O que isto tem a ver com a ordem natural das coisas?

A castidade tem dois graus: a matrimonial e a castidade perfeita.

A castidade matrimonial é a daqueles que contraem casamento, e desta maneira assumem o encargo de multiplicar a espécie humana e de educar os seus próprios filhos. Esta é a obrigação inerente ao casamento. A castidade perfeita é própria aos que não são casados.

Mas o fim de ter filhos traz consigo a obrigação de educá-los. Realmente a Providência dotou os pais de recursos incomparáveis para educar os seus próprios filhos. O senso psicológico das mães, por exemplo, é uma coisa extraordinária… A mãe mais analfabeta, devido a seu instinto materno, conhece regras de pedagogia que os técnicos de repartições não conhecem. Porém, a educação dos filhos somente é bem feita em conjunto, pelo pai e pela mãe. Aqueles precisam ser conduzidos pela doçura da mãe e pela severidade do pai.

 Para exercerem bem essa tarefa, eles não podem separar-se. Portanto, o casamento deve ser monogâmico e indissolúvel. 

Castidade perfeita até ao casamento, fidelidade conjugal são princípios contidos no “não pecarás contra a castidade”. E mais ainda no preceito especial “não cobiçarás a mulher do próximo”, que é o nono Mandamento.

O nono Mandamento, por sua vez, enfatiza um ponto: não se pode nem pensar em ter a mulher do próximo. Quer dizer, em assunto de pureza, como, aliás, em todas as matérias, não se deve nem cogitar em pecar. Quem pensa em pecar, já pecou!

Não furtarás; não cobiçaras as coisas alheias

O homem é dono de si mesmo. Sendo dono de si mesmo, ele é dono de sua capacidade de trabalho. Sendo dono de sua capacidade de trabalho, ele é dono do fruto de seu trabalho.

Se alguém, por exemplo, que se põe a vaguear por um sertão qualquer, encontra frutas pendentes de várias árvores que não pertencem a ninguém, colhe um bom número delas e faz para si uma matalotagem, ele se torna dono desta, pois é fruto de seu trabalho. Porque as frutas pendentes da árvore sem dono estão postas lá por Deus para que alguém delas se aproprie. Uma pessoa por ali passou, se apropriou e realizou trabalho, que é uma razão a mais, além dessa destinação primeira. Aquilo ficou dela porque é dona de si mesma. E ninguém tem o direito de tirar para si algo de que o outro se apropriou, pois seria um furto.

Recentemente eu estava lendo num livro de Elaine Sanceau(2) uma descrição muito divertida da chegada dos portugueses a uma ilha, onde havia índios. Para alegrar os nativos eles distribuíam gorros vermelhos. O que um índio fazia com um gorro vermelho, não compreendo… Enfim, havia outras coisas engraçadíssimas. Quando foram embora da ilha, eles colocaram uma Cruz enorme, e aos pés da Cruz as armas do rei de Portugal. Aquela terra não tinha dono, porque índio no estado selvagem tem uma capacidade de possuir limitada — o que se poderia provar numa outra longa demonstração. Chega uma nação civilizada, Portugal, e coloca ali uma Cruz: é de Jesus Cristo! E as armas de Portugal: é do rei de Portugal! É inteiramente normal. Este nosso país estava como um fruto pendente; passou por cá Pedro Álvares Cabral e o colheu… É verdade que colheu um fruto enorme… Viva Portugal!

Além de proibir o roubo, Deus ordena não cobiçarmos os bens alheios. 

Por exemplo, estando diante de uma loja onde se vende água-de-colônia, e vendo aproximar-se um homem que compra um frasco, quem fica com vontade excessiva de possuir este objeto, sem ter condições financeiras para tal, e o cobiça, peca contra o décimo mandamento. Mas se ele tiver dinheiro para comprar, não comete pecado.

Quando se procede mal, então, cobiçando os bens do próximo? Quando se vê alguém ter bens que não se pode adquirir, e fica-se com raiva do próximo porque ele os tem.

Oitavo mandamento

Não levantar falso testemunho! A razão desse preceito entra pelos olhos de tal maneira que não precisamos justificá-lo. Se uma pessoa se comunica com outra, é para dizer a verdade. A voz foi dada para dizer a verdade, e a mentira é contrária à ordem natural. Portanto, deturpa a finalidade da palavra quem mente: não se pode levantar falso testemunho.

***

Eis aí uma exposição abreviada sobre a relação entre a ordem natural e os Dez Mandamentos. Assim compreendemos o pensamento de Santo Agostinho: “Um Estado onde todas as pessoas observassem os Dez Mandamentos chegaria ao seu fastígio, porque a ordem da natureza feita à imagem de Deus, expressão de sua vontade, sua sabedoria, foi obedecida e tudo prospera.” v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/3/1984)

Revista Dr Plinio 144 (Março de 2010)

 

 

1) Lc. 12,27

2) Elaine Sanceau. Historiadora de origem francesa, porém, nascida na Inglaterra. Em 1930 passou a residir em Portugal e lá escreveu inúmeras obras que narram as aventuras portuguesas em além-mar. (1896-1978)