Auxilium Christianorum na via gloriosa dos becos sem saída

 

Ao considerar a dolorida e gloriosa avenida dos becos sem saída por ele percorrida, Dr. Plinio se perguntava: “Se Nossa Senhora me desse a escolher esta via ou outra qualquer, qual eu preferiria?” E sua resposta seria: “Minha Mãe, se Vós me derdes força, escolho a avenida dos becos sem saída!” Avenida do inexplicável, da aparente catástrofe, da derrota, do arrasamento, mas da vitória que se afirma. Porque todo caso tem saída. Às vezes não vemos a solução, mas Ela está dando uma saída monumental.

Há uma pequena imagem de Nossa Senhora Auxiliadora que nos acompanha desde há muito tempo. Eu a deixava na sede da Ação Católica de São Paulo, enquanto afiávamos os instrumentos para desferir o “Em Defesa da Ação Católica”.

Conduzida à Sede do “Legionário” para que lutasse dentro da trincheira

Não posso me esquecer do salão onde a Ação Católica, a dois passos do meu escritório de advocacia no mesmo prédio, tinha a sua sede. Ali, numa peanha, estava essa imagem a qual eu mesmo comprei e instalei, e que, com minhas próprias mãos, levei depois para a sede do Legionário quando tivemos de entregar a Ação Católica ao adversário, para que a Rainha, saída de seu trono, lutasse dentro da trincheira. Lembro-me, e com quanta emoção, de que, entregue o Legionário, essa imagem foi levada para nossa sede da Rua Martim Francisco, 669, onde ocupávamos exclusivamente o andar térreo e tínhamos no fundo um oratoriozinho, no qual a imagenzinha possuía o seu altar; ali nós rezamos a Nossa Senhora de um modo ininterrupto até que a hora da reconquista começasse.
Tendo sido acrescido o nosso contingente, passamos a ocupar uma sede no sexto andar da Rua Vieira de Carvalho; para lá levamos a imagem, e obtivemos um retábulo que se encontra hoje na capela da Sede do Reino de Maria1. Na sede da Vieira de Carvalho a imagem foi entronizada e diante dela foram rezadas inúmeras Missas, distribuídas Comunhões, num movimento intenso de piedade, até que a reconquista marcou um outro passo.
Deixando dois andares num prédio de apartamentos, passamos para um palacete da Rua Pará. Para essa nova sede, nós mesmos levamos a imagem, à noite, num automóvel, rezando durante todo o tempo do percurso, e a instalamos no seu altar, o mesmo que ela ocupava na Rua Vieira de Carvalho. Ali esteve ela até o momento em que passou para a maior das sedes, até agora, do nosso Movimento, a da Rua Maranhão. Ali ela é objeto de nossa contínua veneração.
Não é uma obra de arte, mas uma imagenzinha de gesso dessas fabricadas em série e que se encontram por toda parte, de um tipo religioso chamado sulpiciano, que é bem conhecido e não vou descrever aqui.

 

Algo de virginal e ao mesmo tempo materno

 

Por que motivo eu julguei fazer um achado encontrando essa imagem? Pareceu-me de uma expressão de fisionomia, de uma serenidade interior toda ela decorrente da temperança. A temperança é a virtude cardeal pela qual se tem por cada coisa o grau de apreço ou de repúdio que é proporcional a todas as circunstâncias. Nunca se quer uma coisa exageradamente nem menos do que merece, e jamais se detesta algo exageradamente nem menos do que merece. A completa execração para com as coisas inteiramente execráveis faz parte da virtude da temperança.
Essa disposição de alma me pareceu reluzir muito nesta imagem. Discretamente, ela é tão calma, tão senhora de si, está de tal maneira pronta a tomar atitude diante de qualquer coisa de modo inteiramente proporcionado, é tão desapegada de si que me pareceu o próprio símbolo do equilíbrio que é o corolário da virtude da temperança. E por isso mesmo com algo de virginal. Ela tem qualquer coisa de puro, de virginal, que me encantou, e ao mesmo tempo algo de materno por onde parece estar olhando para o filho, sorrindo e pronta a acionar o cetro de Rainha decisivo, segundo o pedido que se faça.
Auxílio dos cristãos verdadeiramente e com esta simbologia: Nossa Senhora com a coroa aberta porque em presença do rei ninguém usa coroa fechada. O Menino Jesus está de coroa aberta, mas deveria ser fechada! Ele Se encontra no braço d’Ela com os bracinhos abertos, sorrindo. Vê-se que Maria Santíssima pediu e Ele sorriu, os braços abertos são fruto da prece de sua Mãe. Nossa Senhora está olhando comprazida por ver como o pobre filho d’Ela, ajoelhado ali, se encanta observando o Filho d’Ela por excelência sorrir e abrir os braços. É o auxílio: Aquela que nos consegue d’Aquele que é o Autor, a fonte última de todas as graças, tudo aquilo que nós pedimos. Ela pareceu-me ao mesmo tempo muito régia, mas muito simples. E tudo isto junto de tal maneira que a expressão global da imagem me agradou enormemente.

 

 

Lírio nascido do lodo que floresce à noite, durante a tempestade

 

Por que, falando da devoção a Nossa Senhora Auxiliadora in genere, eu passei, de repente, para as várias etapas dos atos de piedade realizados em função ou em presença desta imagem e, de algum modo, para a história da TFP? A fim de marcar que o sentido profundo de todas as nossas derrotas era um recuo da devoção a Maria Santíssima como fato que se exprimia por todo o Brasil, mas também que a nossa reconquista era uma reconquista da devoção a Nossa Senhora. E temos a alegria de poder afirmar que todo o terreno por nós reconquistado pelo Brasil, passo a passo, foi reconquistado para Ela. Reconquistado para Ela é dizer pouco! Foi reconquistado por Ela! Se a todo momento a Virgem Maria não nos tivesse ajudado, não houvéssemos recorrido a Ela, sentindo o seu apoio maternal, não teríamos feito coisa alguma. Quando a TFP chega aos seus píncaros e, por exemplo, considera os belos resultados que aqui nesta noite foram proclamados, ela deveria dizer que esses são os feitos de Nossa Senhora nas regiões sertanejas do Brasil.
Que espécie de feitos?
Sobretudo, e antes de tudo, os realizados nas nossas próprias almas. Quer dizer, que haja uma organização como a TFP, com um número de membros absolutamente falando reduzido, mas proporcionalmente enorme de sócios e cooperadores, e agora nesta semana a nova onda de correspondentes com esta mentalidade, estes costumes, este estilo de piedade, em toda a borrasca que existe em torno de nós, isto é bem o lírio nascido do lodo que floresce à noite, durante a tempestade. Mas quando se diz “lírio nascido do lodo”, não se recorre à metáfora senão para afirmar que está acontecendo algo de inteiramente inverossímil, inexplicável como a edelvais que brotou no Deserto do Saara. Foi, portanto, a Mãe de Misericórdia, a Medianeira de todos os favores que apresentou nossa prece ao seu Divino Filho e obteve que fosse atendida.

 

Co-Redentora do gênero humano

 

 

Qual prece? Antes de tudo a oração pela qual nós Lhe pedimos que nos dê a graça de cada vez mais amá-La, sermos d’Ela, confiarmos n’Ela, nos unirmos a Ela e que Ela se una a nós. A grande e

fundamental prece é que Maria nos torne devotos d’Ela.

Vejo alguém que poderia dizer: “Mas então fica encaminhado para segundo plano a devoção suprema, o culto de latria a Nosso Senhor Jesus Cristo? Que revolta é esta: o culto de dulia substituindo o culto de latria?”Fico com vontade de responder: “Que asneira é essa?” Nossa Senhora é o canal necessário, único, para chegar a Nosso Senhor Jesus Cristo. E se nós de tal maneira aplaudimos e veneramos a Santíssima Virgem é porque adoramos Aquele a Quem Ela conduz. Ela é o caminho pelo qual Ele veio a nós. N’Ela Jesus Cristo Se encarnou para depois remir o gênero humano; Ela é a Co-Redentora do gênero humano. Quando subiu ao Céu, Ele deixou sua Mãe para atenuar um pouco a tristeza e o imenso vazio que ficara na Terra. Tendo tudo isto em vista, se nos agarrarmos bem a Nossa Senhora, iremos até Ele; se não nos agarrarmos à Santíssima Virgem com todas as forças de nossa alma, aonde iremos? Para baixo! E nós sabemos bem quem está embaixo…

Carta de um sacerdote jesuíta

Lembro-me que nosso Grupo estava num de seus momentos mais cruéis, na luta do “Em Defesa”. Eu tinha tido uma pequena esperança de que uma editora de Montevidéu, de grande expressão naquele tempo, publicasse o “Em Defesa” em espanhol. Ela me enviou uma carta, pedindo licença a fim de traduzir a obra para o espanhol, e eu tinha concordado. Mas a editora me remeteu outra missiva, dizendo que não se interessava mais pela publicação; era naturalmente a “máfia” que havia chegado até lá. Pouco depois recebo outra carta de Montevidéu. Abro-a pensando: Que novo dissabor será esse? Era escrita com uma letra tremida de alguém que parecia enxergar pouco e empunhava mal a caneta.
Tratava-se de um velho sacerdote jesuíta que eu não conhecia, o qual dizia na sua carta, resumidamente, o seguinte: “Por mais que os senhores sejam combatidos, eu os prezo muito e por causa disso lhes dou aquilo que posso conceder: as minhas orações, em primeiro lugar; em segundo lugar, um conselho: Os senhores valem o que valem porque são muito devotos de Nossa Senhora. Sejam cada vez mais devotos e não há bem que não lhes acontecerá; não diminuam jamais em um grau que seja essa devoção, porque do contrário todo o mal poderá vir sobre os senhores!” Eu dobrei a carta e pensei: “Este velho moribundo regou com um pouco de consolo a alma daquele que está em plena luta.”
Quero crer que a piedosa alma desse verdadeiro filho de Santo Inácio esteja aos pés de seu Fundador no Céu, gozando da visão beatífica e olhando para Nossa Senhora. Peço a ele que reze por todos nós, para que sigamos esse conselho. Mas para isso, meus caros, é capital um ponto: não basta não decair na devoção a Nossa Senhora; ou se sobe cada dia mais, ou se para, e aquilo que para decai. Não tenhamos medo de exagerar, desde que fiquemos fiéis à Doutrina Católica em matéria de culto a Santíssima Virgem, porque De Maria nunquam satis, diz São Bernardo: sobre Nossa Senhora jamais há o que baste. Ela saberá depois premiar.

 

Se Judas tivesse procurado Nossa Senhora, Ela o receberia com bondade

 

 

Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos… Para Maria Santíssima não é glória maior ser Mãe de Deus, Co-Redentora do gênero humano, concebida sem pecado original? É claro! Por que, então, tanta insistência em torno desta invocação Nossa Senhora Auxiliadora?
Compreende-se. Como Ela é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e é nossa Mãe, está permanentemente disposta a nos ajudar em tudo aquilo que precisamos. São Luís Maria Grignion de Montfort tem uma expressão que parece exagerada, mas está absolutamente dentro da verdade: ele diz que se houvesse no mundo uma só mãe reunindo em seu coração todas as formas e graus de ternura que todas as mães do mundo teriam por um filho único, e essa mãe tivesse um só filho para amar, ela o amaria menos do que Nossa Senhora ama todos e cada um dos homens. De maneira que Ela é de tal modo Mãe de cada um de nós, quer-nos tanto por desvalido, desencaminhado, espiritualmente trôpego que seja e nada valha, que se nos voltarmos para Ela seu primeiro movimento é de amor e de auxílio. Maria Santíssima nos acompanha antes mesmo de nos voltarmos para Ela, pois tem ciência do que acontece com todos os homens, em todos os lugares. Ela me vê aqui falando d’Ela, e eu ouso esperar que, pela intercessão de nossos Anjos no Céu, Ela sorria. Ela conhece, portanto, nossas necessidades e é por intercessão d’Ela que temos a graça de nos voltarmos para Ela. É Ela que pede a Deus que tenhamos essa graça, e Deus no-la concede. Nós nos voltamos e a primeira pergunta que Ela faz é: “Meu filho, o que queres?”

á vi uma afirmação que não era de um grande teólogo, mas tenho a impressão de que é verdadeira: se o próprio Judas Iscariotes, depois de haver vendido a Nosso Senhor e estar caminhando para o lugar maldito onde ele se enforcou, tivesse tido um momento de devoção para com a Santíssima Virgem e rezado a Ela, teria recebido um apoio. Se houvesse procurado por Ela e dito: “Eu não sou digno de chegar próximo de Vós, de Vos olhar, nem de me dirigir a Vós, sou Judas, o imundo… Mas Vós sois minha Mãe, tende pena de mim!”, Ela teria recebido com bondade o homem cujo nome é sinônimo de torpeza mais baixa e mais asquerosa, e que ninguém pronuncia sem extremos de nojo, por assim dizer, sem esgares de nojo: Judas Iscariotes… Até este!

A bela avenida dos becos sem saída

 

Mas nós sentimos dificuldade em ter isto sempre em vista. Por quê? Porque não vemos e, na nossa miséria, muitas vezes somos daqueles que não creem porque não veem. Nós não duvidamos, mas esquecemos. Sentimo-nos tão deslocados que dizemos: “Mas será mesmo? Aconteceu-me isto, aquilo, aquilo outro. Eu pedi a Ela e não fui socorrido; por que vou crer que agora serei ajudado? Mãe de misericórdia… para mim, às vezes sim, mas às vezes não…”
É nessas horas que se deve dizer: “Auxilium Christianorum, ora pro nobis!” Nos momentos em que não compreendemos, não temos noção de como será a saída do caso,

do que vai acontecer, precisamos repetir com insistência: “Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum!” Porque todo caso tem saída. Nós às vezes não vemos a solução, mas Ela está dando ao assunto uma saída monumental.
Quando lembro a história de nossas catástrofes, nossos reerguimentos, nossa dolorida e gloriosa avenida de becos sem saída, voltando-me para trás eu me pergunto: “Se Ela me desse para escolher esta via dos becos sem saída ou outra qualquer das que eu imaginava, qual preferiria?” Eu teria respondido: “Minha Mãe, se Vós me derdes força, escolho a avenida dos becos sem saída!” Avenida do inexplicável, da aparente catástrofe, da derrota, do arrasamento, mas da vitória que se afirma. Como é bela a avenida dos becos sem saída! Por quê? Porque é a avenida triunfal de Nossa Senhora. Ela abre os becos sem saída, transforma esta coisa monstruosa – uma avenida esquartejada em becos – e faz disso uma avenida. Compreende-se a providência de Maria Santíssima. É uma verdadeira maravilha!

Portanto, a esse título muito especial, devemos repetir sempre: “Auxilium Christianorum!” Somos tão poucos, tão perseguidos, tão isolados, muitas vezes tão provados interiormente, há tanta coisa que se passa dentro de nós mesmos, em torno de nós, sentimos tanto adversário que ruge, há toda espécie de distâncias, que precisamos dizer constantemente: “Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum!”, para ficar claro que a vitória foi de Nossa Senhora. Nossa insuficiência proclama a vitória d’Ela, canta a glória d’Ela. Como não poderemos ficar entusiasmados com a ideia de que Ela nos fez tão poucos para que Ela fosse tão largamente glorificada? É evidente! Esta prece deve estar nos nossos lábios em todos os momentos: “Auxilium Christianorum, ora pro nobis! Auxilium Christianorum, ora pro nobis! Auxilium Christianorum, ora pro nobis!”

Batalha de Lepanto

Temos um exemplo disso na Batalha de Lepanto, tão ligada à festa de hoje, na qual se deu isto: a esquadra católica estava enormemente desproporcionada em relação à esquadra maometana. Já era uma coisa para não se entender. Não seria mais compreensível que Nossa Senhora tivesse reunido uma esquadra católica potente, magnífica, para esmagar aqueles ímpios seguidores de Mafoma? Porém Ela não fez isso. Era uma esquadra pequena, talvez quase se pudesse dizer raquítica.
Surge a esquadra muçulmana que forma a meia-lua e vai apertando os católicos. A batalha se inicia e há vários reveses dos católicos. Em certo momento, estes pulam para a nau capitânia inimiga e começam a atacar. Há alguns êxitos, a esquadra maometana foge. Eles mesmos não compreendem bem por que fugiam. Mas em anais dos próprios maometanos, que foram encontrados, está escrito: “A esquadra fugiu porque uma Dama terrível apareceu no céu e nos olhava com ar de ameaça tal que…” Não foi bom que os católicos fossem tão poucos, passassem por tantos riscos, lutassem como heróis de um modo mais ou menos inútil porque os outros eram muito mais fortes? Mas eles não deixaram de confiar em NossaSenhora. E o resultado é que a Virgem Maria apareceu e afugentou os inimigos. Não há nada mais belo.

 

 

“Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João”

Encerremos com um dado final. Desviemos nossos olhares de Lepanto e os voltemos para os esplendores do Vaticano. Numa sala, um Papa santo – São Pio V – preside uma reunião de cardeais. Mas o melhor de sua atenção está posto naquela esquadra que, com uma dificuldade diplomática enorme, ele conseguiu reunir. O grosso da esquadra era de naus espanholas, mas que o Filipão2 levou demais tempo em mandar. De outro lado, um pouquinho de navios venezianos, da Sereníssima República de Veneza, e alguns naviozinhos da Santa Sé. Tudo junto colocado sob o comando de Dom João d’Áustria. Os navios da Santa Sé eram comandados pelo Príncipe de Colonna. A esquadra vai para aquelas regiões e o Papa pensa, pensa… Em certo momento, ele se afasta de sua sala aonde estava havendo a reunião dos cardeais e se põe junto à janela, e se vê um tercinho que desce de suas mãos. Ele reza o terço inteiro, volta e diz: “Uma grande vitória foi ganha por Dom João; a esquadra cristã está vencedora!”
Dom João combateu, foi um grande guerreiro, um herói. Em sua sepultura, no Escorial, que eu tive a alegria de ver, está escrita como epitáfio uma frase que São Pio V disse dele: “Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Iohannes!” O que o Evangelho diz de São João Batista, ele aplicou a Dom João d’Áustria: “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João (Jo 1, 6).”
Mas quem obteve que a Rainha do Céu cortasse as imensidões vazias e com o olhar ganhasse a batalha? O Rosário rezado por São Pio V, que dizia a Nossa Senhora, “Auxilium Christianorum!”
Meus caros: rezemos, portanto, “Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum!” em todas as circunstâncias de nossa vida. E na hora de morrer, quando estivermos no último alento e ainda dissermos “Auxilium Christianorum”, daí a pouco o Céu se abre para nós.

 

(Extraído de conferência de 23/5/1984)

1) Situada em São Paulo, na Rua Maranhão, 341, Bairro Higienópolis.
2) Filipe II, Rei de Espanha.

Auxiliadora até dos mais miseráveis

Minha Mãe, eu, sucumbindo ao peso da tentação, não andei bem.

Pequei. Tenho o receio de me habituar ao pecado e de nele me embrutecer. Por outro lado, imensa é a minha vontade de me regenerar.

Sei que não mereço a vossa proteção, mas, porque sois a auxiliadora de todos os cristãos, não apenas dos bons, porém até dos mais miseráveis, peço-Vos: vinde e auxiliai-me.

Plinio Corrêa de Oliveira (Composta em 24/5/1965)

Nossa Senhora Auxiliadora bondade e misericórdia incansáveis

Desde menino, quando se viu atendido pela Auxiliadora dos Cristãos em penoso momento de sua vida — a Ela rezando um peculiar e fervoroso “Salvai-me Rainha”(1) —, Dr. Plinio nutriu particular devoção a esse título de Maria Santíssima. E como podemos comprovar pelas palavras que seguem, não perdia ensejo de recomendá-la a seus discípulos, mostrando-lhes as maravilhas de clemência e solicitude maternas que nos coloca ao alcance tal invocação.

 

Segundo o ensinamento da Igreja, as maiores glórias de Nossa Senhora redundam do fato de sua maternidade divina. Ou seja, porque eleita para ser a Mãe do Verbo Encarnado, foram-Lhe concedidos todos os demais augustos privilégios e dons excepcionais. Entre seus grandes títulos estão os de Imaculada Conceição, Co-redentora do gênero humano, Medianeira Universal de todas as graças, etc.

Apesar de assim louvarmos e cultuarmos de modo especial a Santíssima Virgem, a invocação de Nossa Senhora Auxiliadora nos é muito cara, e com invulgar insistência a dizemos para implorar a misericórdia de Maria.

Mãe que conhece e atende a todas as nossas necessidades

Explica-se. Sendo Ela Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, é também Mãe nossa, permanentemente disposta a nos ajudar em tudo aquilo que precisamos. São Luís Maria Grignion de Montfort faz uma comparação que pode parecer exagerada, porém inteiramente verdadeira: se uma mãe, com um único filho, reunisse em seu coração todas as formas e graus de ternura que todas as mães do mundo têm por seus filhos, ela o amaria menos do que Nossa Senhora preza todos e cada um dos homens.

Assim, Maria Santíssima quer tanto a cada um — por mais desvalido, desencaminhado, espiritualmente trôpego que seja, ou nada valha — que, voltando-se este para Ela, seu primeiro movimento é de amor e auxílio. Nossa Senhora nos acompanha antes mesmo de nos dirigirmos a Ela. Tem ciência do que acontece com todos os homens, em qualquer lugar, sabe de todas as nossas necessidades e, por sua intercessão, nos alcança de Deus as graças que são importantes para nossa perseverança e santificação. Quando nos dirigimos a Ela, como que a primeira pergunta d’Ela para nós é esta: “Meu filho, o que queres?”

Graus inexcogitáveis de misericórdia

Outra afirmação, igualmente verídica, é esta: se o próprio Judas Iscariotes — depois de ter vendido Nosso Senhor e caminhado para o local onde se enforcou — tivesse tido um movimento de devoção à Mãe de Deus, rezado a Ela, obteria um apoio. Quer dizer, se A procurasse e lhe dissesse: “Eu não sou digno de chegar próximo de Vós, de Vos olhar, de me dirigir a Vós, sou Judas, o imundo… Mas, vós sois minha Mãe, tende pena de mim”, Ela o teria recebido com bondade. Ela acolheria com benevolência o filho cujo nome é sinônimo de horror: Judas Iscariotes.

É-nos difícil ter sempre presente essa noção da imensidade da misericórdia de Maria. Em nossa miséria, muitas vezes somos daqueles que não creem porque não vêem. Não duvidamos, mas esquecemos das graças recebidas neste sentido. Tentados, somos levados a pensar: “Aconteceu-me isto, aquilo, aquilo outro, pedi a Nossa Senhora e não fui socorrido. Sê-lo-ei agora? Certo, Ela é Mãe de misericórdia, mas, às vezes, não sinto sua ajuda…”

Mais do que nunca, nessas horas, devemos dizer: “Auxílio dos Cristãos, rogai por nós!”. Quando não compreendemos uma situação nem sabemos como dela sair, o que vai nos acontecer, etc., precisamos repetir com insistência: “Auxílio dos Cristãos! Auxílio dos Cristãos! Auxílio dos Cristãos!”. Para a Mãe de Deus, todo problema tem solução. Às vezes não a vemos, mas Ela já está dando ao caso um monumental e favorável desfecho.

Auxílio especial nas aparentes catástrofes

Quando me lembro da história das catástrofes pelas quais passou nosso movimento, nossos reerguimentos, nossa dolorida e gloriosa avenida de becos sem saída, pergunto-me: “Se Ela me desse para escolher entre a via dos becos sem saída e qualquer outro dos caminhos que eu imaginava para nossa obra, qual eu teria preferido?” Eu responderia: “Minha Mãe, se Vós me derdes força, a avenida dos becos sem saída!”

É a via do inexplicável, da catástrofe aparente, da derrota, do arrasamento, mas também a da vitória que se afirma. Como é bela essa via, porque é o caminho triunfal de Nossa Senhora. Ela transforma uma estrada esquartejada em becos numa linda e desimpedida avenida. Compreende-se, assim, como a Virgem Santíssima, Auxiliadora dos Cristãos, opera verdadeiras maravilhas, sobretudo nos momentos em que tudo nos parece mais difícil e a solução menos alcançável.

A batalha de Lepanto

Temos um célebre exemplo dessa intervenção misericordiosa e decisiva de Maria Santíssima em nossos momentos de apuro: a batalha de Lepanto, em 1571, episódio histórico que se relaciona com a festa de Nossa Senhora Auxiliadora. Sucintamente, recordemos que a esquadra católica se achava em número muito inferior à do adversário, e via-se com isso votada a uma derrota com funestas conseqüências para a Igreja naquela época. Porém, em certo momento do confronto, aparentemente sem explicação, os inimigos abandonam a luta e fogem. Contudo, nos anais redigidos pelos próprios componentes da esquadra maometana, pode-se ler: Os nossos navios debandaram porque uma Dama terrível apareceu no céu e nos olhava com ar de ameaça tal que nos causou pânico.

Quer dizer, os católicos, embora em número menor, não cessaram de confiar na proteção de Maria, e Ela os socorreu. Conta-se que, naquele mesmo instante da vitória, o Papa São Pio V se encontrava numa de suas salas no Vaticano, e rezava o Rosário, rogando o especial amparo da Auxiliadora dos Cristãos. Em certo momento, o Pontífice se volta aos que o acompanhavam, e diz: “Uma grande vitória foi obtida por Dom João d’Áustria, comandante da esquadra cristã!”

A partir de então o Papa incluiu a invocação Auxilium Christianorum na Ladainha Lauretana, e a Ela devemos recorrer em todas as circunstâncias de nossa vida e na hora de nossa morte, quando estivermos no último alento. Antes de exalarmos o derradeiro suspiro, digamos: “Auxílio dos Cristãos, rogai por mim” — e o Céu se abrirá para nós.

Errônea concepção da vida sem caridade

Antes de concluirmos essas considerações, convém insistir num ponto de particular valia para nós.

No mundo contemporâneo não é raro que alguém se deixe levar pela ideia de que os relacionamentos devem se basear numa troca de direitos e deveres, exclusivamente. Ou seja, cada homem tem determinados direitos que implicam em deveres de outrem para com ele. Uma vez respeitados tais direitos, o homem tem suas necessidades atendidas.

Portanto, o ato de bondade, de caridade, de amor ao próximo, inteiramente gratuito, não tem razão de ser. Se os direitos não são acolhidos, cumpre exigi-los, como se cobra uma letra de câmbio. Consoante tal mentalidade, todas as relações humanas se reduziriam a um sistema de cheques. Então, a verdadeira noção de caridade — que compreende prestações de serviço realizadas por amor, bondade, simpatia, a concessão gratuita de vantagens, etc. — desaparece. Mais ainda. Atrapalha a vida social, fundamentada na estrita justiça, transtorna o convívio dos homens, baseado num jogo de exigências. Se alguém pretendesse receber mais do que lhe é necessário, o indivíduo infectado por essa concepção responderia: “Dou-lhe aquilo a que apenas tem direito. Se quiser mais, mereça!”

Se uma pessoa transpõe esse modo de ver as coisas para a ordem sobrenatural, dirá: “Não compreendo a misericórdia de Deus para comigo, pois Ele está disposto a me perdoar e a me ajudar, mesmo quando não O agrado. Se agi mal, que Ele me puna, pois é a atitude lógica. Caridade, bondade… são coisas que não têm sentido. Baseio-me nos meus direitos, os quais Deus precisa atender”.

Socorro baseado numa relação impregnada de bondade

Ora, essa não é a mentalidade com a qual devemos considerar nossa vida terrena, e muito menos a nossa vida de piedade, nosso relacionamento com Deus.

Com efeito, o convívio humano, quando bem entendido e praticado, fundamenta-se em grande parte na solicitude e na compaixão de uns para com os outros, sobretudo dos que têm mais em relação aos que têm menos.

Que dizer, então, do trato de Deus conosco? Esse comércio tem como um dos seus fatores preponderantes a bondade, e bondade gratuita, a efusão de caridade, de misericórdia, compaixão, assistência contínua. E diante de Deus, devemos nos sentir pequeninos, impotentes, encontrando a razão de esperar clemência em nossa própria pequenez, até em nossa fraqueza quando pecamos.

Deus nos amou gratuitamente, e quer de nós que também O amemos. Estamos cumulados de dívidas, e o único meio de saldá-las consiste em manifestarmos esse amor e essa adoração a Deus. Em segundo lugar, compreendendo humildemente que necessitamos da ajuda divina, como o filho depende do pai, sem estar fazendo grandes contabilidades, e sim recebendo tudo d’Ele — eu diria — com uma espécie de santa sem-cerimônia.

Com esse pressuposto, entendemos melhor o fundamento do título de Nossa Senhora Auxiliadora. Pois o que se diz sobre a infinita bondade de Deus para conosco, devemos dizê-lo da insondável solicitude de Maria em relação a seus filhos. Ela nos ajuda a todo momento, nos dispensando misericórdia e favores aos quais não teríamos direito, e nos concede tudo isto com uma superabundância de amor, de sorrisos, de perdão, muitas vezes dando-nos o que não pedimos, ou mais do que rogamos, e até movendo nosso coração para aceitar benefícios que não queríamos receber.

Portanto, a ideia do auxílio de Nossa Senhora está toda pervadida pelo princípio de que as relações entre o homem e Deus são baseadas não apenas na justiça, mas em larguíssima parte na misericórdia, na generosidade sem limites, na benevolência e na gratuidade de favores.

Razões a mais para nunca deixarmos de invocá-La: Auxílio dos Cristãos, rogai por nós.

 

 

1) Cfr. “Dr. Plinio” número 1, abril de 1998

 

Auxiliadora onipotente

A Santíssima Virgem segura no braço esquerdo o Menino Jesus, e na mão direita um cetro. Isso quer indicar que, pelo poder que Ela tem sobre seu Divino Filho, possui a onipotência sobre todo o universo. E por essa razão tem o poder de nos auxiliar em tudo quanto necessitarmos. É uma auxiliadora onipotente.

Por outro lado, o semblante risonho e amável d’Ela nos fala da sua misericórdia.

Estão presentes, portanto, os dois fatores para confiarmos no auxílio de Maria Santíssima, que quer e pode socorrer-nos inesgotavelmente, em tudo. Logo, se pedirmos, Ela socorrerá.

Nossa Senhora Auxiliadora poder-se-ia chamar, debaixo de certo ponto de vista, Nossa Senhora dos Pedidos. Ela não nos auxilia só quando pedimos, mas sempre que o fazemos, Ela nos ajuda. Por causa disso, é invocada sob o título de “Auxílio dos Cristãos”.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 23/5/1968)

Poderoso auxílio em todas as dificuldades

Continuamente devemos recorrer a Nossa Senhora, especialmente quando passamos por dificuldades. Ela sempre nos acolhe, pois nunca se ouviu dizer que a Mãe de Deus tenha abandonado alguém que pede seu socorro. Entretanto, às vezes nossa prece demora em ser atendida; isso significa que Ela nos dará graças com extraordinária abundância.

 

Eu gostaria de dizer uma palavra mais especialmente quanto a Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos nas dificuldades da vida espiritual. Estas costumam ser de duas ordens. Umas dificuldades são as crises breves da vida espiritual, quando a pessoa se sente tentada e, portanto, hesitante ou abalada entre o bem e o mal, e com a possibilidade de ser arrojada no precipício do mal de um momento para o outro.

As dificuldades do tipo clássico

Essas são as dificuldades do tipo clássico, e quando falamos a respeito de dificuldade, naturalmente pensamos primeiro na do tipo clássico, quer dizer, no grande apuro da vida espiritual. Evidentemente Nossa Senhora é auxílio nessas circunstâncias. Não teria sentido Ela ser Auxílio dos Cristãos se não o fosse, sobretudo, para a vida espiritual, e é claro que o auxílio é principalmente para os mais necessitados. Então, para as pessoas que estão em crises agudas da vida espiritual e gravemente necessitadas, Maria Santíssima, na plenitude do termo, é o auxílio.

Sendo Ela Mãe de Misericórdia, seu auxílio não é dado apenas para uma pessoa que diga: “Eu vou perfeitamente bem na vida espiritual, estou muito tentado, porém não cedi em nada. Tenho direito ao vosso auxílio; vinde e auxiliai-me!” Mas também para aquele que se encontre numa situação pior, e de apuro muito mais grave, e reze: “Eu estou muito tentado, pequei, andei mal. Receio me embrutecer no pecado, de me habituar a ele, de não sair da vida de pecado, e tenho uma vontade imensa de me regenerar. Não mereço vosso auxílio, mas porque sois Auxiliadora de todos os cristãos, até dos mais miseráveis e não apenas dos cristãos bons,  então Vos peço: vinde auxiliar-me!”

Quer dizer, nessa visualização é a miséria da pessoa, o próprio fato de ela ter caído em pecado que é alegado diante de Nossa Senhora, como uma razão para obter o auxílio. É mais ou menos como quem se coloca diante da mãe e diz o seguinte: “Estou tão necessitado que até me aconteceu o pior. É verdade que foi por minha culpa. Pequei. E porque estou exatamente no sumo do desamparo, por ser um pecador, eu, enquanto abandonado, encontro no desamparo a razão pela qual primeiro devo pedir a vossa misericórdia.” Quer dizer, esta é uma consideração de fundo, que não fecha nunca as portas da esperança na vida espiritual, porque a Virgem Santíssima, sendo nossa Auxiliadora, é próprio,  inerente a Ela, é movimento profundo n’Ela, correspondente à sua missão, ao amor insondável que Ela tem a Deus, de nos auxiliar por esta forma.

Há aqui uma esperança, um recomeçar sem fim de novos propósitos de emenda, que deve ser o fundo de nossa vida espiritual.

Uma das crises da vida espiritual apresenta-se à maneira de alguém que, estando numa escada, encontra-se em perigo de cair em cima de uma fogueira: cai, não cai.

Os que se atolam em alguma etapa da vida espiritual

Existe um outro sistema de crise espiritual. É o da pessoa que está subindo uma escada e, no lugar onde deveria haver um patamar, tem o vazio, e mais adiante continuam outros degraus; de maneira que o indivíduo não sabe como faz para pular aquele vácuo. São as tais almas que atolam a alturas diferentes da vida espiritual.

Há uns que atolam, por exemplo, num estado assim: levam anos no meio-termo entre a virtude e o pecado, ora no estado de graça, ora fora do estado de graça, e ficam naquele pêndulo do Inferno para o Céu e do Céu para o Inferno.

Outros atolam numa espécie de mediocridade do estado de graça; não pecam mortalmente, mas cometem torrentes de pecados veniais — por exemplo, as tais mentirinhas ditas “inocentes” — à vontade.

Existem ainda aqueles que vencem as tais mentirinhas, mas se atolam numa outra coisa. Quem está nessa situação diz: “Combati todos os pecados que eu tinha — os leves e os graves —, e percebo que não estou valendo grande coisa. Há algo que falta, mas não sei o que é. Só sinto que eu, apesar de toda a profilaxia, não valho nada. Pior seria se eu não tivesse feito a profilaxia… Eu, antes, estava sujo; agora fiquei vazio. Mas, daí para diante, como encher isto? Também não sei.” E fica parado nesse estado.

Há outros que adquirem virtudes, progridem, e param já num certo grau de virtude, mas, de vez em quando, o carro encalha e não há meio de galgar o patamar de cima. O indivíduo fica assim um tempo enorme. Isso corresponde, em qualquer altura da escada, sempre a um ponto: é algo de que a pessoa deveria se desapegar e que, ao mesmo tempo, é a coisa mais clara e a mais confusa do mundo. Ela vê com toda a clareza que devia deixar aquilo, mas, concomitantemente, não vê de nenhum modo que é aquilo que ela precisaria abandonar.

A necessidade de uma graça extraordinária

E a Providência fica provando aquela pessoa até criar um momento em que haja um estalo em sua cabeça, o qual, em geral, representa uma graça grande que ela recebe, fazendo-a pensar: “Ah! Eu agora vejo, tem isto, aquilo e mais tal outra consequência. Estou compreendendo”. Então começa uma emenda, e ela vai mais um pouco para diante. Um, dois, três anos depois para de novo. Cada solução de um encalhe destes equivale verdadeiramente a uma espécie de conversão. E tanto é conversão — neste sentido da palavra — do indivíduo que deixa o zigue-zague entre o estado de pecado mortal e o estado de graça, como daquele que está vazio, embora não sujo, e sente a necessidade de se encher de virtudes que não possui.

Então, no caso de quem estacionou a certa altura da vida espiritual, é mais uma conversão neste sentido: é preciso uma graça extraordinária, como Nosso Senhor dava a um paralítico que, de repente, começava a andar. Essa graça precisa ser pedida, e ela representa o desapego de algo de muito claro e muito obscuro, ao qual a pessoa estava apegada.

É evidente que não podemos produzir essa graça por nosso próprio esforço, porque a graça é um dom criado e concedido por Deus, e não obtido por nós, mais ou menos como um isqueiro que tira de si mesmo a sua própria chama.

É preciso pedir que Maria Santíssima nos obtenha de Nosso Senhor essa graça. Portanto, nesses estados Nossa Senhora quer deixar bem clara a necessidade do sobrenatural.

Durante muito tempo, por nós mesmos, nada conseguimos. Pedimos para Ela e, de repente, obtemos. Quer dizer, Ela pode levar mais tempo ou menos para dar, mas quando Ela concede, o faz de uma vez, rapidamente, de um modo impressionante.

Esse tipo de graça, como a cura que Nosso Senhor realizava nos paralíticos, ao dizer a um homem “levanta-te e anda”, e ele saía caminhando, Nossa Senhora também nos obtém, enquanto Auxílio dos Cristãos, para circunstâncias extraordinárias, para casos que não se resolvem de outro modo.

Acho muito importante isto, porque conheço muitas almas boas que acabam desanimando na vida espiritual à força de rotina, de estagnação, petrificação e paralisação; ela se pergunta: “O que eu vou fazer daqui por diante?” Não se sabe.

Pedindo a Nossa Senhora, Ela nos dá o auxílio

Às vezes entra-se em alguma igreja e se vê certas beatas rezando. Tem-se a impressão de que podiam passar dois mil anos fazendo aquela oração, e não saíam daquele pouco de vida espiritual. Tudo direitinho, arranjadinho… Pode-se imaginar uma delas que, voltando para sua casa, ia ver um filho bêbado, ateu, cuidava dele; depois pegava uma imagenzinha de Nossa Senhora, fazia uma novenazinha, etc. Mas uma chama de uma virtude heroica, de algo de generoso, que convertesse, nada! E então, também nesse caso, desânimo, uma certa rotina, rodando no vácuo.

Por que às vezes se encontra um bom católico parado? Porque não lhe ensinaram que seu estado tem uma solução, um remédio, e que o fato dele não encontrar a solução é a prova de que Nossa Senhora quer mostrar-lhe que a solução é só Ela. Sem Maria Santíssima, ele de fato não vai para a frente, pois está apegado, entalou, enrascou em qualquer coisa.

Então, Nossa Senhora quer deixar bem claro que é preciso pedir-Lhe essa graça, e, pedindo, Ela dá; o sobrenatural resolve as dificuldades, é uma questão de espírito de Fé. Rogando empenhadamente, afincadamente, nós conseguimos.

O título de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos é um incentivo para que nós peçamos, porque compreendemos que o próprio d’Ela é auxiliar. Então, se eu preciso de auxílio e encontro a Auxiliadora dos Cristãos, estou certo de ser atendido, porque o necessitado encontra seu alívio junto à auxiliadora. Se considerar que a auxiliadora é Mãe, terei certeza de ser atendido. Então, àqueles dentre nós que se encontram nesse estado, em qualquer estágio da vida espiritual, eu sugiro — não vou além de uma sugestão — que rezem apenas três Ave-Marias por dia, pedindo a Ela isto: que tenha a bondade, a condescendência, a misericórdia de intervir nesse estado, e intervenha logo para nos socorrer. Ou, então, uma oração como o “Lembrai-Vos” pode ser sumamente útil para isso.

Rezando essa prece, posso dizer: “Lembrai-Vos de que nunca se ouviu dizer que Vós abandonastes algum pecador. Ora, eu sou um pecador. Será que Vós ireis interromper dois mil anos de gloriosa assistência aos necessitados e abrir uma exceção para mim? Eu não acredito.” É uma linda expressão: “Lembrai-Vos”.

Uma simples medalhinha amassada

Quando nos lembramos de todo o rebotado que passou… E quanta coisa Nossa Senhora tem perdoado, de toda ordem, de todo jeito; uns judeus empedernidos como Ratisbonne(1), bêbados, sem-vergonhas, canalhas, gente de toda ordem que Ela converte. Dessa forma, posso pensar: “Nunca se ouviu dizer… Será que Vós permitireis que a primeira vez seja comigo? Não é possível!” Eu, então, crio alento e toco para a frente.

Eu li uma vez, num livro de vida espiritual, uma coisa muito bonita a respeito do auxílio de Nossa Senhora. Uma senhora, se não me engano da nobreza de Paris, possuía uma casa muito bem arranjada, em cuja sala de visitas havia um quadro com uma moldura bonita e, dentro, uma almofada de veludo e uma medalhinha muito comum, amassada. Um ou outro visitante que aparecia lá perguntava, às vezes, o que era aquele objeto inteiramente sem valor artístico, até estragado, no meio daquela sala tão faustosa e de tanto gosto. E a senhora contava o seguinte: “A essa medalhinha devo a vida e a conversão do meu filho. Ele era ateu, estava saindo de um mau lugar — ou bebendo, ou fazendo qualquer outra coisa má; enfim, se encontrava em estado de pecado — e houve um crime na rua; o projétil desviou-se e bateu no peito dele, chocando-se contra essa medalhinha”.

Sabemos como, em geral, as medalhas de Nossa Senhora são frágeis, ultra comerciais, de alumínio, etc.

E ela continuou: “O projétil está guardado junto com a medalha. Entortou e estragou a medalha, mas miraculosamente não matou meu filho. Ele teve um tal golpe, que se converteu. E este grande milagre merece bem que eu tenha estes objetos expostos aqui”.

Vemos, assim, a bondade de Nossa Senhora por um tipo que, sendo morto por um disparo, iria para o Inferno, pois estava ofendendo a Ela naquele momento. Para esse sujeito, Ela realiza um milagre esplêndido.

Então: “Lembrai-Vos de mim também que não estou fazendo uma coisa horrorosa, não estou pecando, mas vilmente encalhado, bestamente encalhado, e não há o que me desencalhe. Disto eu estou farto de saber e compreendo que só Vós me podeis desencalhar; fazei-me este favor, desencalhai-me!” É um pensamento que só pode nos alentar e ser um incentivo para nossa novena de Nossa Senhora Auxiliadora.

Tardando em nos atender, Maria Santíssima nos concede superiores benefícios

Quando consideramos os auxílios da Virgem Maria, vemos que é uma verdadeira graça o fato de Ela dignar-Se estabelecer conosco relações pelas quais atende pequenos pedidos, quase que diríamos pequenas intenções, como se fossem pequenos carinhos maternos da parte d’Ela. Sem dúvida, é uma graça que devemos reputar como muito preciosa.

Entretanto, não devemos nos espantar quando o auxílio de Nossa Senhora tarda. Muitas vezes Ela demora a atender exatamente nas grandes graças, que Ela quer que peçamos muito.

Em geral, em toda a vida de uma pessoa muito devota de Maria Santíssima, assim como existem as graças que Ela dá logo, há também umas duas, três, quatro ou cinco que Ela concede demorando enormemente, e essas são as almas que Nossa Senhora mais ama, pelas quais, dentro de um rosário de graças facilmente concedidas, Ela coloca algumas muito difíceis. E em geral as graças que Ela ama mais são as de caráter espiritual. Às vezes, é uma graça de caráter temporal cujo retardamento vai ter um sentido espiritual.

Contaram-me o caso de uma senhora protestante, convertida à Religião Católica, a qual tinha muita vontade de ser devota de Nossa Senhora. Leu São Luís Maria Grignion de Montfort, convenceu-se de ser aquela a verdadeira devoção, mas não conseguia ter uma devoção que não fosse puramente teórica em relação à Santíssima Virgem.

Ela passou dez anos rezando todos os dias afincadamente, para ter uma devoção viva a Nossa Senhora. Ao cabo desse tempo, ela a obteve de modo supereminente.

Quer dizer, há certos retardamentos da providência de Nossa Senhora, enquanto Auxílio dos Cristãos, em que Ela concede mais tardando do que dando logo. E isso em parte porque se Maria Santíssima atendesse todos os nossos pedidos imediatamente, a Terra se transformava num paraíso e os sofrimentos desapareciam. Ora, umas das maiores graças que Nossa Senhora nos dá são as cruzes, os sofrimentos. E muitas vezes Ela tarda para nos dar a graça e o mérito do sofrimento.

É preciso também acrescentar que algumas vezes a Santíssima Virgem tarda para provar a nossa Fé, quer dizer, para nos desenvolvermos na Fé e na confiança; e depois Ela nos dá essas graças de modo supereminente.

Por isso, se há alguma alma que esteja esperando muito tempo para receber uma graça, ela não deve considerar isso como uma recusa de Nossa Senhora, mas como uma promessa de que, se pedir muito, essa graça lhe será dada com uma abundância extraordinária.

Na novena de Nossa Senhora Auxiliadora, que, enquanto Auxiliadora, é dadivosa e distribuidora de graças, devemos pedir que, assim como Ela tem pena das almas do Purgatório e abrevia seus tormentos, na medida em que convenha às nossas almas, condescenda em abreviar também essas grandes demoras, e nos dê aquilo que nós queremos, sobretudo para a nossa vida espiritual.

 

(Extraído de conferências de 21/5/1964,
 17/5/1966 e 18/5/1966)

1) Afonso Tobias Ratisbonne, convertido milagrosamente à Religião Católica ao presenciar uma aparição de Nossa Senhora. Ver Revista Dr. Plinio, n. 46, p. 6-9; n. 94, p. 24-29.

 

O amor materno da Auxiliadora dos cristãos

Conhecendo-nos individualmente, e amando-nos como a filhos únicos, Nossa Senhora nos auxilia em todas as batalhas da vida.

É verdade que Nossa Senhora é mãe de todos os homens; porém, Ela é, especialmente, mãe dos cristãos. Ela tem a missão, dada pela Providência, de auxiliar os cristãos.

O educandário da vida

Tal missão não deve ser vista como a de uma mãe junto a seu filho adulto. Por mais respeitável que seja a figura materna em todas as etapas da vida de um filho, há uma idade, entretanto, onde este carrega a responsabilidade de seu próprio destino, e mais protege a mãe do que é protegido por ela. Por isso, nossas relações com Nossa Senhora devem ser as de uma criança com sua mãe.

Enquanto vive nesta Terra, o homem está num período de provas e de lutas, onde sua alma se desenvolve rumo à plena maturidade. Assim, vistos do Céu, somos semelhantes a crianças em formação.

De fato, espiritualmente falando, nossa verdadeira idade adulta será atingida quando Deus nos chamar a Si; nessa ocasião, se tivermos sido fiéis à graça, alcançaremos a plenitude para a qual fomos criados. Dessa forma, do ponto de vista do Céu, a Terra é um educandário, e a maturidade é a morte. Nossa Senhora nos vê, portanto, como espíritos em formação.

Considerando os desastres e as desordens do mundo de hoje, que impressão causamos num espírito bem aventurado, o qual vê a Deus face a face? Evidentemente, é tal o desatino, a precariedade, a incerteza e a debilidade do homem, que, observados do Céu, somos como crianças mal encaminhadas.

Compreende-se, portanto, que Nossa Senhora tenha para conosco a missão de uma mãe para com um filho pequeno. Quer dizer, de dar uma assistência inteira, estar presente em todas as horas, proteger de todos os modos. Ela isso faz com cada homem, em todos os momentos da vida.

Maria Santíssima tem, a todo instante, conhecimento simultâneo e perfeito de cada um de nós. Ela nos ama como jamais alguma mãe amou seu filho. Assim, podemos imaginar a solicitude de Nossa Senhora para com sua missão de acompanhar, rezar, obter graças e guiar a vida de cada pessoa, como se esta fosse a única a existir.

O perfeitíssimo amor de Maria

Este é um ponto a ser sublinhado. De acordo com uma visão completamente falsa, quando rezamos temos impressão de estarmos sob as vistas de Nossa Senhora em meio a uma multidão de homens na qual Ela mal discerne cada um. E, quando chega da nossa parte um brado muito angustiado, Ela presta um pouco mais de atenção, mas fora isso nos perdemos em meio ao tumulto da humanidade e dos séculos.

Ora, ao rezar, deveríamos nos lembrar de que Ela nos vê, conhece e ama como se somente cada um de nós existisse.

Caso nosso Anjo da Guarda nos aparecesse e dissesse: “Neste momento a Virgem Maria vai parar de atender as orações de todas as pessoas, para olhar só para você. E no universo inteiro se fará um silêncio; haverá apenas a sua súplica subindo ao Céu”. A pessoa ficaria comovida: “Como é possível isso? Que honra! Que maravilha!”

Com efeito, isto se dá a todo momento. Quando alguém reza a Nossa Senhora, é como se somente ele o fizesse, e o universo inteiro tivesse parado para Maria prestar atenção apenas nele.

Com sua perfeição insondável, a Santíssima Virgem quer bem a cada um individualmente, do jeito como ele é, com aquela espécie de desinteresse do verdadeiro amor materno, em que a mãe não quer o filho por causa de sua carreira, mas por ser seu filho.

Uma reminiscência do amor materno

Quando se fala em amor materno, é normal que cada um pense na própria mãe. Por isso, vêm-me à lembrança fatos ocorridos com Dona Lucília.

Em 1950, candidatei-me a deputado federal pelo Estado do Paraná.

Eu acabara de chegar da Europa e tinha apenas vinte dias para a campanha eleitoral. Não foi fácil passar de Paris para as estradas poeirentas que ligavam as várias cidades do Norte do Paraná! Meti-me por aquelas vias e enfrentei os solavancos e desconfortos de uma campanha eleitoral.

Terminada a campanha, voltei para São Paulo e mamãe me acolheu com o afeto de sempre.

Começaram, então, a divulgar os resultados da votação. Estes, apesar de serem brilhantes para tão pouco tempo de propaganda, não atingiam o total exigido para minha candidatura. Nem podia ser de outro modo, tratando-se de um candidato desconhecido na região.

Quando chegou a notícia confirmando minha derrota, mamãe, com aquela serenidade, aquela calma, aquele timbre de voz ao mesmo tempo grave e doce que lhe era característico, disse-me:

— Como eu fico alegre com sua derrota!

Fiquei muito espantado e perguntei:

— Mas meu bem, por que a senhora diz uma coisa dessas? A senhora não vê que, ficando deputado, eu poderia prestar serviços à Religião?

Ela respondeu:

— Meu filho, é verdade, e se Deus assim o quisesse, eu quereria também. Mas eu fico alegre por Ele não ter querido sua eleição, pois ao menos assim você não vai para o Rio e fica mais perto de mim.

Eu disse a ela:

— Mas a senhora não gostaria de ter um filho eleito deputado por segunda vez?

Ela respondeu:

— A vida, meu filho, abaixo do serviço de Deus, consiste em se querer bem, morar juntos e se olhar.

A benquerença materna

Antes de rezar, lembremo-nos disso: Nossa Senhora tem por cada um de nós, de modo inimaginável, toda a benquerença própria às mães. Assim, quando alguém se ajoelha diante de uma imagem d’Ela, deve ter a ideia de que, ainda que esteja em estado de pecado, esse ato de devoção é verdadeiramente grato a Maria.

Desse modo teremos correspondido à solicitude de Deus, dando-nos Nossa Senhora como auxílio.  

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 25/5/1969)

Auxiliadora na defesa da Fé

A invocação de Nossa Senhora Auxiliadora lembra-nos, antes de tudo, a sua ação em defesa da Fé Católica.

 

A invocação de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos foi introduzida na Ladainha Lauretana por São Pio V, em comemoração à vitória alcançada contra os turcos, em Lepanto. A festa foi instituída por Pio VII em ação de graças por sua volta a Roma depois de ter sido preso por Napoleão.

Auxiliadora sobretudo na dilatação da Fé

Sobre a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, temos aqui uma ficha tirada da “Vida e Obra de D. Bosco”(1).

Os companheiros de D. Bosco notaram que desde o ano de 1860, ele começou a chamar e invocar a Santíssima Virgem com o título de Maria Auxiliadora, “Maria Auxilium Christianorum”. Ele era devotíssimo — e o foi sempre — da Imaculada Conceição. Todas as suas grandes obras começaram num dia 8 de dezembro. Agora, unia sempre os dois títulos dizendo: Maria Imaculada Auxiliadora. Era que em novos sonhos a Virgem lhe havia ordenado que este devia ser o distintivo da congregação.

Num dia de dezembro de 1862, diante de um grupo de meninos que jogava disse:

— Vede aquele lado do pátio? Ali vamos construir uma igreja magnífica à Mãe de Deus. Como devemos chamá-la? Chamá-la-emos Maria Auxiliadora. Até agora temos celebrado com solenidade e pompa a festa da Imaculada Conceição, e continuaremos a fazer o mesmo. Mas, além disso, a mesma Virgem Santíssima quer que a honremos com o título e a invocação de Auxiliadora. Os tempos que correm são tão tristes e temos verdadeira necessidade de que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a fé cristã como em Lepanto, como em Viena, como em Savona e Roma. Ela o quer e aqui virão multidões imensas implorar o auxílio onipotente da Virgem Santíssima.

Alguém objetou:

— Mas isto custará muito dinheiro.

Respondeu D. Bosco:

— A Virgem é quem paga. Ela quer sua igreja, e é natural que pense em pagar seus gastos. Mas para isto temos que merecer.

Nossa Senhora, enquanto auxiliadora, gloria-Se de dar aos cristãos toda espécie de auxílio, tanto nas necessidades espirituais quanto nas materiais, desde que esteja de acordo com a vontade de Deus e seja em benefício de nossa alma. A questão é pedir. Quando se pede com afinco se obtém. E se não obtemos aquilo que pedimos, obtemos qualquer outra coisa muito melhor.

Entretanto, vemos que D. Bosco entendia Nossa Senhora como Auxílio dos Cristãos principalmente para a defesa da Fé e para a luta em prol da Causa Católica. Ele fala dessa necessidade lembrando Lepanto, o grande cerco de Viena contra os turcos, Savona e as complicações de Pio VII com Napoleão.

Devemos, então, invocar Nossa Senhora Auxiliadora e pedir sua intercessão muito frequentemente em nosso apostolado, nas situações difíceis, que vão andando de um modo lento, casos complicados de alma, etc.

Ela é Auxiliadora dos cristãos na dilatação da Fé, na luta pela Fé. E as coisas difíceis que empreendemos pela Fé devemos pedir a Nossa Senhora que nos ajude a levar a cabo

Auxílio nas grandes e pequenas coisas

  1. Chautard(2) condena o erro das pessoas que pensam: “Deixe que Deus me ajude nas circunstâncias excepcionais, que nas situações comuns eu me arranjo sem Ele”. Isso é errado; devemos contar com o auxílio de Deus e de Maria Santíssima em todas as circunstâncias, inclusive nas muito pequenas. Naturalmente, esta necessidade cresce nas situações importantes e nas mais improváveis.

Há uma invocação a Santa Rita de Cássia, que eu gosto muito: “Santa Rita dos impossíveis”. Outra forma de nos referirmos a Nossa Senhora Auxiliadora seria “Nossa Senhora dos Impossíveis”, que obtém aquilo que humanamente falando é impossível, sem saída. Isso Ela obtém, sobretudo, em ordem à vitória da Igreja e à salvação das almas.

Certas revelações particulares nos falam dos últimos tempos e nos apresentam Nossa Senhora como auxiliadora. Haverá um determinado momento em que certo pugilo católico estará completamente perdido. E então um chefe invocará São Miguel Arcanjo que, por ordem de Nossa Senhora, virá auxiliar os católicos, ganhará a batalha, cairá o poderio do demônio e nascerá o Reino de Maria.

Devemos ter isto em mente: é a Santíssima Virgem quem auxilia, intervém. A todo momento devemos pedir a Ela esse auxílio. Recomendo esta intenção para ser muito ardentemente visada no dia da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora.

Oração a Nossa Senhora Auxiliadora

Vamos agora ler uma oração composta por São João Bosco a Nossa Senhora Auxiliadora:

“Ó Maria, Virgem poderosa, Vós, grande e ilustre defensora da Igreja; Vós, auxílio maravilhoso dos cristãos; Vós, terrível como um exército em ordem de batalha; Vós, que destruístes as heresias em todo o mundo, nas nossas angústias, nas nossas lutas, nas nossas aflições, defendei-nos do inimigo e na hora da morte acolhei nossa alma no Paraíso. Amém.”

É uma linda oração que mostra como o pensamento dele estava nessa ideia de que Nossa Senhora é a auxiliadora da Igreja. 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/5/1967)

 

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da referida obra.

2) Dom Jean-Baptiste Chautard (*1858 – †1935), monge trapista e Abade do Mosteiro de Sept-Fons.

Estrela do Mar e Porto de Bonança

Estrela do mar reluz com a bela e caridosa missão de orientar os navegantes que, em meio às vagas incertas e furiosas, correm o risco de se extraviar. Assim é Nossa Senhora que, na noite desta vida, brilha constantemente fixa e luminosa, indicando-nos o caminho do Céu.

Ela é, também, o nosso porto seguro. Quantas vezes nos debatemos em meio às ondas das provações inerentes à vida espiritual, ou decorrentes da fidelidade à Igreja! Ora é a prática da virtude, que parece não progredir; ora são as inevitáveis vicissitudes de nossa existência terrena, sempre nos pedindo cuidados, e muitas vezes nos trazendo dissabores. É, então, como se navegássemos num mar sem ponto de referência, esforçando-nos por atingir o fim de nossa trajetória.

Para tais ocasiões, a solução é o recurso à Santíssima Virgem, rogando-Lhe:

“Vós sois o Auxílio dos cristãos, o Refúgio dos pecadores. Está na vossa grandeza, ó minha Mãe, considerar meus defeitos, minhas necessidades, meus sofrimentos, e serdes para mim como um porto, abrigando-me neste mar alto e turbulento. A medida de vossa grandeza é também a de vossa misericórdia.

Tende pena de mim e acolhei-me!”

AUXILIADORA DOS CRISTÃOS

Em 24 de maio, a Igreja comemora a festa de Maria Auxiliadora dos Cristãos. Esta invocação da Santíssima Virgem foi especialmente cara a Dr. Plinio, desde sua infância. A jaculatória “Auxilium Christianorum, ora pro nobis” (Auxílio dos Cristãos, rogai por nós) brotava freqüentemente de seus lábios. Testemunho eloquente disto são os comentários transcritos abaixo, feitos em resposta à pergunta de um jovem ouvinte.

 

Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Por que o título de Auxiliadora? Nossa Senhora tem  como maior glória o ser auxiliadora? Para Ela não é glória maior ser Mãe de Deus? É claro!

Para Ela não é gloria maior ser co-Redentora do gênero humano? É claro! Para Ela não é glória maior ter sido concebida sem pecado original? É claro!

Por que, então, Nossa Senhora Auxiliadora? Por que tanta insistência em torno desta  invocação: Nossa Senhora Auxiliadora?

Compreende-se, pois Ela, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa Mãe, está  permanentemente disposta a nos ajudar em tudo aquilo que nós precisamos. São Luís Maria   Grignion de Montfort tem uma expressão que parece exagerada, mas que está absolutamente dentro da verdade: se houvesse no mundo uma só mãe reunindo em seu coração todas as  formas e graus de ternura que todas as mães do mundo teriam por um filho único, e essa mãe tivesse um só filho para amar, ela o amaria menos do que Nossa Senhora ama a todos e cada um dos homens.

De maneira que Ela de tal modo é Mãe de cada um de nós e nos quer tanto a cada um de nós  — por desvalido que seja, por desencaminhado que seja, por espiritualmente trôpego que seja — que quando qualquer homem se volta para Ela, o primeiro movimento d’Ela é um  movimento de amor e de auxílio. Porque Nossa  Senhora nos acompanha antes mesmo de nos voltarmos para Ela. Ela vê nossas necessidades e é por sua intercessão que nós temos a graça de nos voltarmos para Ela. Deus nos dá a graça de nos voltarmos para Ela, nós nos voltamos e a primeira pergunta d’Ela é: “Meu filho, o que queres?”

Mas nós temos dificuldade em ter isto sempre em vista. Por quê? Porque nós não vemos, e, na  nossa miséria, muitas vezes somos daqueles que não creem porque não vêem. Nós esquecemos. Não duvidamos, mas esquecemos, nos sentimos tão deslocados que dizemos: “Mas será mesmo? Depois, aconteceu-me isto, aconteceu-me aquilo, aconteceu-me aquilo outro, eu pedi a Ela e não fui atendido: por que vou crer que agora serei socorrido? Mãe de Misericórdia… para mim, às vezes sim, mas às vezes não… Nesta próxima provação, por que confiar que serei socorrido, ó Mãe de Misericórdia?!”

É nessas horas, mais do que nunca, que devemos dizer: “Auxilium Christianorum, ora pro  nobis!” Nas horas em que nós não compreendemos, não temos noção do que vai acontecer, nós devemos repetir com insistência: “Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum! Auxilium Christianorum!”

Porque para todo caso há uma saída. Nós às vezes não vemos a saída que Nossa Senhora dará  ao caso, mas Ela já está dando uma saída monumental.

A esse título, portanto, muito especial, nós devemos repetir sempre: “Auxilium Christianorum!” Nossa insuficiência proclama a vitória d’Ela, canta a glória d’Ela. Por isso, esta prece deve estar nos nossos lábios em todos os momentos: “Auxilium Christianorum, ora pro nobis! Auxilium Christianorum, ora pro nobis!”

Meus caros, rezemos, portanto, “Auxilium Christianorum! Auxilum Christianorum! Auxilium  Christianorum!” em todas as circunstâncias de nossa vida, e nossa vida acabará tal que, na hora de morrer, quando nós estivermos no último alento e ainda dissermos “Auxilium Christianorum”, daí a pouco o Céu se abrirá para nós.

Nossa Senhora Auxiliadora

Nossa Senhora é a Auxiliadora por excelência. É quem acode a todos, de todos os modos, em todas as circunstâncias e em todos os lugares. Para agir com tal largueza, só Alguém de uma riqueza fabulosa, e de uma bondade ainda mais extraordinária que essa riqueza, jamais se cansando de ajudar e de perdoar.

E o perdão é um dos seus dons imensamente preciosos, de tal modo que, depois de haver perdoado  muito, Ela ainda tem um sorriso de piedade para quem A ofendeu, quando este A invoca e suplica misericórdia.

Mais. Ela vem em auxilio da alma que não pede, da alma que não vê, da alma que não quer, e a socorre, a bem dizer, pelas costas, alcançando-lhe uma graça que a faz se sentir tocada de amor, de reverência, de gratidão, de força para  rogar novos auxílios. Sua maternal solicitude é uma espécie de roldana que leva até o Céu…