Padroeira do Brasil

Pode-se dizer que o Brasil é um feudo de Nossa Senhora enquanto concebida sem pecado original, ou seja, da Imaculada Conceição.

O fato dessa imagem ter sido encontrada no Rio Paraíba, no século XVIII, é de grande significado para o Brasil. Naquela época, embora francamente admitido pela maioria dos católicos, o dogma da Imaculada Conceição ainda não estava definido. E fazer uma profissão de Fé nesse augusto privilégio de Nossa Senhora constituía um distintivo de requintada ortodoxia.

Ora, exatamente a partir do aparecimento dessa imagem, mais de um século antes da definição dogmática, foi o Brasil colocado sobre o patrocínio da Imaculada Conceição. Isto indica um chamado especial da Mãe de Deus para nossa Pátria, e é motivo de imenso júbilo para todos os brasileiros devotos da Santíssima Virgem.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/10/1970 )

Oração: Nossa Senhora Aparecida, glória, alegria e honra do nosso povo

Ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: Ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil!

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais fortes na luta por Cristo-Rei, Filho vosso e Senhor nosso. De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para Lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece? Onde encontrá-las senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superiora a qualquer louvor humano? De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito palavras que amorosamente aqui repetimos: “Tu gloria Ierusalem, tu lætitia Israel, tu honorificentia populi nostri” (Jt 15, 10).

Sois Vós a glória, a alegria, a honra deste povo que Vos ama!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do Jornal “Última Hora” de 12/10/1983)

Nossa Senhora Aparecida e Imaculada Conceição

A luta que, durante séculos, houve entre os que se opunham tenazmente à Imaculada Conceição e os que a defendiam, exprime de certa forma o combate entre revolucionários e contra-revolucionários. O Brasil, tendo como Padroeira a Imaculada Conceição Aparecida, tem uma vocação contrarrevolucionária. E chegará o dia bendito em que ele será uma grande nação escrava de sua Rainha e Senhora.

 

A devoção a Nossa Senhora Aparecida, de fato, refere–se a uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição que recebeu o título de “Aparecida” porque apareceu no Rio Paraíba, e foi recolhida por pescadores em dois lances de rede diferentes: primeiro veio o corpo da imagem de barro e depois a cabeça.

Disputas internas na Igreja a propósito da Imaculada Conceição

Então, o título de Nossa Senhora Aparecida é uma espécie de segunda invocação ou de segundo título que se insere, à maneira de um ramo, no tronco principal que é Maria Santíssima enquanto concebida sem pecado original, quer dizer, a Imaculada Conceição.

O fato de essa imagem ter aparecido no século XVIII, quando o Brasil ainda era colônia, tem um significado muito grande para nós. Durante muito tempo, desde primórdios da Igreja até o pontificado de Pio IX, foi discutido entre os teólogos se se poderia afirmar como dogma de Fé que Nossa Senhora tinha sido concebida sem pecado original.

Muitos teólogos sustentavam deduzir-se isto das Sagradas Escrituras e, sobretudo, da Tradição da Igreja. Entretanto, havia teólogos que achavam o contrário, que Nossa Senhora não era isenta do pecado original.

Na Igreja os espíritos mais “mariais”, mais tocados pela devoção a Nossa Senhora, sempre sustentaram que Ela não tinha sido concebida no pecado original. No curso dos séculos foi se consolidando a corrente a favor da Imaculada Conceição, sendo este tema objeto de muitas disputas internas na Igreja, a tal ponto que, 150 ou 200 anos antes de Pio IX e da definição do dogma, a questão já estava tão esclarecida que todo mundo com bom espírito defendia a Imaculada Conceição de Maria.

Assim, tinham se diferenciado completamente dois filões dentro da Igreja; e ser favorável à Imaculada Conceição era um sinal, um distintivo de espírito contrarrevolucionário daquele tempo. E o Brasil foi colo-cado sob o patrocínio desta devoção, então contrarrevolucionária, exatamente a partir daquela época.

Isto indica uma vocação contra-revolucionária do Brasil, que não podemos deixar de notar com reconhecimento a propósito desta festa.

São Frei Galvão foi escravo de Nossa Senhora

Por outro lado, uma coisa curiosa que eu soube recentemente é a seguinte: também no Brasil a escravidão a Nossa Senhora, ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort, entrou aqui muito mais cedo do que se supunha.

Quando eu era pequeno nunca ou-vira falar da escravidão a Nossa Senhora, e só tive notícia desta escravidão quando comprei o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, em francês; e depois conheci algumas pessoas que falavam da escravidão a Nossa Senhora porque tinham lido o “Tratado”, também em francês. Fiquei, assim, com uma impressão vaga, difusa de que no Brasil não houvera escravos de Maria Santíssima antes da penetração do livro de São Luís Grignion de Montfort neste País.

Outro dia, lendo a biografia de Frei Galvão — aliás, vida muito bonita e cheia de pormenores interessantes —, franciscano morto em odor de santidade, fundador do Convento da Luz, onde foi sepultado, encontrei a fotocópia de um ato pelo qual ele se constituía escravo de Nossa Senhora, e há trechos inteiros tirados do “Tratado da Verdadeira Devoção”.

Vê-se que ele adaptou um tanto a consagração de São Luís Grignion, mas no essencial é inteiramente aquilo. É uma consagração muito longa, talvez mais extensa que a de São Luís Maria Grignion de Montfort, e que enche, na caligrafia muito miúda dele, creio que os dois lados de uma folha de papel amarelada, que está exposta, aliás, no atual Museu de Arte Sacra, contíguo ao Convento da Luz.

Tive a alegria de saber que Nossa Senhora já teve escravos muito anteriormente a nós, e que este País, onde a propensão sobrenatural para a devoção a Maria Santíssima é uma das bênçãos existentes, talvez tenha tido, desde o início, escravos de Nossa Senhora vivendo aqui e preparando o dia em que o Brasil inteiro seria uma grande nação escrava de sua Rainha e Senhora.

Estas considerações feitas de passagem a respeito da festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida nos levam, entretanto, a aprofundar um pouco mais os comentários sobre dogma da Imaculada Conceição.

Efeitos do pecado original

Há quem confunda a Imaculada Conceição com outro predicado nobilíssimo de Nossa Senhora, mas que é distinto daquele: a virgindade de Maria Santíssima antes, durante e depois do parto, que é dogma de Fé.

A Imaculada Conceição tem o seguinte sentido: havendo Adão e Eva pecado, e sendo eles, na presença de Deus, os pais do gênero humano, contendo, portanto, todo o gênero humano em si como, por exemplo, a semente contém a árvore, aconteceu que aquele pecado recaiu sobre toda a humanidade.

É mais ou menos o que acontece quando o pai ou a mãe contraem uma doença muito ruim — eles podem não ter culpa disso, mas o filho acaba nascendo com esta doença. Assim, nós nascemos com o peca-do original.

Os efeitos do pecado original no homem são tremendos. Todo o prosaísmo que existe na natureza humana, tudo aquilo que no homem causa repugnância, asco, por exemplo, é efeito do pecado original. Nós não sabemos como funcionava o organismo antes do pecado original, mas é positivo que nada do que se dava no organismo humano antes era nojento como as coisas depois desse pecado.

Os Santos acentuam muitas vezes a miséria da condição do homem depois do pecado, como tendo um corpo que de si, continuamente, produz imundícies. Isto é bem verdade, e é uma das notas mais humilhantes da condição humana. Tudo quanto sai do homem é desagradável, nós reputamos sujeira, desde o pranto até o suor, etc., porque vem carregado do prosaísmo deste corpo que tem a nódoa do pecado original.

O homem se tornou sujeito à dor, à doença, à morte depois do pecado original. E sujeito ao erro; o homem não errava antes do pecado original, não havia nele esta oposição entre a sensibilidade, de um lado, e a inteligência e a vontade, do outro.

Tantas vezes desejamos algo que nossa inteligência mostra ser reprovável, e daí surge a necessidade de nossa vontade mover um combate para recusarmos à nossa sensibilidade aquilo que a inteligência indica que é ruim.

Nada disto existia no homem antes do pecado original, e o ser humano era uma criatura absolutamente superior, de cuja perfeição não temos ideia.

Se um homem concebido antes do pecado chorasse, o seu pranto seria perfumado e bonito e nunca uma das imundícies da Terra. Do seu corpo nada de sujo exalaria; enfim, todas as mil misérias que nos afligem o homem não teria antes do pecado original.

Um problema psicológico

Então, por detrás do pecado original e de Nossa Senhora, se punha o seguinte problema, que tem um valor não tanto teológico quanto psicológico: a Santíssima Virgem Maria como era? Por exemplo, Ela estava sujeita ao resfriado? Teria nossas mil mazelas físicas?

Não havia dentistas naquele tempo. Mas nós poderíamos imaginar Nossa Senhora indo a um dentista, se os houvesse? Ou consultando um médico, porque tinha, por exemplo, um cálculo nos rins? Naquela época o médico era um pouco mais do que um curandeiro, mas já se julgava muito seguro de sua arte.

Se nós imaginássemos a Virgem Maria assim, ou nossa ideia a respeito d’Ela diminuiria, ou a nossa rejeição em relação a essas misérias do homem decresceriam, e sentiríamos menos que elas são efeito do pecado.

Não quero dizer que todo mundo que foi contra a Imaculada Conceição tinha este mau espírito, mas quem possuía mau espírito era pro-penso a ser contrário à Imaculada Conceição. Compreende-se aí o problema psicológico que se põe.

Entende-se também que espécie de família de almas combateu tenazmente a Imaculada Conceição até o fim, e nota-se algo do sentido revolucionário e contrarrevolucionário desta luta.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Prece à Padroeira do Brasil

Ó Senhora Aparecida, a hora é de aflição! Melhor do que qualquer  brasileiro, o sabeis Vós, que sois Mãe de todos eles. Crise sócio-econômica, crise moral, mais grave que tudo, crise religiosa! O que num país fica fora da crise, quando ela se instalou em todos esses domínios?

Sem embargo de toda essa crise, vamos transpondo gloriosamente um marco histórico. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.

Neste momento de apreensões e esperanças de glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente. Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu no grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa. Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que de desavenças e de guerras. Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória. Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de esperanças, sem embargo das crises que nos assolam.

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de apreensões e de ascensão.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos. Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer  brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.

* * *

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Plinio Corrêa de Oliveira

Feudo da Rainha do Céu

É um fato curioso e edificante na vida da Igreja que, sendo esta depositária das verdades teológicas as mais altas e complexas, a massa dos fiéis, entretanto, servida por uma especial acuidade de visão, penetra e vive essas verdades ainda mesmo quando seu nível cultural pareceria vedar-lhe o acesso a qualquer atividade intelectual de ordem superior. Em tudo que se relaciona com a devoção a Nossa Senhora, esta observação se comprova com toda a clareza.

Com efeito, a doutrina marial e a devoção à Virgem Maria têm crescido constantemente, desenvolvendo-se, porém, não à moda de hipérboles afetivas e meramente literárias, mas como uma torre de raciocínios, firme como o granito, à qual cada geração de teólogos acrescenta mais alguns andares solidamente esteados no esforço diligente desenvolvido pela razão a fim de descobrir todo o alcance e extensão das verdades reveladas.

Entretanto, é tocante observar como a piedade popular, ignorando muitas vezes os argumentos da Teologia sagrada e deixando-se guiar em grande parte pela finura de sua sensibilidade, desce até  o âmago profundo das verdades teológicas ensinadas pela Igreja e sabe vivê-las com uma autenticidade de convicções e sentimentos que não se poderia explicar sem a ação do Espírito Santo.

Não há um povo que não tenha ao menos um grande Santuário nacional erigido em honra de Maria Santíssima, no qual a Rainha do Céu faça chover sobre os homens, com abundância, as graças  espirituais e temporais.

A Igreja nunca mandou que cada povo erigisse um Santuário nacional particularmente dedicado à Santíssima Virgem, mas se limitou a definir as verdades mariais. Na maioria dos casos, a piedade entusiástica dos fiéis tem seguido seu curso, a ponto de se poder sustentar que quase todas as festas de Nossa Senhora e as formas de piedade com que Ela é honrada nasceram na massa dos fiéis espontaneamente ou por meio de revelações particulares, sendo posteriormente sancionadas pela Igreja.

Isto porque a piedade popular sente viva e profundamente que Nossa Senhora é, na realidade, a Mãe de todos os homens, e especialmente dos que vivem no aprisco da Igreja de Deus. E sente, ainda, que a mediação d’Ela é a porta segura para se ter acesso junto ao trono do Criador.

Fazendo estas reflexões, lembro-me de Aparecida do Norte e das impressões profundas que tenho colhido sempre que ali vou rezar aos pés da Padroeira.

Onde, no Brasil inteiro, um lugar para o qual, com tanta e tão invencível constância, se voltam os olhos de todos os brasileiros?

Quem, ao ouvir falar em Nossa Senhora Aparecida, pode não se lembrar das súplicas abrasadoras de mães que rezam por seus filhos doentes; de famílias que choram, no desamparo e na miséria, o bem-estar perdido e se voltam para o trono da Rainha da clemência; de lares trincados pela infidelidade; de corações ulcerados pelo abandono e pela incompreensão; de almas que vagueiam pelo reino do erro à procura do esplendor meridiano da  Verdade; de espíritos transviados pelas veredas do vício que procuram, entre prantos, o Caminho; de almas mortas para a vida da graça e que querem encontrar, nas trevas de seu desamparo, as fontes de uma nova Vida?

Onde se pode sentir de modo mais vivo o calor ardente das súplicas lancinantes e a alegria magnífica das ações de graças triunfais?

Onde, com mais precisão, se pode auscultar o coração brasileiro que chora, que sofre, que implora, que vence pela prece, que se rejubila e que agradece, do que na Aparecida?

E sobretudo, onde é mais visível a ação de Deus na constante distribuição das graças, do que na vila feliz, que a Providência constituiu feudo da Rainha do Céu?

Plinio Corrêa de Oliveira

(“Pro Maria fiant maxima”, Legionário, N.º 379, 17 de dezembro de 1939)

 

Nossa Senhora Aparecida

Pode-se dizer que o Brasil é um feudo de Nossa Senhora enquanto concebida sem pecado original, ou seja, da Imaculada Conceição.

O fato dessa imagem ter sido encontrada no Rio Paraíba, no século XVIII, é de grande significado para o Brasil. Naquela época, embora francamente admitido pela maioria dos católicos, o dogma da Imaculada Conceição ainda não estava definido. E fazer uma profissão de Fé nesse augusto privilégio de Nossa Senhora constituía um distintivo de requintada ortodoxia.

Ora, exatamente a partir do aparecimento dessa imagem, mais de um século antes da definição dogmática, foi o Brasil colocado sobre o patrocínio da Imaculada Conceição. Isto indica um chamado especial da Mãe de Deus para nossa Pátria, e é motivo de imenso júbilo para todos os brasileiros devotos da Santíssima Virgem.

(Extraído de conferência de 12/10/1970 )

Rainha do Brasil

Com a coroação de Nossa Senhora Aparecida, esta devoção, nascida tão humildemente, culminou num verdadeiro ato jurídico, por efeito do poder das chaves concedido por Nosso Senhor Jesus Cristo à Igreja.

Maria Santíssima ficou sendo no Céu, além de Advogada, a verdadeira Rainha do Brasil. Esta realeza estabelece um vínculo especial de Nossa Senhora com este povo. Devemos ver neste fato um prenúncio do Reino de Maria, pois ao ser a Santíssima Virgem aclamada Rainha do Brasil, o Reino d’Ela fica juridicamente declarado.

Rezemos, portanto, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria, que no Brasil se apresenta sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

(Extraído de conferência de 5/10/1964)

Ó Senhora Aparecida!

Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.

Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu neste grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.

Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que desavenças e de guerras..

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.

Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas,  terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.

PRECE

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.

E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.

Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.

Quanto confiamos nela!

Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.

Quanto é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!

Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas, concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.

Amai-o mais e mais.

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.

Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.

De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da bem-aventurança eterna.

*    *    *

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?

De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos:

— “Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostro”.

Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.

(Plinio Correa de Oliveira, Folha de São Paulo, 16/1/1972, Prece do Sesquicentenário)