Mãe da Igreja e Rainha do mundo

São Luís Maria Grignion de Montfort diz que os Santos dos últimos tempos estarão para os das eras anteriores como carvalhos em comparação com graminhas. Isso por causa das orações extraordinárias que Nossa Senhora fará nessa ocasião.

Ela, como Mãe da Igreja, Rainha dos homens, Rainha do mundo, estará ainda mais associada ao curso dos acontecimentos. Suas orações também penetrarão como nunca até então, no âmago da História.

E enquanto o Inferno vomitar os mais horrendos monstros, Maria Santíssima suscitará, pelos desígnios da Providência sobre a História e a humanidade, esses homens extraordinários diante dos quais Moisés, Elias e outros Santos ficariam deslumbrados.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 1/11/1994)

Revista Dr Plinio 212 (Novembro de 2015)

A glória excelsa de Maria Santíssima

Por mais grandiosa que seja a Criação, há entre as meras criaturas e Nosso Senhor Jesus Cristo um abismo infinito. A Santíssima Virgem é o grampo de ouro que une toda a Criação ao Divino Redentor.

 

Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Portanto, através d’Ela sobem a Deus todos os pedidos feitos pelos homens e vêm todos os favores concedidos pela Divina Providência.

Princípio da gradatividade

Para entender bem a importância de Maria Santíssima na Doutrina Católica é preciso compreender, antes de tudo, o papel de Nossa Senhora nos planos de Deus, Quem é Ela e qual sua fisionomia espiritual.

Quando observamos a natureza material que nos circunda — os bonitos panoramas, a mudança de cores e de luz durante o dia, etc. —, notamos serem frequentes formas de beleza, as mais excelentes, que se manifestam por meio de tonalidades intermediárias.

Por exemplo, o arco-íris: ele é composto por uma série de tonalidades intermediárias que combinam entre si e se sucedem, não de um modo brusco, mas harmonioso. Quando contemplamos os dois extremos de um fragmento do arco-íris, percebemos que, através de cores intermediárias, Deus fez a ótica humana passar harmoniosamente de um extremo de uma cor ao extremo de outra. Nessa conjugação de dois extremos, através de formas intermediárias de beleza, está verdadeiramente o encanto do arco-íris.

Nota-se algo semelhante em certas flores cujas pétalas vão mudando gradativamente de cor à medida que se distanciam da corola.

O princípio da gradatividade é um dos mais belos da natureza, segundo o qual todas as coisas se dispõem em graus. Há uma harmonia constituída de elementos diversos que se justapõem, fazendo-nos passar de um extremo a outro paulatinamente.

Ao avaliar colares, por exemplo, os joalheiros dão muita importância a este princípio. Há colares compostos por pérolas de diferentes tamanhos, nos quais as pérolas bem pequenas ficam junto ao fecho e, à medida que se aproximam do centro, elas vão aumentando sucessivamente, até dar numa pérola bem grande. É preciso que a diferença de uma pérola para outra seja proporcional. Esses graus sucessivos e harmônicos dão tal beleza ao colar a ponto de os joalheiros darem, muitas vezes, mais valor a um colar com pérolas de tamanhos diversos e gradativos, do que um colar onde todas as pérolas são grandes e iguais. Aliás, é mais difícil encontrar uma série de pérolas com tamanhos inteiramente adequados, e há uma forma de beleza mais artística nessas pérolas que formam, assim, uma coleção, do que um conjunto de pérolas grandes circundando o pescoço de uma senhora.

Observa-se este mesmo princípio em toda a natureza criada.

Minerais, vegetais, animais

Tomemos o brilhante mais estupendo, ou a pérola mais magnífica, e o comparemos com uma folha de alface, a mais ordinária que possa haver. Embora o brilhante tenha uma beleza extraordinária e um preço enorme, a folha de alface possui um predicado que deixa o brilhante longe: ela tem vida. Qualquer ervinha vale, do ponto de vista ontológico, incomparavelmente mais do que o brilhante.

Subindo a escala dos seres, a superioridade de um animal em relação a uma planta é simplesmente fabulosa! Pelo fato de que o animal tem sensibilidade e a planta não.

Se nos dermos ao trabalho de examinar, por exemplo, um gato andando sobre um telhado, veremos o mundo de finura e sensibilidade empregadas pelo felino. Cada passo é dado com “critério”; ele olha em volta de si e, quando percebe que a situação não é muito segura, não se precipita; examina, move um pouco a orelha, e quando está muito “preocupado” ele mia. Um gato só se joga quando percebe que pode jogar-se. Então, ele dá o pulo, cai com naturalidade e sai andando como se não tivesse acontecido nada; e às vezes são alturas vertiginosas! É uma sensibilidade muito aguda, muito perfeita, que o gato tem. Para algumas coisas, é mais perfeita do que a sensibilidade humana.

Comparem isso com uma árvore frondosa que deita galhos enormes onde pousam os pássaros, e cobre grande extensão de uma planície. Sem dúvida, é uma glória; mas que cativeiro! Ela está atada ao chão pelas raízes, incapaz de se defender. O próprio solo, do qual a árvore suga os elementos vitais, é a prisão onde ela permanecerá até morrer.

O ser humano, miniatura do universo

Acima dos animais estão os seres humanos, compostos de espírito e matéria e também dispostos hierarquicamente. Em seguida vêm os anjos, seres puramente espirituais.

Quando examinamos o universo dos seres intelectuais — homens e Anjos — notamos existir também uma gradação.

Os Anjos estão distribuídos em nove categorias dentro das quais não há um igual ao outro. Se fôssemos representar graficamente o mundo angélico, deveríamos imaginar, no caso dos Anjos bons, uma fileira fabulosa de espíritos, cada vez mais lúcidos, mais fortes, mais virtuosos e mais próximos de Deus, até chegar aos supremos, os Serafins que têm uma visão mais clara e direta do Altíssimo do que todos os outros Anjos, e repetem eternamente o “Sanctus”: “Sois Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos Exércitos…”, aquela adoração muda e, ao mesmo tempo, feita continuamente de exclamações, no mais alto de toda a série dos Anjos.

Vemos, portanto, em todo o universo uma gradação: os seres sem vida, minerais; os vegetais, seres vivos sem nenhuma forma de conhecimento; os animais, com conhecimento meramente instintivo; os homens, dotados de conhecimento instintivo e intelectivo, mas ainda imersos na matéria; os Anjos, pairando acima da matéria. Assim, há uma escala que vai da última pedra, ou da poça de lama mais ordinária até Deus Nosso Senhor, por meio de uma gradação magnífica, na qual há uma hierarquia e uma harmonia extraordinárias.

Outro aspecto deste princípio é a ideia de que em todos os conjuntos hierarquicamente constituídos deve haver um elemento máximo, em torno do qual se ordena a beleza de todos os outros.

Quando nos perguntamos qual é o mais alto desses seres criados, devemos naturalmente dizer que é um Serafim. Mas as obras de Deus são cheias de subtilezas, entre as quais esta:

Sem dúvida, no alto da hierarquia das criaturas temos os Serafins, mas é verdade também que o homem apresenta uma qualidade especial: só ele contém em si o universo inteiro. Nós temos espírito como os Anjos, corpo como os animais, vida vegetativa como as plantas, e materiais tirados do mundo mineral. O homem é uma espécie de miniatura do universo.

Diz a Bíblia que Deus, depois de ter criado todos os seres, viu que cada um deles era bom, mas o conjunto era ainda melhor. E se é verdade que o Anjo é superior a nós por ser puro espírito, poderíamos, forçando um pouco a nota, dizer a ele, depois de lhe ter feito, evidentemente, uma profunda reverência à qual ele tem direito: “Vós sois incomparavelmente mais nobre do que nós, enquanto puro espírito. Contudo, o conjunto, em nós, está representado mais adequadamente do que em vós”.

Trata-se de um aspecto da realidade, cuja enorme importância no plano da Criação veremos a seguir.

Com a Encarnação do Verbo toda a Criação uniu-se a Deus

Como explica a Teologia, uma das razões pelas quais convinha que a união hipostática se desse com a natureza humana é precisamente o fato de que Deus, unindo-Se a um homem, honrava de modo especial todos os graus da Criação. É tão grande a dignidade de sermos um compêndio de toda a Criação, que motivou essa honra especial a qual o Verbo de Deus quis nos dar: Ele Se fez carne e habitou entre nós. Creio que Ele Se teria feito carne e habitado entre nós ainda que não tivesse havido o pecado original, para assim, na sua misericórdia, honrar todas as criaturas.

Vemos, por estas considerações, quanto é belo e piedoso o pensamento expresso por diversos autores segundo os quais, quando Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu, houve uma alegria em toda a natureza, e esta se revestiu de um novo esplendor: os astros brilharam com mais intensidade, o ar tornou-se mais puro, as águas das fontes ficaram mais cristalinas, as plantas tomaram maior viço, os animais se alegraram e se tornaram mais saudáveis; os homens bons adquiriram mais esperança. Por quê? Porque vinha ao mundo Aquele que, sendo o próprio Deus, ligara a Si todo esse conjunto por meio da natureza humana.

Quando olharmos a menor das pedras, a menor das plantas, o menor dos bichos ou o menor dos homens, devemos pensar isto: a natureza deles está, de algum modo, presente em Nosso Senhor Jesus Cristo e, assim, ligada a Deus, participando de sua glória no mais alto do Céu, no oceano de esplendor de santidade da Santíssima Trindade.

Um abismo preenchido pela Santíssima Virgem

Contudo, pelo mesmo princípio de gradatividade acima mencionado, o espírito humano, sequioso de ordem e de razoabilidade em todas as coisas, busca um ser que preencha o abismo infinito ainda existente entre Nosso Senhor Jesus Cristo e a mera Criação: um ser tão próximo do Homem-Deus, que estivesse acima dos Anjos; mas que, sendo pura criatura humana, englobasse também todas as demais naturezas.

Esse ser é precisamente Nossa Senhora. Ela foi colocada numa altura insondável, e numa plenitude de glória, de perfeição e de santidade inimagináveis. Acima d’Ela está somente seu Divino Filho e a Santíssima Trindade.

Por um mistério também insondável, Maria Santíssima gerou virginalmente Nosso Senhor Jesus Cristo, permanecendo virgem antes, durante e depois do parto por ação do Espírito Santo, de Quem se tornou, assim, verdadeira esposa.

A dignidade de ser Mãe do Verbo encarnado, Esposa do Espírito Santo e Filha dileta do Pai eterno coloca-A, embora sendo uma criatura puramente humana, acima dos Anjos.

Criada com a missão de obter a vinda do Messias

Dante, na “Divina Comédia”, depois de ter passado pelo Inferno e pelo Purgatório, percorre os vários círculos dos bem-aventurados no Céu. Quando chega aos mais altos Serafins, vê acima deles Nossa Senhora que sorri para ele. Então, ele olha para dentro dos olhos de Nossa Senhora e ali contempla o reflexo da Santíssima Trindade.

Depois de ter contemplado os olhos celestes e virginais de Maria Santíssima, resta apenas ver a Deus face a face, no Céu. O olhar humano chegou tão alto quanto podia chegar. Fitou o olhar puríssimo, sacratíssimo, sumamente régio e indizivelmente materno de Nossa Senhora! A mais alta das cogitações humanas foi feita, a “Divina Comédia” terminou.

Esta concepção nos faz ver que o princípio da gradatividade por mim enunciado comporta uma aplicação excelente em Nossa Senhora. Porque Ela é o grampo de ouro que liga toda a Criação a Nosso Senhor Jesus Cristo, colocada no alto de todo o universo e contendo em Si toda a beleza das meras criaturas.

Qual é o papel dessa criatura tão excelsa em relação a nós? Qual é a missão de Nossa Senhora na história de cada homem e na História da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, ou seja, no centro da História da humanidade? Porque o centro da História da humanidade é a História da Santa Igreja Católica.

A Santíssima Virgem sempre foi representada como estando em oração, no momento em que recebeu o anúncio do Arcanjo São Gabriel.

Sem dúvida, Ela pedia a vinda do Salvador que haveria de resgatar a humanidade e fundar a instituição a qual dispensaria a graça de Deus em tal abundância, que os homens afinal se tornassem, mais frequente e facilmente, virtuosos e, assim, a verdade, a beleza, o bem, a grandeza, o amor de Deus pudessem constituir-se no mundo e levar as almas ao Céu.

Nenhuma outra criatura humana tinha valor e virtude suficientes para impetrar e alcançar tal graça. Assim, Ela foi criada especialmente com a missão de obter a vinda do Messias esperado.

Seus sofrimentos durante a Paixão

Em certo momento, a Virgem Santíssima recebeu a revelação da Paixão pela qual passaria seu Divino Filho e dos sofrimentos atrozes que viriam sobre Ele e sobre Ela. Nossa Senhora deveria padecer em união com Aquele que sofreu como nunca nenhum homem tinha sofrido e nem sofreria até o fim do mundo. À “Passio” — Paixão — de Jesus se uniria a “compassio” — a compaixão, o “co-sofrimento” — de Maria.

Para que os homens pudessem ser salvos e dar glória a Deus, Ela consentiu em ser a Mãe do Redentor e suportar esses tremendos sofrimentos.

É possível conceber o que Nossa Senhora sofreu durante a Paixão?

Imaginemos o que sentiria qualquer mãe que, andando pela rua, ouvisse de repente um alarido e, aproximando-se, visse seu filho sendo chicoteado, deitando sangue por todos os poros, padecendo dores indizíveis, carregando uma cruz, objeto da selvageria de um populacho brutal, vil, dando risada dele, dizendo atrocidades e levando-o, junto com essa cruz, para ser crucificado e morrer no mais horroroso dos martírios, no alto de uma montanha.

Essa mãe desmaiaria, ficaria psicótica, louca, conforme o caso poderia até morrer.

Ora, Nossa Senhora queria a Nosso Senhor Jesus Cristo incomparavelmente mais bem do que qualquer mãe possa querer a seu filho. Em primeiro lugar, porque Ela é a melhor Mãe que houve e haverá; mas também porque Ela teve um Filho incomparavelmente melhor do que qualquer outro.

É difícil imaginar a graça e encanto manifestados por Nosso Senhor como Filho: todo o respeito, a ternura, a veneração, a delicadeza, a grandeza! Como terão sido os trinta anos de intimidade entre Ele e Nossa Senhora, durante os quais Ela O viu crescer em graça e santidade diante de Deus e dos homens e amou, com amor perfeito, cada estágio da perfeição d’Ele que ia se desenvolvendo? Qual era o abismo de adoração no qual Ela se desfazia em relação a Ele?

Pois bem, Ela vê esse Filho, o próprio Deus, a própria Santidade, tratado assim por aquele populacho!

Quando Ela teve o encontro com Ele durante a Via Dolorosa, quando O abraçou, O osculou, e recebeu a glória enorme de ter o seu rosto virginal e sua túnica tintos com o Sangue divino; quando Ela recolheu os gemidos d’Ele, e foi a seu lado subindo até o alto do Calvário; quando Ela viu seus estertores finais e Ele gritar: “Eli, Eli lamá sabactâni” — Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes? —; e depois dizer: “Está tudo terminado”, inclinar a cabeça e exalar o espírito: ao contemplar tudo isso, qual terá sido do sofrimento d’Ela?

Ela pedia o perdão para cada um de nós

Nesses momentos em que Maria Santíssima sofreu de um modo indizível, Ela manteve uma serenidade tão perfeita que Se conservou de pé o tempo inteiro junto à Cruz, com uma resignação e uma força que fazem d’Ela o modelo da criatura humana posta no sofrimento.

Até o último momento, Ela dizia ao Padre Eterno: “Eu consinto em que aconteça isso a meu Filho, para que Ele Vos dê a glória devida, salve as almas para Vós, ó meu Pai, e para que elas gozem da felicidade eterna junto a Vós no Céu”.

Dizem os teólogos que do alto da Cruz Nosso Senhor, cuja inteligência é infinita, conhecia todos os homens pelos quais Ele haveria de derramar até a última gota de seu Sangue. Via, individualmente, todos os pecados que cada um cometeria, sofria por todos esses pecados, e dava a sua vida para resgatar os pecadores que correspondessem à graça da Redenção.

Creio que para a compaixão de Nossa Senhora ser completa, Ela também nos conheceu individualmente naquela ocasião, e rezou em favor de cada um de nós. De maneira que, enquanto o Verbo de Deus via aquela multidão de pecados que se desprenderia dos homens ao longo dos séculos, Ela pedia perdão para cada um, e Ele ia perdoando pelo pedido d’Ela, pois, sendo inocente, Ela merecia o perdão que nós não merecíamos.

Foi, portanto, por causa das súplicas de Maria que cada um de nós obteve o dom de ser batizado, de conhecer a Igreja Católica, de receber os demais sacramentos, de ter devoção a Ela, e de manter-se fiel à Igreja nesses dias tormentosos em que vivemos. Será também pelo favor d’Ela que alcançará o Céu.

Nossa Mãe e Advogada

Eis o papel de Nossa Senhora como nossa Mãe e Advogada:

Mãe de Cristo, Ela é a Mãe de todos aqueles que nasceram para a graça pelo Batismo. Mãe do Redentor, tornou-Se também a Mãe dos pecadores, desempenhando um papel que, de algum modo, o próprio Deus não poderia exercer. Porque Deus é juiz, mas Nossa Senhora, como Mãe, é naturalmente a advogada dos filhos.

É próprio ao papel de mãe defender o filho, por mais miserável, imundo, asqueroso, por mais crápula que ele seja. A mãe perdoa e pede a Deus que o perdoe também. A mãe está solidária com o filho até quando o pai o abomina completamente.

Nossa Senhora, Mãe supremamente boa, reza por cada um de nós e, considerando que as chagas de Nosso Senhor foram causadas, em parte, por nossos pecados, Ela pediu a Ele: “Meu Deus, meu Filho: pela minha inocência, pela minha virgindade, pelo amor que Vós sabeis que Vos tenho, Eu Vos peço por este filho pecador. Em nome dessa chaga que Vós sofreis por causa dele, peço-Vos que o perdoeis”. E assim cada um de nós foi perdoado.

Foi, então, por meio de Maria Santíssima que Deus veio a nós na Encarnação e deu-se o Natal do Salvador, e é por intermédio d’Ela que vamos a Ele e recebemos os benefícios da Paixão e Cruz, isto é, da Redenção.

Por isso, morto Nosso Senhor, Nossa Senhora continuou a ser a grande intercessora junto a Ele, a Advogada que nunca abandonou homem algum, por mais pecador que fosse. A ponto de ensinar a Teologia que se São Pedro, depois de ter cometido o pecado horroroso de negar o Divino Mestre, não desesperou, arrependeu-se e se salvou, foi pelos rogos de Maria que lhe obteve a graça do arrependimento e o perdão.

E se Judas Iscariotes, o mercador péssimo que vendeu Nosso Senhor por trinta moedas, tivesse recorrido a Nossa Senhora, Ela o teria recebido com toda bondade e misericórdia, e obtido o perdão também para ele.

Após a morte do Salvador, é a Santíssima Virgem Quem reúne os Apóstolos em torno de Si, está junto a eles em Pentecostes, acompanha a Igreja nos primeiros passos e é a sua grande protetora ao longo de toda a sua existência, presente nas batalhas onde os guerreiros católicos venceram os exércitos inimigos da Fé, presente nos combates contra as heresias, e na luta que noite e dia cada homem trava contra seus defeitos, para adquirir maiores virtudes. E ainda que não nos lembremos de Nossa Senhora, Ela está Se lembrando de nós do alto dos Céus, pedindo por nós com uma misericórdia que nenhuma forma de pecado pode esgotar. Basta nos voltarmos para esta misericordiosa Mãe para que, cheia de bondade, Ela nos atenda e nos limpe a alma, dando-nos força para praticarmos a virtude e nos transformarmos de pecadores em homens bons.

Nunca nos faltarão forças para os sacrifícios necessários à prática da Lei de Deus, desde que as peçamos a Nossa Senhora. Aqueles que se voltam a Ela recebem tudo; aqueles que se afastam d’Ela não recebem nada.

Rainha do universo

Maria Santíssima é chamada pela Igreja a “Porta do Céu”. É por esta Porta que todos os homens obtêm as graças: por Ela nossas orações chegam a Deus, e também todas as graças descem para os homens. Tudo nos vem por intermédio de Nossa Senhora.

São Luís Grignion de Montfort utiliza uma bela imagem para ilustrar essa realidade.

Imagine alguém do povo que quer presentear o rei, mas não tem outra coisa para oferecer-lhe a não ser uma maçã. Mas não tem coragem de oferecê-la ao monarca, por ser um presente muito comum. Então, pede à mãe do rei que oferte ao rei essa maçã.

A mãe do monarca coloca a fruta numa bandeja de prata e lhe diz: “Meu filho, essa pessoa é minha filha também e pede-me para vos oferecer isto”.

O rei sorri e a recebe como se fosse uma esfera de ouro.

Por vezes, as melhores ações dos homens têm o valor de uma maçã; mas, oferecidas pelas mãos virginais e acompanhadas com o sorriso de Maria, Deus as recebe com encanto, agradece, e as recompensa. Quanto mais unidos a Nossa Senhora, mais poderemos praticar a virtude e nos tornarmos agradáveis a seu Divino Filho.

Como ensina a Doutrina Católica, se Nossa Senhora é de tal maneira a distribuidora de todos os dons, Ela é a Rainha do universo. E se Ela governa o universo inteiro, é também verdade que devemos nos consagrar a Ela como seus servos, deduz São Luís Maria Grignion de Montfort, para em tudo fazer a vontade d’Ela.

Alguém me dirá: “Mas Dr. Plinio, eu sinto minha fraqueza, minha imperfeição. Será que Nossa Senhora quererá uma elevação dessas a mim, tão cheio de pecados?”

Eu respondo: Não tenho dúvida, porque Ela não recua diante do pecado de nenhum homem.

Símbolo eloquente da misericórdia de Nossa Senhora

Há na Venezuela um santuário consagrado à padroeira nacional, Nossa Senhora de Coromoto, onde se encontra, num ostensório, um pergaminho no qual está gravada a figura de Nossa Senhora sentada num trono, com o Menino Jesus nos braços e com um olhar de Rainha e de Mãe. A história dessa imagem da patrona da Venezuela é maravilhosa.

No tempo da colonização, havia na Venezuela uma tribo de índios chamados Coromotos, a alguns dos quais — entre eles o cacique — Nossa Senhora apareceu.

Os indígenas ficaram deslumbrados com aquela Rainha gloriosa que perguntou ao cacique se ele queria morar na cidade onde Ela reinava. Ele respondeu que sim. Então Nossa Senhora disse-lhe para procurar os homens que lhe colocariam água sobre a cabeça e lhe ensinariam o caminho do seu Reino, ou seja, o Céu.

O cacique mudou-se, com outros de sua tribo, para a região a eles reservada e, durante algum tempo, recebeu com gosto a catequese. Entretanto, em certo momento revoltou-se, abandonou tudo, voltou para a sua choça e deixou a Religião.

A Santíssima Virgem lhe reapareceu na entrada da cabana, risonha, amável, convidando-o para voltar às graças d’Ela.

Tão péssimo era seu estado de alma que ele tomou o arco e tentou atingir com uma flecha a celeste visitante. Não obtendo êxito, procurou agarrá-La, quando subitamente Ela desapareceu deixando-o com os braços paralisados. Quando o miserável conseguiu movê-los, encontrou entre eles a bela estampa que hoje é venerada no santuário.

Um verdadeiro milagre! Não obstante, ele, com raiva, escondeu a estampa no teto de sua choça. Mas Nossa Senhora, ainda assim, o perdoou. Infatigavelmente perseguia esse homem para convertê-lo.

Em determinado momento, ele não resistiu mais à graça, pediu perdão, recebeu o Batismo e morreu em paz, reconciliado com Nossa Senhora.

Quer dizer, depois das maiores ofensas, a Rainha do Céu o venceu e o perdoou. Este é o símbolo mais eloquente da misericórdia de Nossa Senhora, mostrando como nem os piores pecados daqueles a quem Ela ama são capazes de constituir uma barreira à bondade e à misericórdia d’Ela.

Em nossa época, a Santíssima Virgem está sofrendo agressões piores do que as recebidas da parte desse índio. Os pecados do mundo contemporâneo são muito mais cheios de malícia do que os desse miserável aborígene.

Nossa Senhora, entretanto, não quer o fim da humanidade, mas deseja o perdão para ela. E quando, em Fátima, Ela prenunciou castigos para o mundo, e disse até que várias nações desaparecerão, ao mesmo tempo anunciava a misericórdia, pois, diante dos castigos, pelo menos certo número dos homens contemporâneos vão se arrepender e ainda irão para o Céu. E muitos hão de viver perdoados por Ela para entrarem no Reino de Maria. Assim, Ela afirmou: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”

Nós devemos pedir a Maria Santíssima que, em relação a cada um de nós, Ela use da graça que teve para com o índio Coromoto: vença nossos obstáculos, aniquile nossas maldades e que seja verdadeira para o mundo contemporâneo, como para cada um de nós, a promessa do triunfo de seu Imaculado Coração, tornando-nos apóstolos dos últimos tempos, perfeitos filhos e escravos d’Ela, para que, por essa forma, o Reino de Maria substitua o reino do demônio sobre a face da Terra.

É isso que devemos pedir a Nossa Senhora depois dessa meditação sobre a glória excelsa d’Ela.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/2/1971)

Nossa Senhora das Graças

Santa Catarina Labouré encontrou Nossa Senhora no presbitério, sentada numa cadeira que até hoje se pode venerar na capela da Rue du Bac. E chegou a falar com Ela, apoiando seus cotovelos nos joelhos de Maria Santíssima!

Que deve ter restado na alma de Santa Catarina durante a vida inteira, por aquilo que ela viu, nem sei dizer. Mas certamente Nossa Senhora comunicou-lhe uma grandeza de alma e uma obediência cada vez maior. Quando ela era agraciada, nas sucessivas visões, Santa Catarina Labouré ficava mais obediente. Cada vez mais ela compreendia aquele universo de santidade que havia no Coração da Mãe de Deus e, portanto, lhe ficava mais claro o absurdo de desobedecer à Santíssima Virgem.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 25/3/1995)

Porte régio e virginal

Certa noite, uma belíssima imagem de Nossa Senhora das Graças, de tamanho natural, foi transportada para o auditório onde Dr. Plinio fazia conferências aos membros do Movimento por ele fundado. Diante dessa imagem, ele teceu as considerações que a seguir reproduzimos.

Não me lembro de quando vi, pela primeira vez na minha vida, uma representação de Nossa Senhora das Graças. Mas na minha mais tenra infância — oito, nove, dez anos — já esse sorriso expresso na imagem me acompanhava. Não como algo no qual eu pensasse de modo ininterrupto, mas à maneira de uma recordação: alguma coisa que vi e ficou na minha memória, na minha veneração, no meu afeto, sem que constituísse objeto contínuo de minhas cogitações. De vez em quando, vejo essa invocação, encontro uma imagem, uma estampa, uma medalhinha, ou alguma outra coisa que me fala de Nossa Senhora das Graças.

Revelações a Santa Catarina Labouré

Não tenho palavras para lhes exprimir com que cuidado tomei conhecimento das revelações de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, cujo texto li com uma atenção com que um tabelião não leria uma escritura pública. Quer dizer, palavra por palavra, pormenor por pormenor, procurando entender, observar e compor bem o conjunto de fatos que caracterizaram aquelas revelações. Evidentemente, não houve uma ocasião em que, estando em Paris, eu não fosse mais de uma vez à Rue du Bac, onde se deram as aparições.

Tudo isto está presente em meu espírito, mas, como dizia, não é objeto de uma cogitação contínua. Entretanto, nunca aconteceu que, olhando para uma imagem, estampa, figura de Nossa Senhora das Graças, ou simplesmente para o verso da Medalha Milagrosa — onde tem aquele “M” com o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria —, eu não sentisse, de modo muito distante, muito vago, ou muito próximo, o que a imagem a qual estamos contemplando diz de um modo tão esplêndido.

Como sinto e como se me afigura a imagem de Nossa Senhora das Graças?

Descrição da imagem

Há nela dois aspectos que se completam: Ela está simplicíssima, seu traje não comporta um adorno. A imagem foi concebida de tal maneira que as dobras de seu manto são todas muito bonitas, caem muito bem, mas é o traje de uma dama, de uma mãe de família qualquer, de Belém, de Nazaré, de Jerusalém, naquele tempo, apresentando-se na simplicidade de sua vida cotidiana. Ela possui uma túnica e sobre esta um manto; e outro manto que cobre a cabeça e os ombros. Tudo o mais simples possível.

Entretanto, há qualquer coisa que incute um profundo respeito e nos faz notar que a pessoa representada veio de muito alto. De uma altura que é o Céu, mas do ápice do Céu; acima d’Ela está apenas Nosso Senhor Jesus Cristo.

Além do respeito, a imagem incute uma veneração que não se sabe como exprimir! Será a virginalidade do rosto? A fisionomia é indiscutivelmente virginal, todo o porte é virginal. Será o régio? Não houve rainha que tivesse tanta majestade. Para fazer uma comparação inadequada: a encantadora Maria Antonieta fica reduzia às proporções de uma boneca de pano perto d’Ela.

Mas, de outro lado, tão presente, tão íntima, tão afagante! Tem-se a impressão de que se Ela nos olhasse, algo do Céu apareceria.

Benignidade, benevolência, doçura

Ela está na atitude de quem olha para a pessoa que estivesse aos seus pés, rezando. E estende as mãos, como quem diz: “Persuada-se! Sou Eu mesma, estou aqui para ajudá-la, favorecê-la e cumulá-la de graças”.

Fica-nos também a impressão de que as mãos acabam de entregar presentes magníficos, e a pessoa foi beneficiada com dons não provenientes desta Terra, e que, evidentemente, são graças. Da imagem se evola uma benignidade, uma benevolência, uma doçura à maneira de um sorriso. Ela propriamente não sorri, mas tem um comprazimento que eu chamaria de “trans-sorriso”.

Alguém que fosse sorrir não estaria em condições de exprimir tudo quanto há nesta imagem. É, ao pé da letra, um “trans-sorriso”, algo que vai além de toda expressão.

E o gesto das mãos parece nos dizer: “Vinde, pedi mais, desejai mais, Eu vos darei tanto quanto pedirdes! Aproximai-vos, não tenhais medo, sou Eu mesma que vim aqui para estar convosco!”

Em meio às mil batalhas, preocupações e aflições, pormenores e providências, e ao fragor — não recuo diante da palavra — das angústias de que nosso caminho está cheio, não é possível termos um repouso melhor do que parar, olhar para a imagem de Nossa Senhora das Graças e, compreendendo tudo isso, pensar: “Ah, então nessa guerra onde é preciso realizar o irrealizável, vencer o invencível, ter forças que não sabemos de onde vêm, necessitamos ter uma enorme confiança porque, nas horas oportunas, Nossa Senhora virá, nos sorrirá e nos ajudará!”

Virá, não necessariamente à maneira de uma visão. É uma grande graça ter uma visão, mas notar numa imagem essas coisas, ter conhecimento de uma graça que nos toca nessas horas e sentir esse orvalho dentro da alma, isto já é tudo.

Graças sobrenaturais e auxílios de toda espécie

Creio que, neste sentido, a invocação é muito acertada: “Nossa Senhora das Graças”. Quer dizer, Nossa Senhora que concede graças. Mas o que quer dizer “graças”? O termo tem dois sentidos: um é o sentido da graça sobrenatural, que é o favor dos favores, o dom gratuito ao qual não temos direito, mas que Nosso Senhor Jesus Cristo nos conseguiu do alto da Cruz, e que Ela esparge, por ser a Medianeira de todas as graças. É graça sobrenatural por onde temos Fé, Esperança e Caridade, e as virtudes cardeais.

Mas são também auxílios de toda espécie, por vezes favores pessoais, personalíssimos, terrenos, os quais desejamos muito em ordem a Ela, para fazer sua vontade, para servir a Causa d’Ela, para lutar por Ela, pedidos por nós com insistência, e que Maria Santíssima acaba concedendo de modo, muitas vezes, inesperado. Na curva de um caminho, na dobra de uma angústia, de repente, surge o favor. Às vezes, não vem automaticamente, demora, e parece suceder o contrário. Mas no fim percebemos que, quando vem, vem mesmo, e com tanta plenitude que somos recompensados de modo superabundante.

Essa é a impressão comovedora que esta imagem me causa. De um modo mais intenso, até, do que tive na própria Rue du Bac, onde, entretanto, encontram-se relíquias tão preciosas: ali está sepultada Santa Luísa de Marillac — fundadora da Congregação religiosa à qual pertenceu Santa Catarina Labouré —; estão os restos mortais desta Santa para quem Nossa Senhora apareceu; a capela da aparição na qual está exposta à veneração dos fiéis a cadeira na qual a Santíssima Virgem sentou-Se para falar com Santa Catarina Labouré, que permaneceu tão perto da Mãe de Deus a ponto de apoiar os cotovelos sobre os joelhos d’Ela.

Será algum predicado natural da escultura? Meramente natural não pode ser, porque aquilo que é ocasião de um ato de amor a Nossa Senhora não pode ser meramente natural. Pode haver algo de natural ali que sirva de ocasião, mas o amor a Ela é sobrenatural, vem de uma graça. Sem uma ação sobrenatural da graça, não seríamos capazes sequer de pronunciar piedosamente os nomes de Jesus e de Maria. Tudo quanto diz respeito à Fé e à vida da Fé, vem do sobrenatural.

A alvura da imagem

Há algum desígnio de Maria Santíssima por onde Ela torna mais sensível essa graça, quando se olha para esta imagem de Nossa Senhora das Graças? Não um intuito arbitrário, pois a palavra “arbitrário” aqui toma a má conotação de “caprichoso” — a Rainha da Sabedoria não tem nada de caprichoso —, mas algo que é um desígnio d’Ela, que nós não conhecemos. É possível; e se for realmente, eu agradeço muito.

O fato positivo é que não tenho possibilidade de olhar para esta imagem sem que, de um modo mais intenso ou menos, não me sinta enormemente propenso a lutar ainda mais, mas com uma forma de refrigério, de luz e de tranquilidade que são peculiares. E que me vêm da ideia de que Ela acaba de distribuir muitas graças e oferece ainda mais.

Eu não posso deixar de ligar isso à alvura extraordinária da imagem. Esse branco corresponde à cor da alma de Nossa Senhora. A inocência da Sancta Virgo Virginum — que é inocente sem comparação com nada e com ninguém, acima de tudo, exceto de Nosso Senhor Jesus Cristo — se exprime nesse branco de um modo maravilhoso. Mas também a generosidade, a bondade. Ela dá tudo porque tem as intenções mais alvas possíveis, em relação a todo mundo. Ela quer conceder, quer ser generosa. É verdadeiramente magnífico!

Anéis com pedras preciosas

Não poderíamos encerrar este comentário sem uma palavra a respeito dos anéis. Em suas revelações, Santa Catarina Labouré conta que Maria Santíssima tinha em seus dedos muitos anéis, como usavam as senhoras daquele tempo. Ela quis aparecer assim. E os anéis eram dotados de diversas pedras coloridas, das quais partiam raios de luz. Entretanto, algumas pedras, embora luminosas, não ejetavam luz.

Então Santa Catarina Labouré, com a liberdade que possuía com Nossa Senhora, perguntou-Lhe por que algumas daquelas pedras não reluziam. E Ela deu esta resposta que me impressionou muito: “São as graças que não me foram pedidas. Se pedirem essas graças, Eu darei. Então o reluzimento dos anéis aumentará”.

Poderíamos nos perguntar: para nós, quantos anéis estão por reluzir ainda, e quantos já reluziram? O “thau”2 que anel será? Existem anéis com uma pedra preciosa em torno da qual estão cravejadas outras pedras preciosas. Quantas pedras preciosas cercarão o “thau”? Que anel soberbo será ele? Nós o contemplamos o bastante para que ele reluza com toda a sua plenitude? Ou seja, pedimos muito a Maria Santíssima para que realmente o “thau” nos venha na abundância que desejamos?

Pedir, pedir, pedir, suplicar, implorar! “Pedi e recebereis, batei e a porta vos será aberta…”3 Isso se aplica à imagem; Nossa Senhora, a bem dizer, está com as portas abertas, como quem diz: “Meus filhos, vós não pedistes do lado de fora, não batestes na porta; então Eu a abri e aqui estou. Aqui estão meus anéis. Vinde, meus filhos, e aproximai-vos!”

Ao cabo de um dia com dificuldades, um refrigério incomparável

Imaginem, assim, qual foi a minha impressão, entrando neste auditório, ao encontrar de um modo inteiramente inesperado esta imagem. E me perguntei: “Por que eu estava tão longe de pensar nisso?” E vieram-me à mente várias pequenas razões: em primeiro lugar, o peso e o risco do transporte, que é a menor das razões: “Se esta imagem se danifica, se quebra um dedo ou um pouco do manto, que coisa perigosa!”

Mas, depois, também a ideia de que a imagem representa a Rainha, a qual não se move. Ela atrai a Si; dir-se-ia que a Rainha não vai atrás de ninguém.

Sem dúvida, entrou algo de meus hábitos mentais. Eu sou muito estático e imagino as coisas como sempre permanecendo, não se movendo. Sou bastante contínuo, e a ideia de transportar uma imagem assim, parece-me qualquer coisa difícil de conceber.

Tudo isso junto concorreu para que a mim fosse uma verdadeira, enorme e agradabilíssima surpresa encontrar aqui esta imagem. Uma surpresa que veio ao cabo de um dia com dificuldades, problemas e perspectivas de toda ordem, dando-me esse refrigério que é incomparável, e uma emoção que eu não quis esconder. Fiquei realmente gratíssimo!

O Paraíso de Deus

Depois, pensando melhor, será que a Rainha não vai atrás de seus súditos? Ela não é Mãe do Bom Pastor, que deixa noventa e nove ovelhas e sai à procura de uma? Por que não supor que a imagem d’Ela seja deslocada por filhos muito devotos para que um outro filho a veja? E, assim, todos A amarem, A festejarem, A glorificarem e A celebrarem juntos? Isso é tão adequado, tão magnífico!

Eu rezo frequentemente, sobretudo no momento da Comunhão, pedindo a graça de levar minha devoção a Nossa Senhora absolutamente tão longe quanto a Doutrina Católica permita. Não desejo ir um milímetro além disso, mas quero levá-la até o último ponto onde caiba dentro da Doutrina Católica. E isso representa um céu, porque o homem não consegue sondar com o olhar o firmamento da devoção a Ela.

Tomemos em consideração que Ela é chamada por São Luís Grignion de Montfort “o Paraíso de Deus”. Quer dizer, na felicidade eterna e perfeitíssima que Deus tem em Si mesmo, quis ter Maria Santíssima como seu Paraíso. Compreendemos, assim, qual é a elevação e quais são os dons d’Ela, e até onde deve ir a nossa admiração e nosso amor Àquela a Quem, num certo sentido da palavra, o próprio Deus admira, e que Ele criou para ter o gosto de admirar.

Imagens existentes no quarto de Dona Lucilia

No oratório de minha mãe em minha casa, colocada sobre uma peanha, há uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. À frente, em um nível mais baixo, há três imagens: uma de marfim, dada a ela por um padrinho de casamento, que por coincidência era também juiz, e a quem mamãe chamava de “meu juiz”. Não conheci este homem e nem sei seu nome. E tampouco ela sabia de que santa era aquela imagem. Mas a conservava por respeito, por saudades.

Há também uma imagem do Menino Jesus, e depois, correspondendo à mão direita da imagem do Sagrado Coração de Jesus, uma imagem de Nossa Senhora das Graças.

Por seu estilo, esta última parece ter sido feita antes de meu nascimento, pois é da mesma escola da imagem do Sagrado Coração de Jesus, que é certamente anterior ao meu nascimento. Portanto, desde a minha primeira infância foi uma das imagens de Nossa Senhora das Graças para a qual olhei.

Eu vi Dona Lucilia rezar muitas vezes para essas imagens, com muita devoção, muita atenção, muita confiança. Sem acontecer nada de milagroso ou de extraordinário, eu notava uma consonância entre ela e a imagem do Sagrado Coração de Jesus, mais ou menos como se Ele estivesse refletindo-Se nela. E havia também uma consonância, quando mamãe rezava para a imagem de Nossa Senhora das Graças. E cada vez que ela a osculava, eu tinha a impressão de que toda essa doçura se refletia também em mamãe. E, no modo de ela rezar, punha aquilo ao nosso alcance.

Alguém poderia me perguntar: “Mas se é assim, por que o senhor não tira aquela imagem daquele oratório e a põe ao alcance dos seus olhos continuamente?”

A resposta é: Não se deve estar a provocar coisas de modo contínuo. Quando minha mãe morreu, a imagem estava lá. Inúmeras vezes, durante minha vida, eu a olhei. Mas acho que não a devo tirá-la de lá. Ela está onde mamãe a deixou quando faleceu, tendo ali passado grande parte de sua vida. Eu nunca vou ao quarto sem olhar para a imagem e rezar um pouco. Mas não seria homem de, por assim dizer, forçar a continuidade da graça, pondo uma imagem de Nossa Senhora das Graças diante dos meus olhos, e dizendo: “Agora eu Vos agarrei”. Não é do meu gênero. Há imponderáveis que levam a uma outra atitude. É o que eu teria a dizer.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 3/10/1981)

Uma porta do céu se abriu para o mundo

Neste ano a Capela da Rue du Bac celebra o jubileu das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré. Como melhor modo de associar esta revista e seus leitores a data tão significativa, estampamos a seguir um eloquente comentário de Dr. Plinio sobre aquelas visões de alcance inapreciável para todos os homens.

Quem visita a Capela da Rue du Bac, em Paris, onde Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré e lhe pediu a cunhagem da Medalha Milagrosa, sente-se envolvido por uma intensa impressão de paz, de calma, de céus abertos, como se não existissem obstáculos entre a Terra e a feliz eternidade. No íntimo de sua alma, o fiel ouve a voz de Nossa Senhora, exorável, disposta a atender todos os nossos pedidos, com sua maternal benignidade transpondo distâncias incontáveis para se tornar acessível a nós. Tudo isso faz daquela capela um lugar de serenidade realmente privilegiado.

Serenidade, calma e paz autênticas, ou seja, toques de sobrenatural que afagam nossa alma com verdadeira unção, verdadeira consolação e verdadeira confiança, e nos infunde a plena certeza de que, em última análise, Nossa Senhora nos alcançará as graças tão desejadas por nós.

A época das aparições da Rue du Bac

As aparições da Santíssima Virgem se deram em 1830, sendo a mais importante delas no dia 27 de novembro, quando revelou a Santa Catarina os tesouros de dádivas celestiais destinados ao mundo com a difusão da Medalha Milagrosa.

Cumpre recordarmos que, naquela época, a par de um grande reflorescimento da prática da religião Católica, havia também fortes manifestações de laicismo e ateísmo hostis à Igreja, de maneira que um fosso abismal separava o catolicismo do anticlericalismo. Ecos dessa animosidade eu mesmo conheci, no Brasil dos anos 20. Portanto, quase um século depois das aparições da Rue du Bac.

Tão profundo era esse valo divisório entre as coisas da Igreja e as da sociedade civil que, ao se transpor os umbrais do ambiente profano e ingressar no religioso, era como se deixássemos um país para entrar em outro. Lembro-me de quando comparecia à bênção do Santíssimo Sacramento na Igreja do Coração de Jesus, após a qual, saindo do templo, observava o edifício daquilo que então era o internato do Liceu, desdobrado em duas alas em torno de todo o quarteirão.

As janelas dos andares inferiores permaneciam fechadas e protegidas por grades. Ao contrário daquelas dos andares superiores através das quais, no lado onde eu sabia situado o dormitório dos meninos, podia-se ver algumas luzes azuis acesas: sinal de que as crianças já dormiam. E o relógio da torre ainda não marcava nove horas da noite…

Recordo-me da impressão que causava em mim o entrar na sociedade profana — insisto, dos anos 20 — e perceber o contraste entre o coruscante, o assanhado, o divertido daquele mundo, e o dormitório extenso, onde um grande número de meninos repousava sob a supervisão de um padre pronto a acordar ao menor sinal de perturbação, para restabelecer a ordem e a tranqüilidade!

Encantava-me saber que aqueles meninos dormiam placidamente, aos cuidados de um sacerdote que representava ali a eterna tradição da Igreja ordenativa, moralizante, disciplinadora. Alegrava-me ver que, enquanto todos se achavam imersos no sono noturno, as luzinhas azuis simbolizavam a maternalidade da Igreja a envolver seus filhos em brumas amigas; a vigilância de quem sabe sorrir sem fechar os olhos, sempre ciente do que se passa. Tudo isso me dava a impressão de haver naquele ambiente uma austeridade, uma sacralidade, uma ordenação que o mundo fora não conhecia. Era outro universo.

Pois bem, numa atmosfera análoga a essa tiveram lugar, na Paris de 1830, as revelações de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré.

O sobrenatural se desenrola numa modesta capela

Era esta uma freira da congregação das Filhas da Caridade, fundada por Santa Luísa de Marillac e São Vicente de Paulo. Essas religiosas se distinguiram sempre por sua extrema e abnegada solicitude cristã, dedicando-se ao cuidado dos pobres, órfãos, e enfermos nos hospitais e Casas de Misericórdia. Até há pouco eram conhecidas pelo seu hábito característico: túnica escura com gola branca engomada, a cabeça adornada por uma touca bretã, estilizada pela inspiração e pelas mãos da Igreja. Essa cobertura se desdobrava em duas abas largas, lembrando vagamente as asas de uma gaivota em voo. Na cintura, como é natural nos hábitos religiosos, pendia um grande rosário.

Não tive contato assíduo com essas freiras, mas encontrei-me com muitas delas. Em geral pessoas robustas, fortes e prontas para o trabalho. Olhar límpido, reto, atitude despretensiosa de quem preferia passar desapercebida. Realizavam obras de misericórdia temporal como ocasião para obras de misericórdia espiritual. Ou seja, elas aproveitavam a ocasião de cuidar de um paciente terminal para trazer um padre junto a ele, para convidar uma criança a ir ao catecismo da paróquia, ou se encontravam uma pessoa desventurada na rua, procuravam ajudá-la em todo o necessário, etc. Enfim, faziam tudo quanto pudessem para atender aos infortúnios, as carências materiais e, sobretudo, as espirituais, nos mais variados ambientes por onde costumavam se infiltrar.

A elevação desse apostolado das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo era tão grande, e as admiravam tanto por isso, que costumavam ser tidas como o próprio símbolo da religião numa de suas expressões mais belas e comovedoras.

O seu principal convento situa-se num antigo e aristocrático bairro da capital francesa, o Faubourg Saint-Germain, e se tornou conhecido pelo nome da rua em que foi edificado: Rue du Bac.

Devemos imaginar a cidade de Paris nos idos de 1830, bem menor e menos populosa do que é hoje, silenciosa, tranquila, ainda sem ruídos de motores e luzes de néon. Podemos pensar na rua calçada com pedras, sobre as quais, vez por outra, o eco das patas de um cavalo ou das rodas de uma carruagem interrompia a longa calada da noite. No dormitório das freiras de São Vicente, não havia luzinhas azuis, mas talvez alguns candeeiros acesos. Todas as religiosas repousam, entre elas Santa Catarina Labouré.

Nesse ambiente modesto, puro e elevado, completamente diverso do mundo exterior, o maravilhoso sobrenatural começa a se desenrolar.

Colóquios com a Rainha do Céu

A primeira aparição ocorreu na véspera da festa de São Vicente de Paulo, em 18 de julho de 1830, como que preparada por uma atitude da vidente repassada de ingenuidade, inocência e caráter filial muito bonitos. Ela ouvira no dia anterior uma exposição sobre a devoção a Nossa Senhora, e sentiu um ardente desejo de vê-La. E foi se deitar com o pensamento de que, naquela mesma noite, encontrar-se-ia com a Santíssima Virgem.

E foi o que aconteceu. Como nos relata a própria Santa Cataria Labouré, por volta das onze e meia da noite, ela ouve alguém lhe chamar. Corre a cortina de seu leito e vê um menino de 4 ou 5 anos que lhe diz: “Vinde à capela, a Santíssima Virgem vos espera”.

A santa demonstra um pouco de receio, temendo que as outras religiosas a surpreendessem fora da cama, mas o menino a tranquiliza, ela se veste e começa a segui-lo pelos corredores do convento. Detalhe curioso, registrado pela vidente que muito se admirou do fato: por todos os lugares onde passaram as candeias estavam acesas.

Ela entra na capela e sua surpresa é ainda maior ao notar todas as velas acendidas nos candelabros, como se estivessem preparados para uma Missa do Galo. O menino a conduz até o presbitério, ao lado da cadeira em que se sentava o vigário. Santa Catarina se ajoelhou, enquanto a criança permaneceu de pé. Ela, sempre com o receio de que alguma freira passasse por ali e os encontrasse, pedindo-lhe explicações que não saberia dar…

Afinal, o menino lhe advertiu: “Eis a Santíssima Virgem”. A vidente ouviu um “frou-frou”, um roçagar de vestido de seda, mas ainda não distinguia Nossa Senhora. Então o menino insistiu — já não com voz de criança, mas em tom vigoroso — que a Rainha do Céu estava presente. Nesse momento Santa Catarina viu a Mãe de Deus sentada na cadeira do vigário, deu um salto para junto d’Ela e, genuflexa, apoiou suas mãos nos joelhos de Maria.

Quer dizer, uma cena fabulosa, uma aparição cercada de afabilidade extraordinária. Compreende-se, pois, que Santa Catarina tenha registrado esse instante como o mais doce de sua vida, impossível de ser descrito em palavras. Recebeu ali diversos conselhos e orientações de Nossa Senhora, os quais preferiu manter em sigilo.

A Medalha Milagrosa

Podemos bem conceber como Santa Catarina se sentiu após esse encontro com Nossa Senhora, e como seu coração latejava de um intenso desejo de revê-La. Alguns meses depois, ela seria largamente atendida. O segundo e mais importante encontro se deu na tarde do sábado 27 de novembro de 1830. Assim o relata um cronista das diversas aparições de Maria:

“Na sua capela da Rue du Bac, as Filhas da Caridade — Irmãs e noviças — se reúnem para a meditação vespertina. Recolhimento e religioso silêncio. De repente, em meio à sua piedosa contemplação, Catarina Labouré julga ouvir o roçar de um vestido de seda… A Santíssima Virgem, ali!

“Qualquer pensamento é impossível diante da inconcebível beleza de Maria. Ela usa um vestido de seda alvíssima como a aurora. Da mesma cor é o véu que Lhe desce da cabeça até os pés. Estes repousam sobre volumoso globo, que parece fixo num ponto do espaço. As mãos, elevadas à altura do peito, sustentam graciosamente um outro globo, menor que o pedestal e encimado por uma cruz. A Virgem tem o olhar voltado para o céu. Seus lábios oram. Ela oferece o globo ao Mestre, seu Filho.

“De súbito o globo desaparece e as mãos permanecem estendidas. Os dedos se cobrem de anéis guarnecidos de cintilantes pedrarias, que emitem raios deslumbrantes para todos os lados. Mil fulgores preciosos se fundem num só brilho transcendente. Mil irradiações circundam a santa figura.

“A Virgem pousa os olhos sobre Catarina em contemplação, abismada num mundo de sensações, de sentimentos, de descobertas, de revelações inexprimíveis. No fundo de seu coração, a noviça ouve uma voz que lhe diz:

“— Este globo representa o mundo inteiro, e especialmente a França, e cada homem em particular.
“— A chuva de raios redobra em força, em magnificência.
“— Eis o símbolo das graças que Eu derramo sobre aqueles que mas pedem. As pedras que permanecem na sombra (dirá ainda, uma outra vez, a Santíssima Virgem) simbolizam as graças que se esquecem de me pedir…”

Segundo narração de Santa Catarina, formou‑se em torno de Nossa Senhora um quadro de forma ovalada, no alto do qual estavam escritas em letras de ouro as seguintes palavras: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós” . E novamente ela ouviu uma voz que lhe mandava cunhar uma medalha conforme aquele modelo. E a promessa: Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças, que serão abundantes para quem a portar com confiança”.

Em seguida, diz a vidente, o quadro pareceu girar e ela viu o reverso da medalha: no centro, o monograma da Santíssima Virgem, composto pela letra “M” encimada por uma cruz, a qual tinha uma barra em sua base. Embaixo, os Corações de Jesus e de Maria, o primeiro coroado de espinhos, e o outro, transpassado por um gládio.

Era o desenho da Medalha Milagrosa, como esta seria amplamente conhecida e difundida pelo mundo inteiro, alcançando graças e favores celestiais para incontável número de pessoas, milagres de ordem física, como a cura de doenças, e também de ordem espiritual, reformas de vida e conversões das mais inesperadas.

Desígnios de alta misericórdia para o mundo

Por exemplo, célebre se tornou a conversão de um prelado apóstata, o arcebispo francês Mons. Duprat. Ele abandonou a Igreja Católica e se tornou secretário de finanças de outro famoso bispo renegado, Talleyrand.

Conta-se que Mons. Duprat, sabendo chegado aos seus últimos dias, relutava em se confessar e emendar. Algum zeloso parente ou conhecido, preocupado com a salvação eterna dele, prendeu a Medalha Milagrosa no travesseiro do arcebispo. Foi o bastante para que a graça o tocasse. Dias depois ele pedia que lhe trouxessem um padre: “Mudei de ideia, desejo me confessar”. O sacerdote se apresentou, e o filho pródigo fez as pazes com Deus, com a Igreja e com a sua consciência. Não se passou muito tempo, e morreu readmitido no seio da Esposa mística de Cristo.

Casos como esse se multiplicaram ao longo dos anos e ainda hoje se verificam pelo mundo afora. Assim como tantas outras formas de amparo e benefício oriundos do uso da Medalha.

Lembro-me, aliás, deste outro fato. Uma senhora da aristocracia francesa mantinha no salão nobre de sua residência, magnificamente decorado, um quadro com a Medalha Milagrosa, manchada e amassada no centro. Os visitantes que ela recebia em casa, estranhavam aquilo exposto com tanta evidência num recinto esplêndido, em meio a objetos de alta categoria, e perguntavam a razão disso. A senhora respondia:
“— Guardo esta medalha porque meu filho era um estroina, e estando num mau lugar, levou um tiro. A bala acertou diretamente na medalha, e em vez de perfurá-la, de modo inexplicável apenas a danificou, como para autenticar o fato extraordinário, e caiu no chão. Diante do prodígio, meu filho se converteu e hoje é um católico modelar. Eu desejo, então, que minhas visitas conheçam este favor recebido de Nossa Senhora e saibam agradecer. Por isso esta medalha está aqui.”

É simplesmente incontável o número de episódios semelhantes, onde foram obtidas graças preciosas através da Medalha Milagrosa. Motivo pelo qual ela é objeto de tanta devoção, tendo sido destinada por Maria Santíssima a ser um maravilhoso meio de se realizarem desígnios de sua alta misericórdia para o mundo.

Expressão do carinho materno de Maria

É interessante frisar, ainda, que essa particular proteção da Virgem Santíssima em relação a nós transparece muito na sua prerrogativa de Mãe da Divina Graça.

Quantos já não nos sentimos, ao aproximarmos de uma imagem sob essa invocação, recebidos por um sorriso d’Ela, envolvidos por uma espécie de doçura que nos prometia compaixão, pena, a convicção de sermos atendidos e favorecidos por um ato de inesgotável bondade?

É a certeza de que Nossa Senhora sempre se acha disposta a nos socorrer e amparar com sua clemência, seja em nossas carências materiais e físicas, seja marcadamente em nossas lacunas espirituais, ajudando-nos a vencer nossos defeitos, as tentações e o pecado. Portanto, Nossa Senhora das Graças podia se dizer Nossa Senhora da Misericórdia, que nunca, nunca, nunca nos deixará desamparados.

E creio jamais ser suficiente insistir nesta verdade: Mãe da Divina Graça significa a tesoureira de todas as graças de Deus. As dádivas celestiais constituem um tesouro inexaurível, posto nas mãos de Nossa Senhora e por Ela difundido àqueles que recorrem à sua intercessão.

Maria é a dispensadora de todas as graças e também a Mãe dos que Lhe suplicam favores. Mãe dos miseráveis, dos aflitos, daqueles que quase perderam a esperança, aos quais Ela reanima, e faz reacender em seus corações a chama da Fé.

Basta considerarmos uma imagem de Nossa Senhora das Graças para compreendermos o quanto esse título exprime o carinho materno de Maria em relação a nós. Acolhe-nos de braços abertos, o sorriso nos lábios, repassada de um convite amorável para nos aproximarmos e convivermos um pouco com Ela. Envolve-nos com uma afabilidade e uma promessa de perdão sem limites, insondável. E nos faz ouvir no fundo da alma a sua voz carinhosa: “Tendes a Mim, sou inteiramente sua. E por causa disso, todos os caminhos para o Céu lhe são franqueados…

Plinio Corrêa de Oliveira

Incansável e maternal proteção

Nossa Senhora está presente na ininterrupta luta que cada homem trava contra seus defeitos, para adquirir maiores virtudes. E ainda que não nos lembremos d’Ela, Maria intercede por nós no alto do Céu, com uma misericórdia que nenhuma forma de pecado pode esgotar.

Nossa Senhora não é um refúgio apenas os que tenham cometido faltas leves, mas também para os autores de pecados de gravidade inimaginável e para os culpados das ingratidões inconcebíveis. Pois é próprio da grandeza da Mãe de Deus, na qual tudo é admirável e extraordinário, ser um imenso e perfeito refúgio. Desde que o pecador se volte para Ela, a Virgem Santíssima cheia de bondade o protege, concede-lhe toda espécie de perdão, limpa-lhe a alma, dá-lhe forças para praticar a virtude e o transforma de filho pródigo em homem bom e fiel.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Razão de nossa perseverança

Se é verdade que devemos sempre invocar o maternal auxílio da Santíssima Virgem, com maior razão cumpre fazê-lo em vistas à nossa perseverança final. Conforme a súplica que repetimos amiúde na Ave-Maria, peçamos a Ela interceda por nós, pobres pecadores, na hora de nossa morte, e nos conceda a graça de sermos fiéis no último momento de nossa existência. Ninguém sabe como são as batalhas interiores, as tentações derradeiras que afligem uma alma prestes a se separar do corpo. Nesta ocasião, nada pode nos valer mais do que o socorro da Mãe de misericórdia, a razão de nossa perseverança em meio aos graves perigos espirituais que corremos. E ela o é, sobretudo, no último.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 16/2/1971)

Arautos e escravos de Maria

Saudando um grupo de jovens que se haviam consagrado à Santíssima Virgem como escravos de amor, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, Dr. Plinio, chamando-os de “arautos de Nossa Senhora”, os incentiva a ir por toda a Terra, cheios de confiança, proclamar as grandezas da Rainha do Universo.

 

Caríssimos arautos de Nossa Senhora! Vós sabeis, sem dúvida, que os arautos eram aqueles que os reis antigos mandavam a todos os lugares para proclamarem as suas ordens. Naqueles tempos não havia imprensa, nem rádio, nem televisão, e os monarcas, para comunicarem suas ordens, precisavam enviar homens especializados para isso.

Símbolo, porta-voz e transmissor das ordens do rei

Esses homens chegavam aos lugares principais das cidades, montando corcéis fogosos, trajando um hábito especial, e às vezes tocavam algum instrumento para avisar à cidadezinha adormecida que eles lá estavam. Todo mundo deixava as suas ocupações, a rotina tranquila e um pouco sonolenta da vida de todos os dias, para ouvir as ordens e as novidades que o arauto transmitiria.

Ele traria notícias de guerra ou de paz? Viria anunciando um nascimento ou uma morte na família real? Comunicaria um decreto lançado pelo rei, uma anistia ou uma condenação feita por um tribunal em nome do monarca?

Sem dúvida, ele vinha transmitir as vontades do rei, e por isso o arauto era objeto de grande respeito por toda parte por onde passava. Ele era o porta-voz do monarca, que transmitia suas ordens, como que um embaixador e símbolo do rei. Então, símbolo, porta-voz e transmissor das ordens: esses eram os aspectos principais da função de arauto.

O nome “arautos de Nossa Senhora” não é um título qualquer. Nenhum homem sério usa uma designação para dizer algo superficial, mas para significar alguma coisa que tenha sentido e importância. E se, há pouco, fostes chamados, a plenos pulmões, “arautos!”, ou este termo tem uma aplicação ao vosso caso, ou então as palavras não significam mais nada.

A preocupação do arauto não é a de evitar a morte, mas de cumprir sua missão

Ora, a verdade é a verdade, o bem é o bem, o belo é o belo, o erro é o erro, o mal é o mal, e a hediondez é a hediondez. Os campos estão separados e os arautos de Nossa Senhora vão pelo mundo afora para anunciar os direitos d’Ela, proclamar a vontade de Deus que se exprime através da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, da qual vós sois não porta-vozes, mas filhos, que conheceis, amais e venerais os ensinamentos dela, e por causa disso os difundis por toda parte por onde ides.

É lindo ser arauto, realmente! Mas eu vos pergunto o que é mais bonito: ser arauto durante o dia, na hora em que todo mundo está acordado, em que o arauto é cercado de homenagens; ou é ser arauto durante a noite?

Noite negra, espessa, cheia de nuvens, onde não brilham nem sequer as estrelas; tem-se a impressão de que a Lua deixou de existir, do Sol nem se fala, a natureza parece toda ela dominada pelas trevas. Numa circunstância assim, atravessando obscuridades cheias de ciladas, de perigos, de incertezas, galopa um homem com coragem: este homem é o arauto.

Se, por ventura, surgirem inimigos, ele tem uma espada bem temperada, um braço forte e, sobretudo, uma Fé fecunda, e combate! Se ele morrer, como no caso de Roland, aparece São Miguel para ajudá-lo a ir para o Céu. A preocupação dele não é a de não morrer, mas de cumprir sua missão.

O arauto chega ao seu destino; é noite, todo mundo está adormecido. Ele toca a sua corneta, faz soar o sino da igreja, mas a população não se levanta. Entretanto, ele campeia de tal maneira em grandes e heroicas cavalgadas pela cidade, que alguns acabam acordando: assoma-se a uma janela um velho de carapuça na cabeça para olhar o que está acontecendo lá fora; depois, acorda a mulher, os filhos…: “É o rei que mandou um arauto, vamos ouvir o que ele diz!” Dali a pouco todos vêm, e é proclamada a vontade do rei.

Em meio às trevas do campo, o arauto abandona a cidade rumo a outros lugares. Ele desperta, coliga, faz com que as vontades se ordenem para cumprimento dos desígnios do rei.

O arauto proclama a aurora do Reino de Maria

Eis vossa missão nesse mundo que se encontra na meia-noite do pecado, nessas trevas densas onde quase tudo é corrupção, imoralidade, terror. Vós percorrereis, como arautos, as ruas, as praças e os ambientes que vós frequentais, para dizer:

“Ouvi a grande nova! Os filhos de Nossa Senhora vão se multiplicando pelo mundo. Acabou-se a época em que apenas o vício tinha coragem de existir. Fugi trevas, o sol do Reino de Maria está começando a se levantar! Por toda parte Maria Santíssima está suscitando seus filhos que A aclamam bem-aventurada! Esses filhos têm cânticos de Fé, de pureza, de coragem, de esperança e de alegria. Chegou a hora em que eles se multiplicam pelo mundo, e tu, impiedade maldita, prepara-te para fugir!”

Esta é a razão de serdes arautos de Nossa Senhora. E para que transmitais bem o pensamento d’Ela, as pulsações de seu Coração materno e imaculado — ordenado, nos dizem as Escrituras, “como um exército em ordem de batalha”1 —; para este efeito vós, bem unidos a Ela, acabais de vos consagrar como escravos de amor à Sabedoria Eterna e Encarnada, pelas mãos de Maria.

Ir para a frente, lutando contra o inimigo externo e o interno.

O que quer dizer “escravos de amor”? São aqueles que não se fizeram escravos por medo, por imposição, mas livremente; consideraram o que a Igreja ensina a respeito da Santíssima Virgem e, ajoelhados diante de uma imagem d’Ela, disseram:

“Minha Mãe, Vós sois tão admirável, medianeira tão certa, tão direta e tão necessária por vontade de Deus, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, que eu dobro os meus joelhos. E, por ser batizado, já estou consagrado a vosso Divino Filho, mas ratifico hoje, em vossas mãos, esta consagração. Ficai com tudo quanto é meu, minha Mãe, tomai conta de minha inteligência, de minha vontade, de minha sensibilidade, para que minha inteligência, robustecida e esclarecida nas vias da Fé, creia em Vós com toda a força; minha vontade, que concorre para o ato de Fé, seja firme e decidida; para que, nos momentos de dificuldades, eu tenha força e vá para a frente, quer seja diante do inimigo externo que caçoa de minha pureza e de minha Fé, ao qual enfrento com serenidade, quer seja o inimigo interno — muitas vezes mais perigoso — e que me oferece os seus presentes imundos.”

A verdadeira vida é viver e morrer por Nossa Senhora, para que Ela tome nosso ser e o santifique, dando-lhe dons, glórias e graças que por si mesmo jamais teria, e o apresente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Metáfora da maçã na bandeja de ouro

São Luís Grignion de Montfort nos propõe a famosa metáfora da bandeja de ouro e da maçã. Na Europa, a maçã é uma das frutas mais comuns. Este santo imagina, então, um pobre que não tem outra coisa para oferecer ao rei a não ser uma maçã, e não tem coragem de oferecê-la diretamente ao soberano, porque vê que ela não vale nada. Então, procura a mãe do rei e lhe diz:

“Senhora, por favor, eu não ouso me apresentar a ele, mas apresentai vós este pobre presentinho meu: é uma maçã, minha mãe!”

O Rei é Deus, glorioso, três vezes Santo; é Nosso Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada; e a Mãe é a Virgem Maria que, com pena, manda um Anjo trazer uma salva de ouro, na qual põe a maçã e, irradiando as virtudes que em grau tão excelso só Ela possui, se dirige ao seu Divino Filho e diz:

“Meu Filho, é uma maçã; é tão pouco, e Vós tendes tanto mais. Mas, neste momento, quero Vos oferecer isso.”

Por ter vindo pelas mãos de sua Mãe Santíssima, na salva de ouro que são os méritos d’Ela, o Rei no Universo recebe a maçã comprazido, como se fosse um fruto do Paraíso.

Assim são as nossas orações. O que elas valem? Contudo, ao pedirmos a Nossa Senhora que as apresente a seu Divino Filho, Ela Lhe dirá: “Meu Filho, essa oração é tão pouco, mas aquele que a ofereceu Eu o quero como a um filho. Fazei de conta que é um grande dom”.

E Jesus responde:

“É um grande dom, pois veio por vossas mãos, minha Mãe!”

Portanto, confiai sempre! Por menor que sejam os dons que tenhais a oferecer a Nossa Senhora, oferecei-os. Mais ainda — serei arrojado no que vou dizer —, se pecardes, não ofereçais o vosso pecado, pois é um fruto do Inferno, mas dizei: “Minha Mãe, dai-me arrependimento, por favor! Um arrependimento como teve São Pedro, que chorou a vida inteira por ter renegado a Nosso Senhor três vezes. Minha Mãe, dai-me arrependimento, e a primeira lágrima que eu chore, peço-Vos, ponde na salva de ouro e ofertai a Ele!” Ela o fará certamente.

Essas palavras conduzem à confiança, à alegria e à luta pela virtude. Confiança, alegria e luta são os estados de alma que eu vos desejo neste grande dia. Arautos, ide e proclamai por toda a Terra Nossa Senhora, Rainha do Universo!

O boletim do Colégio São Luís

Acabo de falar em confiança. Eu sei de um menino que era aluno do Colégio São Luís, e que fez uma falsificação de um boletim. Esse menino, tão longe de ser menino hoje, vos está falando neste momento. No colégio, davam-se duas notas para cada matéria: aproveitamento e comportamento.

Minha mãe costumava dizer-me, para me formar, e eu tomava muito a sério: “Eu não faço tanta questão de nota de aproveitamento. Se você não aproveitou as aulas — os professores são dos melhores de São Paulo —, é porque você é burro, e ninguém tem culpa de ser burro; seria como se eu tivesse um filho doente; não há culpa em ser doente. Se você fosse burro, eu teria pena, olharia para você e diria: ‘Pobre Plinio, é burro!’ Mas eu tocaria a vida com o Plinio burro. Agora, nota baixa em comportamento, não! Porque significaria que você é ruim, e isso eu não tolero; ruim não pode ser”.

E quando distribuíram meu boletim no colégio, veio com boas notas de aproveitamento. Depois, em comportamento, 10 em todas as matérias — era a nota máxima —, mas em Geografia, seis. Tratava-se de um professor com quem eu não simpatizava muito, meio caprichoso, e eu sabia não merecer aquela nota, porque era um aluno bem comportado. Então pensei:

“É, aquele homem, que me olha atravessado, não gosta de mim e percebeu que eu também não gosto dele, e me bateu esse seis na cabeça. E agora, como vou me arranjar? A minha mãe vai ficar indignada comigo e eu não tenho culpa!” Não tive dúvida, peguei a minha caneta e escrevi por cima, 10.

Vendo o que havia feito, refleti: “Minha mãe não vai acreditar nisso, eu fiz uma bobagem. Ela vai ver o que estava escrito embaixo e será pior”. Eu tinha uns dez ou onze anos. Estava chovendo e ocorreu-me, então, a seguinte ideia: “Já sei o que fazer: vou levar este boletim na chuva e deixar cair água em cima deste infortunado 10; assim borra tudo isso, o que eu escrevi e o que estava embaixo. Quando ela me perguntar, vou dizer que abri a minha caderneta na chuva e que a página se encheu de água.”

Então fui para a chuva e abri o boletim. Mas não havia meio de cair uma gota d’água na referida nota. Afinal, caiu uma gota, mas fez um riacho ali, e ficou uma coisa indescritível!

Indignação de Dona Lucilia

Dona Lucilia sabia que era o dia da distribuição de boletins. Cheguei a casa procurando disfarçar, distraí-la para ela não pedir o meu boletim. Mas foi em vão…

— Plinio, onde está o boletim? — perguntou-me.

— Está aqui — respondi.

Ela o abriu, olhou e exclamou:

— O que é isto?!

Não ousei chamá-la de “meu bem”, como de costume, e contei-lhe a verdade.

Ela me disse:

— Pelo que me conta, você é um estelionatário!

Estelionatário é quem falsifica documentos, mas a palavra me pareceu uma chicotada no ar. Pensei: “Estelionatário, que crime horrível, com nome tão pesado! Amanhã eu entro no São Luís e os meus colegas vão apontar: ‘Aqui está o estelionatário’, e se afastam todos de mim”.

Mamãe acrescentou:

— Fique sabendo que, na segunda-feira, vou mandar seu pai ao Colégio São Luís para verificar qual foi a sua nota. Se você realmente mereceu esse seis, você vai para o Colégio Caraça, em Minas Gerais.

O Colégio Caraça era um excelente colégio, mas tinha em São Paulo uma fama, completamente injusta, de ser um estabelecimento de ensino severíssimo, uma espécie de penitenciária para meninos. Eu fiquei horrorizado. Imaginem: Caraça… E, depois, longe de mamãe!

”Salve Rainha, Mãe de misericórdia…”

Eu estava assim, nessa angústia, quando chegou o domingo e fui à Igreja do Coração de Jesus, onde eu costumava assistir à Missa. Comecei a rezar e, de repente, meu olhar fixou-se na imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Vendo-a tão nobre, tão afável, tão amável, vieram-me aos lábios as palavras “Salve Rainha”. Salve, em latim, quer dizer “eu te saúdo”, mas eu tinha a impressão de que significava “salvar”, “agarrar-me”. E pensei:

“Aqui está o que eu preciso! Salve Rainha, Mãe de misericórdia… Mãe, e Mãe de misericórdia, que coisa boa, hein! Mamãe é tão boa, mas Nossa Senhora é incomparavelmente melhor do que mamãe. Ah! vou arranjar esse caso com Ela.” Rezei a Salve Rainha inteira, várias vezes.

Não tive uma visão nem revelação, mas ficou-me a impressão de que a imagem me olhava e dizia: “Olhe, eu arranjo isso, meu filho”.

No dia seguinte, meu pai foi falar com o reitor do colégio que, depois de averiguar a nota nos registros, afirmou:

“Isso foi uma criancice sem nome do Plinio! Ele tinha a nota 10, porém o funcionário que copia as notas errou e escreveu seis. Se seu filho dissesse que se julgava objeto de uma injustiça, eu teria mandado verificar e eu mesmo poria a nota certa no boletim dele.”

Meu pai contou isso à minha mãe, que me disse:

“Está bem desta vez. Mas nunca mais repita isso, senão, da próxima vez… Caraça.”

Pensei, aliviado: “Nossa Senhora me ajude para eu não fazer uma outra bobagem desse gênero.”

Encerremos, portanto, nossa reunião, rezando a Salve Rainha.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/10/1987)

Revista Dr Plinio 188 (Novembro de 2013)

1) Ct 6, 10.

 

Medianeira onipotente

O reinado de Nossa Senhora resulta do fato de Ela ser o ponto de convergência e de espargimento de todas as graças divinas. Maria é Soberana, porque todos os dons e favores celestiais concedidos aos homens nos vêm pelas suas mãos maternais; porque todos os pedidos e orações que dirigimos a Deus são-Lhe apresentados por Ela.

Se os Anjos e Santos rogassem juntos, sem Ela, nada obteriam; sozinha, a Virgem Santíssima tudo alcança, de tal modo se concentrou n’Ela a inteira predileção do Criador.

Rainha onipotente, porque pode tudo junto d’Aquele que tudo pode, e que A constituiu Medianeira de todas as suas graças.

(Imagem de Nossa Senhora das Graças)

Céu de virtudes

Alma de uma imensidade inefável, alma na qual todas as formas de virtude e de beleza existem com uma perfeição supereminente, da qual nenhum de nós pode ter uma ideia exata, Nossa Senhora é bem aquele mar, aquele céu de virtudes diante do qual o homem deve ficar estarrecido e enlevado, e que, com todas as suas forças, deve procurar amar e imitar.

 

Plinio Corrêa de Oliveira