Consolação dos Aflitos

Consolar não é apenas enxugar o pranto de quem chora. Muito mais do que isso, é dar força, ânimo, decisão. O homem aflito facilmente se acabrunha exageradamente, perde a coragem, entregasse.

Nossa Senhora consola quando diz a uma pessoa aflita: “Meu filho, ânimo! Eu te dou, com a graça, a capacidade de lutar. Enfrenta o adversário! Tudo é reparável; no Céu serão pagos os teus  sofrimentos, será recompensado em glória tudo o que tiveres de carregar nos ombros agora. Vamos, coragem e para a frente!” Esta é propriamente a consolação. Nossa Senhora dá isso aos aflitos, àqueles exatamente que estão precisando de força para a luta.

Aqui está o pedido a ser feito a Nossa Senhora como nossa Consoladora: Que Ela nos dê força, firmeza, ânimo e coragem.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/9/1970)

Nossa Senhora

Conforme a parábola do filho pródigo, este fez um longo percurso durante o qual não consta que o pai tenha resolvido agir sobre ele. Mas quando o filho se aproximou, sua ação foi intensa: envolveu-o com seu afeto, mandou realizar uma festa tão grande que o filho fiel fez uma reclamação: “Como é isso?”

Na realidade, o mesmo se dá com o pecador. Ele se afasta de Nossa Senhora, e habitualmente — há exceções — vai se distanciando cada vez mais. Maria Santíssima não age, mas fica esperando certo momento de sua crise, no qual ele de certo modo cai do cavalo, como São Paulo no caminho de Damasco. Antes disso há remotas preparações no interior da alma dele, que Nossa Senhora vai dispondo e que somente conheceremos no dia do Juízo. Em determinada hora, notamos que sua alma se torna sequiosa do maravilhoso, que traz consigo o desejo da admiração. E se aproxima um início de deslumbramento das coisas da nossa vocação.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/3/1989)

Vinde, a Santíssima Virgem vos espera!

Ao contemplar as aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, Dr. Plinio ressalta o caráter profético de suas mensagens e a afabilidade e a inocência que transparecem nas narrações da Santa.

Devemos começar agora o comentário dos fatos que se relacionam com a aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré.

Ângulo de análise dos fatos precedentes às aparições

Para acompanhar bem o assunto é preciso conhecer a situação geral da França e da Europa naquele tempo, porque se trata de uma série de revelações de caráter profético, neste sentido da palavra: elas se deram em 1830 e Nossa Senhora previu fatos — naquele tempo mais ou menos improváveis — que se dariam em 1870, quarenta anos depois, exatamente.

Os fatos tinham muita relação um com o outro e, debaixo desse ponto de vista, essas aparições interessam de um modo todo particular, porque a revolução de 1830 é apresentada por Nossa Senhora como sendo o primeiro sinal de um conjunto de desordens na França, que haveria de culminar com uma revolução em 1870.

A revolução de 1830 foi liberal. A de 1870 foi a chamada Comuna de Paris, e talvez se possa dizer a primeira revolução comunista na Europa, se não se considerar a Revolução Francesa como uma revolução comunista. Isso é outra questão. Habitualmente não era tida como comunista. Hoje muitos historiadores reconhecem que ela, chegando ao seu auge, tomou o caráter, o espírito comunista pelo menos.

Enfim, deixando isso de lado, é, portanto, a ideia do liberalismo gerando o comunismo que é apresentada de algum modo pelas revelações. Ideia que se relaciona tanto com a RCR e com as preocupações habituais do Grupo, que eu não poderia deixar de realçar isto desde o começo.

Tática revolucionária de Napoleão

Qual era a situação da França e da Europa em 1830? Era a seguinte.

A Revolução Francesa deve ser considerada como um grande movimento revolucionário que começou em 1789, simbolicamente, com a queda da Bastilha e que, verdadeiramente, teve seu fim em 1815, quando Napoleão caiu pela segunda vez.

Napoleão é tido por muitos como o contrário da revolução, porque ele impôs ordem à França quando ela estava no caos e na desordem. Mas a questão é que Revolução não é apenas desordem, caos, é também uma ordem material na qual se impõe que as coisas fiquem de cabeça para baixo. E foi exatamente o que Napoleão fez.

Ele aproveitou a ordem que ele impôs e aproveitou o prestígio das vitórias militares que alcançou para impor à França, de modo estável, uma série de transformações que a Revolução Francesa introduziu, mas que eram mal aceitas pelo povo. Em algumas coisas Napoleão recuou em relação à Revolução Francesa, em outras coisas ele impôs. E isto fazia parte do jogo: ceder algo, mas tornar algo definitivo e irremediável.

Revanche da Revolução

Em 1815 se dá a Batalha do Waterloo, Napoleão é mandado para Santa Helena, e a ordem na França gira: os Bourbons são restaurados e reinam de 1815 a 1830.

A restauração dos Bourbons se deu na pessoa de Luís XVIII, um irmão de Luís XVI. Ele foi sucedido por Carlos X, que reinou de 1824 até 1830, um reinado rápido. Em 1830 houve uma revolução de caráter liberal que destituiu Carlos X, tido como um rei reacionário e ultramontano. Em seu lugar foi colocado um parente deles, o Duque de Orleans, que não tinha direito à sucessão ao trono e que reinaria de 1830 a 1848.

A introdução de um rei ilegítimo, de ideias conhecidamente liberais, representava uma revanche da Revolução. Podemos dizer que a Revolução deu um grande passo para trás com a restauração dos Bourbons; fez meio passo para frente com a implantação da monarquia burguesa de Luís Felipe, e daí para a frente os fatos se foram dando até a Comuna de Paris em 1870.

Carlos X era católico, mas via uma série de coisas muito estrabicamente. Apesar disso, por causa da onda da opinião contrarrevolucionária, a Religião fez muitos progressos na França, restaurou uma porção de coisas, de instituições que tinham caído, foi uma ocasião de re-catolicização.  Nesse período os adversários da Religião também se levantaram e houve motins, agressões, um desenvolvi-mento grande do anticlericalismo. Isso era um bom sinal do ponto de vista religioso, porque sempre que a Igreja é atacada por seus inimigos, quer dizer que ela está fiel a si mesma.

Devemo-nos situar nessa atmosfera para compreendermos o ambiente no qual se deram as revelações de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, religiosa de São Vicente de Paulo.

As Irmãs da Caridade

O hábito das Irmãs de Caridade era preto, como são os hábitos das religiosas, mas com uma espécie de grande gola engomada branca. A cabeça era adornada por uma toca bretã um tanto estilizada pela inspiração e pelas mãos da Igreja. Naturalmente, um rosário pendente da cintura.

Eu não tive muito contato com essas freiras, mas conheci muitas e muitas delas. Eram, em geral, pessoas robustas, fortes e prontas para o trabalho. Algumas — isso não as desdourava em nada — um pouco camponesas. Olhar límpido, reto, atitude despretensiosa de quem preferia passar despercebida.

Elas eram destinadas muito frequentemente a tomar conta dos hospitais, atender os doentes, e a outras obras de caridade material. Obras de misericórdia temporal, que elas aproveitavam como ocasião para obras de misericórdia espiritual: aproveitavam para chamar um padre para o agonizante, convidavam uma criança para ir ao catecismo da paróquia ou no convento delas. Se encontravam alguém desventurado pela rua, paravam, perguntavam o que queria, ajudavam a pessoa, etc. Enfim, faziam tudo quanto pudessem para atender aos infortúnios, às carências materiais, mas, sobretudo, às necessidades espirituais dos mais variados ambientes por onde elas costumavam se infiltrar.

A elevação desse apostolado que elas realizavam era tão grande e elas eram de tal maneira admiradas por isso que uma irmã de São Vicente de Paulo costumava ser tida como próprio símbolo da Religião numa das suas expressões mais belas e mais comovedoras.

Quando Nossa Senhora deseja…

Catarina Labouré nasceu em 1806. Era filha de um casal de proprietários rurais. Sua mãe faleceu quando tinha apenas nove anos.

Catarina pediu autorização do pai para ser freira. Este se opôs terminantemente e julgou bom, para distraí-la, mandá-la para um lugar de prazer, um emprego onde ela podia se distrair, ter prazeres.

Paris já era, para as proporções da França e do mundo daquele tempo, uma cidade de luxo, uma cidade-turbilhão da alegria, do contentamento de viver mundano. O pai queria conduzi-la até Paris para a vocação desaparecer.

Mas quando Nossa Senhora quer, quer: Catarina acabou indo para Paris, tornou-se freira e recebeu as revelações.

Nos subúrbios de Paris

Catarina Labouré, no ano de 1828 foi posta pelo pai ajudando seu irmão num pequeno restaurante para operários, num dos bairros mais populosos de Paris.

Era um restaurante só de homens. Com certeza estes homens comiam ali porque não tinham tempo de ir para casa comer. Imaginem a beberagem, as conversas imorais, as canções. E a futura santa obrigada pelo pai a servir ali. Vejam o contraste e o “rio chinês” que o desígnio da Providência percorreu nesta ocasião.

Ela tinha nessa ocasião 22 anos, uma idade inteiramente inadequada para esse tipo de serviço. Ela ficava — era a defesa dela — quieta, e durante o serviço nunca descerrava os lábios. Falassem com ela o que fosse, perguntassem o que quisesse, ela servia sem dizer uma palavra. Era o meio de, naquele ambiente, se isolar e proteger a sua própria pureza, a sua piedade.

Ela se sentia supliciada em um ambiente tão livre como esse, onde os gracejos e até os galanteios a ela evidentemente não faltavam.

O operário daquele tempo era, em geral, muito corpulento, porque a indústria era muito menos mecanizada do que hoje em dia, exigia muito mais força no trabalho manual. Imaginem um restaurante pequeno cheio de homenzarrões. Entra uma donzela que não tem outra coisa senão seu Anjo da Guarda para defendê-la e que acaba domando o ambiente. Brincadeira de cá, gracejo de lá, galanteios de acolá. Ela tem apenas a defesa do repúdio e dos lábios cerrados. Ela domina.

Vê-se a virtude dominando o vício, o espírito dominando a matéria. Que bela vitória e como isso nos ajuda a conhecer o perfil moral da santa.

Em Châtillon-sur-Seine

Esse martírio durou cerca de um ano. Em 1829 Santa Catarina Labouré passou a residir com uma cunhada, que mantinha um pensionato para moças em Châtillon-sur-Seine, no departamento de Côte d’Or. Era aí que uma parte da nobreza da Borgonha enviava suas filhas.

Catarina viveu com mais liberdade e pôde melhorar algum tanto sua escrita. Mas a ortografia dela foi sempre muito irregular.

Em janeiro de 1830 ela entrava no hospital de caridade dirigido pelas irmãs de São Vicente de Paulo em Châtillon-sur-Seine.

Ela, que tinha vergado os operários do botequim, vergou também o pai.

Depois de três meses de postulantado, seguiu, enfim, para Paris. E em 1830, no mês de abril, pela primeira vez entrou no noviciado da Rue du Bac, onde as aparições se deram.

Ela era, portanto, noviça quando essas aparições se verificaram.

Junto ao coração de São Vicente

Três dias depois da chegada de Catarina, deu-se a solene transladação dos despojos de São Vicente de Paulo para a capela da Rue du Sèvre, grande cerimônia à qual assistiam o Rei Carlos X e o arcebispo de Paris, Mons. Quélan.

Que cena linda: o arcebispo de Paris com certeza presidindo a cerimônia, é provável que o pálio cobrisse os restos mortais de São Vicente de Paulo e ali fosse o rei também. Tudo leva a crer que antecedendo e fechando o cortejo das relíquias, havia personalidades do clero, da família real, da corte, povo em quantidade, provavelmente tropas apresentando armas, etc. Assim se deu a transladação do corpo de São Vicente de Paulo, que era o fundador da congregação religiosa para onde ela estava entrando e que era, naturalmente, venerado por todo o povo francês.

Santa Catarina, como noviça, frequentou várias vezes a capela de Saint-Lazare, onde foi colocado o corpo de São Vicente de Paulo. Conta ela:

O coração de São Vicente aparecia todas as vezes que eu voltava de Saint-Lazare. Apareceu-me três vezes de modo diferente, três dias seguidos: branco, cor de carne, o que anunciava a paz, a calma, inocência e a união; depois o vi vermelho, cor de fogo o que indicava o incêndio de caridade de seu coração; parecia-me que a comunidade devia se renovar, estender-se até as extremidades da Terra, o que de fato se deu. Por fim o vi vermelho negro, o que indicava tristeza. Vinham-me tristezas que tinha muita dificuldade em dominar. Não sei porque nem como essa tristeza se relacionava com a mudança de governo que havia proximamente na França.

São Vicente de Paulo, como santo, amando a França, a civilização cristã e sobretudo a Igreja, dava a conhecer a ela, antes da queda do governo, que o rei cairia. Exprimia a sua dor profunda fazendo ver o próprio coração nesses coloridos diferentes. Um vermelho quase preto que indicava tristeza, o que iria acontecer? Por que é que ela sabia de antemão?

Para que nós soubéssemos, é claro. Mas também para rezar e para ir pedindo pela causa católica na França antes mesmo da causa ser golpeada, de maneira a conseguir que o golpe não fosse tão grande e alguma coisa sobrevivesse.

Vemos a Providência que permite o golpe, mas prepara também algo que atenua. Vê-se aí a bondade e a misericórdia de Nossa Senhora.

Graças de perseverança

Certo dia uma voz interior disse à vidente: “O coração de São Vicente está um pouco consolado, porque obteve de Deus, por mediação de Maria, que suas famílias não pereceriam no meio dessas infelicidades e que Deus se serviria delas para reanimar a fé”.

Quer dizer, seria normal que o ramo masculino e feminino da obra de São Vicente de Paulo desaparecessem, mas Nossa Senhora obteve e pediu antes da revolução que essas duas famílias — eu interpreto assim, sendo ramo masculino e feminino — sobrevivessem para espalhar a fé pelo mundo inteiro. O que em larga medida aconteceu.

Revolução de julho

Os mais negros e tristes pensamentos ocorreram no dia da Santíssima Trindade, 6 de junho.

A revolução foi em julho.“Nosso Senhor me apareceu como um rei com a cruz sobre o peito no Santíssimo Sacramento. Isto se passava durante a Santa Missa, no momento do Evangelho. Pareceu-me que Nosso Senhor era despojado de todos os seus ornamentos, caindo tudo por terra”.

Isto se relacionava com a revolução que haveria daí.

“Foi então que tive o pensamento que o rei da terra seria despojado de suas vestes reais”.

Foi o que aconteceu nos últimos dias de julho.

“Daí os pensamentos que tive, que não saberia explicar, sobre a perda que se fazia.”

Como ela era uma pessoa pouco culta, não compreendia todo o alcance desse acontecimento, o que a Religião perdia com isso.

Ela estava com o espírito pouco afeito a medir os vais-e-vens da Revolução e da Contra-Revolução, mas Nosso Senhor Jesus Cristo lhe dava a entender uma profunda tristeza com esses fatos.

Aí os senhores têm uma coisa curiosa, que é o relacionamento direto… Eu não me lembro de ter visto uma coisa parecida — talvez houvesse — de uma revelação tão altamente provável, eu no meu foro interno a tomo como certa, com um fato político. Mas assim, um fato político determinado: “A fulano vai acontecer tal coisa, e por isso Deus está triste”. Eu não me lembro de uma coisa dessas, é um fato único — único ao menos para minha memória — e que eu gostaria de ressaltar.

O sobrenatural começa a manifestar-se

Imaginemos a cidade de Paris, naquele tempo enormemente menor do que ela é hoje, silenciosa, tranquila, ainda sem motores. Os automóveis ainda não existiam, o silêncio de toda a população que dormia era apenas de vez em quando interrompido pelas patas de um cavalo que batia sobre a pedra da rua e que ia puxando algum carrinho ou alguma carruagem depressa durante a noite para um lugar.

Não havia ainda luz elétrica e o dormitório das religiosas era iluminado por candeeiros. Todos dormiam, inclusive Catarina. Ali, completamente diferente do mundo fora, o maravilhoso sobrenatural começa a se desenrolar e Nossa Senhora faz a primeira das suas diversas grandes mensagens para o mundo no século XIX.

Vale a pena ler o próprio texto da santa contando o que se passou então. É um pouco longo, mas são suas próprias palavras. Isso fará um desenvolvimento do tema.

“A Santíssima Virgem vos espera…”

Ela diz o seguinte:
“Veio depois a festa de São Vicente. Na véspera, nossa boa Madre Marta nos fez uma instrução sobre a devoção à Santíssima Virgem, o que me deu desejo de vê-La. Deitei-me, pois, com o pensamento de que naquela noite mesmo eu veria a minha boa Mãe. Havia tanto tempo já que eu desejava vê-La.”

A inocência e a ingenuidade desse pensamento e o caráter filial são muito bonitos.

Enfim, às onze e meia da noite… Para aquele tempo era alta noite. “…ouvi me chamarem pelo nome:

‘Irmã Labouré! Irmã Labouré!’. Acordando, olhei do lado de onde vinha a voz, que era do lado da passagem.”

Deveria ser uma passagem no dormitório.

“Corro a cortina e vejo um menino de 4 ou 5 anos que me dizia: ‘Vinde à capela, a Santíssima Virgem vos espera’.

Devemos imaginar um ambiente com uma paz, tranquilidade, todas as freiras dormindo, esse menino aparece — ela depois descreve o menino — e diz: “A Santíssima Virgem vos espera”. Quer dizer, uma afabilidade de Nossa Senhora à espera dela.

“Logo me veio o pensamento: ‘Irão perceber’. O menino me respondeu: ‘Ficai tranquila. São onze e meia da noite, todo o mundo está dormindo. Vinde, eu vos espero’.
Quem é esse menino que diz “eu” aí?

“Vesti-me depressa e me dirigi para o lado do menino. Este tinha permanecido de pé sem avançar além da cabeceira de minha cama. Ele me seguiu, ou melhor, eu o segui, sempre à minha esquerda.”

“Por todos os lugares onde passamos as luzes estavam acesas, do que me admirava muito…”

Naturalmente ninguém via, era milagre. Tudo isso já é dado para causar impressão.

“Porém, muito mais surpresa fiquei quando entrei na capela. A porta se abriu mal o menino a tocou com a ponta do dedo e minha surpresa foi ainda mais completa quando vi todas as velas e castiçais acesos, o que me recordava a Missa de meia-noite”.

Como se fosse a Missa do Galo. “Entretanto, nada vejo da Santíssima Virgem.

O menino me conduziu ao presbitério, ao lado da cadeira de braços do senhor vigário. Ali me ajoelhei e o menino permaneceu de pé todo o tempo. Eu achava o tempo longo e olhava para ver se as vigilantes não passavam pela tribuna”.

No fundo, onde fica o órgão. Ela tinha medo que pudessem perceber, alguma coisa violasse o segredo.

Seria bonita a cena. Ela ajoelhada junto à cadeira do senhor vigário, as luzes todas acesas e pensando o que diria à vigilante sobre essa completa irregularidade.

“Ali se passou o momento mais doce de minha vida”

“Por fim chegou a hora. O menino me preveniu. Ele me disse: ‘Ei-la, a Santíssima Virgem’. Ouvi como um roçar de vestido de seda que vinha do lado da tribuna…

Era o “frou-frou” de quem está com um vestido de seda que, naquele tempo, ia até o chão. Produzia aquele ruído agradável e muito peculiar.

… perto do quadro de São José e que passava sobre os degraus do altar do lado do Evangelho sobre uma cadeira igual à de Santa Ana.

O que seria essa cadeira de Santa Ana?

“Eu estava em dúvida se seria a Santíssima Virgem. Nesse preciso momento o menino que estava ali me disse: ‘Eis a Santíssima Virgem’.

“Ser-me-ia impossível dizer o que senti nesse momento, o que se passava dentro de mim. Parecia-me que não via a Santíssima Virgem.

“Então o menino me falou não mais como uma criança, mas como um homem dos mais fortes e com as palavras mais fortes.

“Nesse momento, olhando para a Santíssima Virgem, dei um salto para junto d’Ela, pondo-me de joelhos sobre os degraus do altar e com as mãos apoiadas sobre os joelhos da Santíssima Virgem”.

Nossa Senhora estava sentada na cadeira do vigário. Santa Catarina apoiou as mãos sobre os joelhos de Nossa Senhora. Vejam a afabilidade dessa aparição, uma coisa extraordinária. Depois, para quem for São Tomé, que pôs a mão no flanco de Nosso Senhor, ela também tocou.

“Ali se passou o momento mais doce de minha vida. Ser-me-ia impossível dizer tudo o que senti. Ela me disse como deveria me conduzir em relação ao meu diretor espiritual, e várias coisas que não devo dizer. A maneira de me conduzir em meus sofrimentos, vir lançar-me aos pés do altar, e me mostrava com a mão esquerda o pé do altar, e ali fundir o meu coração. Aí eu receberia todas as consolações de que tivesse necessidade.”

Quer dizer, quando ela tivesse sofrimentos, não comentasse com ninguém, fosse ao altar e desabafas-se ali, mas num lugar indicado por Nossa Senhora para ela: “Aqui, nesse ponto, você venha”.
Os senhores compreendem quanto ela voltou a esse lugar fisicamente indicado por Nossa Senhora. Uma verdadeira maravilha.

“Então lhe perguntei o que significavam todas as coisas que eu tinha visto e ela me explicou tudo”.

Mas ela não disse o que era. Aqui não está.

“Fiquei não sei quanto tempo. Tudo que sei é que quando Ela partiu não percebi senão que alguma coisa se extinguia. Enfim, mais uma sombra que se dirigia para o lado da tribuna pelo caminho pelo qual Ela tinha chegado.”

“Levantei-me dos degraus do altar e percebi o menino onde o tinha deixado. Ele me disse: ‘Ela se retirou’. Nós retomamos o mesmo caminho, sempre todo iluminado. O menino estava sempre à minha esquerda. Creio que este menino era meu Anjo da Guarda que se havia tornado visível para me fazer ver a Santíssima Virgem, porque havia rezado muito a ele para que me obtivesse esse favor. Estava vestido de branco trazendo consigo uma luz miraculosa, isto é, ele era resplandecente de luz. Tinha a idade mais ou menos de 4 ou 5 anos.

De volta ao meu leito eram duas horas da manhã, pois ouvi tocar as horas.

Não tornei mais a dormir.

Está terminada a revelação.

Um veludo precioso

Não me consta que lá, na Rue de Bac, se indique qual foi o lugar mostrado por Nossa Senhora a ela. Evidentemente, qualquer um de nós que ali estivesse não deixaria de rezar, oscular o chão.

A cadeira está ali sobre um estradozinho e todo mundo que entra vai oscular a cadeira. Quando eu a osculei, deitei o olhar sobre o veludo e este pareceu-me novo. Fiquei desagradado, porque, se é novo, não é o veludo sobre o qual Nossa Senhora se sentou.

Na saída, perguntei à freira:
— Irmã, me faz favor. Esse veludo da cadeira é o próprio no qual Nossa Senhora Se sentou?

Ela disse:
— Não. Nós, há pouco, o substituímos por um veludo novo.

Eu pensei em ficar com o veludo para mim, e disse:
— Irmã, eu não poderia ter esse veludo? Ou ao menos um pedacinho dele?

Ela disse:
— Não.

Não me lembro se ela disse que foi jogado fora ou queimado. Eu não pude conter a minha surpresa e disse a ela:
— Mas, irmã! A senhora já pensou o que seria esse… Se a armação de madeira da cadeira se oscula, por que não oscular o veludo? Por que não guardar? A senhora já pensou que isto é uma relíquia.

— É…
Eu disse:
— A senhora já pensou quantas pessoas viriam aqui para receber das senhoras um pedacinho deste veludo?

Ela ficou assim meio surpresa e eu disse:
— Irmã, eu sou da América do Sul, sou do Brasil. Eu lhe garanto que a América do Sul desfilaria aqui para receber pedaços desse veludo!
— “Nous n’avons guère songé” — nem sequer pensamos nisso.

Uma promessa feita por Nossa Senhora

1830, julho. Colóquio com a Santíssima Virgem.
“Minha filha, o bom Deus quer encarregar-vos de uma missão. Tereis muitos sofrimentos, mas superareis estes sofrimentos pensando que o fareis para a glória do bom Deus. Conhecereis que é do bom Deus e sereis atormentada até que o tenhais dito àquele que é encarregado de vos conduzir. Sereis contraditada, mas tereis a graça e por isso não temais. Dizei com confiança tudo o que se passa em vós, dizei-o com simplicidade, tende confiança, não temais.”

Vemos quanto medo ela tinha do próprio confessor com o qual ela se deveria abrir.
“‘Vereis certas coisas. Prestai conta do que virdes e ouvirdes. Sereis inspirada na vossa oração. Prestai conta do que virdes em vossas orações”.

Os tempos são muito maus. Os males virão precipitar-se sobre a França; o trono será derrubado, o mundo inteiro será transtornado por males de toda ordem — ao dizer isto, a Santíssima Virgem tinha um ar muito penalizado —, mas vinde ao pé deste altar; aí as graças serão derramadas sobre todas as pessoas que as pedirem.

É uma promessa magnífica.

“‘Minha filha, gosto de derramar graças sobre a comunidade em particular. Eu aprecio muito. Sofro porque há grandes abusos contra a regra.’”

Nossa Senhora gostava da comunidade enquanto instituição, mas já naquele tempo havia muitos abusos no cumprimento da regra.

“‘As regras não são observadas, há grande relaxamento nas duas comunidades. Dizei àquele que está encarregado de uma maneira particular da comunidade. Ele deve fazer tudo o que lhe seja possível para repor a regra em vigor. Dizei-lhe de minha parte vigiar sobre as leituras, as perdas de tempo e as visitas’”.

“‘A comunidade gozará de uma grande paz, ela tornar-se-á grande. Momento virá em que o perigo será grande, acreditar-se-á tudo perdido.”

É curioso que este momento não é em 1830. Por que, como vai haver uma grande paz e se corrigirá os abusos, etc., etc., quando ela já está em julho e a revolução foi em julho?

Esses fatos não cabem aí, mas depois.

“‘Eu estarei convosco, tende confiança.
“Mas não se dará o mesmo com as outras comunidades: haverá vítimas — ao dizer isto, a Santíssima Virgem tinha lágrimas nos olhos. Para o clero de Paris haverá vítimas. Mons. Arcebispo — a essa palavra lágrimas de novo.”

Eu creio que não foi Mons. Qué-lan. Talvez aí seja uma profecia de 1870, não sei.

“Minha filha, a cruz será desprezada e derrubada por terra. O sangue correrá, abrir-se-á de novo o lado de Nosso Senhor, as ruas estarão cheias de sangue, Mons. Arcebispo será despojado de suas vestes — aqui a Santíssima Virgem não podia mais falar: o sofrimento estava estampado sob a sua face. “Minha filha, dizia Ela, o mundo todo estará em tristeza.”

A essas palavras pensei quando isto se daria: compreendi bem daí a quarenta anos.

Em 1870, onde realmente o arcebispo foi fuzilado abençoando os revolucionários e duas balas cortaram os dedos dele. Ele morreu abençoando.

Disse-me uma pessoa, muito competente nesses assuntos de História do século XIX, que o arcebispo era de tendência liberal. Ele teve de algum modo um castigo, porque os liberais o fuzilaram. Mas vejam como Nossa Senhora sofreu com o fato porque ele era arcebispo e, na pessoa dele, era a Igreja que sofria uma violência.

Vejam como Nossa Senhora ama as instituições eclesiásticas. Ela ama tanto uma congregação religiosa na qual Ela, entretanto, denuncia graves abusos. E Ela sofre tanto com o padecimento de um arcebispo. É a congregação enquanto congregação, o arcebispo enquanto arcebispo.

Isso deve nos fazer compreender o amor que nós devemos ter às instituições eclesiásticas, por mais que as vicissitudes humanas façam com que dentro delas se passem coisas que são contrárias
ao que se poderia querer.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraido de conferência de 7/11/1980)

Confiança nos impossíveis

Um lema fixado por jovens revolucionários na Universidade de Sorbonne dá ocasião para Dr. Plinio tecer preciosos comentários

 

Alguém me pediu para comentar o seguinte lema afixado na Universidade de Sorbonne durante seus dias de agitação:

“Seja realista, exija o impossível.”

Mesmo defendendo a pior das causas, há nesta frase o inegável talento francês.

Em primeiro lugar, devemos nos perguntar: esse lema é correto ou não?

Em face dele, dividem-se duas famílias de almas: uma constituída pelo espírito geométrico, e outra, pelo espírito de “finesse”.

O espírito geométrico é contra uma afirmação dessas. Para ele, é próprio da utopia exigir o impossível. Logo, é um absurdo dizer: “seja realista, exija o impossível”. Pelo contrário, diria alguém desta corrente, “seja realista, exija o possível”; ou então, “seja realista, e não exija o impossível”.

Porém, as pessoas que têm o espírito de “finesse” compreendem o significado desta afirmação. Ou seja, esta espécie de contradição berrante, que é exigir o impossível, aqui quer dizer o seguinte: esse impossível vem psicologicamente entre aspas.

Impossível para o medíocre… Possível para o fogoso!

Há coisas impossíveis para os indivíduos “pocas”(1), cujos horizontes são limitados e circunscritos, e que por isso facilmente desanimam diante de lances qualificados de impraticáveis, mas que na verdade não o são.

Porém, há homens com inteira noção da realidade, os quais pensam:

“Vocês, moles, pensam ver a realidade, mas na verdade estão apenas na superfície dela. A profundidade da realidade, bem analisada, mostraria haver mil coisas aparentemente impossíveis para os espíritos sem ‘chama’; mas, para os que têm ‘chama’, são possíveis. A ‘chama’ torna possíveis coisas aparentemente impossíveis.”

A História está cheia de exemplos dessa natureza.

Quem vai a Barcelona e visita o fac-símile das naus de Cristóvão Colombo tem um exemplo disso: verdadeiras cascas de noz, com as quais se teria medo de atravessar a represa de Santo Amaro…

Entretanto, eles vieram até a América. E, exatamente no momento em que se planejava uma revolta a bordo — Cristóvão Colombo estava diante de uma revolta dos “pocas” que julgavam impossível atingir o objetivo, porque afinal de contas, nunca se chegava — alguém gritou: “Terra à vista!”

Quer dizer, estava‑se chegando precisamente no momento em que o “impossível” para os medíocres tinha se tornado possível.

Contudo, este é um fato natural.

Impossível até na ordem natural…

Do lado sobrenatural isto é muito mais bonito, muito mais rico. E a riqueza está no seguinte: quando Nossa Senhora quer algo, Ela o realiza contra todas as esperanças e aparências; mesmo o impossível para os grandes homens é possível para Nossa Senhora, porque a oração d’Ela é onipotente, Ela obtém de Deus absolutamente tudo quanto Ela quer.

De maneira que, muitas vezes, nós devemos tentar coisas não só impossíveis para os “pocas”, mas impossíveis também na ordem natural das coisas. Devemos exigir o impossível de nós mesmos, porque Nossa Senhora nos dará.

Mas, como podemos ter certeza se Nossa Senhora dará ou não?

O Livro da Confiança(2) começa com as magníficas palavras: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça, vós murmurais no fundo de nossas consciências palavras de doçura e de paz”.

Realmente, nós temos uma voz interior que não fala, não usa palavras, mas se comunica conosco pelo movimento dos pressentimentos, das virtudes, das consolações da alma, e nos indica o que Nossa Senhora quer de nós.

Muitas vezes esta voz quer de nós algo impossível, mas devemos crer no incrível, abordar o inabordável, meter-nos a transpor o intransponível, porque do outro lado está Nossa Senhora.

“Nunca em minha vida eu fui decepcionado nesta posição interior de alma.”

Como podemos diferenciar o sinal interior dado por Nossa Senhora de uma simples fantasia?

É muito fácil: se um determinado movimento de alma nos leva à virtude; se esse pressentimento de alma não satisfaz o nosso amor-próprio, certamente vem de Nossa Senhora.

Ele pode não se realizar como imaginamos, mas seguramente ele acaba se realizando. E é este o modo pelo qual nós podemos ouvir esta voz de Cristo, voz misteriosa da graça, dizendo a nossas almas palavras de doçura e de paz.

Poderá haver ocasiões em que sobrevenham movimentos de desânimo por estarmos numa situação sem saída. Apesar disso, teremos um pressentimento interno de que Nossa Senhora resolverá a situação.

Nunca em minha vida eu fui decepcionado nesta posição interior de alma. E eu já estou com cinquenta e nove anos e meio. Nunca eu dei crédito a esse movimento interior da alma, e depois tive uma decepção. Nunca, nunca, nunca!

Isto não quer dizer que muitas coisas não tenham demorado além do imaginado por mim; não quer dizer que as circunstâncias não tenham sido diversas das esperadas por mim, mas a substância nunca me decepcionou, e, em geral, foi além de minha expectativa.

Como filhos de Nossa Senhora, nós temos o direito de esperar o impossível, e nós temos o direito de exigir que da nossa ação brote o impossível.

Devemos agir imperativamente, sabendo que aquilo vai dar certo.

Uma provação na linha do desânimo: uma cisão na Ação Universitária Católica

Lembro-me da primeira provação séria que eu tive a esse respeito, a qual me causou uma perturbação tremenda.

Eu tinha uns vinte anos quando consegui aglutinar alguns companheiros de faculdade, para fundar o primeiro núcleo de católicos na Faculdade de Direito. Isto parecia uma coisa completamente impossível.

Eu não sabia como, no interior de minha alma, dar graças a Nossa Senhora pelo que estava acontecendo, sobretudo por prever ser este o primeiro movimento de “chama” em torno do enorme “pavio” que se acenderia.

Pois bem, pode-se imaginar o meu estado de espírito quando nesse embrião da Ação Universitária Católica, contra toda a minha expectativa, arrebentou uma cisão interna, promovida por um indivíduo que queria uma forma de apostolado completamente heresia‑branca(3).

Eu pensei: “Como? Uma cisão entre católicos? Mas que monstruosidade é esta?”

Certo dia, indo para uma reunião, onde esta cisão deveria liquidar‑se, eu estava andando de bonde no Viaduto do Chá, quase só, e ruminando aquela história, com uma pavorosa tentação de desânimo…

Mas, eu senti em mim o que Abbé Saint Laurent chama no Livro da Confiança a voz sobrenatural de Cristo, voz sobrenatural da graça, que murmurava em minha alma palavras de doçura e de paz. Eu pensei então:

“Eu não vou prestar atenção nisto e vou caminhar de olhos fechados em cima desta coisa! Aconteça o que acontecer, eu vou andar para a frente!”

Foi a primeira prova, muitas assim vieram depois.

Todos passarão por circunstâncias onde a voz da Confiança parecerá ter mentido. Não acreditemos, pois ela nunca mente, e sempre acaba realizando o que prometeu.  v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 3/8/1968)

Revista Dr Plinio 152 (Novembro de 2010)

 

1) Palavra criada por Dr. Plinio para exprimir algo medíocre, mesquinho.

2) Cfr. Dr. Plinio nº 129, p.25.

3) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na cultura, na arte, etc. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.

A fina ponta da esperança

Vejamos como Dr. Plinio discorre sobre a relação entre a esperança e a confiança.

O homem vive de esperanças. Salutares ou — helas! — nocivas, quem não as teve? Ainda quando era improvável tornarem-se realidade, os homens adequavam suas vidas às esperanças que possuíam.

Sim, isso era comum, mas no tempo presente, repleto de inebriantes descobertas da tecnologia, parece ser que a esperança vai, de modo paulatino, cedendo lugar ao anseio pelo imediato, à satisfação de caprichos do momento, a uma visualização que considera a existência humana como voltada somente para o prazer reles e passageiro. Sempre houve quem tivesse essa mentalidade, mas o problema novo é que ela vai se impondo universalmente, como se fosse o único valor a ser buscado.

Até que ponto a enxurrada de novidades contribuiu para este resultado? Não se sabe. O certo é que os homens, em número crescente, vão se desinteressando do futuro e fechando-se sobre si mesmos. “Não me interessa o amanhã, eu vivo cada dia”, dizem. Renunciaram à esperança.

Com isso vai desaparecendo toda forma de grandeza que pressupõe a esperança, ao passo que cada vez mais pessoas sofrem de tédio, depressão e até desespero. Todavia, por mais que sejam adversas as circunstâncias nas quais vivemos, a solução para se recuperar o equilíbrio perdido é simples: fortificar a esperança por uma certeza, acrescida de um novo vigor: a confiança!

Pois como afirma São Tomás: “A confiança é uma esperança fortificada por uma opinião firme”.

Vejamos como Dr. Plinio discorre sobre a relação entre a esperança e a confiança.

Qual é a diferença entre esperança e confiança?

Quando se espera algo, tem-se certa alegria pela perspectiva de que alguma coisa boa acontecerá; porém, quando se confia, não há apenas alegria, mas também certeza.

A confiança é a fina ponta da esperança; ela dá forças a nossas almas e nos faz irmos adiante.

Enquanto a esperança nos dá fundadas razões para termos quase certeza de que nos acontecerá determinada coisa boa, a confiança, entretanto, nos dá a plena certeza.

A virtude da confiança representa a voz de Deus no interior de nossas almas.

Para nós que estamos talvez na orla dos acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima, a virtude da confiança se põe nos seguintes termos: estamos diante do perigo, mas sabemos que a Providência quer utilizar-se de nós para vencer esse perigo. Sendo assim, nós temos confiança, ou seja, temos certeza, de que seremos instrumentos da Providência para vencer tais perigos. Essa é a certeza da confiança.

Nessas condições, devemos pedir a Nossa Senhora que em todas as ocasiões difíceis de nossa vida nos dê confiança e não deixe de suscitar no interior de nossas almas o seguinte movimento:

“Se Nossa Senhora me chamou para uma missão, Ela fará com que eu a realize, pois este chamado não poderá ter sido em vão.”

Então, ainda que tudo pareça contrariar minha esperança, eu avanço contra o perigo, em paz, porque confio que vai se realizar tudo quanto Ela prometeu.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 22/1/1994)

 

Com o cetro de Deus nas mãos…

Maria Santíssima é nossa soberana. Ela está incalculavelmente acima de todas as criaturas e, enquanto Mãe de Deus, sua súplica é governativa por vontade de Deus.

Por assim dizer, Ela tem o cetro de Deus nas mãos, como indica claramente, por exemplo, a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora: na mão esquerda segura o Menino Jesus e na direita o cetro.

Este significa que Ela tem o governo de toda a criação, pela Sua santidade incomparável e união com Deus, bem como pela Maternidade Divina e pelo fato de ser Esposa do Espírito Santo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 13/3/1992)

Revista Dr Plinio 152 (Novembro de 2010)

PERFEIÇÃO INCOMPARÁVEL

Se possível fosse reunir numa única mãe as perfeições de todas as mães que houve e haverá até o fim do mundo, e constituir em seu espírito o mais requintado equilíbrio das virtudes maternas, fazendo dela um modelo de bondade e paciência, de força e solicitude extraordinárias — essa mãe ainda nada seria em comparação com a Mãe por excelência, Maria Santíssima, da qual nasceu Jesus.

Virgem e Mãe

Não há título maior que o de Mãe de Deus, nem foi dado a uma criatura ser elevada a uma honra superior à conferida pela maternidade divina.

Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo preza tanto a virgindade que desejou fosse sua Mãe, além de imaculada e adornada de todos os dons do Céu, igualmente virgem. Para isso, operou em favor d’Ela um estupendo milagre que excede à nossa imaginação: Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto. Segundo a bela comparação que fazem os teólogos, assim como Nosso Senhor saiu do sepulcro sem esforço, assim deixou Ele o claustro materno, sem detrimento da inviolada virgindade de Maria Santíssima.

Nunca se ouviu dizer….

Minha Mãe, dai-me a graça de nunca me sentir longe de Vós.
Dai-me a certeza de que a palavra ‘longe’, para efeito de vida espiritual, foi cancelada da Doutrina Católica, uma vez que Vós existis. Pois, se é verdade que muitos estão longe, Vós, Senhora, estais sempre perto.
Senhora, convencei-me de que Vós estais ao alcance, não de mãos que se estendem, mas de m„os que se juntam para rezar,rezar e rezar seriamente.
Nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido a vossa proteção e reclamado vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Mãe minha, fazei-me compreender que, se nunca se ouviu dizer, não serei eu o primeiro a não ser atendido, o primeiro a ser uma exceção. Assim, pois, régia Senhora, fazei que sempre me volte a Vós com confiança. Amém.
Plinio Corrêa de Oliveira (Oração composta por Dr. Plinio para se rezar a Nossa Senhora)

Mãe da Igreja e Rainha do mundo

São Luís Maria Grignion de Montfort diz que os Santos dos últimos tempos estarão para os das eras anteriores como carvalhos em comparação com graminhas. Isso por causa das orações extraordinárias que Nossa Senhora fará nessa ocasião.

Ela, como Mãe da Igreja, Rainha dos homens, Rainha do mundo, estará ainda mais associada ao curso dos acontecimentos. Suas orações também penetrarão como nunca até então, no âmago da História.

E enquanto o Inferno vomitar os mais horrendos monstros, Maria Santíssima suscitará, pelos desígnios da Providência sobre a História e a humanidade, esses homens extraordinários diante dos quais Moisés, Elias e outros Santos ficariam deslumbrados.