Olhar de insondável desvelo

Se, em meio às nossas aflições, acaso nos assalte a dúvida de que Maria Santíssima nos socorrerá, lembremos com que imensidade de ternura Ela olhava para o seu Filho perseguido durante a Paixão, e pensemos: “Com que maternal e insondável desvelo não estará também fitando a mim, nessa hora de provação?”

Não duvidemos. Nossa Senhora nos alcançará graças, e incutirá na alma de cada um a força necessária para transformarmos o momento de angústia em fator de crescimento espiritual, em período de preparação para realizarmos, em nome d’Ele, grandes feitos.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 22/3/1967)

Por vossa bondade, salvai-me!

Ó clemente, piedosa, doce e sempre Virgem Maria, rogai por nós, porque somos tudo o que somos, mas Vós sois tudo o que sois. Concebida sem pecado, nunca tivestes a menor falta, nunca  deixastes de progredir em graça e virtude, na medida inteira que se esperava de Vós. Sois a Virgem de uma virgindade insondavelmente preciosa. Sois a Mãe de Deus, a Filha do Pai Eterno, a  Esposa do Divino Espírito Santo.

Tendes tudo para ser atendida, e sois cheia de misericórdia para com os pecadores. Um destes sou eu, que me ajoelho a vossos pés, a Vos suplicar: perdoai-me! Não olheis para os meus pecados mas para a vossa bondade. Olhai para o sangue que vosso Divino Filho derramou a fim de que eu fosse salvo. Pensai nas lágrimas que Vós mesma vertestes pela minha redenção.

Assim, ó Mãe misericordiosa, não por meu mérito, mas por vossa bondade, salvai-me!

Plinio Corrêa de Oliveira

O cântico da fidelidade na noite do crime

Os Anjos puderam contemplar, após o sepultamento de Nosso Senhor, talvez no próprio edifício onde se realizou a Santa Ceia, Nossa Senhora sozinha, no silêncio daquela noite, a Terra inteira pecando, e Ela interrompendo as suas orações para, com melodias que só os espíritos angélicos conheceram e nós conheceremos quando formos para o  Céu, cantar as suas reparações.

Ali estava a Santíssima Virgem, que compôs o Magnificat, tomando ponto por ponto, descendo ao abismo de cada infidelidade e rematando a meditação por um cântico de fidelidade. Que cena tocantíssima deveria ser essa! A Mãe de Deus a passou sozinha, porque ninguém era digno de presenciá-la, somente os Anjos.

É uma magnífica maneira de meditarmos a Paixão nos associarmos a esse canto da Soledade de Nossa Senhora; inteiramente só, na noite do crime. O cântico da maior virtude de toda a Terra, elevando-se até o Céu.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraída de conferência de 13/4/1968)

Sorridente misericórdia

Os sentimentos da piedade católica, sempre corroborados pela Santa Igreja, não têm invocações suficientes para nos inculcar a ideia da misericórdia e da maternal liberalidade de Nossa Senhora, disposta a todo momento a nos alcançar graças especiais, a nos obter dons excelentes do Céu e, assim, convidar-nos a amá-La cada vez mais. Por isso, nunca devemos desviar nossos corações da clemência risonha e solícita da Virgem para conosco, e nela depositar inteira confiança.

(Extraído de conferência em 24/9/1965)

Prenúncio do Reino de Maria

A estrela da manhã aparece no período incerto entre a noite que ainda existe, e o dia que timidamente vai nascendo. Não é bem essa a época em que vivemos, onde imperam as trevas do mal, porém na qual já se pressente o triunfo do Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima?

Portanto, é a Maria como “Estrela da Manhã”, anunciando-nos como iminente a aurora de seu Reino, que devemos recorrer nas dificuldades de nosso apostolado, e em todas as ocasiões em que a piedade nos sugira essa invocação: “Estrela da Manhã, Vós que fostes, durante a noite inteira da espera, a nossa luz e a promessa do alvorecer, fazei com que desponte quanto antes o dia de vosso
Reino!”

Plinio Corrêa de Oliveira

O "Stabat Mater" verdadeira joia de fé e coerência

A presença da Mãe Dolorosa junto à Cruz inspirou um dos mais eloquentes hinos pelo qual nos é dado exaltar o sacrifício co-redentor de Maria Santíssima, ao mesmo tempo que nos incita à compunção e ao arrependimento por nossos pecados. Conforme podemos constatar nas palavras transcritas a seguir, muito o apreciava Dr. Plinio, tomando-o como um misto de singela poesia e comovente oração.

 

Cântico muito apropriado para alimentar nossa piedade nos dias da Semana Santa, o “Stabat Mater” mereceria um comentário tão extenso quanto grande é sua beleza e unção. Porém, não sendo possível nos estendermos como desejaríamos, analisarei algumas passagens, baseando-me numa tradução a qual, infelizmente, não possui o mesmo sabor do texto original em latim.

A situação mais trágica de toda a História

Estava a Mãe dolorosa, ao pé da Cruz, lacrimosa, e o Filho pendente dela.

Dura espada lhe rasgava a alma pura, com dor, tristeza e gemidos.

Após a apresentação desse quadro, seguem-se algumas orações: Eia Mãe fonte de amores, fazei que essas fortes dores eu sinta e convosco chore.

Fazei que a alma se me inflame, para que a Cristo Deus só ame e só busque o seu agrado.

Santa Mãe, isso vos peço, fique o peito bem impresso das chagas do Crucificado.

Fazei-me, enquanto viver, com meu Jesus condoer, convosco chorar deveras.

A cena aqui descrita, de Nosso Senhor pendente da Cruz e Nossa Senhora em pé (pois este é o significado de “stare”, em latim), chorando, é a mais patética de toda a história do mundo.

Nunca houve situação mais trágica do que essa, nem nada que se lhe comparasse. Diante desse quadro que deveria comover todos os homens, adquire especial relevo aquelas várias preces.

Caráter sagrado das relações mãe-filho

Para compreendermos o inteiro alcance desse cântico, convém considerarmos a relação Filho-Mãe.

No alto do Calvário se encontra Nosso Senhor, na força de sua idade, pregado na Cruz, exposto a um tormento indizivelmente agudo, com o Corpo todo chagado devido aos maus tratos anteriores, a coroa de espinhos ferindo-Lhe a cabeça, prestes a exalar sua alma. Passou por todas as dores e se acha no fim da agonia. D’Ele se poderia dizer, metaforicamente, como o fez a Sagrada Escritura: “Já não era um homem, mas um verme” (Sl 21, 7), e reputado “como um leproso” (Is 53, 4), de tal maneira estava desfigurado, chagado e lanhado.

Conforme predissera o Profeta Isaías, do alto da cabeça até a planta dos pés não havia em Jesus parte sã. Ora, a pessoa nessa situação pungente, própria a despertar a compaixão de todo o mundo, é ao mesmo tempo o Homem-Deus. Sendo o Inocente, e sofrendo o martírio mais injusto, humilhado pela ralé mais infame, tudo quanto contra Ele se executava assumia uma gravidade verdadeiramente infinita. Cometia-se, portanto, um pecado imenso, algo que deveria levantar de indignação até as pedras.

Pois bem, ao pé da Cruz estava a Mãe do Supliciado.

Nada se respeita tanto no mundo quanto uma mãe que chora junto a seu filho morto. Isso faz cessar todas as hostilidades, apodos, qualquer espírito de vingança, toca e inclina as almas para a misericórdia. É a fraqueza feminina no que tem de mais sublime, a condição de mãe posta diante do que há de mais doloroso: o falecimento de seu próprio filho.

Tais sentimentos se verificam inclusive em se tratando do pior dos criminosos, digno da maior execração, justamente condenado à morte. Quando, nas vésperas de sua execução, anuncia-se a visita da mãe dele, tudo se suspende. A irritação despertada contra o sentenciado como que recebe um parênteses, todos acolhem sua progenitora com respeito e a conduzem junto ao filho que ela deseja consolar. E esse réu, objeto da reprovação geral, enquanto está com sua mãe adquire — pela sua condição de filho — uma respeitabilidade a qual pareceria impossível em semelhante facínora. Ninguém o atormenta nem o incomoda. Suspende-se o curso da justiça, até que o contato com sua mãe tenha cessado.

Tudo isso porque a relação mãe-filho é sagrada, envolve reservas de ternura inimagináveis. Em razão do que ela tem de sacrossanto em si, aplaca as cóleras e impõe toda forma de respeito.

Misérias da sensibilidade humana

Ora, no Calvário está a mais perfeita de todas as mães, chorando a ofensa feita a Deus com uma profundidade de sentido que não podemos sequer imaginar. Em face dessa cena compungente ao extremo, era de se presumir que a piedade humana naturalmente se enternecesse.

Se presenciássemos a crueldade de alguém que mata uma cachorra, abandonando à própria sorte os filhotes dela sem terem quem lhes procure alimento, sentiríamos uma impressão desagradável, teríamos pena. Pois somos assim, e nos enternecemos — às vezes exageradamente — com a dor sofrida pelos animais.

Então, se temos Fé e acreditamos que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e morreu na Cruz para nos salvar, que Nossa Senhora existiu e estava ao pé da Cruz, deveríamos ter nossa alma partida de dor e nada poderia nos falar tanto quanto essa situação. Entretanto, devido à miséria da sensibilidade humana, dá-se algo de inconcebível: os mesmos que se deixam comover pelo infortúnio de um bicho, diante da Paixão se tornam “glaciais”, e dizem: “Já sabemos disso, hããã…”. A Morte de Nosso Senhor é uma das estações da Via Sacra. Dos que a rezam, quantos não têm a atenção voltada para outros assuntos? E quantos, mais numerosos, nem sequer dela participam, alegando ocupações mais importantes?

Essa indiferença humana é tão marcante que, depois de apresentar esse quadro, muito judiciosamente o “Stabat Mater” acrescenta quatro orações nas quais pedimos a Deus algo que deveria borbulhar do fundo das almas: o sentimento de arrependimento, compunção, gratidão; o desejo de aproveitar para si os frutos dessa Redenção, daquelas lágrimas, daquele Sangue, para progredirmos na prática do bem.

Por que existe tal indiferença? Porque esse tema é bonito, elevado, santo, grandioso demais. E pela sua natureza decaída com o pecado original, o homem se tornou tão ruim que, em presença de algo muito sublime, santo e elevado, fica completamente insensível. Há todos os motivos para chorar e se compungir, mas não chora nem sente compunção.

Pedir a graça da verdadeira compunção

Cumpre termos presente que o autêntico movimento e piedade provém de um ato de Fé e amor a Deus, frutos da vida sobrenatural recebida por nós através da graça. Não a podemos adquirir por simples méritos de nossa natureza.

Assim, temos de pedir e desejar ardentemente essa graça insigne: que a Paixão de Nosso Senhor não seja para nós uma coisa morta, poeirenta e distante, ocorrida há séculos, e sim algo de vivo que nos diz respeito diretamente, e nos toque no fundo da alma como sucedeu a todos os santos.

Esse “tocar no fundo da alma” não significa apenas um mero sentimento de tristeza, mas também de solidariedade para compreendermos a inteira relação do holocausto de Jesus conosco, movendo-nos a um ato de genui­no amor a Deus e de correspondência às graças.

Nosso Senhor e a Santíssima Virgem sofreram todas essas dores na intenção de salvar os homens, e mesmo que fosse para resgatar só a mim, as teriam padecido. Eles me conheciam pessoalmente no momento desse sacrifício, pensaram em mim e o aceitaram para me redimir. Assim, hei de corresponder a tanta misericórdia, deixarei de pecar e progredirei na virtude. Quero salvar almas e implantar o Reino de Maria na Terra, como a plena retribuição àquilo que na Paixão foi realizado.

É, portanto, esse movimento de alma, sensibilizada pela Paixão, que devemos pedir nas orações.

A esse propósito, tomo a liberdade de evocar um exemplo pessoal. No meu tempo de menino, quando me preparava para me confessar e fazer a Primeira Comunhão, minha governanta alemã, “Fräulein” Mathilde, dizia-me: “Faça seu exame de consciência”.

Eu o fazia e escrevia as faltas num papel, pois era muito distraído e receava me esquecer. Chegando na igreja, a governanta me mandava ajoelhar e rezar o ato de contrição. Em seguida me perguntava:
— Você se arrependeu?
— Não…
— Então reze a Via Sacra!

Terminada a oração, a mesma pergunta:
— Você se arrependeu?

Eu perdia a face diante de tanta maldade que era a minha ausência de arrependimento, mas não queria fazer uma confissão sacrílega, e respondia: “Não”. Ela decretava: “Faça novamente a Via Sacra!”

Afinal, para conseguir me livrar de tanta Via Sacra, excogitava qualquer emoção ligeiramente “arrependitiva” e a governanta declarava: “Vai logo para o confessionário, senão essa contrição desaparece”.

E eu, compenetrado de minha tremenda vilania — pois era um homem que não se arrependia de nada, tendo de se confessar rapidamente antes que se esvaísse aquele mínimo sentimento de culpa —, pensava: “É verdade, deixa eu pegar minha ‘contriçãozinha’ no pulo; do contrário, não sei o que será de mim.”

Claro está, essa governanta possuía uma ideia errada do que era o sentimento de contrição. Na realidade, não se trata de simples choramingar nem de uma dor sensível, mas é tomar profundamente a sério os dados fornecidos pela Fé, cogitando, por exemplo, no seguinte: até a última gota do Sangue de Nosso Senhor teve de ser derramada, quando a lança perfurou o próprio símbolo do amor, que é o Sagrado Coração. Ele sofreu tudo por mim! Então, a que conclusões devo chegar?

Essa seriedade da alma é a compunção. Muitos santos a tiveram acompanhada de pranto, que é um grande dom: o das lágrimas. Mas este, embora muito conveniente, não é necessário para o autêntico arrependimento.

Portanto, em virtude dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos pedir a graça da verdadeira compunção. E nesse intuito — sem procurar um “calorífero emocional” — será mesmo louvável que recitemos piedosamente uma Via Sacra.

Tesouros de lógica e virtude

Compreendemos, então, como o “Stabat Mater” é bem constituído.

Ele coloca diante nós o mais comovente dos quadros, e nos leva a fazer pedidos de que esta situação trágica de fato nos comova, reconhecendo a fundo a maldade e a dureza humanas, insensíveis a tanta dor.

Eia Mãe fonte de amores, fazei que essas fortes dores eu sinta e convosco chore.

Quer dizer, que eu me solidarize convosco. Concedei à minha alma uma participação na vossa dor.

Fazei que a alma se me inflame, para que a Cristo Deus só ame e só busque o seu agrado.

Depois da solidariedade, implora-se algo mais alto: uma união tal que eu só ame a Ele, Cristo Jesus.

Santa Mãe, isso vos peço, fique o peito bem impresso das chagas do Crucificado.

Note-se como está bem graduado e pensado: solidariedade, amor exclusivo, participação no sofrimento d’Ele aqui na Terra. Quero ter impressas em mim as chagas de Jesus.

E por fim:
Fazei-me, enquanto viver, com meu Jesus condoer, convosco chorar deveras.

Pede-se a graça da perseverança, para que durante minha existência inteira essa disposição de alma permaneça viva. Amém.

Percebe-se, dessa forma, a maravilha de Fé, lógica, coerência e humildade contida nessa oração. E esta outra característica, não menos bela: posto diante de Cristo crucificado, o fiel não se dirige diretamente ao Redentor, mas a Nossa Senhora, sabendo ser Esta o caminho mais certo e seguro de chegar a Ele. Então, aceitando a mediação universal de Maria, roga-Lhe sua intercessão para que suas preces sejam ouvidas pelo Senhor Jesus.

Na verdade, o “Stabat Mater” é uma poesia tão singela, tão simples, que requer profunda análise para se compreender e admirar os tesouros de teologia e virtudes nela encerrados. v

ABSOLUTA MISERICÓRDIA

Em sua justiça infinita, Deus tem razão de queixa de todos os homens.

Apesar disso, deixou-nos sua Mãe como nossa própria Mãe, e Maria tem para conosco todas as ternuras, bondades, afagos, perdões, as suaves adaptações de que o amor materno é capaz. Sabendo que o afeto de Nossa Senhora por nós é maior que o de todas as mães terrenas juntas em relação a um filho único, podemos estar certos de que Ela nos obterá de Deus o perdão ao qual não temos  direito, a generosidade que não merecemos, a complacência à qual não fazemos jus por causa de nossas misérias.

Por piores e inúmeros que tenham sido nossos defeitos, se confiarmos e esperarmos na Virgem Santíssima, à nossa claudicante fidelidade corresponder á da parte d’Ela uma absoluta misericórdia.

Pelos méritos de seu imaculado sorriso junto a Jesus, Maria nos alcançará a bem-aventurança eterna.

 

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 47 (Fevereiro de 2002)

A mesma Mãe

Entre o Verbo encarnado e nós há algo em comum, algo insondavelmente precioso: temos a mesma Mãe! Mãe perfeita desde o primeiro instante de seu ser concebido sem mácula. Mãe santíssima de tal maneira que, em cada momento de sua existência, não cessou de corresponder à graça; apenas cresceu, cresceu e cresceu até alcançar inimaginável elevação de virtude.

Essa Mãe, d’Ele e nossa, tem misericórdia do filho mais esfarrapado, torto, desarranjado; e quanto mais desarranjado, torto e esfarrapado, maior sua compaixão materna.

Minha Mãe: aqui estou eu. Tende pena de mim hoje, agora, como sempre tivestes e, espero, sempre tereis. Purificai-me, ordenai-me, tornai minha alma cada vez mais semelhante à vossa e à d’Aquele que, como a mim, é dada a indizível felicidade de vos ter por Mãe!

Plinio Corrêa de Oliveira

Maria, o Paraíso do novo Adão

Ao pronunciar seu “fiat” para a Encarnação do Verbo, Nossa Senhora concebeu do Espírito Santo e passou a formar em suas imaculadas entranhas o Filho de Deus. A geração da humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ter sido admirável, a maravilha das gerações!

Jesus é considerado o novo Adão, que veio ao mundo para reparar o pecado cometido pelo primeiro homem. Ora, assim como este, enquanto permaneceu inocente, viveu em meio aos esplendores do Éden Terrestre, também Nosso Senhor teve seu Paraíso, incomparavelmente melhor e mais precioso do que aquele: o claustro virginal de sua Mãe.

Sim, Jesus se achava em estado paradisíaco durante os noves meses que passou no interior de Nossa Senhora, como num tabernáculo perfeitíssimo, onde encontrava alegrias, belezas e delícias de que eram pálidos símbolos as conhecidas por Adão. Além disso, numa inefável união de espíritos, o Filho ia revelando à Mãe, a respeito de Si próprio, todas as magnificências que fossem cabíveis a uma criatura entender. Nesse indizível convívio, Jesus elevava a alma de Maria a um inimaginável grau de formosura, tornando-a mais bela e luminosa do que todo o resto do universo!

Plinio Corrêa de Oliveira

A Torre de Marfim

Poucas imagens poderiam dar tanto a id eia de intransigência, quanto a torre de marfim. É a fortificação feita de material limpíssimo, alvíssimo, duríssimo, que é bem a representação da pureza e da santa intolerância. É a torre da integridade, da segurança de quem não tem falsas condescendências, e onde o homem se mostra superior em relação às vulgaridades e baixezas deste mundo.

Na criação, Nossa Senhora, que é a Arca da Aliança, a Porta do Céu, vista sob outro aspecto, bem merece ser chamada a Torre de Marfim, pelo fato de que Ela, entre todas as criaturas, levanta-se como uma torre. Só Ela teve a conceição imaculada; só Ela obteve o privilégio da virgindade antes, durante e depois do parto; só Ela correspondeu à graça de modo a ser objeto inteiro de toda a predileção e de toda a complacência de Deus.

Nas guerras de outrora, as torres eram dispositivos de defesa, a partir dos quais eram repelidos os ataques dos inimigos. Ora, a Santíssima Virgem se apresenta como uma fabulosa antítese de toda sorte de erro e de mal. Assim, Ela é bem uma torre, e uma torre de marfim, no meio de todas as degradações, misérias e corrupções que existem no mundo. Ela é inteiramente casta, Virgem entre as virgens, sempre obediente a Deus, Rainha de tudo e de todos.

Verdadeiramente, Nossa Senhora se ergue como uma torre na planície: torre puríssima de marfim, invulnerável ao pecado, indiferente a todas as investidas de seus adversários, voltada apenas para Deus.

 

Plinio Corrêa de Oliveira