Maternal e Onipotente Realeza

Imaculada pureza, inquebrantável prudência, insondável bondade, sublime sabedoria. Sobre cada uma das qualidades e virtudes da Mãe de Deus, temos visto comentários de Dr. Plinio que constituem verdadeiros hinos de abrasa- do amor. Desta vez, exprime ele seu enlevo e admiração pelo caráter régio da vocação de Maria.

 

Ao instituir a festa de Nossa Igreja glorificar a Deus por meio da realeza de sua Mãe Santíssima, honrando-A e venerando-A com este título, um dos maiores e mais belos que já lhe foram atribuídos. É, portanto, com imenso júbilo que devemos nos associar a essa celebração das prerrogativas régias de Maria, pensando e meditando nelas, não só para crescermos no conhecimento de tão excelsa Soberana, como também e sobretudo aumentarmos nosso amor e nossa devoção a Ela.

Mãe do Rei dos reis

Voltemos-nos em primeiro lugar para os fundamentos dessa realeza, quer dizer, as razões pelas quais Nossa Senhora é chamada de Rainha.

Antes de tudo, por ser a Mãe do Rei, isto é, de Nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele Rei  como  Deus,  Autor de toda a Criação. É Rei como Salvador e Redentor do gênero humano, pois este, perdido que estava, foi resgatado pelo sangue infinitamente precioso do Cordeiro Divino, o Qual se tornou assim seu dono e senhor. É Rei por direito de nascença, descendendo da linhagem monárquica de David. É Rei, ainda, como o mais excelente dos homens, no qual nossa natureza atingiu uma superioridade e uma plenitude inimagináveis.

Nossa Senhora o título de Rainha, e não apenas porque convinha a Ele ser filho de uma soberana, mas também porque foi dada a Ela uma participação efetiva no governo de Nosso Senhor sobre todo o Universo.

Com efeito, depois de sua triunfal Assunção, a Santíssima Virgem se viu exaltada pelas Três Pessoas Divinas, recebendo um completo domínio sobre as criaturas visíveis e invisíveis, os Anjos e os Santos no Céu, os homens vivos, as almas do Purgatório, bem como sobre os réprobos e demônios do Inferno. De tal sorte que, a partir de então, Deus executa todas as suas obras e realiza todas as suas vontades por intermédio de sua Mãe. Esta não é apenas o canal por onde passa o império do Rei, mas é a Rainha que decide por alvitre próprio, consoante os desígnios d’Ele.

Medianeira universal de todas as graças

Essa sapiencial disposição da Beatíssima Trindade, concedendo tal poder a Nossa Senhora, nos leva a considerar outro precioso fundamento da realeza mariana: a prerrogativa de Medianeira universal de todas as graças.

É sentença estabelecida na Teologia que, igualmente por vontade divina, todos os dons celestiais nos são outorgados por meio de Maria Santíssima, assim como todas as nossas súplicas e orações só chegam ao trono de Deus se apresentadas pelas maternas e compassivas mãos de sua Mãe.

Ele A constituiu dispensadora de seu inextinguível tesouro de graças e favores, e é por meio d’Ela que deseja atender nossos pedidos. Se todos os Anjos e Santos reunidos suplicassem algo em proveito de um fiel, sem invocar a intercessão de Maria, nada obteriam. Ela sozinha, pedindo por nós, tudo alcança.

Nossa Senhora é, em relação às nossas preces, um alto-falante incomparável a ecoar no Céu. Ela transforma nossas palavras, dá-lhes uma melodia, um som, o valor de um hino, purifica a nossa pronúncia de todas as marcas de nosso desregramento e de nossas insuficiências. E não contente com isso, acaba substituindo nossa voz pela d’Ela, pois nosso timbre, tão menos eminente que o de Maria, vale apenas como um sussurro que se une e se perde no cântico d’Ela ao Senhor da Criação. De tal maneira o foco da predileção divina se concentrou inteiro nesta Filha bem-amada.

Desse modo, a realeza de Nossa Senhora está numa conexão íntima com o fato de Ela ser o canal de todas as graças. Ela é Rainha de tudo, porque tudo é pedido e outorgado por meio d’Ela. Verdade esta corroborada pelo título de Onipotência Suplicante, com o qual os atributos régios da Santíssima Virgem ainda mais se explicam: para ser genuinamente soberana, importa que Ela tenha junto a Deus uma influência sem restrições. Então, porque pode tudo aos pés d’Aquele que tudo pode, por isso Ela é Rainha.

Rainha dos corações

Tomemos, agora, o significado da realeza de Maria vista num ângulo ainda mais acessível à consideração dos homens.

Assim como uma rainha terrena exerce o melhor de seu domínio sobre a parte mais nobre de seu reino, assim também o governo de Nossa Senhora reveste-se de particular excelência quando se trata de seu império sobre o gênero humano, a parcela mais importante de sua universal soberania. E como o que há de mais nobre no homem é a alma, podemos concluir que a plenitude da realeza da Virgem Santíssima se verifica no fato de Ela ser Rainha de nossas almas.

Este maravilhoso predicado mariano foi superiormente exaltado por São Luís Grignion de Montfort, ao invocá-La sob o título de Rainha dos corações. Como coração entende-se, na linguagem das Sagradas Escrituras, a mentalidade do homem, sobretudo sua vontade e seus desígnios, e não a mera sensibilidade, segundo a simbologia moderna.

Assim, Nossa Senhora é Rainha  dos corações enquanto tendo um poder sobre a mente e a vontade dos homens. Este império, Maria o exerce, não por uma imposição tirânica, mas pela ação da graça, em virtude da qual Ela pode liberar os homens de seus defeitos e atraí-los, com soberano agrado e particular doçura, para o bem que Ela lhes deseja.

Esse poder de Nossa Senhora sobre as almas nos revela quão admirável é a sua onipotência suplicante, que tudo obtém da misericórdia divina. Ela nos governa com uma tão extrema suavidade que Ele, como Eterno Juiz, acabaria não podendo fazê-lo em igual medida. Tão augusto é este domínio maternal sobre todos os corações, que ele representa incomparavelmente mais do que ser Soberana de todos os mares, de todas as vias terrestres, de todos os astros do céu. Tal é o valor de uma alma, ainda que seja a do último dos homens!

Reinar nos corações, para reinar sobre o mundo

Dessas consoladoras considerações depreende-se, entretanto, um grave corolário. Se é verdade que Nossa Senhora nunca é mais plenamente Rainha do que quando reinando nos corações e na sociedade humana, cumpre observar que, lamentavelmente, é também verídico que pouco se nota no mundo contemporâneo uma efetiva aceitação dessa realeza. Cada vez mais foi ele rompendo com Nosso Senhor Jesus Cristo, com Maria Santíssima, desprezando e relegando a segundo plano os ensinamentos e ditames da Santa Igreja. O resultado é esse auge de desordem em que hoje vivemos.

Para que Nossa Senhora volte a reinar nas almas e sobre o gênero humano, é necessário que cada devoto d’Ela tenha saudades das épocas católicas em que brilhou essa plenitude da realeza mariana; que tenha, sobretudo, esperança de uma nova era católica que virá, daquele Reino de Maria profetizado e descrito por São Luís Grignion nas páginas de seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, em que todos os corações e toda a civilização de bom grado estarão submetidos ao doce império da Mãe de Deus.

Mas, será só isso? Devemos viver apenas de uma grande saudade e de uma grande esperança?

Não. Temos a possibilidade, cada um dentro de si mesmo, de proclamar o Reino de Maria,  de  dizer:  “Em mim, ó minha Mãe, Vós sois a Rainha. Eu reconheço o vosso direito e procuro atender as vossas ordens. Dai-me lúmen de inteligência, força de vontade, espírito de renúncia para que as vossas determinações sejam efetivamente acatadas. Ainda que o mundo inteiro se revolte e Vos negue, eu Vos obedeço”. Desse modo, haverá sempre no meio dessa torrente de desordem, de pus e de pecado, muitos brilhantes puros e adamantinos, ou seja, almas em que Nossa Senhora continua a reinar, corações que são  outros tantos enclaves d’Ela na Terra, a Ela consagrados e a partir dos quais poderá estender seu domínio uma vez mais sobre o resto do mundo.

Rainha indestronável

Algum espírito cético poderia objetar: “Mas, Dr. Plinio, pelo que o senhor acaba de afirmar, tem-se a impressão de que Nossa Senhora, em relação ao mundo de hoje, faz um pouco o papel de uma rainha no exílio, dessas ex-soberanas que vivem em algum canto, longe de seus antigos reinos. Poderão levar uma existência com certo luxo, com certo esplendor até, porém já não exercem verdadeiro domínio. Se, como o senhor disse, Nossa Senhora é rejeitada por uma grande parcela da humanidade, Ela será portanto uma Rainha destronada”.

Eis aí um grande equívoco. Onipotência suplicante e tesoureira das misericórdias divinas, Nossa Senhora é Rainha indestronável. E quando parece não dominar, é porque, em última análise, está exercendo outra de suas prerrogativas régias: a de censurar e punir aqueles que recusam as suas benevolências. Se qualquer soberana, por mais compassiva e materna que seja, tem o direito de repreender seus súditos rebeldes e infiéis, a “fortiori” o terá a Rainha do Céu e da Terra. E pode haver pior castigo do que este de não estar sujeito ao governo e proteção da melhor de todas as Mães?

Na verdade, Nossa Senhora possui os meios de obter de Deus que sempre A atende graças suficientes e até superabundantes para que todas as almas se salvem. Estas, porém, em virtude do livre arbítrio, conservam a liberdade de não corresponderem a essas graças. E se a Santíssima Virgem, apesar de sua insondável solicitude para com tais almas, permite que d’Ela permaneçam afastadas, há de ser, em última análise, por uma punição inteiramente conforme com o exercício efetivo de seu poder de Rainha. E se somos castigados por Ela, Maria continua a ter sobre nós todo o domínio que Ela entenda. Nosso miserável esperneio, nossas péssimas recusas, não são senão movimentos que têm eficácia na medida em que Ela, por superiores desígnios de sua justiça, o tolere.

“Por fim, meu Imaculado Coração triunfou!”

Contudo como nunca será demais repetir e salientar Nossa Senhora é Rainha e Mãe de inesgotáveis misericórdias. Sabendo, como Ela só, que Deus não deseja a morte do pecador mas que ele viva, a Santíssima Virgem quer a salvação de todos os homens. E pode, por uma dessas maravilhas de sua inesgotável clemência, alcançar de Nosso Senhor uma forma super-excelente e irresistível de ação da graça, por onde as almas rebeldes se deixem tocar e se convertam, como que não querendo, mas de fato completamente livres, à maneira de São Paulo no caminho de Damasco. Tão iluminadas e tão auxiliadas do alto, que não têm sequer a tentação de uma recaída.

Devemos, então, pedir a Nossa Senhora que atue assim sobre as almas duras e empedernidas, para que estas se abram à sua realeza toda feita de suavidade e benevolências. Que Ela quebre e remova, do fundo desses corações rebeldes, as resistências abjetas, as paixões desordenadas, as vontades péssimas.

E tenhamos inteira confiança de que está nas mãos dessa celestial Soberana o conquistar um número assombroso de almas, o submeter os impenitentes, aqueles que até agora se fizeram surdos aos seus apelos. De maneira que, num dia não muito distante, poderá Ela proclamar: “Por fim – segundo a promessa que fiz em Fátima – Meu Imaculado Coração Triunfará”.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

CLEMÊNCIA INDIZÍVEL

A realeza que Nossa Senhora exerce sobre o gênero humano não é a do juiz, mas a da advogada, isto é, d’Aquela que não tem por missão julgar e punir os pecadores, mas a de os defender. Por isso  tem Ela para conosco toda sorte de predisposições favoráveis, e sempre nos atende com inefável bondade.

Entretanto, a alma moderna, muito atribulada e tratada com terrível dureza pela atual tirania do demônio, encontra certa dificuldade em compreender o verdadeiro sentido da clemência de Nossa   Senhora.

Tanto mais quanto uma falsa piedade apresenta esta misericórdia de modo alvar e adocicado, como se ela fosse uma espécie de cumplicidade com o erro. Ora, a ternura e a bondade de Maria não  consistem numa vil condescendência para com quem praticou o mal, e sim na materna e invariável disposição de lhe conceder as graças necessárias para abandonar o erro e o pecado.

É nesse sentido que se deve entender a clemência de Nossa Senhora. E enquanto tal, ela é única, suprema e indizível.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 41 (Agosto de 2001)

Estarei sempre presente entre vós

Não posso imaginar como terá sido o luto da natureza com Nossa Senhora morta… Mas imagino-A saindo da sepultura com glória delicadíssima, suavíssima, virginalíssima e maternalíssima.

Ressurrecta, vai subindo ao Céu. Enquanto Nosso Senhor, em sua Ascensão, manifestava grandeza e bondade, Ela exprime mais bondade do que grandeza.

Todos os presentes, vendo seu sorriso materno, compreendem-nA cada vez mais e são atraídos por Ela, à medida em que Maria Santíssima vai se elevando ao Céu, até o momento em que Ela desaparece e uma claridade fica espalhada sobre tudo e sobre todos, como quem diz: “Eu, na realidade, fiquei. Rezai, porque estarei sempre presente e unida a vós”.

Lentamente aquilo se desfaz, deixando lembranças que durarão por toda a eternidade…

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/10/1971)

Lágrimas, milagroso aviso

Em 1972, uma fato despertara interesse nos católicos do mundo inteiro: uma imagem de Nossa Senhora de Fátima vertera lágrimas em Nova Orleans, Estados Unidos. A fim de atender aos anelos de seus leitores a este respeito, Dr. Plinio serviu-se de sua tribuna semanal na “Folha de São Paulo” para analisar o acontecimento.

Sob a direção imediata [da Irmã Lúcia], um artista esculpiu duas imagens, que correspondem o quanto possível aos traços fisionômicos com que a Santíssima Virgem apareceu em Fátima. Ambas essas imagens, chamadas “peregrinas”, têm percorrido o mundo, conduzidas por sacerdotes e leigos. Uma delas foi levada recentemente a Nova Orleans. E ali verteu lágrimas.

O Pe. Romagosa(1) tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo Pe. Joseph Breault, M. A. P., ao qual está confiada a condução da imagem. Entretanto, sentia ele funda relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao outro sacerdote que o avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir.

O Pe. Breault, notando alguma umidade nos olhos da Virgem peregrina no dia 17 de julho, telefonou ao Pe. Romagosa, o qual acorreu junto à imagem às 21:30, trazendo fotógrafos e jornalistas. De fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi logo fotografada. […]

Às 6:l5 da manhã seguinte, o Pe. Breault telefonou novamente ao Pe. Romagosa, informando-o de que desde as 4 horas da manhã a imagem chorava. O Pe. Romagosa chegou pouco depois ao local, onde, diz ele, “vi uma abundância de líquido nos olhos da imagem, e uma gota grande de líquido na ponta do nariz da mesma”. Foi essa gota, tão graciosamente pendente, que a fotografia divulgada pelos jornais mostrou a nosso público.

O Pe. Romagosa acrescenta que vira “um movimento do líquido enquanto surgia lentamente da pálpebra inferior”.

Mas ele queria eliminar dúvidas. […] Cessado o pranto, o Pe. Romagosa retirou a coroa da cabeça da imagem: a haste metálica estava inteiramente seca. Introduziu ele, então, no orifício respectivo, um arame revestido de papel especial, que absorveria forçosamente todo líquido que ali estivesse. Mas o papel saiu absolutamente seco.

Ainda não satisfeito com tal experiência, introduziu no orifício certa quantidade de líquido. Sem embargo, os olhos se conservaram absolutamente secos. O Pe. Romagosa voltou então a imagem para o solo: todo o líquido colocado no orifício escorreu normalmente. Estava cabalmente provado que do orifício da cabeça — único existente na imagem — nenhuma filtração de líquido para os olhos seria possível.

O Pe. Romagosa ajoelhou-se. Enfim ele acreditara.

* * *

O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda, na previsão do castigo que virá para os homens do século XX se não renunciarem à impiedade e à corrupção.

Ainda é tempo, pois, de sustar o castigo, leitor, leitora! Se vier, tenho por lógico que haverá nele, pelo menos, uma misericórdia especial para os que, em sua vida pessoal, tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria.

É para que minhas leitoras, meus leitores, se beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o presente artigo…

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído da “Folha de São Paulo” de 6/8/1972)

1) Pe. Elmo Romagosa, autor do artigo “As lágrimas da imagem molharam meu dedo” publicado em “Clarion Herald” — semanário de Nova Orleans distribuído em onze paróquias do Estado de Louisiana.

Nossa Senhora das Neves

É próprio de Maria Santíssima violar todas as regras de distância que há entre o Céu e a Terra e aparecer a um Papa. Como também é próprio a Ela indicar o lugar para algo maravilhoso, escolhendo para isso a neve, que representa o refrigério no meio do calor.

No verão horroroso de Roma, aparece um lugar coberto de neve. Ali Nossa Senhora quer que se construa uma igreja em seu louvor.

Este é bem o papel de Nossa Senhora em nossa vida: a neve em meio ao calor de nossas batalhas, provações e sofrimentos.

Em meio à poeira desta vida, a Santíssima Virgem é a neve alvíssima, imaculada, que refrigera e nos dá um antegozo do Céu.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/8/1965)

Modelo de santidade

Nossa Senhora é para nós o exemplo perfeito de santidade. Ou seja, se nos modelarmos inteiramente segundo Ela, alcançaremos a completa semelhança com Nosso Senhor Jesus Cristo. Se A tomarmos como ideal, acreditarmos na eficácia da devoção a Ela, e tudo fizermos em estreita união com Maria, a Ela nos assemelharemos.

Assim, devemos pedir a Nossa Senhora, com todo o empenho, a graça de uma profunda compreensão de suas altíssimas virtudes, as quais havemos de imitar. E que Ela nos faça participar, em grau sempre crescente, da sua insondável fortaleza. Maria é a Virgem forte e combativa, a Virgem intransigente e absolutamente inflexível diante do demônio, do mundo e da carne. Supliquemos a Ela essa intransigência, antes de tudo contra o que há de mal em nosso interior; em segundo lugar, contra o que há de mal fora de nós — tendo em vista nossa própria santificação.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 76 (Julho de 2004)

A verdadeira paz interior

Evocando o sublime exemplo da Santíssima Virgem durante a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, Dr. Plinio nos ensina que a verdadeira paz não está na ausência da dor, das angústias nem da luta, mas na tranqüilidade que brota da ordem.

Na Ladainha Lauretana, Nossa Senhora é invocada como a Regina Pacis, Rainha da Paz. Procuremos analisar o significado mais profundo desse título que a devoção católica atribuiu à Santíssima Virgem.

A paz referida nessa invocação pode ser considerada sob dois aspectos. Em primeiro lugar, a do íntimo das almas; segundo, a exterior, isto é, da sociedade.

Conceito errôneo de paz interior

Para compreendermos a primeira acepção, devemos antes tomar em conta que diversos conceitos e palavras atinentes a assuntos de piedade sofreram, ao longo dos últimos tempos, ponderosas distorções no modo de defini-los.

Assim, costuma-se julgar que a paz interior de uma pessoa consta de dois elementos. Ela não é assaltada por nenhuma tentação, nem se vê, portanto, às voltas com lutas internas. Sua vida espiritual é tranqüila, distendida, agradável, sem problemas. Essa pessoa se assemelharia a alguém que está sentado dentro de um helicóptero em ascensão, no qual, sem qualquer esforço, chega ao céu com toda a paz.

Em conseqüência, ela não tem nenhuma cruz ou sofrimento. Não tem angústia a propósito de doenças, de carências materiais ou por dificuldades familiares. Para ela, tudo transcorre numa serena e perfeita ordem, sem atritos nem adversidades com os quais tenha de lutar.

Tal é o conceito corrente de paz interior.

A paz externa, fruto da prosperidade econômica?

Vejamos agora a idéia comum que se tem de paz externa.

O Papa Pio XII tinha como lema do seu brasão pontifício esta frase tirada de Isaías (32, 17): Opus Iustitiæ Pax — A obra da justiça é a paz. Ora, segundo a noção hoje propalada, a paz não é a obra da justiça, da virtude, mas de uma certa prosperidade materialista. Importa, antes de tudo, a estabilidade econômica, as contas bancárias de todos conservadas e nutridas, as aposentadorias asseguradas, as pessoas alimentadas, com o conforto e bem-estar diários garantidos. Não há brigas por questões pecuniárias, todos vivem alegres e tranqüilos. Então a paz reina na nação.

Quando todos os povos se encontrassem nessa feliz situação, alguns imaginam que não haveria confrontos internacionais, nenhum país desejaria agredir outro e a população mundial levaria uma existência calma e pacífica.

A Rainha da Paz não teria padecido angústias

De acordo com esse equivocado conceito, a devoção a Nossa Senhora Rainha da Paz consistiria em cultuar a Mãe de Deus enquanto protetora desse róseo estado de coisas, pois é o modelo da pessoa que nunca teve provações, angústias, dores. Ela foi concebida sem pecado original e, portanto, sua vida inteira foi muito calma, sem dificuldades. Teve um Filho e um marido muito bons, residiu numa pequena cidade chamada Nazaré, onde não havia atrito de nenhuma espécie, e Ela passava seus dias inteiramente desanuviada.

Verdade é que seu Filho, a certa altura, sofreu e Maria, durante a Paixão, experimentou algum desgosto, do qual logo se recuperou, resignada. Pouco depois Ela O viu subir aos céus, e se alegrou ao perceber o Filho bem colocado. Acabaram-se os problemas, Ela passou o resto de sua vida na tranqüilidade doméstica, sob os filiais cuidados do apóstolo João.

Esse é o ideal de certas mentalidades, quando falam de Nossa Senhora da Paz.

Um predicado que não exclui lutas e sofrimentos

Ora, a procura de uma correta interpretação desse título mariano nos levaria a considerar que a primeira notícia de Nossa Senhora nas Sagradas Escrituras no-La mostra como adversário do demônio, e como Aquela que esmagaria a cabeça da serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher”, disse Deus à víbora, entre tua descendência e a dela” (Gn, 3, 15). Ou seja, há uma atitude fundamental de repulsa e de combate ao mal naquela que é invocada como Rainha da Paz.

Além disso, como se infere das palavras divinas, todas as lutas travadas pela Igreja e pelos católicos contra os adversários da Fé têm na mulher, isto é, em Nossa Senhora, o primeiro exemplo de coragem e de força para vencê-los.

Então, se a paz fosse simplesmente ausência de luta, como a Virgem Maria seria a Rainha da Paz?

Mais ainda. Se a paz consiste em não ter sofrimento nem angústias, como explicar as palavras de Simeão dirigidas a Nossa Senhora, segundo as quais um gládio de dor transpassaria o coração d’Ela?

Na verdade, Maria sofreu um dilúvio de dores na Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela viu surgirem e crescerem as antipatias, as animosidades e o ódio em relação a seu Divino Filho; d’Ele ouviu a predição de que sofreria e morreria crucificado, e não O abandonou um só instante, acompanhando-O e partilhando de seu martírio até o Consummatum est no alto do Calvário, até a deposição do Corpo sagrado na sepultura. E tudo Ela sofreu numa atitude de luta e de paz, para a redenção do gênero humano, para esmagar o demônio e vencer a morte.

Assim, a autêntica noção de paz não exclui a luta nem o sofrimento. E onde está a Rainha da Paz, está a inimizade contra a serpente e contra o mal.

Possui a paz quem deseja a ordem

O que é a paz?

Segundo a definição de Santo Agostinho, a paz é a tranqüilidade da ordem. Quando uma alma possui firme propósito de se manter em ordem, custe o que custar, embora enfrentando as maiores dificuldades, angústias e perturbações, ela tem a paz. Por isso diz São Francisco de Sales que Nosso Senhor Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras, não perdeu a paz nem a alegria na fina ponta de sua alma, porque estava disposto continuamente a cumprir seu dever.

Do mesmo modo podemos afirmar que Nossa Senhora não deixou de ter paz nem mesmo no Calvário, pois seu espírito estava em ordem, realizando sua missão de Co-redentora da humanidade.

Portanto, quando a ordem vence e incute, quer interna, quer externamente, sua tranqüilidade própria, ainda que em meio a uma série de lutas e sofrimentos, a paz impera. Tanto mais vigorosa e resoluta, quanto maiores as dificuldades em face das quais deve se afirmar. Esse conceito se aplica às instituições, aos povos e à vida espiritual de cada pessoa.

Paz de fundo de alma, mesmo na “amargura muito amarga”

Aplica-se, sobretudo, como acima evocamos, ao Divino Redentor e à sua Mãe Santíssima, em cujos lábios a piedade católica colocou aquelas palavras do profeta: “Eis na paz minha amargura muito amarga” (Is 38, 17).

Ao tecer essas considerações, longe estou de pretender que não se deve apreciar as épocas de tranqüilidade, ou as horas de distensão e bonança que a Providência nos permite desfrutar em nossa vida. Antes, devemos pedir a Deus, por meio de Nossa Senhora, que nos conceda essas épocas de “respiração”, onde não haja dores ou dificuldades. Contudo, não podemos fazer disso o ideal da paz, pois sabemos que são momentos de consolações no meio de lutas e trabalhos. Como os tiveram, aliás, Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe em Nazaré, em casa de Lázaro, Maria e Marta, etc.

Assim, ao invocarmos a Rainha da Paz, peçamos a Ela que imprima bem vivo em nossa alma o amor à paz verdadeira que é a tranqüilidade da ordem, e não a ausência da dor e da luta. E quando nos acharmos opressos por dificuldades, roguemos-Lhe que nos conceda, complementarmente à paz interior alicerçada na ordem, alguma distensão, dispondo circunstâncias propícias que nos façam respirar um pouco na vida.

É um pedido legítimo que, estou certo, Ela atenderá com a abundância de sua maternal misericórdia.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 10/7/1964)
Revista Dr Plinio 124 (Julho de 2008)

AS VIRTUDES DE MARIA, remédio para nossa alma

Tesoureira das dádivas do Senhor e Mãe de Misericórdia, Nossa Senhora pode obter para nós a graça da santificação, apesar de todas as nossas carências e debilidades. Ao  comentar uma bela oração escrita por São Luís Grignion de Montfort, dirigida a Maria, Dr. Plinio evidencia uma importante realidade: a devoção à Santíssima Virgem como  meio necessário para a nossa salvação.

Atendendo o filial pedido que me fazem, passo a comentar um trecho da prece composta por São Luís Grignion de Montfort, “Oração a Maria para seus fiéis escravos”:

Ó Maria, minha querida Mãe, (…) dou-me a vós todo inteiro na qualidade de escravo perpétuo, sem nada reservar para mim ou para outrem. Se vedes em mim qualquer coisa que não Vos pertença, eu Vos suplico de tirá-la agora e de Vos tornar Senhora absoluta de tudo o que possuo; de destruir e desarraigar e aniquilar em mim tudo o que desagrada a Deus; de implantar, promover e operar tudo o que Vos agrada. Que a luz de vossa fé dissipe as trevas de meu espírito; que vossa humildade profunda tome o lugar de meu orgulho; que vossa contemplação sublime suste as distrações de minha imaginação vadia; que a vossa vista contínua de Deus encha minha memória de sua presença; que o incêndio de vosso Coração dilate e abrase a tibieza e a frieza do meu; que vossas virtudes substituam meus pecados; que vossos méritos sejam meu ornamento e suplemento perante Deus.

Enfim, mui querida e bem-aventurada Mãe, fazei, se for possível, que não tenha outro espírito senão o vosso para conhecer Jesus Cristo e suas divinas vontades; que não tenha outra alma senão a vossa para louvar e glorificar o Senhor; que não tenha outro coração senão o vosso para amar a Deus com um amor puro e ardente como Vós.

Foco de virtudes que sanam nossos defeitos

Nesse trecho transparece a unção e o fogo dos melhores textos de São Luís Grignion. Ele se apresenta e fala como se fosse uma alma pecadora, contendo em si inúmeros defeitos que deseja corrigir, e cuja solução se apóia no seguinte princípio: Sendo Nossa Senhora, por disposição divina, o receptáculo de todas as virtudes que possam reluzir numa criatura humana, Ela é o canal dessas excelências a serem distribuídas pelo universo. Dessa sorte, cada perfeição de Maria produz como que um efeito medicinal sobre a nossa lacuna moral oposta: sua pureza é dotada de uma capacidade de extinguir nossa impureza; sua humildade, de extirpar nosso orgulho; sua piedade, de erradicar nossa falta de devoção; seu recolhimento, de eliminar nossa dissipação.

Portanto, Nossa Senhora se assemelha a um foco do qual se difundem graças invulgares e dons especiais, próprios a vencerem nossas mazelas. Então, é legítimo dirigirmos uma oração a Ela pedindo-Lhe infunda em nós suas virtudes, para que estas nos transformem.

Como as curas do Divino Mestre no Evangelho

Revela-se-nos aqui o princípio da atuação intensa e sanativa da graça nas almas.

De fato, obedecendo aos desígnios de Deus, a graça pode descer sobre uma alma e num minuto modificá-la por completo, assim como, na expressão da Escritura, uma pedra é capaz de se tornar outro filho de Abraão. Quer dizer, pode tomar a pessoa mais radicada num defeito, mais tíbia, mais entregue a um vício, na situação mais aflitiva e miserável, e num momento livrá-la de todos esses males, desde que peça e seja ouvida por Nossa Senhora.

Assim, desejosa de se corrigir, mas acovardada diante da imensidade de suas imperfeições, contra as quais se verificam vãos todos os seus esforços, ela se volta para Maria Santíssima, rogando o socorro de graças superabundantes e necessárias para a sua conversão.

Daí São Luís Grignion formular essa prece pela qual o homem fraco, tíbio, pecador, em cujo fundo de alma lateja o anseio das mais altas virtudes, pode realmente resolver seu problema e encontrar os meios para galgar a elevada montanha da santidade.

Devemos, pois, pedir a Nossa Senhora uma atuação d’Ela em nosso coração, como eram as de Nosso Senhor no Evangelho ao curar os doentes. Na verdade, cada milagre daqueles significava uma ação divina sobre um organismo que apresentava um defeito, uma disfunção ou algo do gênero, remediando-o num instante. E quando os evangelistas narram tais curas, deixam ver que Nosso Senhor, restabelecendo os corpos, fazia entender que Ele podia sanar as almas, sendo cada uma daquelas debilidades físicas o símbolo de uma carência moral.

O socorro de Nossa Senhora, quando menos se espera

Exemplo magnífico dessa influência do sobrenatural numa alma temos no fato da conversão de São Paulo Apóstolo. Ferrenho perseguidor da Igreja nascente, em determinado momento, na estrada de Damasco, é ofuscado por uma luz, cai ao chão e, recompondo-se, a primeira pergunta que brota de seus lábios é: “Senhor, que quereis que eu faça?”. Quer dizer, ele se pôs inteiramente às ordens da graça para operar de acordo com a vontade dela.

Como este, inúmeros exemplos há na Igreja de pessoas que se convertem e mudam radicalmente, por uma ação fulminante da graça. Ouviram uma palavra, perceberam um gesto, tiveram um pensamento que as tocou e transformou por inteiro.

Então, se confiarmos na oração, se compreendermos a sua necessidade e sua eficácia, temos a possibilidade de obter os frutos espirituais mais inesperados e magníficos. Sobretudo se nos compenetrarmos de que essa prece é dirigida a Deus por meio de Maria, nossa Mãe de misericórdia e nossa vida. Sem Ela não haveria valor, nem doçura nem esperança em nossa existência. Com Ela, nossa vida é plena de vida, nossas doçuras são repletas de doçura e nós, em qualquer situação na qual nos achemos, devemos ter esperanças superabundantes e imensas. Nossa Senhora se compadece de nós e nos atende, pois é nossa Mãe. Em dado momento, nos tomará pelos braços e nos conduzirá à santidade a que somos chamados.

Cumpre considerar, entretanto, que o modo de Nossa Senhora exercer sua bondade para conosco é insondável. Assim, não raro as almas que recebem graças fulminantes são as mais provadas, depois de caminharem de provação em provação até um ponto onde não entendem mais o que se passa com elas, encontrando-se numa espécie de beco-sem-saída da perplexidade e do sofrimento. Nessas horas se dão as ações admiráveis de Maria em nosso favor.

Quantas vezes tenho visto almas nessas encruzilhadas da vida espiritual, tão aflitas e atormentadas que chegam a chorar. Observando-as, sinto o desejo de dizer a cada um: “Meu caro, espere, Nossa Senhora virá quando você menos imagina e vai socorrê-lo”. E com freqüência, no momento em que se tem a impressão de não haver saída para mais nada, a pessoa recebe uma graça magnífica e tudo se resolve pelas mãos de Maria, de um modo mais esplêndido do que jamais se poderia esperar.

Sacrossanta importunidade

É necessário, pois, tomar em consideração essa preciosa verdade: podendo rezar e possuindo uma Mãe como Nossa Senhora, nunca, nunca, nunca se deve ter desespero nem sequer a menor dúvida a respeito do auxílio do Céu. A quem bate, se abrirá; a quem pede, se dará. A nós de sermos insistentes na oração.

Lembremo-nos da célebre parábola do Evangelho, onde um homem se achava deitado na cama com seus filhos e aparece um vizinho importuno a lhe bater à porta, pedindo pão. O que já havia se recolhido não queria atender. Porém, o pedinte tanto insistiu que o pai de família se levantou, abriu a porta e lhe deu o pão. Comentário de Nosso Senhor: “Se esse homem não fosse importuno, não teria sido atendido”.

Portanto, a virtude aconselhável ante essas palavras é a da sacrossanta importunidade. Precisamos fazer violência ao Céu: pedir, pedir, pedir; bater, bater, bater. Seremos ouvidos, por maiores que sejam nossas dificuldades.

Pedir as graças próprias à nossa vocação

E o seremos, de maneira especial, no tocante ao nosso desejo de corresponder à vocação de perfeitos servos de Nossa Senhora.

Nesse sentido, poder-se-ia perguntar se caberia algum pequeno aditamento, repassado de enlevo, veneração e ternura, a essa prece de São Luís Grignion. Parece-me que sim, entendido nos seguintes termos.

Em uma instituição ou movimento católico semelhante ao nosso, o conjunto apresenta mais virtudes do que a soma das qualidades morais de seus membros. Compreende-se, pois ele recebeu uma série de graças que costumam estar em nosso ambiente, pairar em  nosso meio, como patrimônio do grupo. Elas são o tesouro do qual vivemos, e não significam outra coisa senão a própria projeção da misericórdia de Maria Santíssima entre nós, comunicando-nos suas virtudes e nos convidando continuamente a pedir essas graças.

Então, se Nossa Senhora nos chama para pertencer ao movimento, é natural que supliquemos a Ela nos obtenha os dons e dádivas celestiais específicos para o cumprimento dessa missão à qual fomos destinados. Dádivas e dons estes de que seu Coração Imaculado está repleto, aguardando nossa prece feita, como disse, com ternura, veneração e enlevo profundos.

Essa seria, a meu ver, uma forma magnífica de completar essa linda oração de São Luís, de maneira a alcançarmos as graças para sermos conformes a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, atingindo o auge da perfeição em fazer a sua sacrossanta vontade enquanto seus filhos e servos amorosos.

Mater et Décor Carmeli

Festejamos Nossa Senhora do Carmo, a título especial Rainha dos Profetas, “Mater et Décor Carmeli” – Mãe e Esplendor do Monte Carmelo.

Ela é a Mãe porque protege todos aqueles que lutam sob seu estandarte. E o melhor da proteção é acalentar suas almas com a esperança da vitória.

“Décor”, decoro é, propriamente, a beleza da dignidade. É o belo majestoso, distinto, diferenciador da grandeza que atrai a si as almas verdadeiramente capazes de compreendê-la.

Nossa Senhora reina maternalmente, mas decorosamente. Ela é a beleza do gênero humano.

Do alto desse monte, o cume profético por excelência, Maria Santíssima reina e sorri para o universo, governa a História e infunde terror aos demônios.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/7/1982)

Fátima, profetismo e mudança de mentalidade

A devoção a Nossa Senhora de Fátima se desdobra em duas outras invocações: Nossa Senhora do Carmo e Imaculado Coração de Maria. Assim, naquele conjunto de fatos nos quais se inserem as aparições em Fátima, a Santíssima Virgem quer ser venerada também por meio desses dois títulos. Que relação têm eles com o assunto Fátima?

Nossa Senhora do Carmo está relacionada com o Monte Carmelo e, portanto, com o Profeta Elias e toda a família de almas que, passando por São João Batista e chegando  até São Luís Grignion de Montfort, representam o profetismo dentro da Igreja. Isso representa um convite a que tenhamos o espírito profético.

Outro é o significado de Nossa Senhora apresentar-Se sob o título de Imaculado Coração de Maria. O coração simboliza a mentalidade. Essa devoção supõe a renúncia à  nossa mentalidade revolucionária para assumirmos a participação na mentalidade do Imaculado Coração de Maria. Quer dizer, é o esmagamento do orgulho e da  sensualidade que são as duas raízes da Revolução. Sem dúvida, a Virgem Maria brilhou de um modo perfeito em todas as virtudes, mas aquelas que, a justo título, os  pregadores costumam pôr mais em realce são a humildade e a pureza. Isso corresponde, portanto, a assumir uma mentalidade contrarrevolucionária.

Há, pois, um sentido profundo na jaculatória que costumamos rezar: “Cor Sapientiale et Immaculatum Mariæ, opus tuum fac – Ó Coração Sapiencial e Imaculado de Maria,  realizai a vossa obra”.

O Coração Sapiencial de Maria é a mentalidade cheia de sabedoria da Mãe de Deus, oposta à demência revolucionária. Poder-se-ia dizer: “Coração contrarrevolucionário de  Maria”. “Opus tuum fac” significa que a completa mudança da alma para assumir a mentalidade de Nossa Senhora depende de uma iniciativa d’Ela. Corresponde, portanto, a pedir à Rainha dos corações que faça a obra específica de mudar a mentalidade dos homens.

Então, se quisermos ter uma devoção inteiramente refletida, ponderada a Nossa Senhora de Fátima, devemos desenvolver essa reflexão: Nossa Senhora de Fátima  acompanhada com uma impostação de alma rumo ao profetismo representado na Rainha do Carmo, e ao Sapiencial e Imaculado Coração de Maria enquanto Aquela que age nos corações dando às pessoas a verdadeira mentalidade que devem ter.

A realeza de Nossa Senhora, fato incontestável em todas as épocas da Igreja, veio sendo explicitada cada vez mais a partir de São Luís Grignion de Montfort, até aquele 13 de  julho de 1917, quando Maria anunciou em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. É uma vitória conquistada pela Virgem, é o seu calcanhar que outra vez  esmagará a cabeça da serpente, quebrará o domínio do demônio, e Ela, como triunfadora, implantará seu Reino. Portanto, devemos confiar em que Maria já determinou atender as súplicas de seus filhos contrarrevolucionários, e que Ela, Soberana do universo, pode fazer a Contra-Revolução conquistar, num relance, incontável número de almas. Nossa Senhora Rainha haverá de expulsar desta Terra os revolucionários impenitentes, que não querem atender ao seu apelo, de maneira que um dia Ela possa dizer: “Por fim o meu Coração Imaculado triunfou!”

Plinio Corrêa de Oliveira