Meiguice e bondade extremas

Um fato ungido pelo perfume dos antigos tempos em que a Fé predominava nas almas, tocou-me de modo especial, e merece ser por nós comentado. O episódio milagroso ocorreu em Prato, na Toscana, em 1484, e dele originou-se a expressiva invocação de Nossa Senhora das Prisões.

Numa certa manhã daquele ano, um menino sentiu-se atraído por uma cigarra e correu atrás dela, até se deter diante do muro da prisão de Prato, no qual se achava estampado lindo quadro da Santíssima Virgem.

Esta é, aliás, uma das belas coisas a se admirar na Itália: as pinturas e imagens da Madonna, expostas um pouco por toda parte, em Roma e noutras cidades italianas. Nos ângulos externos das casas, sobre as portas ou no centro das fachadas, de repente o transeunte se surpreende com um oratório desses, ornado de flores, sob as refulgências de pitoresco lampadário, etc. É algo deveras estupendo.

No quadro em questão, a Virgem trazia em seus braços o Menino Jesus, que, por sua vez, segurava nas mãos uma flor e um passarinho. Subitamente, para o maravilhamento da criança que a contemplava, a imagem começa a tomar vida, a animar-se. Nossa Senhora desce do muro, deposita no chão seu Filho e este se põe a brincar com o passarinho, diante do olhar atônito do pequeno italiano. Aquela cena extraordinária é então tocada por um raio de sol que abre uma passagem para o interior da prisão. Seguindo-o, entram a Santíssima Virgem, o Divino Infante e o bambino.

Nossa Senhora percorre várias celas obscuras e as ilumina à sua passagem.

Terminada essa indescritível visita, Mãe e Filho, sempre acompanhados pelo menino, deixam o recinto do cárcere e retomam sua imobilidade original no quadro suspenso ao muro.

Esse milagroso espetáculo se renovou diversas vezes, diante de uma multidão de fiéis que viram assim confirmada sua devoção à Rainha do Céu e da Terra. Consta que o fato foi relatado pelo bispo local ao Príncipe Lourenço de Médici, quem fez construir em Prato magnífica igreja, um dos mais belos monumentos italianos do século XV.

O episódio é em extremo gracioso, e nos fala, de modo ímpar, da benignidade e da bondade de Nossa Senhora. A cena inicial já nos encanta: um bambino, daqueles gorduchos, mas, ao mesmo tempo, tão vivaz que não parece sujeito à ação da gravidade, e por isso esvoaça por todos os espaços que encontra diante de si, correndo ao longo do muro de uma prisão, atrás do quê? De uma cigarra… Que cena sumamente pitoresca!

Outro aspecto digno de nota: na muralha de uma penitenciária, do lado de fora, sorri uma imagem de Maria Santíssima com seu Divino Filho. Então é o contraste maravilhoso entre o vulto austero e duro de uma prisão e a afabilidade materna da Virgem aconchegada naquele muro. E os muros italianos constituem um encanto à parte: alguns por assim dizer leprosos, de pedras tão velhas, tão escangalhadas por toda sorte de tempestades, lavradas de um modo tão bruto que se diria estarem morrendo, mas… lindíssimas! Por sobre elas, ou se estendendo pelo seu corpo, crescem vinhas que frutificam em uvas apetitosas; o sol se deleita em aquecê-las, dando ensejo a que se produzam atraentes sombreados em volta delas. E aí temos o panorama de um tal milagre.

O menino se esquece da cigarra e se detém diante da imagem de Nossa Senhora. E a Virgem começa a se mover… O pequeno Jesus brinca com um passarinho, e podemos imaginar com que delicadeza, com que candura e vivacidade! Ele, o criador, se compraz em se divertir com a sua criatura. Tudo isso fornece elementos para recrear e extasiar a piedade dos homens.

De repente, um raio de luz transpõe as rudes muralhas da prisão e leva atrás de si o passarinho, o Menino Jesus, Nossa Senhora, o bambino. Todos entram no cárcere, e aquelas soturnas penumbras vão sendo iluminadas pela passagem da Mãe de Deus, provavelmente tocando os corações dos presos e os libertando, a uma vez, do castigo e do vício.

Eis, portanto, um fato encantador que nos apresenta Nossa Senhora enquanto extremamente meiga, doce, que socorre os indivíduos mais distantes d’Ela, os menos afortunados, mais pobres e mais abandonados. Mãe de todos os homens, Ela sempre encontra a forma, o jeito, a circunstância, enfim, artes maravilhosas para protegê-los, ampará-los, salvá-los.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 2/5/1967)

Nossa Senhora

Neste exílio, em meio à humanidade corrompida, aparece uma criatura concebida sem pecado original, um lírio de incomparável formosura que deveria alegrar os coros angélicos e a Terra inteira.

Nossa Senhora trazia consigo todas as perfeições naturais que dentro de uma mulher possam caber: uma personalidade riquíssima, preciosíssima, valiosíssima. Se a isso tudo juntarmos os tesouros das graças que vinham com Ela — as maiores que Deus Nosso Senhor tenha concedido a alguém, graças verdadeiramente incomensuráveis —, compreenderemos então o que representa o advento de Maria Santíssima ao mundo.

O nascer do Sol é uma realidade pálida em relação à entrada de Nossa Senhora nesta Terra. Os mais grandiosos fenômenos da natureza, mesmo os que representem algo de precioso e inestimável, nada são em comparação com isso; a entrada mais solene que se possa imaginar de um rei ou de uma rainha em seu reino, ainda é nada em confronto com esse advento.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1963)

O Coração de Jesus no interior do Coração de Maria

Na época histórica em que o Sagrado Coração de Jesus aparecia com doçuras de mãe para com o gênero humano, Nossa Senhora apresentava-Se geralmente como a Rainha da Contra-Revolução. A nós foi dada a tarefa de fazer uma síntese e encontrar o Sagrado Coração de Jesus no Coração Imaculado de Maria.

 

Nós, seres humanos, estamos colocados na junção entre o mundo material e o mundo espiritual; vemos abaixo de nós o mundo material em várias gamas e sabemos pela Fé da existência do mundo espiritual em muitas outras gamas. Temos ciência de que participamos do grão de areia, como da própria vida divina pela graça. Percorremos com nossa natureza todas as escalas.

Superioridade participada

Se temos um senso do ser inocente, este nos dá uma noção de nossa própria dignidade que nos faz medir, em nós mesmos, a superioridade de nossa alma sobre nosso corpo, e tudo quanto temos de mais digno por possuirmos alma, sem que sintamos vergonha por termos corpo. Mas notamos tudo quanto há de belo em possuirmos uma alma, e como ela é um céu em comparação com nosso corpo.

Nós sentimos a superioridade de nosso corpo sobre os animais, as plantas e os minerais. Percebemos que é uma superioridade participada. Eles e nós temos algo de tudo quanto existe, mas estamos no ápice da matéria, a tal ponto que somos uma montanha no alto da qual arde a chama denominada alma.

Estamos, portanto, num ápice, mas por cima dessa chama há o céu inteiro. Então a montanha é ao mesmo tempo altíssima, porém se medirmos a distância com as estrelas veremos que é um “formigueiro”. Tendo o senso do ser reto a pessoa sente ordenadamente tudo isso em si, todas essas grandezas, como todas essas pequenezes, proporcionando-lhe uma espécie de maravilhamento discreto, interno.

Lembro-me de que isso se deu em mim, por exemplo, quando pela primeira vez comecei a pensar a respeito do olhar humano, o que é o olho humano e tudo quanto confere de dignidade ao corpo o fato de ter olhos.

Acho que realmente a parte mais sensivelmente nobre do corpo humano são os olhos. Não se pode negar. E como o olho é bonito, quanta coisa exprime! É o único traço que o homem tem o qual nunca é feio! Pode existir um olho machucado, doente, mas um olho feio não há! A fisionomia, o porte, o passo e tantas outras coisas são reflexos da alma no corpo; os olhos espelham a alma.

Consideremos os bichos. Deus quer que alguns animais inferiores a nós sejam mais bonitos do que nós; mas são de uma beleza de segunda classe. De beleza de primeira classe somos nós.

O pavão, por exemplo, como ele é distinto, diplomata, se mexe com jeitos! Um certo modo que tem o pavão de jogar para trás a cabeça e o pescoço; os olhos  quase que se dilatam, e ele olha de frente e de cima, com nobreza. Ele de certo modo finge não estar vendo bem as coisas que se encontram diante dele, como se estivessem distantes. Depois ele se volta bem devagarzinho para receber o aplauso das multidões… É muito bonito!

As mais marcantes diferenças existentes entre os homens

Possuindo um senso do ser bem construído, nós sentimos essas hierarquias e compreendemos que umas estão para as outras numa forma de relação que deve encher de admiração as menores, porém de uma admiração grata! Porque sempre que a maior toca na menor não a humilha, mas a beneficia e honra.

Prestando bem atenção, ao considerarmos a relação entre nós e os Anjos, põe-se muito clara a seguinte pergunta: Como é o Anjo em face de quem é superior a ele? Ora, superior a ele, enquanto natureza, só Deus. Como natureza, Nossa Senhora não é superior ao Anjo, e nem sequer a humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo.

As mais marcantes diferenças que há entre os homens são de ordem sobrenatural. É o batizado para o pagão, depois o clérigo para o leigo. São relações como que divinas.

Somos membros do Corpo Místico de Cristo e em nós vive a graça de Deus; somos templos do Espírito Santo, escravos de Maria Santíssima, filhos d’Ela, portanto, a um título e de um modo todo particular.

Nós estamos para um pagão, na ordem da graça, mais ou menos como na ordem da natureza o Anjo está para nós. Somos “anjos” para um pagão. E um pagão que dissesse a um de nós: “Vou dar-lhe uma bofetada porque você é batizado”, ele esbofetearia em nós o sacramento do Batismo conferido indelevelmente. Sobretudo o bispo, que possui a plenitude do sacerdócio, é como que Deus para nós. Ele ensina, governa e santifica. Todos os sacramentos, toda verdade, a direção de nossos passos no rumo da vida eterna vêm por ele. É como que Deus presente entre nós, e algo de divino habita o bispo.

Na ordem natural há algo disso na relação pai-filho. Mas a Doutrina Católica sempre entendeu que honrar pai e mãe é honrar adequadamente todas as autoridades, na medida em que elas tenham um poder análogo à paternidade, por exemplo, o patrão, enfim, todos os superiores devidamente. Porque quando a autoridade é de um certo gênero, ela participa, na ordem natural, de uma superioridade análoga — não idêntica — à superioridade existente nas relações Deus-homem.

É isto que devemos saber reconhecer nos nossos superiores, e tocá-los, inclusive fisicamente, com respeito, porque neles habita isso.

Respeitabilidades amigas, o contrário da luta de classes

Dou um exemplo claro de ver: o professor e o bedel num colégio. O professor, enquanto está dando aula, tem uma superioridade pura e simples sobre o aluno. O bedel possui uma superioridade, mas uma superioridade que até é um título de inferioridade. Ele é um empregado do colégio para tomar conta dos alunos e, portanto, não imita, a não ser de um modo muito indireto, um vislumbre, o poder de Deus. Mas o poder do professor imita o poder de Deus, e um aluno que esbofeteasse seu professor, enquanto este ensina, pecaria contra Deus.

Sirvo-me, agora, de uma metáfora muito familiar: a nata e o leite.

Uma quantidade abundante de leite de alta qualidade posta numa panela, por exemplo, dá origem, por um lento, discreto e nada artificial processo de diferenciação, à nata que fica acima dele e constitui uma camada. Se cada gota de leite pudesse falar, diria para a dona de casa: “Olhe a nata!” E se a dona de casa sorrisse para a nata, esta falaria: “Mas olhe também de que leite eu fui formada!”

Disseram-me — e me parece bem provável — que as qualidades do ar têm algum efeito para a formação da nata. Logo, o céu atmosférico, a seu modo, age sobre o leite para que destile a nata. Portanto, esta não é puro produto do leite, mas do leite “tocado” pelo céu.

E notem: isso ocorre na ordem meramente natural, mas que nos ajuda a ter uma ideia do que significa essa superioridade divina, do que é Deus em relação a nós, e o que é um de nós perto de Deus, para compreendermos todos os abismos onímodos de inferioridade e de hierarquia e, depois, os graus intermediários como são.

Tomemos outro exemplo: o mármore. Dir-se-ia que o mármore é nata da terra, reservada por Deus em blocos e dada aos homens para fazerem suas igrejas, seus monumentos, palácios etc. Por isso eu falo do mármore com respeito.

Esta visão do mundo como uma espécie de jogo de respeitabilidades amigas, que se perdem quase ao infinito, é o contrário da luta de classes.

Respeitabilidades amigas que a mil títulos reluzem aos olhos do homem, fazendo entender tudo quanto vai desde a pequena respeitabilidade do bedel, quando ele transitoriamente dirige a fila, até a autoridade de um reitor de universidade. Há mil aspectos da superioridade que ficam cintilando como estrelas no céu, cada uma com um brilho próprio e, no fundo, cantando a glória do Superior dos superiores que é Deus.

Resolvendo um problema até o fundo

Tive um professor que, em certa ocasião, pôs a seguinte questão, de um modo inteligente e atraente:

“Nós existimos para Deus, mas hoje em dia não se tem uma ideia clara do que significa existir para alguém. Por isso, vou dar-lhes um exemplo. Se uma galinha tivesse inteligência, ela de tal maneira saberia ter sido criada para ser comida por um homem que, enquanto estivesse no galinheiro, ficaria frustrada de ver as outras galinhas irem para a panela e ela não. Agora, qual seria a reação dessa galinha inteligente quando fosse chamada para a panela? Seria uma reação de pavor, porque nenhum ser escapa ao instinto de conservação; ou uma sensação de alegria, porque afinal seria comida por um homem?”

Ele dizia que a galinha, ao se imaginar comida, sentiria ao mesmo tempo o horror e o gáudio da imolação, e desaparecia num sentimento contraditório.

De fato, ele não resolveu o problema até o fundo. O professor imaginava uma hipótese absurda de um ser que, ao mesmo tempo, é inteligente e mero animal. Daí as reações são contraditórias, porque o ser inteligente existe para Deus, mas não para ser comido por Deus. Aquele que é o fim do ser inteligente é tão superior a este que não o mata, mas lhe dá a vida. Isso o professor não soube dizer; donde um certo mal-estar que a pergunta causava.

Entretanto, este ponto me parece que ele viu bem: se a galinha fosse capaz de conhecer o homem, ela reconheceria nele, com encanto, o seu dono.

Quando o homem, por exemplo, agrada um cachorro, o animal toma, muitas vezes, uma atitude deliciosamente submissa, o que é um símile da posição que tomaríamos em relação a um Anjo. Um vegetal que pudesse sentir e compreender faria o mesmo com um animal, e um mineral a mesma coisa com um vegetal. Há uma regra que forma um certo gênero de relação que, conservadas as proporções, é sempre de sentir-se pequeno, mas repleto de honra.

Subindo ao ápice da Criação, vemos isso até nas relações de Nossa Senhora com Deus. Convidada a um título muito especial para ser Filha do Padre Eterno, Mãe do Verbo e Esposa do Espírito Santo, a resposta d’Ela foi: “Ecce ancilla Domini — Eis a escrava do Senhor” (Lc 1, 38). Ela Se sente muito pequena, porque, de fato, diante de Deus ainda que seja Ela, é-se infinitamente pequeno. Então um gesto, uma postura de respeito deliciado é uma atitude de alma que hoje as pessoas quase não sabem mais medir.

O Menino Jesus vivo no coração de Santa Gertrudes

Ora, o Sagrado Coração de Jesus tem algo que predispõe o espírito em todas as gamas para essa posição.

Evidentemente, as pulsações mais sublimes do Sagrado Coração de Jesus eram quando Ele rezava. As orações d’Ele citadas no Evangelho eu acho tudo quanto há de mais bonito!

Sempre o modo de dizer “Pai” sai com uma grande doçura e, ao mesmo tempo, tão honrado de ser Filho d’Aquele Pai. Ele, como Homem, dizendo “Pai” é quase que rezando para a sua própria natureza divina. É uma coisa tão bonita que prepara a alma para receber essas superioridades genéricas com uma espécie de devoção carinhosa e cheia de veneração.

É interessante notar que no período em que o Sagrado Coração de Jesus aparecia com doçuras de mãe para com o gênero humano, em suas manifestações Nossa Senhora apresentava-Se menos como Mãe de Misericórdia do que como a Rainha da Contra-Revolução e preparando a batalha. Ela é “castrorum acies ordinata”(1).

Com exceção de duas aparições d’Ela no século XIX — uma enquanto Nossa Senhora das Graças, em Paris, para Santa Catarina Labouré, e outra na Igreja do Miracolo, que é uma reversão, corresponde à mesma devoção, mas são dois milagres diferentes —, essa sensação de misericórdia requintada Maria Santíssima dá menos do que manifestava aos medievais, a São Bernardo, por exemplo.

Mesmo em Lourdes, onde a Santíssima Virgem difunde a misericórdia como sabemos, a nota dominante é a apologética. Diante dos séculos de ateísmo, Ela entra em luta contra este produzindo milagres a jorro e confirmando a Imaculada Conceição.

A nós, porém, foi dada a tarefa de fazer uma síntese e encontrar o Sagrado Coração de Jesus no Coração Imaculado de Maria.

Certa ocasião observei uma pintura representando Santa Gertrudes em cujo coração se via o Menino Jesus, o que deveria fazer referência a algum fenômeno místico que se deu com ela.

Se é legítimo apresentar o Menino Jesus vivo no coração de Santa Gertrudes, a um título muito mais literal, muito mais cogente, com outra ênfase, é legítimo mostrar o Coração de Jesus dentro do Coração Imaculado de Maria. É claro! E nós encontraremos tudo quanto estou dizendo — e muito mais — emoldurando o Sagrado Coração de Jesus dentro do Coração Imaculado de Maria.

De todas as boas imagens de Nossa Senhora que conheço, nenhuma delas me satisfaz inteiramente, porque não visam apresentar Jesus vivendo em Maria, concebendo tanto quanto possível a Santíssima Virgem como parecida com Nosso Senhor, fisicamente, mas de uma semelhança que era apenas uma imagem da similitude espiritual.

Sabe-se que muitos cristãos queriam conhecer São Tiago porque era primo de Jesus e muito parecido com Ele. Ora, se assim ocorria com São Tiago, primo em segundo ou terceiro grau de Nosso Senhor, imagine com Nossa Senhora o que era essa semelhança!

Eu me pergunto se não seria uma graça do Reino de Maria algum artista ou algum místico chegar a imaginar, na perfeição, uma imagem de Nossa Senhora inteiramente “cristiforme”, mas conservando toda a delicadeza da natureza feminina. Porque nós vemos isso pelo Santo Sudário: Ele era Varão, no sentido mais nobre da palavra; Ela, Mãe e Senhora, Dama e Rainha. Saber representar essa variedade em uma versão marial de Nosso Senhor!…

Assim, mesmo cenas da vida de Nosso Senhor se tornam muito mais cheias de vida e muito mais explicáveis. Por exemplo, os dois se abraçando na hora do encontro da Via Sacra, com essa semelhança de corpo e de alma entre ambos. Ele com a face como que d’Ela, desfigurada; e Ela com a face como que d’Ele, íntegra. De maneira que se olhava e percebia-se o contraste. Ela nobremente invadida pelo pranto sem que nada A descompusesse, e Ele aviltado pelas bofetadas e pela dor sem que nada Lhe diminuísse a majestade.

Um ósculo de Nosso Senhor na França

Quando falo com calor de Luís XIV e da devoção que ele deveria ter tido ao Sagrado Coração de Jesus, há pessoas que julgam entrar nisso uma espécie de atitude mundana, ou pelo menos terrena. Mas não é. A razão é que eu vejo nele o lampadário perfeito onde a lamparina do Sagrado Coração de Jesus deveria ter sido acesa.

Se ele fosse o devoto perfeito do Sagrado Coração de Jesus, nós teríamos tido uma figura de homem como não houve na História.

Para compreender o “meu” Luís XIV, a “minha” Versailles e o “meu” Ancien Régime é preciso entendê-los enquanto o Rei-Sol tendo sido fiel. E mais: foi no reinado de Luís XIV que São Luís Grignion de Montfort construiu o calvário dele, pregou aos camponeses e que Marie des Vallées(2) fez a troca de vontades com Nosso Senhor. Isso tudo tenderia a uma só coisa.

Então, era preciso concebê-lo criando uma atmosfera pela devoção ao Coração de Jesus, onde a escravidão a Nossa Senhora tivesse voado como uma águia em céu próprio.

É uma coisa maravilhosa! Não se tem ideia do que a infidelidade de meia dúzia de almas rateou na ocasião… Não se tem ideia da oportunidade perdida!

A partir disso fica compreensível também o meu furor contra a Revolução Francesa.

O Dauphin Luís(3) mandou colocar atrás do altar da capela do palácio uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Ele não teve a audácia de colocar na frente…

Mas isso significa durante quantas gerações se manteve a ideia de que uma consagração ainda salvaria a França. E a consagração que Luís XVI fez da França ao Sagrado Coração de Jesus, na Torre do Templo, prova que ele ainda levava no espírito essa ideia de que, se correspondesse, poderia ter salvado o país.

Durante todo esse tempo, a Casa Real e o “Ancien Régime” conservaram uma capacidade de receber. Essa receptividade era um ornato, e aquela possibilidade, naquele tempo, um “lumen”.

O grande pranto pela Revolução Francesa era o da esperança que não se realizaria mais, e pela extinção desse “lumen” que acompanhou a Casa Real até o fim.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus ficou com uma ligeira nota francesa, é um ósculo de Nosso Senhor na França.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/9/1980)

 

1) Do latim: exército em ordem de batalha (Ct 6, 10).

2) Mística francesa (*1590 – †1656).

3) Luís Fernando de França, Delfim de França (*1729 – †1765), filho de Luís XV e pai de Luís XVI.

Medianeira da Luz

Mês especialmente caro aos devotos de Maria Santíssima, setembro refulge com as comemorações da Natividade de Nossa Senhora e com a festa do seu santíssimo nome. Para Dr. Plinio, o advento d’Aquela que estava predestinada a ser a Mãe do Salvador, “conferiu particular nobreza ao gênero humano, e surgiu neste mundo como a suave e amena luminosidade da lua. Há, sem dúvida, imensa beleza no despontar do astro-rei. Contudo, em certas ocasiões, o aparecimento da lua tem também seu encanto, sua poesia e sua grandeza. Assim a vinda de Nossa Senhora foi, para toda a humanidade, como um magnífico nascer da lua”.

Lua que brilha da luz do Sol da Justiça, Cristo Senhor nosso, e que se compraz em espargi-la sobre a face da Terra, isto é, em distribuir para os homens a superabundância de graças que seu divino Filho depositou nas suas mãos maternais. Ouçamos novamente Dr. Plinio, comentando uma coletânea de textos acerca do papel de Nossa Senhora nos primórdios da Santa Igreja:

“Maria foi o oráculo vivo que São Pedro consultou nas suas principais dificuldades. A estrela para a qual São Paulo não cessou de olhar, para se dirigir em suas numerosas e perigosas navegações.

“Temos, então, esse belo panorama: a Igreja nascente — com todos os lances maravilhosos da história do cristianismo nos seus passos iniciais  — inspirada e dirigida por Nossa Senhora. Sem dúvida, São Pedro era o Papa e detinha o poder sobre a Igreja, que lhe fora conferido por Jesus. Contudo, não deixa de ser igualmente verdade que o Príncipe dos Apóstolos se submetia às disposições de Maria, atendendo-as com devoção e reconhecimento. Por sua vez, São Paulo sempre recorria a Ela, a fim de ser bem orientado nas suas navegações, isto é, no seu apostolado com os gentios.

“É então que Ela preencheu a significação de seu nome simbólico. Pois, diz São Boaventura, o nome de Maria pode traduzir‑se por essas palavras: Maria é a criatura iluminada por cima e que espalha, por todas as direções, a luz que lhe vem do alto. Ela é, verdadeiramente, a medianeira da luz. Toda a sabedoria e toda a luz nos vêm, para todos os homens, através d’Ela.

“Eis, portanto, uma linda interpretação do nome de Nossa Senhora, como sede da sabedoria, como foco da ortodoxia e da boa doutrina. Quem deseja progredir na virtude da sabedoria, deve recorrer a Ela que é, por definição, pelo próprio conteúdo de seu nome, essa fonte de luz celeste que se espalha para a humanidade inteira.

“Se os evangelistas querem recolher os principais fatos da vida de Jesus e seus ensinamentos mais importantes, para transmiti-los nos seus escritos autênticos, eles recorreram a Maria. Foi a Ela que pediram os esclarecimentos necessários sobre a Encarnação, a infância e a juventude do Homem-Deus, assim como sobre o modo perfeito de exprimir os dogmas que Ele trouxe do Céu. Pois, disse o Cardeal Hugo, Ela fez de seu coração o tesouro das palavras e das ações de seu Filho, a fim de os comunicar em seguida aos escritores sagrados.

“Temos, novamente, a figura de Nossa Senhora como o vaso de eleição que recolheu todos os ensinamentos e atitudes de Jesus, para distribuí-los aos Apóstolos, à Igreja nascente e à Igreja de todos os tempos. Foi Ela, não só a informante, mas a inspiradora da mentalidade com que os evangelistas escreveram seus livros sagrados; Ela esteve ao lado de São Pedro, São Paulo, São João Evangelista, deste e daquele, contando-lhes, explicando-lhes, ajudando-os a interpretar as palavras e os atos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela era uma fonte de aroma divino perfumando a Igreja inteira.

“Tal é o esplendor da alma santíssima de Nossa Senhora, apenas vislumbrado por nós e que nos deve levar a amá-La e imitá-La, cada dia mais e mais.”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 7/9/1965 e 11/7/1967)

 

Nossa Senhora

Ao ver nossas fraquezas e maldades, Nossa Senhora tem uma pena especial.

E, enquanto medimos a profundeza de nossas chagas, Ela nos sorri, como que dizendo: “Meu filho, muito mais Eu sou boa do que você é ruim! Eu passo por cima disso, o afago, lhe quero bem, o trago para junto de Mim.”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/4/1989)

Consagração a Nossa Senhora e a graça divina – II

Dirigindo-se a um grupo de jovens discípulos que se consagraram a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Grignion de Montfort, Dr. Plinio os alenta no caminho da vocação empreendida, incentiva-os na prática da virtude, e lhes aponta a Mãe Imaculada como advogada e infalível auxílio nos perigos, à qual devem recorrer como filhos, plenos de confiança.

 

Como é belo, meus caros, olhar para cada um de vós que vos consagrastes a Nossa Senhora, e considerar quanta dificuldade enfrentastes para chegar até este ponto! Como, afinal, o atingistes?

Através da graça, o convite divino para a vocação

A graça vos fez conhecer outros membros do nosso movimento que vos convidaram a fazer parte dele. Cada um procure lembrar-se como foi o primeiro contato, a primeira conversa. Quando isso ocorreu, vós víeis apenas um jovem a vos dirigir a palavra. Mas, de fato, o respectivo anjo da guarda pairava e ajudava no íntimo de vossa alma, a fim de que atendessem o convite. Visitastes a sede, apreciastes as apresentações, as aulas, os jogos, o ambiente. Voltastes para casa entusiasmados, com saudades, desejando logo regressar.

Pensáveis que eram saudades dos amigos, de tal ou tal coisa. Na realidade, era Deus, pela sua graça, a rogos de Maria, que atuava em vossa alma. Como vós, muitos outros vieram. E dentre eles, vários também receberam graças para se fixarem em nossas fileiras e continuar a caminhada nas vias da vocação.

A cada passo, a graça vos acompanhou. Ela é obtida por Aquela a quem o anjo disse ser cheia de graça. Tudo o que pedimos — para o bem de nossa alma ou para as nossas legítimas necessidades temporais — por meio de Maria Santíssima, obtemos, e sem a intercessão d’Ela torna-se mais difícil para nós alcançarmos os dons celestiais. Estamos aqui porque Nossa Senhora rogou por nós. Ela é a Rainha dos anjos e ordenou que esses espíritos puríssimos os orientassem para o caminho que tomaram.

Cada um de nós tem um anjo da guarda. Portanto, pairam sobre o meu querido auditório, digamos cerca de 400 anjos… Não os vemos, mas a Igreja ensina que eles estão presentes. E basta a doutrina católica dizer para eu crer mais do que se os visse.

Um espetáculo assistido pelos Céus

Imaginemos o júbilo havido no Céu, enquanto se realizava esta cerimônia que, devido à alegria de todos os participantes, poder-se-ia chamar uma festa! As três Pessoas da Santíssima Trindade, Maria, todos os anjos e santos do Paraíso tinham como que sua atenção voltada para cá. E quando, por exemplo, recebíeis de lembrança a pequena imagem de Nossa Senhora das Graças, os anjos rezavam à Mãe de Deus pelos senhores; no momento em que a osculavam, os anjos depositavam — em espírito — um respeitoso beijo nos pés da Santíssima Virgem, no Céu.

Portanto, um magnífico ato acaba de se passar aqui, e coloca um primeiro termo às batalhas que travastes.

Alguém dirá: “Dr. Plinio, são pequenas lutas de menino, de adolescente…”

Respondo: “Vai a alma inteira nisso. Passei por essas fases da vida, e sei o que custou.”

As batalhas se tornarão maiores

Meus caros, eu vos felicito! Mas, essas contendas se referem ao passado e ao presente. Quanto ao futuro, não vos iludais; ao invés de diminuírem, elas aumentarão. E é próprio ao homem, à medida que cresça, desejar lutas cada vez maiores. Devemos procurar subir aos píncaros da seriedade, galgar as culminâncias do esforço, fiéis à Lei de Deus e, mesmo quando tivermos a impressão de que tudo nos convida para o mal, dizer: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia…”

Sejamos realistas: cada um possui todos os meios para não pecar, mas ninguém pode garantir que não cairá. Precisamos nos preparar. Se acontecer a desgraça, a catástrofe de cometermos um pecado mortal, devemos confiar, não desesperar, mas imediatamente nos dirigir até os pés de uma imagem de Nossa Senhora ou segurar o Rosário e dizer: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, “lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer — nunca se ouviu dizer! — que alguém tivesse recorrido à vossa proteção e fosse por Vós desamparado… Gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés…”

É a prece não apenas do homem inocente, mas também do que cometeu pecados e se lamenta sob o peso deles, podendo mesmo acrescentar: “Se nunca se ouviu dizer, não seja eu o único infeliz em que se desminta vossa clemência. Mil vezes não! Ó minha Mãe, reerguei-me, dai-me ânimo para ir me confessar e continuar sempre e sempre essa luta que me levará ao Céu!”

Confiança e determinação contra o pecado

Peçamos aos anjos, aos santos, aos nossos padroeiros, que nos obtenham uma pureza, a qual nunca conheça manchas, bem como a confiança por onde, se por desgraça uma nódoa tisnar nossa alma, nos voltemos mais uma vez a Nossa Senhora, dizendo: “Minha Mãe, vossa misericórdia é maior do que minha miséria, tende pena de mim”, e retomemos a carga contra o pecado. É o que vos desejo de modo muito especial.

Importa nos lembrarmos de que os demônios no inferno provavelmente se enchem de ódio ao considerar esse ato, essas palavras e a recepção calorosa com a qual são acolhidas de vossa parte. Vós sois presas que os anjos arrancaram das garras satânicas, e os adversários de vossa alma não deixarão de arquitetar planos para vos perder.

Porém, a Virgem Maria, sob a invocação de Nossa Senhora das Graças, calca aos pés a cabeça da serpente, esmaga e sempre esmagará o demônio. Assim, sob a proteção d’Ela, imitando-A, deveis levar vossa vida subjugando o mal dentro de vós, rejeitando as tentações, e também fora de vós, combatendo a Revolução, empenhando-se na vitória da Contra-Revolução e trabalhando pelo advento do Reino de Maria.

Convocados para uma grande batalha

Somente conseguiremos isso se formos autênticos devotos de Nossa Senhora. Conforme explica São Luís Grignion, precisamos fazer todas as vontades d’Ela, as quais conheceremos cumprindo antes de tudo os Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, observando-os durante a vida inteira por amor a Nossa Senhora, a quem nos consagramos, e porque Ela assim o deseja.

A Virgem Santíssima nos alcançou o dom da vocação, chamou-nos para sermos escravos d’Ela, e nos concederá graças especiais para perseverarmos. Assim, obteremos forças para vencer grandes batalhas.

Na vida de um homem há situações em que ele tem a impressão de ser um navio abandonado no meio da tempestade, jogado de um lado para outro pelos ventos das tentações, dos problemas, e parece que o navio afundará.

Mas, a nau tem um capitão: o próprio homem. Se ele rezar, tomar todas as precauções, não desistir mesmo quando julgar que o mar inteiro está entrando na embarcação, aos poucos a tormenta vai amainando.

Quando a Providência Divina permite que passemos por tais provações, Ela está nos concedendo uma honra. Assim, cada um de vós, nas ocasiões difíceis, não se ache abandonado. Pense o contrário: “Estou convocado para uma grande batalha! É uma honra! Minha Mãe e de Jesus Cristo meu Senhor, tende misericórdia de mim e ajudai-me! Vou pôr mãos à obra, e ensinar a esta tempestade como são as coisas!”

Como escravos da Virgem, estais começando hoje nova fase de vossa grande batalha. Pedi a Nossa Senhora, antes de tudo, uma intensa Fé Católica Apostólica Romana; que Ela vos dê a convicção e a rejeição do mal que há no pecado, bem como a admiração pelo bem existente na virtude, sobretudo na mais árdua de se manter quando jovem, a virtude da pureza. Implorai-Lhe firmeza na prática da castidade, e coragem para enfrentar o paganismo do mundo moderno.

Dessa forma, tereis a glória de participar do desfile dos vencedores, quando for implantado o Reino de Maria, prometido pela Virgem Santíssima em Fátima, ao anunciar o triunfo final do seu Imaculado Coração sobre a face da Terra.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Carinho purificador

Não raras vezes, quando nos aproximamos de uma imagem da Santíssima Virgem, temos a impressão de se abrir para nós uma janela no céu da misericórdia d’Ela, através da qual nos inundam os fulgores maternos da compaixão, da bondade, da disposição de perdoar mais uma vez, e outra, e outra.

Algo indefinido e sublime, de um carinho purificador de todas as nossas fraquezas, como se Nossa Senhora nos tocasse, não com seus dedos virginais, mas com seu olhar imaculado: Ela nos viu, nos fitou, e só de sentirmos os seus olhos pousando sobre nós, qualquer coisa muda em nossa alma, para melhor…

Misericórdia que chega aos extremos de nossa fraqueza

A sensualidade é, com o orgulho, uma das molas propulsoras da Revolução. Em sentido oposto, Nossa Senhora, Rainha e arquétipo dos contrarrevolucionários, praticou as virtudes da humildade e da castidade em grau inimaginável.

O que dizer da pureza d’Aquela que foi imaculada desde o primeiro instante de seu ser? D’Ela brota para toda a humanidade, como de uma fonte inexaurível, a virtude da castidade. E porque incomparavelmente pura, Maria é, mais do que ninguém, a protetora dos fracos, o socorro dos que se debatem nas tentações da carne.

Engano seria pensar que, por ser castíssima, Nossa Senhora tem invencível horror aos impuros. Ela possui, sem dúvida, aversão ao pecado de impureza, mas Se compadece daquele que o comete, e deseja a emenda e a salvação desse infeliz.

A Santíssima Virgem está pronta a Se inclinar sobre o mais miserável dos homens e lhe dizer: “Meu filho, em que pântano caíste?! Entretanto, continuo sendo tua Mãe, e por isso Me curvo até ti, por mais baixo que tenhas caído. Até aos extremos de tua fraqueza chega minha misericórdia, disposta a te salvar”.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 26/5/1972, 25/9/1990 e 12/7/1991)
Revista Dr Plinio 258 (Setembro de 2019)

Si fieri potest…

Nossa Senhora das Dores, Vós sofrestes por mim. Que o mérito de vossas lágrimas afaste tanta dor que ameaça cair, a justo e a lindo título, sobre mim, porque não me sinto capaz de carregá-la. Sei que em algo a afastareis, mas compreendo que vossa oração pode encontrar a barreira que vosso Divino Filho encontrou, quando Ele disse: “Si fieri potest…” Então, se em algo não puder ser, dai-me forças! Tanto quanto possível, me refugio da merecida cólera de Deus junto aos vossos braços de Mãe. Contudo, se esses braços tiverem que me entregar, e eu sofrer esse holocausto por outros ou por mim, adoro essa cólera! Dai-me forças, e a suportarei.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 7/9/1981)
Revista Dr Plinio 186 (Setembro de 2013)

Trono da misericórdia

Na imagem de Nossa Senhora de las Lajas, a Santíssima Virgem está com um olhar sério e investigador de quem quer ser obedecida. Ela tem fisionomia de Mãe, mas não está sorrindo; e embora não esteja olhando com expressão de ameaça ou repreensão, seu semblante é de alguém que, se houver algo errado, passa um pito ou faz uma ameaça.

O Menino Jesus está muito amavelmente voltado para quem reza. Em lugar do quadro clássico do Divino Infante sério e Nossa Senhora sorrindo para o pecador, indicando que Ela obtém d’Ele a misericórdia e o beneplácito, temos o contrário: Ele se volta sorridente para o pecador, Ela está séria. Quase se diria que Ele está distribuindo favores sem que Ela tenha entrado muito no assunto.

Parece até inverter o papel da Medianeira.

Na realidade, o pensamento é muito profundo: Ele Se manifesta tão misericordioso, com essa alegria de dar, porque está sentado no trono da misericórdia.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 19/10/1974)