Pastorinhos de Fátima

Aos pastorinhos Jacinta e Francisco, Nossa Senhora destinou a missão de sofrer pela salvação dos pecadores. O exemplo de suas vidas nos faz compreender como o apostolado do sofrimento é verdadeiramente insubstituível.

Todas as grandes obras de Deus, máxime as que tratam da salvação das almas, em geral se fazem com a participação de outras almas que lutaram, sofreram e rezaram para que essas obras de fato se realizassem. Sempre é preciso a participação do sofrimento humano. Sem ele, nada de grande se faz.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 19/2/1965)

Santos Pastorinhos

Nossa Senhora quis que Jacinta e Francisco morressem em circunstâncias tão difíceis e sofrendo tanto, por serem necessárias vítimas que associassem suas dores e o sacrifício de suas vidas ao mistério de Fátima, bem como à fecundidade desejada pela Santíssima Virgem, na ordem sobrenatural, para os fatos anunciados na Cova da Iria.

Apesar de ter havido ali uma intervenção direta da Mãe de Deus, atestada por milagres estupendos como, por exemplo, a movimentação do Sol, Ela quis que duas almas oferecessem as suas vidas e se imolassem para que aquele plano da Providência tivesse a fecundidade necessária.

Isso nos faz compreender bem como o apostolado do sofrimento é insubstituível e abre os caminhos para a Igreja.

Peçamos a Jacinta e Francisco que nos obtenham o senso do sofrimento, indispensável para qualquer católico ser verdadeiramente generoso e dedicado.

Plino Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 19/2/1965)

Festa da Cátedra de São Pedro

Dir-se-ia que a sombra do báculo de Pedro cresceu, que entre suas extremidades — que vão de mar a mar, de monte a monte, dos ­Alpes ao Himalaia — fica o mundo inteiro. É impossível não pensar nas lágrimas, no ­suor e no sangue, nas mortificações, nas preces, na paciência e no heroísmo por meio do qual a Igreja, ajudada por Deus, chegou a tamanha glória. Quando se pensa nos primórdios do Catolicismo, comparado por seu Divino Fundador com o pequenino grão de mostarda, e se vê hoje que a copa da árvore é maior que os mais extensos desertos e as mais vastas nações, são todas as fibras católicas que vibram e se dilatam nos nossos corações. Do esplendor desta magnífica realidade se desprende uma voz, porque os fatos falam. E esta voz, eco de outra Voz, nos diz com firmeza mais do que nunca: non praevalebunt!
(Do “Legionário” de 17/2/1946)

“Maior felicidade de minha vida”

Eu tive a maior felicidade de minha vida em algo que me encheu de entusiasmo, desde pequeno: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana!

Mais do que qualquer pessoa, qualquer panorama ou qualquer flor, incomparavelmente mais do que qualquer delícia ou iguaria, ela me falava à alma!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 12/5/1984).

BEATOS JACINTA E FRANCISCO, modelos de aceitação do sofrimento

Vinte de fevereiro, dia da morte de Jacinta Marto, foi a data escolhida pelo Papa João Paulo II para que a Igreja celebrasse a festa da jovem pastora de Fátima e do seu irmão, Francisco, aos quais  Nossa Senhora apareceu em 1917. Ao recordar essa piedosíssima morte, Dr. Plinio teceu valiosos comentários sobre o papel do sofrimento na existência humana.

Como se sabe, dos três videntes, dois morreram pouco depois das aparições, conforme a promessa da Santíssima Virgem: Francisco e Jacinta. Ambos deviam ir para o Céu. Antes disso, porém,  haveriam de cumprir nesta Terra duas missões diferentes. A de Jacinta era rezar e sofrer pela conversão dos pecadores, enquanto a de Francisco consistia numa reparação ante a tristeza de Nosso  Senhor e de Nossa Senhora pelos pecados do mundo, que tinham motivado a mensagem de Fátima.

A importância do sofrimento humano nas grandes obras de Deus

A missão de Jacinta nos revela a necessidade de vítimas expiatórias que contribuíssem com a sua dor e o sacrifício de sua vida — as duas crianças morreram em circunstâncias extraordinariamente difíceis e dolorosas — para que as palavras de Nossa Senhora encontrassem terreno fértil nos corações dos homens, dando todos os frutos por Ela desejados.

Compreende-se, pois, como esse apostolado do sofrimento é verdadeiramente insubstituível, e como abre os caminhos para a Igreja. Todas as grandes obras de Deus, máxime as que tratam da  salvação das almas, em geral se fazem com a participação de outras almas que lutaram, sofreram e rezaram para que essas obras de fato se realizassem. Sempre é preciso a participação do sofrimento humano.

Sem ele, nada de grande se faz.

Certa vez, um talentoso pintor expôs um de seus quadros que retratava Nosso Senhor como Bom Pastor batendo à porta de uma choupana. A pintura, tocante e piedosa, atraía muitas atenções. Em  eterminado momento, um visitante julgou notar um defeito no quadro, e disse ao artista: “O senhor cometeu um erro de execução, pois a porta dessa cabana não tem fechadura”. Sorrindo, o  pintor lhe respondeu: “É verdade. Isto, porém, não foi um erro.

Esta porta simboliza a porta do coração humano, onde Nosso Senhor vem bater. Ela não possui fechadura no lado de fora, mas somente no de dentro, para significar que há certos tipos de  abertura de alma onde ninguém consegue intervir: ou a alma toma a iniciativa de se abrir, ou permanecerá fechada”.

Ora, o modo de se obter que as almas fechadas se abram é exatamente por meio da oração, dos sacrifícios e das dores que a Providência dispõe em nossas vidas. É por meio do carregar  amorosamente a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, compreendendo que assim se cumpre a superior vontade divina. Essas são as almas decisivas na História, e que levam a cabo as grandes obras
de Deus.

Claro está que não se trata de um sofrer meramente passivo, mas também de um sofrer ativo. O que significa muitas vezes tomar a iniciativa da luta, rompendo com aqueles que prejudicam nossa  alma.

Significa arrostar a opinião dos outros, aceitando ser posto em situações difíceis e contrafeitas. Significa, enfim, todo o sofrimento da batalha mais intrépida, mais ousada e mais repleta de  determinação. Tudo isso é sofrer, e até sofrer por excelência. O contrário do mito do happy end Não nos esqueçamos, porém, de que, se todas as formas de sacrifícios são agradáveis a Nossa  Senhora, o que mais deseja Ela receber dos homens é virtude. Acima dos sofrimentos, Lhe compraz oferecermos a Ela a retidão e a pureza de nossa alma. Se quisermos de fato pesar nas deliberações da Providência, devemos apresentar a Ela almas contritas e humilhadas, almas que se tornem pequenas diante de Deus, renunciando a toda forma de orgulho, vanglória e vaidade, para se mostrarem diante d’Ele como realmente são. Reconhecendo a sua própria impotência, pelas vias naturais, para corrigir os seus defeitos; e, portanto, implorando o auxílio de Maria, para  que Ela por nós interceda e nos alcance a tão esperada conversão.

E isto exatamente nos é dito pelo sacrifício de Jacinta. Devemos, portanto, pedir a ela que nos obtenha de Nossa Senhora esse senso de sofrimento, indispensável para que qualquer católico seja  verdadeiramente um fiel generoso e dedicado.

Essa aceitação da cruz é contrária ao mito do homem moderno, que se reflete na mentalidade do happy end, segundo a qual tudo é alegria, tudo é luz, e o padecimento é uma espécie de bicho de  sete cabeças irrompendo estouvadamente na vida das pessoas.

A verdade é outra: uma existência sem cruzes, pouco vale. São Luís Grignion de Montfort chega mesmo a afirmar que, vendo-se alguém poupado pelos sofrimentos, deve — após judiciosa  orientação de seu diretor espiritual — pedi-los a Deus, fazer romarias e rezar com empenho nessa intenção, pois sua salvação eterna pode estar correndo um risco não pequeno.

Mais do que nunca, a necessidade de sacrifícios

Análogas considerações poderiam ser feitas a propósito da missão de Francisco, isto é, a de reparar os Sacratíssimos Corações de Jesus e de Maria pelos pecados e ofensas contra Eles cometidos na  face da Terra.

Ora, de 1917 até nossos dias, a maré montante dos pecados não fez senão crescer de modo incomensurável: pecados individuais, pecados públicos, pecados das nações, pecados das instituições,  etc. Tal constatação nos obriga a concluir que, se a ofensa cresceu, a reparação também se faz mais necessária e mais intensa no que ela tem de mais excelente, ou seja, alimentar em nossas almas a indignação pelos ultrajes que são feitos ao Coração Imaculado de Maria; acrisolar nosso desejo de sermos instrumentos de Nossa Senhora para a implantação de seu Reino sobre a Terra.

Devemos pedir ao Francisco que nos obtenha esse espírito, esse ardoroso anelo de assim reparar o Coração Imaculado de Maria e, por meio d’Ele, o Coração Sagrado de Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 71 (Fevereiro de 2004)

Intercessores para obter o Reino de Maria em nós

Devemos considerar o valor simbólico da obra de Nossa Senhora que transformou suavemente essas crianças pelo simples fato de lhes aparecer reiteradas vezes em Fátima. As três mudaram extraordinariamente em consequência das revelações. Com uma delas, inclusive, a Santíssima Virgem disse estar aborrecida. Era Francisco, que não A viu por causa disso. Portanto, ele pode ser considerado um convertido.

Temos aqui algo de parecido com o Segredo de Maria, ou seja, uma dessas ações profundas da graça na alma, que se desenvolvem sem a pessoa dar-se conta. Ela cresce em amor de Deus, em vontade de se dedicar, em oposição ao pecado, mas tudo isso se dá maravilhosamente dentro da alma.

Se a obra de Nossa Senhora em Fátima foi assim, especialmente com essas duas crianças chamadas para o Céu, Jacinta e Francisco, podemos nos perguntar se isso não tem um valor simbólico e se não indica qual será a ação d’Ela sobre toda a humanidade, quando Ela cumprir as promessas que fez na Cova da Iria.

Seria, portanto, um começo do Reino de Maria, enquanto sendo o triunfo do Imaculado Coração sobre duas almas pregoeiras da grande revelação de Nossa Senhora, e que, por seus sacrifícios e preces na Terra e por suas orações no Céu, ajudaram e ainda ajudam enormemente as almas a aceitarem a mensagem de Fátima.

Assim sendo, Francisco e Jacinta são os intercessores naturais para se pedir e se obter de Maria Santíssima que comece o seu Reino em nós, desde logo, por essa transformação misteriosa que é o Segredo de Maria.

Peçamos que eles velem especialmente sobre aqueles que têm a missão de pregar e viver a mensagem de Fátima.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 13/10/1971)

Revista Dr Plinio 251 (Fevereiro de 2019)

Apostolado e sacrifício, ações inseparáveis

Por que razão Nossa Senhora quis a morte precoce de Jacinta e Francisco, videntes de  Fátima?

Em geral, quando se trata da salvação dos homens, é necessário haver vítimas que se associem à intervenção de Deus com o sacrifício de suas vidas.

Isto é especialmente frisante no que diz respeito às aparições de Fátima: trata-se de uma intervenção direta da Santíssima Virgem — atestada por milagres estupendos como, por exemplo, a rotação do Sol — com a transmissão de uma das mais importantes mensagens de Nossa Senhora aos homens ao longo de toda a História.

Pois bem, nesta ocasião Maria Santíssima quis a imolação de duas almas, as quais se ofereceram na intenção do pleno cumprimento dos planos da Providência.

Este oferecimento nos atesta como o sofrimento é insubstituível e como ele abre, verdadeiramente, os caminhos para a Igreja.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 19/2/1965)

O Pintor do Sobrenatural

Ao longo de sua História, a Igreja tem engendrado inúmeros talentos artísticos, com estilos e realizações tão diversos quanto belos e enriquecedores para a piedade cristã. Nessa constelação de talentos, porém, uma estrela sobressai pelo seu brilho mais intenso e atraente: o bem-aventurado Fra Angélico, com toda a justiça considerado o pintor católico por excelência.

Segundo se conta, Nossa Senhora lhe aparecia no momento de retratá-La, donde o caráter celeste das pinturas nas quais Ela está presente. São  obras de um frescor sacral incomparável; nelas os personagens de certo modo transcendem as fraquezas da nossa natureza decaída e — não por  defeito do artista, mas pela elevação  de seu estro — se nos afiguram quase sem a marca do pecado original.

Rei da arte pictórica, ele é também o mestre do feérico, conferindo esplendor inexcedível aos mínimos detalhes de seus quadros, a ponto de nos deixar desnorteados de encanto e admiração. De acordo com os estudiosos de seus métodos, ele mesmo fabricava suas magníficas tintas, muitas vezes triturando pedras semi-preciosas, cujo pó, misturado a outros elementos, forneciam-lhe as melhores cores de sua extraordinária palheta. Se ele sabia utilizar, assim, uma safira, um topázio dourado ou um rubi, com efeitos tão prodigiosos, que matizes não seria capaz de criar se pudesse fazê-lo com matérias-primas do Paraíso?!

E como seria no Paraíso um quadro de Fra Angélico? É algo de simplesmente inimaginável. Embora já vivesse na Renascença, pelo seu espírito foi um artista caracteristicamente medieval. Seus afrescos e retábulos são um reflexo fiel das almas que fizeram da Idade Média a época áurea da Cristandade. Retratam homens para os quais esta vida terrena é antecâmara da celestial. Ele  reproduz em suas pinturas pessoas imbuídas de uma luz, claridade e leveza inexistentes no cotidiano real, expressão de uma ordem superior e transcendente.

Numa palavra, o sobrenatural está representado em todas as suas obras. Inspirado sem dúvida pela graça divina, ele logrou pintar seus santos, “Madonnas” e Cristos irradiantes de um certo brilho que parece desprender-se da própria carnatura dos personagens. Essa luminosidade está presente, de modo muito particular, nas virgens perpetuadas em maravilhosas composições por seu magistral pincel.

A virtude da pureza, quando bem guardada, proporciona as condições excelentes para o triunfo do espírito sobre a matéria. A castidade perfeita nimba quem a pratica de uma glória especial: a da criatura humana vitoriosa em seu elemento mais nobre, prevalecendo sobre o menos nobre.

Na pessoa pura se estabelece uma ordem pela qual as apetências desregradas da carne estão dominadas; ela é toda espírito, toda alma, toda transparente de luz.

Assim Fra Angélico pinta suas virgens reluzentes, como dotadas de um fulgor vindo de dentro para fora e que ilumina todo o seu ser. Porque o espírito é claro, enquanto a matéria é opaca. A intenção do artista é exatamente representar essa irradiação do espírito. É o pintor das virgens.

E dos anjos. Os célebres anjos de Fra Angélico têm uma expressão tão límpida, tão honesta, que estão prontos para qualquer espécie de vassalagem. Tão fortes e conscientes de si, que estão  prontos para toda espécie de suserania. Tão pacíficos, que são anjos da paz. Tão guerreiros, que são anjos do combate contra o mal. Todos os contrastes extremos e harmônicos se encontram neles, numa síntese magnífica, fruto de uma forma de temperança extraordinária e perfeita.

Tomem-se, por exemplo, os anjos representados com instrumentos musicais. Todos refletem um movimento de alma para o alto, pronta a voar. Como anjos, não sujeitos à ação da gravidade, enlevados, fazendo ecoar suas melodias e anunciando a quem os contempla uma mensagem simples, clara, singela, cujo significado entretanto vai muito além da sensação deliciosa passada pelo quadro. No fundo, remetem nossos pensamentos para Deus. Diante da trombeta de um deles, vem-nos a pergunta subconsciente: “Que música será esta?”, e nossa atenção se volta para o alto, para o olhar divino fitado pelo anjo, para o qual a sua música parece se dirigir.

São assim os anjos, são assim os santos e as virgens de Fra Angélico: neles se nota sempre algo de diáfano, representação do sobrenatural, como acima dizíamos. Mas, insistimos, esse diáfano não transpareceria do mesmo modo se os personagens representados não fossem muito temperantes, possuidores de um senso das harmonias prévio a tudo. A virgem é meiga e delicada, mas traz  consigo uma roda de martírio, símbolo de sua fortaleza heroica. O santo é plácido e feliz, mas está aos pés do Crucificado, meditando na crudelíssima Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. O anjo está fazendo algo de grandioso, mas mantém-se sereno e inteiramente entregue à proclamação dele.

Ora, só alguém com igual temperança, com o mesmo senso das harmonias, dos imponderáveis e do sobrenatural poderia retratar seres assim. Daí podermos vislumbrar como era a maravilhosa alma de Fra Angélico.

Catedra de São Pedro – Rocha inabalável

A festa da Cátedra de São Pedro celebra o Papa como mestre infalível, e o Papado como a rocha inabalável do alto da qual o Soberano Pontífice se dirige ao mundo inteiro, revestido da infalibilidade que Deus lhe outorgou.

Uma bela forma de nos unirmos a essa importante celebração seria oscularmos em espírito os pés da imagem de São Pedro que se encontra no Vaticano, nos quais a delicadeza do beijo alquebrou a força do bronze.

E assim, em espírito, oscular o Papado, esse princípio de sabedoria ou de infalibilidade da autoridade que governa a Igreja Católica.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 22/2/1964)

Beato Angélico

O Beato Angélico, cuja festa é celebrada no dia 18 de fevereiro, soube transmitir às suas obras certas fulgurações que, na verdade, são manifestações da virtude da sabedoria, pela qual o homem apetece a coerência e a profunda harmonia interior das coisas, mais do que os bens menores do existir humano.

Essa harmonia exprime algo de inefável, total, que é a melhor representação de Deus. E quem a ama, ama o simbolizado por ela, portanto, o próprio Deus, predispondo assim sua alma para o Céu.

Plinio Corrêa de Oliveira