02 de fevereiro – Apresentação de Nosso Senhor no Templo

Apresentação de Nosso Senhor no Templo

Após ter gerado do modo mais maravilhoso e feliz possível o Filho divino que o Espírito Santo concebeu nas suas entranhas virginais, Nossa Senhora quis se sujeitar, junto com o Menino, à Lei de Moisés pela qual deveriam se apresentar no Templo: Ela, para completar os dias de sua purificação, e Ele, a fim de ser oferecido e resgatado como primogênito.

Submetendo-se, sem o precisarem, a tais preceitos, Mãe e Filho nos deixaram um lindo exemplo de amor e obediência aos desígnios de Deus. Ao mesmo tempo em que proporcionaram ao santo Simeão a alegria indizível de ver com seus próprios olhos o Messias prometido pelas Escrituras.

Sustentando o Verbo Encarnado em seus braços, o profeta O louvou e aclamou como a glória de Israel, a salvação que Deus preparara diante de todos os povos, como a Luz para iluminar as nações…

(cf. Lc 2, 29-32).

Plinio Corrêa de Oliveira

02 de fevereiro – Sob o manto da Mãe do Bom Sucesso

Sob o manto da Mãe do Bom Sucesso

O conhecimento de trechos das revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso a Soror Mariana de Jesús Torres fez com que essa invocação da Mãe de Deus se tornasse uma das principais na obra de Dr. Plinio.

Claramente movido por uma graça interior, em certa ocasião, Dr. Plinio exprimiu um desejo: “Bem que Nossa Senhora do Bom Sucesso poderia nos dar um sinal… Um sinal a respeito do quê? De uma especial assistência a nós. Nada determinado”.

No dia seguinte a essas palavras, Dr. Plinio teve, como de costume, longa agenda de atendimentos. Entre os despachos marcados, estava uma palavrinha de acolhida para um grupo de discípulos equatorianos. Após os cumprimentos, comunicaram serem eles portadores de um presente todo especial para Dr. Plinio: as chaves do Mosteiro da Imaculada Conceição de Quito, que normalmente pendem da mão direita da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso!

Portanto, a Rainha do Céu não esperara 24 horas para enviar o solicitado sinal. Ao recebê-lo, Dr. Plinio comentou: “A chegada dessas chaves tem relação com o que temos dito a respeito das conjunturas atuais. Elas são um estímulo à oração e significam que, se rezarmos diante delas, Nossa Senhora nos atenderá. Eu fico tocado até o fundo da alma e agradeço muitíssimo, mas muitíssimo!”

Infelizmente as históricas chaves eram emprestadas e, após serem veneradas durante algumas semanas, tiveram de ser devolvidas à sua ilustre proprietária.

Teria sido um sinal passageiro? Nossa Senhora do Bom Sucesso é Mãe de uma bondade insondável. Para tornar ainda mais patente o sinal, concedeu em 11 de fevereiro de 1992, dia de Nossa Senhora de Lourdes, nova e talvez ainda maior graça, enviando, a título de empréstimo — e por um ano! —, um de seus mantos. Acompanhava outra valiosa relíquia: a manga de um de seus antigos vestidos, com um tocante bilhete das freiras daquele mosteiro:

“Reliquia de Nuestra Madre del Buen Suceso. Al Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.

Sus hijas de la Limpia Concepción de Quito.”

A título temporário também, como mais uma dádiva, Nossa Senhora do Bom Sucesso fazia retornar, por mais um tempo, as tão simbólicas chaves.

O que entre nós se passou? — comentou Dr. Plinio. Dir-se-ia que houve uns números musicais muitíssimo bem regidos e executados que animaram os nossos corações, depois foram introduzidas as chaves que pendiam do braço da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, e foi trazido aqui um dos mantos dessa gloriosa imagem para estar presente durante as nossas reuniões, pelo menos, pelo espaço de um ano. Foi trazido juntamente um tecido branco da manga do vestido da própria imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, portanto, algo que tomou contato direto com o braço da imagem, e quem sabe se era o braço da destra d’Ela que foi coberto por esse tecido?

É esse símbolo da destra d’Ela que vem presidir e ornamentar as nossas reuniões(1).

Essa especial relação de alma com a Virgem do Bom Sucesso se manifestou também nas tocantes palavras com que Dr. Plinio descreveu a pequena imagem recebida por ele de presente em 1979:

Eu já tenho visto fotografias muito bem tiradas da verdadeira e autêntica imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso. E tenho tido a impressão de alta veneração, respeito filial, afeto, que a imagem desperta.

Entretanto, olhando para esta esculturazinha aqui, tão inferior à imagem original no lado escultural, eu notei nela um imponderável qualquer, que parece ter uma alegria e uma propriedade de despertar alegria, como se Ela estivesse anunciando o sucesso que vai obter para nós; como se Ela estivesse nos entendendo, ou comunicando algo da sua alegria triunfal de Rainha. Têm-se a impressão de que Ela, no Céu, já sabendo a vitória que terá, e gozando no Céu do maior ápice de todas as vitórias possíveis, desta vitória em concreto Ela já comunica alguma coisa na consideração desta imagem.

E que o ambiente imponderável que cerca esta imagem como que nos diz: “Meus filhos, alegrai-vos, levantai vosso ânimo! Nada tem importância quando Eu resolver vencer. A minha hora de misericórdia está chegando para vós e, portanto, nada vos atingirá de maneira contrária a meus planos. O que atingir será de acordo com meus planos e, no fundo, para vosso bem. Alegrai-vos, portanto, o sucesso é meu, porque Eu sou a Rainha do Bom Sucesso; e o sucesso é, portanto, vosso, porque vós sois meus filhos!” E assim eu julgo ver nessa imagem uma comunicação de alegria, mas uma alegria radiosa, que vem de dentro e se esparge sobre os que a contemplam, que realmente me causou uma profunda impressão(2).

 

Plinio Corrêa de Oliveira

1) Conferência de 18/2/1992.
2) Conferência de 2/6/1979.

02 de fevereiro – O cântico do Bom Sucesso!

O cântico do Bom Sucesso!

A Apresentação do Menino Jesus é um episódio único na história do Templo de Jerusalém. Maria Santíssima, acompanhada de São José, entra tendo em seus braços o Verbo encarnado. Pode-se imaginar que, nesse momento, os Anjos encheram o Templo e se puseram a cantar.

Cumprido o rito da Apresentação, que consagrava o bom sucesso da Virgem-Mãe na gestação de seu Divino Filho, Ela ouve, encantada, Simeão profetizar a glória e a Cruz daquele Menino: Luz para iluminar as nações e glória de Israel; causa de queda e reerguimento de muitos, sinal de contradição, pelo qual seriam revelados os pensamentos de muitos corações (cf. Lc 2, 32; 34-35). O sucesso é filho do esforço, da dedicação e do heroísmo.

Nossa Senhora do Bom Sucesso, no sentido mais amplo da palavra, é a padroeira de todos aqueles que procuram um bom sucesso para o serviço da Causa d’Ela. Todos quantos trabalhem a favor da Contra-Revolução, em última análise, esforçam-se para que desponte o sol do Reino de Maria sobre o mundo. É algo parecido com uma geração, e o nascimento desse Reino se parecerá admiravelmente com um bom, um magnífico sucesso!

Sóror Mariana de Jesus Torres para ser fiel à vocação dela – uma espécie de profetiza do Bom Sucesso e do Reino de Maria – teve que passar por provações terríveis, entre as quais, sofrer por cinco anos, em sua alma, os tormentos do Inferno.

Entretanto, quantas alegrias experimentava ela ao conversar com a Santíssima Virgem, passeando pelo claustro do convento como Adão com Deus no Paraíso! Durante os castigos previstos em Fátima, haverá momentos em que nos perguntaremos: “Não será o Inferno?! Nossa Senhora do Bom Sucesso, rogai por nós!” Haverá também circunstâncias nas quais sentiremos tanta alegria interior que diremos: “Já não é o Céu?! Nossa Senhora do Bom Sucesso, rogai por nós!”

E especialmente nas horas mais difíceis deveremos suplicar: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu!” É o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua expressão mais perfeita: o Reino de Maria!

Filhos indignos, mas amorosos, transidos de enlevo, quando raiar a aurora desse Reino, poderemos dizer-Lhe: “Senhora, nós Vos apresentamos o mundo que Vós iluminais. A luz de vosso Reino é o nosso e o vosso sucesso, Minha Mãe! Vós fizestes tudo, a começar por nos obter a imerecida graça de sermos levados às fontes batismais. Que gratuidade assombrosa a desse dom!”

Por fim, chegará o momento em que tudo quanto é obra da iniquidade cairá por terra e não passará de casca vil de uma cobra moribunda. Começará, então, o Reino de Maria e nós cantaremos o cântico do Bom Sucesso!

Plinio Corrêa de Oliveira

02 de fevereiro – A Virgem do Bom Sucesso

A Virgem do Bom Sucesso

Nosso Senhor Jesus Cristo foi gerado pelo Espírito Santo em Maria Santíssima, virgem antes, durante e depois do parto. Quando a gestação tem como resultado o bom nascimento do filho, chama-se “bom sucesso”. Assim, Nossa Senhora do Bom Sucesso é o título conferido a Ela enquanto tendo dado à luz, maravilhosamente e do modo mais feliz possível, o Filho Divino que o Espírito Santo gerou em suas entranhas virginais.

A Lei mosaica ordenava que todo primogênito fosse apresentado no Templo e oferecido a Deus. Embora não precisasse cumprir esse preceito, pois seu Filho era o próprio Deus, Nossa Senhora nos deu um lindo exemplo de amor e de obediência à Lei, levando o Menino Jesus ao Templo onde o Profeta Simeão O aclamou como “luz para iluminar as nações” e “sinal de contradição” (Lc 2, 32 e 34).

O Bom Sucesso da Santíssima Virgem foi assim consagrado pela Apresentação do Menino Jesus no Templo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 2/2/1983 e 1/2/1984)

Janeiro -BATISMO DO SENHOR

São João Bosco Austeridade e ação intelectual na vida de um insigne educador

São João Bosco possuía o dom de suscitar muita confiança e muita paz nas almas. Ele tinha um sorriso, uma bondade impregnada de fortaleza, mas de tal maneira comunicativa, generosa e apaziguante, que basta rezarmos diante de uma boa imagem dele para percebermos algo de indefinivelmente suave que se perpetuou no seu modo de ser, no seu estilo.

É essa suavidade espiritual que devemos pedir a São João Bosco, nesta época de árduos combates.

Todas as virtudes são irmãs. Portanto, a combatividade mais irredutível e implacável é irmã afetuosíssima dessa bondade, delicadeza e suavidade próprias do espírito de São João Bosco.

(Extraído de conferência de 31/1/1969)

31 de Janeiro – São João Bosco – Virtudes irmãs

São João Bosco Austeridade e ação intelectual na vida de um insigne educador

São João Bosco possuía o dom de suscitar muita confiança e muita paz nas almas. Ele tinha um sorriso, uma bondade impregnada de fortaleza, mas de tal maneira comunicativa, generosa e apaziguante, que basta rezarmos diante de uma boa imagem dele para percebermos algo de indefinivelmente suave que se perpetuou no seu modo de ser, no seu estilo.

É essa suavidade espiritual que devemos pedir a São João Bosco, nesta época de árduos combates.

Todas as virtudes são irmãs. Portanto, a combatividade mais irredutível e implacável é irmã afetuosíssima dessa bondade, delicadeza e suavidade próprias do espírito de São João Bosco.

(Extraído de conferência de 31/1/1969)

31 de Janeiro – São João Bosco Austeridade e ação intelectual na vida de um insigne educador

São João Bosco Austeridade e ação intelectual na vida de um insigne educador

Com profunda admiração pela obra salesiana, Dr. Plinio evoca o grande segredo da educação que Dom Bosco dispensava a seus “birichini”, os meninos pobres dos bairros de Turim: freqüência dos sacramentos e uma assídua assistência à Missa; e para sua congregação sobreviver às investidas do laicismo, a destemida e ágil astúcia dos santos…

No dia 31 de janeiro celebra-se a memória de São João Bosco, fundador dos Salesianos e extraordinário apóstolo da juventude. A fim de nos unirmos a essa comemoração, será oportuno considerarmos algumas notas a respeito de sua obra evangelizadora e de suas idéias pedagógicas.

Influência da “Mamma” Margarida

É indiscutível que a personalidade da mãe de Dom Bosco influiu em sua formação. Essa mulher, viúva aos 29 anos, marcou profundamente a alma de seus três filhos. Era puco instruída, mas dotada de raro bom senso. A retidão de seu julgamento, uma grande piedade e não menos devotamento, aliados a uma firmeza viril, dela fizeram a educadora exemplar.

O trabalho era obrigação constante em sua casa. Margarida sujeitava seus filhos a todas as atividades domésticas e dos campos. Desde a aurora, no verão, e ainda antes, no inverno, as crianças iniciavam o dia pela oração. “A vida é muito curta, dizia a mãe, para dela perdermos a melhor parte”. A fadiga não era considerada, as refeições permaneceram sempre de uma extrema frugalidade. À noite dormia-se no chão. Quando mais tarde João for para o seminário, levará o cobertor prescrito. Mas nas férias a mãe o fará guardar cuidadosamente, considerando essa doçura inútil e prejudicial.

 

Convém frisar que a família de São João Bosco vivia numa fria região do norte da Itália, e essa mãe exemplar não hesitava em acostumar suas crianças aos rigores do clima adverso. Preparava, assim, seus filhos, para a vida, de acordo com o que afirmava: “Somos soldados de Cristo sempre em armas, sempre em presença do inimigo, e é preciso vencer”.

Temos aqui a descrição da mulher forte do Evangelho — que levanta cedo para iniciar seus afazeres domésticos, cumprindo-os com exatidão — cujo preço é tão valioso que se faz necessário ir até os confins do universo para encontrar algo comparável a ela.

Mentalidade oposta à de certo ideal contemporâneo

Vemos, por outro lado, uma mentalidade profundamente diferente daquela que propugnam certos espíritos contemporâneos, para os quais a pessoa que padece fome e frio não é capaz de cultivar a vida espiritual. Segundo tal concepção, importa primeiro dar comida, cama e boa coberta, para só depois se falar em espiritualidade. Portanto, o começo da atividade apostólica é necessariamente uma ação de caráter material; portanto, para converter o mundo moderno importa, antes de tudo, eliminar o subdesenvolvimento. E por causa disso, em última análise, a luta contra o subdesenvolvimento deve ser uma finalidade específica da Igreja…

Ora, o exemplo da Mamma Margherita nos mostra o contrário. Ela e sua família residem numa casa tão pobre que as pessoas não têm cama: dormem no chão, sem cobertores suficientes, nem mesmo para os piores dias de inverno. Como vimos, Dom Bosco levou uma coberta para o seminário, pois o regulamento o exigia. Mas, quando retornava para passar as férias em casa, sua mãe o mandava guardar, considerando uma “doçura” supérflua.

Refeições frugais, trabalhos constantes. Propriamente uma vida pobre, porém santificada pelo espírito de renúncia e de sacrifício, pelas práticas de piedade e pela oração, considerada a “melhor parte” daquela sua penosa existência. Foi nesse árduo quotidiano, ungido pela virtude, que se formou um homem de físico forte e resistente para toda espécie de labuta, como foi Dom Bosco.

Esse aspecto da formação do Santo nos faz compreender como é quase um embuste pensar que as condições cômodas da vida são indispensáveis para o êxito do apostolado. Não são. E dir-se-ia mais: uma certa austeridade, sim, é necessária para educar as almas na virtude e na piedade. E essa formação deveria ser dada a toda juventude, de todas as classes e condições sociais.

Aliás, conservou-se por longo tempo na Europa, especialmente nas famílias de alta graduação, essa forma de educar os filhos numa vida rude. Lembro-me, por exemplo, de ter lido a biografia de um nobre francês que morava em Londres, num castelo junto ao rio Tamisa. Ora, o despertar matutino desse príncipe e de seus irmãos não era outro senão este: acordavam e se jogavam pela janela do quarto nas águas frias do rio que corria embaixo…

Somos levados a crer que, se a civilização hodierna não tivesse abandonado essa formativa austeridade, muita decadência teria sido evitada, e talvez o mundo conhecesse muitos outros santos como Dom Bosco.

Ação intelectual, mais valiosa que a assistencial

Prossegue a nota biográfica:
Apesar de muito trabalho, o estabelecimento das duas congregações religiosas, a ereção de igrejas, a fundação de numerosos patronatos e a preparação de missões longínquas, Dom Bosco consagrava boa parte de seus dias e de suas noites a escrever. Com a pena, tanto quanto com a palavra, ele sabia servir a Igreja, combater o erro e reconfortar as almas. Homem de seu tempo, observou a importância desse novo gigante moderno, a imprensa. Sua pena agiu durante quarenta e cinco anos, produzindo obras de acordo com as necessidades de sua época.

O Protestantismo lançava rudes assaltos à Igreja no norte da Itália. À propaganda protestante pela brochura, D. Bosco opôs as “Leituras Católicas”. Em 1883 respondeu ao “Amigo do Lar”, que os protestantes distribuíam a granel, com o primeiro almanaque da Europa.

Aparece-nos aqui o senso da atualidade no espírito de Dom Bosco. Não era um santo que vivia nas nuvens, pois nestas não vivem os santos. Na realidade, Dom Bosco era um homem ciente dos problemas de seu tempo, conhecia os adversários da Igreja na sua época e os combatia, tanto através dos seus escritos quanto por suas realizações apostólicas. E nisso ele nos deu outro exemplo.

Com efeito, fala-se muito da necessidade de se promover obras católicas e pouco a respeito de se escrever livros católicos. Por quê? Porque se dá mais importância ao econômico do que ao espiritual. Ora, o livro se dirige ao espiritual, enquanto a obra se destina ao econômico.

Não houve homem mais compenetrado da necessidade de obras católicas do que Dom Bosco. Entretanto, quando se examina melhor sua atuação, percebe-se ter sido mais escritor do que um empreendedor de obras. É a prova de que no pensamento desse imenso paladino da Igreja, a formação moral valia mais do que a assistencial.

Admirável continuidade de uma ordem religiosa

São João Bosco enfrentou incríveis dificuldades para levar a cabo seus intentos. O ano de 1876 foi um dos mais dolorosos para ele. Os ministros piemonteses, já em guerra contra o Papa, procuravam pegar em falta o santo fundador, a quem acusavam de manter uma correspondência secreta com Pio IX e os bispos. Multiplicavam as buscas em sua casa e queriam a qualquer preço encontrar sinais de uma conspiração.

Um dia, Dom Bosco procurou o Conde de Cavour, então primeiro-ministro, que várias vezes lhe testemunhara simpatia, e declarou-lhe sua intenção de descarregar em suas mãos o cuidado de todos os órfãos de sua instituição. Essa solução inesperada fez o ministro, se não terminar as perseguições, pelo menos fazê-las mais encobertas.

Ou seja, passaram a incomodar tanto a Dom Bosco que este procurou o ministro e lhe disse: “Vou soltar os meninos todos na rua. É o que você quer?”O ministro recuou.

Esse fato me traz à lembrança outro episódio, bem mais recente, ocorrido numa instituição salesiana em São Paulo, e que nos mostra a admirável continuidade existente nas ordens religiosas. Deu-se num período de nossa história em que se estabeleciam leis a granel, muitas das quais nem sequer passavam pela aprovação parlamentar. Por essa época, certo dia se apresentou no Liceu Coração de Jesus — o colégio salesiano que funciona ao lado da igreja de mesmo nome — um desses inspetores pedantes, enviado para examinar possíveis irregularidades. Durante a inspeção, encontrou no canto da grande cozinha uma calça que o cozinheiro havia lavado e ali deixara para secar. Ele chamou o padre responsável pelo estabelecimento e disse:
— Bem, lavar roupa em cozinha configura uma infração ao parágrafo tanto do artigo tanto da lei tal. De acordo com o regulamento, o colégio que o infringe deve ser fechado. Portanto, decretarei o fechamento do Liceu Coração de Jesus.

O padre respondeu:
— Ah, o senhor quer fechar? Pois não. Dê-nos um documento por escrito, e eu imediatamente solto todas as crianças na rua. Depois o senhor explica à cidade de São Paulo que essas crianças estão na imoralidade, morrendo debaixo de ônibus e automóveis, passando fome e vergonha, simplesmente porque havia um par de calças secando no canto de uma cozinha. É isto que o senhor quer?
O inspetor que, não é juízo temerário supor, esperava um generoso “argumento” para não fechar o colégio, ficou desarmado e sem graça. Desconversou, fez algumas observações de estilo e logo se despedia…

O segredo da disciplina de São João Bosco

Continua a biografia:
O fato seguinte é relatado como um dos mais característicos dos resultados dos métodos do grande santo.

Um ministro da rainha da Inglaterra, visitando o Oratório de São Francisco de Sales, em Turim, foi introduzido numa grande sala onde estudavam quinhentos jovens. Ele não pôde deixar de se admirar dessa multidão de escolares observando um rigoroso silêncio, embora ninguém os vigiasse. Sua admiração foi ainda maior quando soube que durante o ano inteiro não se havia a lamentar uma única palavra de dissipação, nem mesmo uma única ocasião de punir ou de ameaçar punição.

— Como é possível obter um tal silêncio, uma disciplina assim perfeita? — indagou ele. E voltando-se para seu secretário, ordenou que anotasse a resposta dada.
— Senhor — respondeu o superior do estabelecimento —, os meios que usamos não podem ser empregados em vosso país.
— Por quê? — pergunta o ministro.
— Porque são segredos revelados somente aos católicos.

Esplêndida resposta.
— E quais são esses segredos?
— A confissão e a comunhão freqüentes. Missa todos os dias e bem assistida.
— Tendes razão — disse o ministro. Faltam-nos tais meios de educação. Mas não há outros?
— Se não nos servimos desses elementos que a religião nos fornece, é preciso recorrer à ameaça e ao castigo.

Calou-se o ministro inglês, embora garantindo que iria repetir o que aprendera.

Devemos imaginar a cena, passada numa época em que a Inglaterra se encontrava no auge de sua irradiação política e cultural, e quando os ministros ingleses eram sempre “gentlemen” pertencentes à aristocracia britânica, trajados com o requinte da moda vigente, pois a opinião pública exigia dos ministros da coroa que fossem verdadeiros modelos de imponência, distinção e elegância.

Acontece, porém, que muitos ingleses ainda nutriam certo preconceito contra o mundo latino, julgando-o inferior e distante da perfeita limpeza, puritana e protestante, do reino britânico.

E esse ministro inglês visita o oratório de São João Bosco na Itália daquele tempo, encontrando ali meninos que seriam ótimas pessoas, mas talvez menos asseados do que o lorde gostaria.

Imaginemos esse aristocrata que se apresenta com ar enfatuado, amabilidade superficial, ruminando prevenções contra o clero católico e é recebido por um padre de Dom Bosco. Sacerdote naturalmente digno, composto, nem um pouco intimidado, porque um homem de verdadeira vida interior não se intimida com valores materiais: libra esterlina, limpeza, bonita gravata, tais coisas não impressionam o varão de autêntica virtude. Além disso, sutil como costuma ser um italiano.

Aparece o ministro com pouco caso e, de repente, o religioso salesiano lhe arma uma “cilada”, na qual o dignitário britânico cai por inteiro, com todos os seus requintes e suas elegâncias. Calou-se e garantiu que levaria o ensinamento para seu país…

Era mais um triunfo do grande São João Bosco. Que este interceda por nós, junto ao trono de Maria Auxiliadora, da qual foi um modelar devoto.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 30/1/1967)

31 de Janeiro – São João Bosco

São João Bosco

Grande arauto de Nossa Senhora como Auxiliadora dos Cristãos, São João Bosco realizou magnificamente a obra pedagógica e santificadora à qual fora chamado pela Providência. Instrumento de educação e virtuosa influência sobre os jovens que formava, por assim dizer, manuseava a graça divina para favorecer a atuação dela na alma de seus pupilos.

Risonho, afável, com uma vocação toda especial, brilhante e radiante na doçura salesiana, sabia ao mesmo tempo combater nos seus fundamentos os vícios e defeitos morais, alegrando-se ao ver o progresso espiritual dos meninos.

Talvez em diversos casos, foi ele um santo que educava outros santos…

30 de Janeiro – Um grande epistológrafo

Um grande epistológrafo

O Bem-aventurado Sebastião Valfré escreveu alguns livros e muitas cartas, tratando de temas teológicos. A propósito do seu talento epistolográfico, Dr. Plinio faz uma meditação, mostrando a decadência dos modos de comunicar o pensamento humano e como esse mal atingiu também a causa contrarrevolucionária. Entretanto, sempre que Deus permite a sua invencível Igreja ser batida, açoitada pelos ventos, o mal é para o gênero humano, não para ela.

 

Comentaremos a biografia do Bem-aventurado Sebastião Valfré, com base numa ficha tirada da obra do Padre Rohrbacher, Vida dos Santos(1).

Variedade de cartas sobre assuntos de Teologia

Sebastião Valfré, nascido na Saboia, em 1629, morreu em Turim, em 1710. Sacerdote oratoriano, grande apóstolo da caridade, virtude em que se distinguiu durante toda a sua vida. Famoso pela santidade de vida, amor à oração e ciência, manteve enorme correspondência com bispos, sacerdotes e grandes personalidades da corte sobre assuntos de Teologia, ou dando numerosos conselhos sobre questões várias. Apesar de ter todo o seu tempo ocupado, deixou obras realmente úteis: “Curta instrução às pessoas simples”, que obteve grande sucesso, “Exercícios cristãos” e “Meio de santificar a guerra”, esta última destinada aos que abraçavam a carreira das armas.

Especialmente devoto da Santíssima Virgem, quando começava a ensinar Teologia, uma das primeiras verdades sobre a qual chamava a atenção dos alunos era a da Imaculada Conceição. Durante seis meses explicava a Ave-Maria, palavra por palavra, pois cada uma delas lhe servia de tema para as aulas. Além disso, recomendava especialmente a devoção aos Anjos da Guarda. Dizia que em todas as suas necessidades e aflições jamais deixava de invocar seu Santo Anjo e por ele nunca fora abandonado. Além disso, seu zelo era voltado às almas do Purgatório, pelas quais nunca deixava de rezar todos os dias.

Idade Média: época das grandes sumas

A dificuldade em comentar essa biografia encontra-se no fato de que ela contém os grandes traços do sacerdote santo desse período. Ora, como houve muitos sacerdotes santos nessa época, acontece que esses traços todos mais ou menos já estão estudados. Contudo, há alguns pequenos esclarecimentos que podem ser dados.

Talvez cause certa surpresa ver que a correspondência ocupava na vida dele um papel importante. Mas precisamos tomar em consideração que ele viveu exatamente no tempo de Luís XIV, ou seja, no auge do “Ancien Régime”, em que as condições de comunicação do pensamento eram muito diferentes das hodiernas, mas de algum modo já as prenunciavam.

É uma coisa curiosa na história dos descobrimentos, das invenções e das modificações da vida social, como vem nascendo no espírito das nações, com longas antecedências, apetências para as coisas que mais tarde os descobrimentos inesperados vão fazer surgir.

Ao analisarmos as obras escritas na Idade Média, notamos aquelas grandes coleções. É a era do pensamento sério, das sumas; livros escritos em pergaminho, em material volumoso, bibliotecas com aquelas coleções enormes. Quando aparece a imprensa, começam a surgir os livros menores. O material vai se tornando mais leve, mas também, simultaneamente, começam a desaparecer as grandes sumas e as grandes obras de conjunto.

O espírito humano torna-se fragmentário: os livros especializados e as cartas

O espírito humano, perdendo aquela unidade medieval, vai se tornando fragmentário, produzindo obras menores sobre pontos específicos e perdendo apetência para as grandes universalidades, os grandes conjuntos do pensamento. De onde as coleções de livros ainda continuarem a existir, mas com uma tendência a desaparecer e darem origem ao ensaio, ao livro especializado.

Mas já no tempo de Luís XIV e, portanto, da Madame de Sevigné, começam as cartas a tomarem um papel paralelo ao dos livros. As estradas se tornaram muito mais seguras, o transporte por mensageiros a cavalo e a carruagem começou também a se tornar mais fácil, mais seguro e, com isso, a correspondência postal, sem ter adquirido a institucionalização que obteve no século XIX, foi, entretanto, se tornando também mais metódica. Assim, começou a aparecer um estilo novo de comunicação de pensamento mais delgado do que o livro, que é a carta.

Havia cartas de duas espécies: uma tratando de um assunto doutrinário, e outra dando notícias. As que tratavam de assuntos doutrinários eram grandes cartas escritas por personagens eminentes.

Anteriormente a esse nosso Santo, o infame Erasmo, por exemplo, um pouco posteriormente a ele o infamíssimo Voltaire, fizeram uma obra revolucionária enorme através de cartas que eram, muitas vezes, doutrinárias ou de análise de fatos, que eles mandavam a vários outros homens célebres do tempo. Célebres por sua cultura, por seu talento, pela alta posição política, pela ligação que tinham com os acontecimentos da época, ou pela categoria eclesiástica ou nobiliárquica que ocupavam.

Essas cartas, depois, eram copiadas. Por exemplo, um sujeito qualquer que recebesse uma carta de Erasmo ou de Voltaire, tomava a missiva recebida mais a resposta dele e publicava. Aquilo era impresso e distribuído. Ele mesmo mandava para seus relacionamentos, a fim de verem que ele escreveu uma coisa tão importante que o grande Erasmo, o grande Voltaire se dignou responder. Então, as duas cartas constituíam quase que um tratadinho a respeito de algum tema.

Coisa muito apreciada era a carta sobre uma controvérsia entre dois personagens sumos a respeito de determinado assunto. Uma troca de correspondência entre o Cardeal Caetano e Lutero, por exemplo, constituía um fino alimento para os espíritos eruditos.

Surgem os artigos de revista e de jornal

Vemos, assim, como vai nascendo, de longe, o artigo de revista e de jornal. Antes mesmo de haver a revista e o jornal, o espírito humano ia engendrando algo que preparava as condições para esses meios de comunicação.

Concomitantemente, havia os noticiários que circulavam largamente. Antes de a imprensa chegar ao desenvolvimento que ela atingiu no século XIX, existiam nas capitais dos países agências que mandavam as notícias manuscritas para o interior, mediante assinatura. Já eram, portanto, “jornais” manuscritos, antes de haver propriamente os jornais, de tal maneira o espírito humano vai adiante da descoberta. Depois é que vem a descoberta e alcança celebridade. Mas é porque havia condições no espírito humano para notar aquele progresso e aproveitá-lo. Do contrário, aquilo passava desapercebido e ninguém se incomodava.

É bonito notar como a Igreja vai engendrando, para cada nova forma de comunicação, formas novas de talento. De maneira que a epistolografia, a qual desde os tempos dos romanos havia decaído, tomou exatamente a partir do século XVI um realce muito grande. Assim, vemos surgir grandes Santos epistológrafos.

O apogeu do gênero epistolar

O Bem-aventurado Sebastião Valfré, grande teólogo e filósofo, escreveu três livros e uma multidão de cartas que, com certeza, circularam amplamente no tempo dele e fizeram muito bem, pois este era um estilo clássico de se comunicar.

Hoje a carta decaiu enormemente de importância e de qualidade, pois foi substituída pelos modernos meios de comunicação: jornal, rádio, televisão, telefone, etc. Quando estes não existiam, a tendência de quem escrevia cartas, sabendo que as notícias seriam tão bem aproveitadas, era de aprimorar o estilo, arranjar um bonito papel e elaborar uma linda caligrafia. Quer dizer, tudo quanto cerca uma carta chegou ao seu apogeu nesse período. Temos então, nesse tempo, um grande Santo que é também um grande epistológrafo.

No século XIX tivemos o grande jornalismo católico, cujo rei foi Louis Veuillot. Ele se tornou o jornalista católico perfeito, realizando uma coisa que poderia parecer impossível: num estilo definidamente baixa de nível, fazer coisas de alto nível. A forma do jornalismo de Louis Veuillot era a seguinte: ele tinha uma visão penetrante e clara dos “flashes” da realidade. Ele não era nem um pouco um espírito capaz de fazer uma suma. Um ou outro livro de grande porte que ele escreveu não foi bem sucedido. Mas ele tinha uns “flashes” a respeito da realidade, uns “aperçus”, em que ele pegava a coisa com muita clareza. E tinha um francês ligeiro e insolente que exprimia aquilo sucintamente. Em três gotas de tinta ele construía ou destruía uma pessoa, uma argumentação ou uma refutação. Dessa maneira ele teve a forma de talento própria ao estilo jornalístico para defender a causa contrarrevolucionária.

Devemos ver os desígnios de Deus nos castigos que Ele impõe

Notamos aqui os desígnios secretos da Providência. E como são insondáveis as coisas de Deus. É bonito que Deus Nosso Senhor tenha constituído talentos que se adaptassem a essas várias formas que foram aparecendo. Nós não vemos um talento que tenha dado um brado de alarme contra as sucessivas baixas que essas formas representavam. Por quê? Evidentemente, castigo de Deus para a humanidade. Deus, descontente, permitia que a casa fosse caindo em ruínas, e ia dando engenheiros para colocarem escoras nela. Mas não deu engenheiros capazes de deterem a ruína e reconstruírem a casa. Porque havia pecados no mundo que provocavam a cólera d’Ele. Por causa disso, chegamos ao momento em que a casa está a ponto de ruir.

Alguém dirá: “Mas Dr. Plinio, com isso não foi derrotada a Igreja? Ora, se Deus ama a Igreja, não seria razoável que Ele evitasse para ela essa humilhação?”

Cada vez que a Igreja é aparentemente vencida, a derrotada não é ela, mas sim a humanidade. Porque a Igreja existe para beneficio dos homens. Portanto, sempre que Deus permite a sua invencível Igreja ser batida, açoitada pelos ventos, o mal é para o gênero humano, não para ela. Devemos ver os desígnios d’Ele nos castigos que Ele impõe.

Nós temos, com isso, uma meditação a respeito do talento epistolográfico desse Bem-aventurado.

 

(Extraído de conferência de 30/12/1969)

 

1) Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. XXII, p. 211-216.

28 de Janeiro – O Anjo das Escolas

O Anjo das Escolas

Nos últimos dias de sua vida, estando hospedado em uma Cartuxa, São Tomás de Aquino fez um comentário ao “Cântico dos Cânticos”, Livro da Bíblia que canta o amor divino.

Ele, que era o Anjo das Escolas, morreu ensinando a perfeição do amor de Deus a esses religiosos, almas puríssimas, todas feitas para o amor de Deus, cuja função não é tanto de meditar sobre a ciência quanto sobre a caridade, suscitadas para se separarem de tudo no mundo e viverem apenas pensando no divino amor.

Que bela cena: as últimas palavras de São Tomás de Aquino engrandecendo o amor de Deus, e aqueles monges reverentes, bebendo aquelas palavras como se cada um sorvesse uma gota descida do Céu!

Assim se fechou, no extremo da contemplação e do isolamento de todas as coisas do mundo, a vida desse grande Doutor da Igreja.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/3/1967)