17 de novembro – Santa Isabel da Hungria – Constância em meio à dor

Santa Isabel da Hungria – Constância em meio à dor

A Idade Média pode ser comparada a uma catedral, em cuja fachada estão colocadas imagens de muitos santos. Uma dessas figuras foi Santa Isabel da Hungria, glória da Ordem Terceira Franciscana e um dos ornamentos da Cristandade

O calendário dos santos nos traz à memória Santa Isabel, viúva e religiosa, que viveu no século XIII, filha do Rei André II da Hungria e esposa de Luís, “Landgraf” da Turíngia.

O que era um “Landgraf”? Ao pé da letra, “land” significa terra e “graf”, conde. O “Landgraf” é um Conde da Terra. E foi com um grande senhor feudal, um príncipe, que ela se casou.

Muitos santos passam por dramas

Eu gostaria de considerar a biografia de Santa Isabel da Hungria debaixo de um ângulo muito interessante, que é o seguinte:

O itinerário, a linha geral, da vida de muitos santos se parece com o de Santa Isabel da Hungria. É uma situação inicial, um drama que leva a pessoa até ao heroísmo, depois se passam alguns anos de aperfeiçoamento e de estabilidade na quietude e no heroísmo, é a santificação, e por fim a morte.

Pode-se encontrar isso na vida de quase todos os santos que mudaram o seu estado de vida.

O santo mais característico nesse sentido é Santo Inácio de Loyola, um gentil-homem que frequentava a corte, era guerreiro e tinha todas as ambições costumeiras de um fidalgo de seu tempo. Entretanto, abate-se sobre Inácio o drama, que começa com o ferimento no cerco de Pamplona e termina quando ele fundou a Companhia de Jesus; foi uma fase convulsionada e difícil de sua vida. Fundada a Companhia de Jesus, inicia-se outro período de luta, mas com certa estabilidade. Depois de algum tempo ele morre.

Assim foi também com Santa Teresa de Jesus. Ela era tíbia, quer como pessoa do século, quer como religiosa, mas que depois se transformou tanto, a ponto de ser um vergel de santidade até os dias atuais. Mas é o drama: a religiosa tíbia que passa a ser fervorosa e fundadora e tem de enfrentar inúmeras dificuldades e tragédias. Depois, segue um período de estabilidade; a obra está fundada, ela é a Superiora Geral, dirige-a por algum tempo e morre.

No castelo de Wartenburg

A mesma coisa se passou com Santa Isabel. Ela era filha do Rei da Hungria e esposa do Duque da Turíngia. Era, portanto, uma senhora de alta posição social, que vivia na perfeita prática da virtude. Não se pode falar propriamente de sua conversão, mas ela vivia feliz no século. Deus a destinava a ser uma glória da Ordem Terceira dos Franciscanos, para iluminar e tornar-se um dos ornamentos da Cristandade medieval.

A Idade Média pode ser considerada como uma catedral, em cuja fachada estão colocadas imagens de muitos santos. Uma dessas figuras ornamentais e inspiradoras é exatamente Santa Isabel da Hungria.

Ela foi para o Castelo de Wartenburg, na Turíngia, aos quatro anos de idade. Naquele tempo prevalecia a ideia — pelo menos nas altas camadas sociais — de que era conveniente mandar as meninas para os castelos das famílias onde deveriam se casar. Pois poderiam receber toda a formação do lugar e assumir inteiramente todos os seus costumes, embora elas fossem livres de dizer “não” no momento em que atingissem a maioridade, e de fato não se casassem.

Santa Isabel foi para lá e teve uma vida muito feliz. Ela e seu esposo deram-se muito bem.

O leproso acolhido no castelo

Entretanto, o que acontece na realidade é que os verdadeiros filhos de Deus sempre acumulam em torno de si a inimizade das pessoas más e invejosas. Não existe nenhum verdadeiro católico que não seja perseguido. Nosso Senhor Jesus Cristo já prevenira aos seus de que todo autêntico discípulo d’Ele seria perseguido como Ele o foi.

Santa Isabel tinha contra si toda espécie de odiosidades, que vinham, muitas vezes, devido a sua prática da perfeição. Os ímpios e invejosos exploravam aspectos de suas virtudes que eram incompreensíveis a eles, pois tinham mau espírito.

Assim, por exemplo, em certa ocasião ela acolheu um leproso que viu passar pela rua e o convidou a entrar em seu castelo, deitou-o em seu leito e começou a tratar dele como se fosse o próprio Cristo, à vista daquela palavra de Nosso Senhor de que todos os sofredores representam a Ele. A sogra de Santa Isabel soube disto e procurou a Luís, seu filho, e lhe disse: “Veja o que sua esposa está fazendo! Colocou um leproso em sua cama, para que depois você seja contagiado! Vá até lá e veja que estou falando a verdade!”

Ele foi e encontrou o leproso deitado na cama, e disse:
— O que é isto? O que significa este homem deitado neste leito?

Ela respondeu:
— Meu esposo, este homem é Nosso Senhor Jesus Cristo.

No momento em que ela afirmou isto, deu-se o milagre e o Duque viu, no leproso, a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E sentiu um admirável odor de rosas, que se expandia da pessoa do leproso. Ele ficou profundamente impressionado e a sogra perdeu a partida.

O Duque Luís era muito bom homem. Ele partiu para a Cruzada, foi contagiado pela peste e acabou morrendo.

 

Terrivelmente perseguida, refugiou-se numa floresta com seus filhos

Desde então, a perseguição se desencadeou contra Santa Isabel de um modo trágico. Ela, que era Duquesa da Turíngia e filha do Rei da Hungria, teve de morar num estábulo de porcos. Foi uma perseguição tremenda, que nos faz ver bem qual é a realidade das misérias humanas.

As pessoas que a desprezaram eram as que tinham sido beneficiadas por ela, mas que agora se manifestavam frias na hora do infortúnio. Em vez de irem ao encontro dela, afastavam-se, mantinham distância, pois estavam com medo das represálias que poderiam sofrer pelos que odiavam a Santa Isabel.

Certa noite ela acabou sendo acolhida num convento, no qual foi muito bem recebida, mas depois teve de se retirar, porque seu cunhado estava se aproximando. Antes de sair, pediu que se cantasse o “Te Deum”, para dar graças a Deus pelos sofrimentos pelos quais ela estava passando. Logo depois que saiu, caiu uma forte chuva sobre ela e seus filhos. E era uma chuva de inverno europeu, água gelada! E Santa Isabel, escondida numa floresta com seus filhos, sofrendo tudo aquilo teve um desfalecimento; parece ter sido tentada a ter dúvidas contra a Fé. Não se sabe qual foi o grau de seu consentimento, mas de qualquer maneira ela se penitenciou a vida inteira por isto. A Providência a perdoou, e ela chegou até a mais alta santidade. A fortuna lhe foi restituída, mas ela não quis voltar para as regalias antigas e dedicou-se de corpo e alma à Ordem Terceira dos Franciscanos.

A partir do momento em que seu marido vai para a Cruzada e morre, se inicia o drama para Santa Isabel: Ela fica sozinha, perde o ducado, é perseguida e começa para ela uma vida muito mortificada e miserável. Passa por dilacerações tremendas, e a boa moça se transforma numa heroína, depois na santa que vive todo o tempo na santidade e por fim morre. São três etapas que se pode verificar em muitas vidas de santos.

Isso também se verifica na vida comum: uma família se constitui, luta para ganhar a vida, formar e santificar os filhos, fazendo deles verdadeiros cumpridores da Lei de Deus. Quando essa batalha é vencida, os pais já estão velhos, têm um período de estabilidade e depois vem a morte.

Provavelmente isso se dará conosco. Nós temos um período de germinação, e depois de um período de lutas também chegará a ocasião de preparar a nossa alma e prestarmos contas a Deus.

A vida não teria sentido se não houvesse a luta

Devemos compreender, portanto, que todos os dramas da vida fazem parte dessa arquitetura e que a existência não teria sentido se não fosse exatamente esse aspecto de luta, de tragédia, de martírio, em função do qual todo o resto se desenvolve. Uma coisa é a preparação e outra é a conclusão, mas o importante é a parte da luta, a fase dramática, na qual o homem dá tudo quanto tem, tudo quanto pode dar!

E precisamos nos preparar para isso com muito entusiasmo, como um cavaleiro se preparava durante sua vigília de armas. Compreendendo que a fase mais importante da vida vai ser essa: algum momento, por vezes interior, em que a pessoa transpira sangue como Nosso Senhor no Horto das Oliveiras. Mas ela tem um ato de fidelidade e vai para a frente, confiando na misericórdia de Nossa Senhora. É o ápice da vida!

Feliz aquele cuja vida apresenta muitos ápices, que desfecha num ápice central! Compreendemos então a beleza da vida de cada homem, considerada sob este aspecto.

A vida de Santa Isabel da Hungria nos apresenta exatamente um exemplo muito frisante, muito importante. Peçamos a ela que nos dê a coragem nessas grandes horas e o desejo dessas grandes horas.

Devemos ver também na vida desta santa um exemplo de constância em meio às piores desgraças. Há duas formas de constância na desgraça: uma quando a desgraça acontece e a pessoa a suporta. Outra quando a pessoa prevê a desgraça, fita-a com olhos calmos e oferece a Nossa Senhora o sacrifício que vai ter, e faz a oração de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras: “Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!”

Essa foi a vida de Santa Isabel da Hungria, e assim deve ser a nossa. Na calma, a resignação de ver as desgraças pelas quais devemos passar e ter a constância no decurso delas. Isso não se pode conseguir a não ser seguindo o exemplo adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo: na hora da aflição vigiar e orar para não cair em tentação. Peçamos isso a Nossa Senhora, cuja prece é onipotente!

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 19/11/1965 e 18/11/1966)

17 de novembro – São Gregório Taumaturgo

São Gregório Taumaturgo

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos, com muito mais razão realizará milagres extraordinários para solucionar questões de altíssima importância, desde que peçamos com muita insistência e confiança, através de Nossa Senhora.

Em 17 de novembro comemora-se a festa de São Gregório Taumaturgo, a respeito do qual temos os seguintes dados biográficos:

Gregório nasceu em Neocesareia, por volta de 213. Foi discípulo de Orígenes e se tornou bispo de sua cidade natal. Ilustre por sua doutrina e santidade, ele o foi ainda mais pelo número e pelo brilho dos milagres extraordinários — razão pela qual foi chamado o Taumaturgo — que o tornaram, segundo o testemunho de São Basílio, comparável a Moisés, aos Profetas e aos Apóstolos.

Por sua oração ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja. Secou uma lagoa que era para seus irmãos uma causa de discórdia. Deteve as inundações do Rio Icus que devastavam os campos, introduzindo no rio seu bastão, o qual imediatamente criou raízes e se transformou numa grande árvore, formando um limite que o rio nunca mais excedeu.

Muitas vezes ele expulsou os demônios dos ídolos e dos corpos e realizou muitos outros prodígios, pelos quais multidões de homens foram conduzidas à Fé de Jesus Cristo.

Possuía também o espírito dos Profetas, e anunciava o futuro. No momento de deixar esta vida, tendo ele perguntado qual o número dos infiéis que permaneciam em Neocesareia, lhe responderam que não era senão dezessete. E dando graças a Deus ele disse: “Esse é o mesmo número dos fiéis, no começo do meu episcopado”.

Escreveu vários trabalhos que, como seus milagres, ilustraram a Igreja de Deus. Morreu entre 270 e 275.

Milagres incontestáveis e não fruto de sugestão

Sem dúvida, é um grande santo!

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses milagres, para entendermos alguma coisa da missão dele.

É interessante que no enorme conjunto de santos a Providência, que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres, entretanto escolhe alguns para realizar muitos milagres. Isso tem uma razão de ser profunda, porque os milagres operados em grande número pela mesma pessoa indicam mais a ação extraordinária de Deus. Que uma pessoa faça um ato miraculoso, já é inverossímil. Mas que realize muitos e muitos é mais inverossímil ainda, de maneira que esses milagres dão muito mais glória a Deus.

E aqui está um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no século III, em que ele viveu. O que esses milagres têm de interessante é que nenhum deles pode-se explicar pela sugestão.

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestão. Mas nenhum doido pode dizer que uma montanha ficou sugestionada, e por isso mudou de lugar; ou que um lago secou por uma sugestão.

Alguém objetaria: “Ele sugestionou as pessoas que os viram”.

A sugestão não dura a vida inteira. Está um monte aqui, que se move para lá. É uma sugestão das pessoas que viram; quando passa a sugestão, onde se encontra o monte? O monte deveria ter voltado para o lugar anterior…

O lago estava cheio e, por um fenômeno de sugestão, as pessoas tiveram a impressão de que ele secou. Mas se assim fosse, quando passasse essa impressão, o lago deveria estar cheio de novo… Depois, aquele crescimento imediato de uma árvore porque ele colocou o bastão dentro da água. Terminada a impressão, as pessoas deveriam ver o bastão e não a árvore. Ora, viram uma árvore crescer imediatamente, a ponto de mudar o curso de um rio… Portanto, são milagres categóricos, incontestáveis. A Providência deu a este santo esse dom de milagres para que assim se compreenda como a Igreja é divina.

Deus nos atende com liberalidade magnífica

Mas foi só para isso? Não. Há ainda outras razões.

Primeiro, uma montanha que precisava ir embora, para ele poder ter um lugar cômodo a fim de construir uma igreja. Foi um prodígio enorme, feito por ocasião de um pedido não muito importante. Porque, afinal de contas, se não se pode edificar uma igreja aqui, constrói-se lá. Não é irremediável que uma montanha esteja atrapalhando a construção de uma igreja…

Por que a Providência deu a ele a graça de operar esse milagre, a propósito de uma coisa que parece não ser de primeira importância?

É para mostrar como Deus é paterno, como a Providência é materna para conosco. Os milagres não se operam somente quando estamos com angústia, presos pela “garganta” pelas maiores tragédias. Mas Deus é Pai, Nossa Senhora é Mãe, e nos dão graças muito grandes, com uma liberalidade magnífica, mesmo quando não nos encontramos na última aflição.

O “Livro da Confiança” insiste neste ponto: é preciso pedir muito e com insistência, mesmo coisas que não sejam muito importantes, e ser-nos-ão concedidas.

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas para simplificar a vida de um santo, a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito.

Outro milagre: seus irmãos estavam brigando por causa de uma lagoa, e ele a secou. É uma espécie de malicioso castigo para os irmãos. “Vocês estão se estraçalhando pela posse dessa lagoa? Pois bem, ela se tornará seca e não ficará com ninguém!”

Provavelmente, se ele passasse uma boa descompostura nos irmãos, resolveria a contenda da mesma maneira; é um episódio íntimo, uma briguinha de família que não tem nada de mais trágico. Entretanto, foi feito o milagre para solucionar o caso.

O terceiro milagre era para evitar as inundações de um rio. Também é uma coisa que a humanidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse.

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir à ideia de que, se para bagatelas dessas um santo pode ser atendido, podemos ser acolhidos também quando pedimos coisas muito mais importantes. Porque quem faz o mais, faz o menos. E se é mais extraordinário fazer um milagre por uma bagatela, é menos extraordinário realizá-lo para uma coisa que não seja bagatela.

Portanto, pelas necessidades da nossa vida espiritual, quantas montanhas devem ser removidas, quantas lagoas têm que ser secadas, quantas inundações que transbordam e precisam ser remediadas! E com quanta confiança devemos, portanto, nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores!

Alguém me dirá:
— Ah, Dr. Plinio, antes fosse como o senhor diz… Mas a questão é que nós não somos São Gregório Taumaturgo. Ele era um santo e conseguia.

Eu respondo:
São Gregório está no Céu e se encontra ao nosso alcance; para quem olha as coisas sob o ponto de vista sobrenatural, é tudo tão simples. Não consigo obter porque eu sou eu, e não sou São Gregório Taumaturgo. Peçamos, então, a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa.

É preciso agir com as coisas do Céu com esta santa liberdade, eu diria quase com essa santa candura. Quanta coisa se recebe por essa forma! E é este o incitamento a que se presta a vida deste santo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/11/1965)

16 de novembro – Santa Margarida da Escócia

Santa Margarida da Escócia

Foi soberana da Escócia e sua padroeira, século XI.

“Santa Margarida era rainha da Escócia e descendia, por seu pai, dos reis da Inglaterra e, por sua mãe, dos Césares.”

“Como a mulher forte de que fala a Epístola, a prática das virtudes cristãs tornou-a mais ilustre ainda. Penetrada do amor de Deus, impôs-se terríveis mortificações e soube, com seu exemplo, levar o rei seu esposo, a uma conduta melhor para com seus súditos, e seus súditos a costumes mais cristãos. Educou os seus filhos com tanta piedade, que vários deles viveram em alta perfeição. Nada nela, porém, foi tão admirável, quanto sua ardente caridade para com o próximo. Chamavam-na ‘Mãe dos órfãos’ e a ‘Tesoureira dos pobres de Jesus Cristo’. Margarida se privava não só do supérfluo, mas até do necessário, comprando assim a ‘pérola preciosa do Reino dos céus’.”

“Purificada por seis meses de sofrimento corporais, entregou sua alma a Deus, em 1093, em Edimburgo. A santidade de sua vida e numerosos milagres operados depois de sua morte, tornaram seu culto célebre no mundo inteiro. Foi designada por Clemente X padroeira da nação escocesa, sobre a qual reinou cerca de 30 anos. Admiremos a obra do Espírito Santo na alma da santa rainha, por Ele escolhida para o desenvolvimento do Reino de Cristo na Escócia e roguemos à santa pela volta desse país à unidade Romana.” (Missal Quotidiano e Vesperal, de Dom Gaspar Lefèbvre).

Santa Margarida é uma princesa que vem trazendo sangue do mais ilustre para a Escócia, que vem trazendo consigo toda a flor da civilização ocidental, ao mesmo tempo que é uma rainha maravilhosa, que deixa vários filhos em estado de perfeição, ilustres por sua virtude, que intercedeu a favor do povo, que deu esmolas, que realizou milagres, e tudo isto, sempre ungido pela coroa real, dá uma ideia tão completa da realeza, mas também de um mundo concreto onde maravilhas são possíveis e onde o extraordinário e o estupendo são realizáveis, que acaba sendo uma espécie de plenitude do princípio axiológico; daquela afirmação de que as coisas podem encontrar ordem, estão naturalmente numa disposição ordenada, e de que a ordem, mesmo a mais maravilhosa e audaciosa é realizada na terra.

É interessante ver como isso contrasta com o minimalismo de certo apostolado de hoje. Quando se consegue que uma pessoa seja mais ou menos boazinha, já é uma festa. Naquele tempo, o apostolado da Igreja era maximalista. As rainhas deviam ser santas e algumas delas o eram. Essas santas de tal maneira difundiam o bom odor de Jesus Cristo por toda parte, que isto acabava sacralizando a própria dignidade régia e criando uma espécie de ambiente de feeria, uma espécie de ambiente de maravilha na civilização medieval, da qual precisamente os vitrais são um reflexo.

Os vitrais, apresentando os santos no meio de fogos incandescentes, no meio de pedacinhos de vidro dourados, cor de rubi, cor de esmeralda, com uma luz na cabeça, aqui a coroa real sobre uma mesa, a santa que derrama flores em torno de si, etc. Tudo isto é a imagem do próprio modo como o medieval concebia a vida, por exemplo, de uma Santa Margarida,  Rainha da Escócia. Isto evitava, naturalmente, que o povo se voltasse para o culto do horroroso, procurando entreter-se com a vida, tão freqüentemente escandalosa, de atores, atrizes e de tantas outras coisas assim. Porque o povo, queira ou não queira, procura o maravilhoso.

A facilidade com que foi possível realizar o culto da personalidade na Rússia, com aquela horrenda “maravilha” que foi Stalin, prova bem isso. Não se apresentando um certo tipo de maravilha, tem-se que apresentar um outro tipo de “maravilha”. E quando o povo não se maravilha com Jesus Cristo, acaba se maravilhando com Barrabás.

… imaginem, por exemplo para se ver o efeito do que seria uma vida de Santa Margarida sobre a alma das pessoas, que agora houvesse uma conversão da princesa Margareth Rose, e que ela começasse a realizar milagres, que ela fosse vista dando esmolas para pobres, não de um modo socialista, que ela tivesse filhos que fossem tidos como verdadeiros santos, e que isso se desse num ambiente de legenda.

Ela seria odiada, contra ela se desencadearia uma perseguição horrorosa, mas ao mesmo tempo, milhares de almas vibrariam de entusiasmo por ela, e a fotografia dela estaria na parede das casas de operários, de camponeses de todos os lugares do mundo. Como esse simples fato impressionaria! E como impressionaria prodigiosamente! O prestígio de uma rainha na Escócia, naquela época, era imensamente maior do que o de uma rainha hoje, a “fortiori” de uma princesa.

Os senhores podem imaginar o que era a fama de Santa Margarida, rainha da Escócia, em toda a Cristandade. Aí é que se compreende o bem que isso poderia fazer!

Plinio Corrêa de Oliveira – excertos de palestra

16 de novembro – Santa Gertrudes e a linguagem simbólica de Deus

Santa Gertrudes e a linguagem simbólica de Deus

Aproveitando a ocasião de uma Festa de Cristo Rei, Dr. Plinio comenta, enlevado, os diversos reluzimentos da infinita majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo ao longo de sua passagem neste mundo. Majestade coroada nas glórias da Ressurreição e perpetuada nos grandiosos acontecimentos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Ao considerarmos a celebração da realeza de Cristo e, pois, da majestade do Filho de Deus, creio ser conveniente voltarmos nossos olhos para um aspecto pouco ressaltado quando se aborda esse tema.

Risco, dor e dever são inerentes à majestade

Majestade, do latim “major stare”, significa estar acima, no píncaro. Devemos então começar por compreender que essa condição de supremacia envolve muita reflexão. Não uma reflexão qualquer, mas inspirada, iluminada e elevada pela graça. Esse teor de pensamento patenteia, à pessoa que se encontra nessa posição suprema, o dever, o risco e a dor inerentes à sua condição. Porque possuir majestade consiste também — e não na menor medida — em aceitar a dor, o risco, as obrigações com todos os seus ônus.

Alguns espíritos contemporâneos, superficiais e avessos à reflexão, amigos das facilidades e inimigos da dor e do sofrimento, talvez se sintam contrariados com essa noção de majestade. Tal recusa, porém, não torna essa noção perempta, porque ela permanece invariável: se alguém se afasta dela, não é o conceito que decai, e sim esse alguém. Mais ou menos como um navio que afunda e, por isso, se distancia da luz do sol. Não é o astro que soçobra e desaparece, mas o navio. O sol continua a brilhar no alto dos céus.

A majestade autêntica provém da Fé

As grandes verdades e normas, os grandes princípios e planos, as grandes máximas e execuções são os aspectos por onde um homem, mesmo de condição comum, pode ter majestade. Portanto, essa majestade todo indivíduo deve desejar, sem nenhum prejuízo para a modéstia e a virtude da humildade que ele igualmente deve praticar.

Pois, entendamos, a majestade não é uma faceirice como uma gravata ou um atavio que vestimos para mostrar aos outros: “Veja, chegou-me de Paris”. Não, a autêntica majestade não é enfeite, e nunca ensoberbece aquele que a possui. Pelo contrário, o indivíduo que tem majestade se sente sempre pequeno diante dela, compreende que, por mais majestoso que seja, como simples indivíduo não é diferente de todo mortal. A majestade lhe vem da fé, da influência da Santa Igreja à qual ele se dispõe a aceitar. Se for honesto consigo mesmo, ele se perguntará sempre se levou sua própria majestade à altura para a qual foi criado.

O Rei por excelência, crucificado e rejeitado

Tocamos, então, no exemplo sublime que ilustra os conceitos acima considerados: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pensemos na majestade do Homem-Deus no Calvário, sentenciado, condenado e pregado na cruz. Sobre Ele recaíram as piores execrações possíveis. Era o rejeitado por excelência, como nenhum outro ser humano fora nem será. Durante três anos de sua vida pública, Nosso Senhor não fez senão procurar atrair os outros, manifestando-lhes uma sabedoria, uma misericórdia e uma bondade infinitas. Seu império sobre as forças da natureza tornou-se patente em mais de uma ocasião. Um poder capaz de levantar um morto sepultado há quatro dias e que já cheirava mal, com uma simples ordem: “Lázaro, sai para fora!”

As tempestades agitam as águas do mar e, a uma palavra d’Ele, tudo serena. Falta vinho, Ele manda encher algumas bilhas de água e, quando o mordomo se põe a servir, espanta-se com a qualidade do vinho que é oferecido aos convidados das bodas de Caná. A multidão tem fome? Ele multiplica os pães e os peixes e ordena aos Apóstolos saciar aquela gente. A comida se verifica tanta que, com os restos, ainda enchem doze canastras.

Por onde Nosso Senhor passava, maravilhas se sucediam. Poder, sabedoria, bondade e ternura insondáveis. Seu olhar, sua fisionomia, suas mãos e sua presença divinas estavam repletos de dons ofertados aos homens. O povo O proclama rei para em seguida rejeitá-Lo em favor do facínora Barrabás.

Rejeição completa, na qual Nosso Senhor nada perdeu de sua majestade infinita, de sua distinção incomparável. Qualquer um que, de olhar límpido e isento de preconceitos, O visse pregado na cruz, ajoelhar-se-ia e diria: “Meu Rei!”

Não houve nem haverá na História um monarca que tenha, sequer de longe, manifestado semelhante majestade.

 

Grandeza régia do cadáver divino

Nosso Senhor morre, alguns discípulos mais corajosos retiram o corpo d’Ele da cruz. Ao longo dos séculos, os pintores têm se empenhado em salientar um aspecto verdadeiro da descida da cruz, isto é, o corpo santíssimo de Jesus sujeito às leis da gravidade, sem vida, pendendo para onde o inclinam. Retirado do madeiro, o depositam no colo virginal de Maria Santíssima e o preparam para ser deixado na sepultura. Igualmente se esforçam os artistas em retratar a dor da Mãe e a inanição do Filho.

Entretanto, se me fosse dado sugerir algo a um pintor ou escultor, pediria que encontrasse um meio de apresentar, na simplicidade e misérias extremas dessa Mãe e desse Filho, a sublime majestade de ambos: a régia grandeza do cadáver divino, e como Maria se sentia dignificada com aquele tesouro depositado no seu colo.

Incomparável majestade da Ressurreição

Pensemos, em seguida, na Ressurreição e naquilo que poderíamos chamar de “re-esplendor” da majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo. No interior do jazigo, escuridão profunda. Mais majestoso do que todo o céu e do que toda a terra, ali repousa o corpo exangue do Redentor. Em determinado momento — imaginemos — a alma santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo a ele retorna e o revivifica, vencendo a morte.

Se um relâmpago, mera descarga elétrica, pode ser majestoso; se o sol, cujo fulgor é produto de gases em combustão, tantas vezes nos parece envolto em majestade, que dizer da apoteose que terá sido a alma de Cristo voltando ao seu corpo?

O tema é por demais elevado para nossas cogitações, e creio que pincel de artista algum seria capaz de representá-lo de maneira conveniente.

A pedra do sepulcro se move e o Senhor Glorioso abandona as trevas do túmulo para reaparecer na luz da vida. É a primeira festa de Páscoa da História da Igreja e que se repetirá, todos os anos, até o fim dos tempos. Majestade!

Pentecostes e as catacumbas: exemplos perfeitos de majestade

Poderíamos ainda evocar outras cenas que se seguiram à gloriosa Ressurreição do Rei Divino, as quais espargem reflexos de sua infinita majestade.

Cenáculo. Nossa Senhora e os Apóstolos estão ali reunidos, recolhidos em oração e recordações dos ensinamentos do Mestre. Sentem que algo de extraordinário está por acontecer. Seus corações se inflamam a cada nova oração, a cada nova lembrança das palavras de Jesus. O ambiente se reveste de grandeza, e os discípulos se tomam de um encantamento crescente pela pessoa de Maria Santíssima, vendo n’Ela a imagem do Filho. Tudo reluz.

Subitamente, quando pensam que atingiram o auge de suas cogitações, tudo ainda estava por vir: o Divino Espírito Santo aparece em forma de línguas de fogo e deita sobre cada um deles a plenitude de seus dons. Majestade!

Apresentação no Templo, por Gentile da Fabriano – Museu do Louvre, Paris

Muda a cena. Correm os séculos, e estamos nas catacumbas de Roma. Labirintos escavados no subsolo da velha urbe. Terra onde os cristãos depositam os corpos inanimados dos seus mártires. Naqueles túneis vivem e transitam pessoas humildes e ilustres, ricos e estropiados, católicos de todas as condições que iam assistir a Missa celebrada pelo sucessor de Pedro.

É uma noite de Natal, digamos. Noite comum para os romanos antigos, alguns dos quais se embriagavam em orgias; mas, lá embaixo, naquela cidade sob a cidade, entre paredes ornadas com pinturas primitivas que lembram cenas evangélicas, o Papa celebra o nascimento e a glória de Cristo. Exemplos perfeitos de majestade.

Revestida de seu manto majestoso, a Igreja atravessa os séculos

É a majestade da Fé, a majestade do sobrenatural professada até nas condições hostis e adversas das catacumbas, desafiando o martírio e a morte, enfrentando o império mais poderoso da Terra, admirando a pessoa do vigário daquele Cristo que adoram, com uma reverência tão grande que sua admiração ilumina aquele subterrâneo inteiro.

Majestade das almas, e, mais ainda, majestade de Deus que de algum modo se comunica àqueles primeiros cristãos e brilha nos seus olhares e na suas demonstrações de Fé.

Majestade primitiva da Igreja que continha em germe todas as majestades que ela manifestaria ao longo dos séculos, nas suas liturgias e na sua história, como uma rainha revestida de um imenso e precioso manto de beleza.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 27/11/1982)

16 de novembro – O maravilhoso realizado na Terra

Refulgente destruidor das heresias

Na vida de Santa Margarida da Escócia nota-se a existência do maravilhoso na Idade Média dia. Não do maravilhoso como uma fábula ou lenda, mas como algo de realizável.

Para a brumosa Escócia, então terra de missão, essa princesa vinha trazendo sangue ilustre, toda a flor da civilização ocidental, tornando-se uma rainha magnífica, que deixa vários filhos ilustres por suas virtudes, e que intercedeu a favor do povo, deu esmolas, realizou milagres.

Tudo isso sempre ungido pela coroa real, além de uma ideia completa da realeza, apresenta um mundo concreto onde maravilhas são possíveis e o extraordinário, o estupendo, a ordem, mesmo a mais excelente e audaciosa, são realizáveis na Terra.

Santas como esta de tal maneira difundiam o bom odor de Jesus Cristo por toda parte, que acabavam sacralizando a própria dignidade régia e criando uma espécie de ambiente de feeria, de maravilhoso da civilização medieval, do qual os vitrais são um reflexo, apresentando os bem-aventurados em meio a pedacinhos de vidros dourados, cor de rubi, de esmeraldas, com uma luz na cabeça, a coroa real sobre uma mesa, uma santa que derrama flores em torno de si… Tudo isso é a imagem do próprio modo como o medieval concebia a vida, por exemplo, de uma Santa Margarida, Rainha da Escócia.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/6/1964)

15 de novembro – Refulgente destruidor das heresias

Refulgente destruidor das heresias

Santo Alberto Magno refulgiu enquanto intelectual, contemplativo e homem de ação porque colocou acima de tudo a vida interior. Mereceu, assim, este elogio expresso num vitral da igreja dos dominicanos de Colônia: “Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes, refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus.”

 

A respeito de Santo Alberto Magno, temos uma biografia muito interessante(1) sobre a qual pretendo tecer alguns comentários.

São Tomás de Aquino: o mais ilustre de seus discípulos

Alberto, o Grande, nasceu por volta de 1206, em Laurigen, na Baviera. Depois de uma educação cuidadosa, recebida em sua infância, foi estudar Direito em Pádua. Lá ele encontrou o Bem-aventurado Giordano, mestre geral dos Irmãos Pregadores, cujos conselhos o engajaram a entrar na família dominicana.

Logo se fez notar por sua terna e filial devoção para com Nossa Senhora, e pela fidelidade de sua observância monástica. Enviado a Colônia para completar os seus estudos, era tão aplicado que parecia ter penetrado todas as ciências humanas, mais do que nenhum de seus contemporâneos.

Julgado digno de ensinar, foi nomeado professor em Hildesheim, Friburgo, Ratisbona, Estrasburgo, enfim na Universidade de Paris, onde ele demonstrou o acordo existente entre a fé e a razão, as ciências pagãs e as ciências sacras. O mais ilustre de seus discípulos foi São Tomás de Aquino, que lhe devia suceder na Sorbonne.

Poderoso intelectual, grande contemplativo e homem de ação

Ele voltou a Colônia para dirigir os Capítulos Gerais de sua Ordem, foi nomeado Provincial na Alemanha, depois Bispo de Ratisbona. Lá ele se dedicou a seu rebanho e conservou seus hábitos de simplicidade religiosa. Mas ele renunciou três anos depois, em 1262. Desde então exerceu o ministério da pregação, agiu como árbitro e pacificador dos príncipes e dos bispos, assistiu ao II Concílio de Lyon e morreu em 1280. Por decreto de 16 de dezembro de 1931, Pio XII o inscreveu no número dos Santos e o nomeou Doutor da Igreja Universal.

Num vitral da igreja dos dominicanos de Colônia podiam-se ler, a partir do ano de 1300, as seguintes palavras: “Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes, refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus. Ponde-o, Senhor, no número dos vossos santos.”

Ele tinha por natureza, segundo se diz, o instinto das grandes coisas. Assim como Salomão, ele implorou o dom da sabedoria, que une intimamente o homem a Deus, dilata as almas e leva para cima o espírito dos fiéis. E a sabedoria lhe comunicou o segredo de unir uma vida intelectual intensa, uma vida interior profunda e uma vida apostólica das mais frutíferas, porque ele foi ao mesmo tempo o iniciador de um poderoso movimento intelectual, um grande contemplativo e um homem de ação.

O essencial é a vida interior

A linha geral da vida de Santo Alberto Magno está bem expressa quando se diz que ele refulgiu ao mesmo tempo nesses três dons. Ele se manifesta, nessas condições, como uma daquelas grandes figuras da Idade Média, que são os construtores e consolidadores dessa era histórica, a quem Deus deu graças para se tornarem salientes em todas as coisas, de tal maneira que se ele tivesse feito só uma delas, por exemplo, simplesmente tivesse sido o intelectual que foi, já seria um homem imortal.

Além de intelectual, ele foi um grande religioso e um grande contemplativo. E, como Santo, também só por isso teria a imortalidade. Por outro lado, apenas como modelo de bispo ele teria também uma fama durável em sua pátria.

Por que a Providência estabelece a conjugação desses três dons, e faz alguns homens brilharem nessas três pistas ao mesmo tempo? É para dar a entender a seguinte verdade: O homem deve ser, primeiro, de vida interior, e depois as outras coisas. Mas quando ele escolhe ser, antes de tudo, homem de vida interior, de fato ele põe a mais importante das condições para, nos outros campos, ser o que deveria.

Santo Alberto Magno foi muito maior como intelectual porque tinha vida interior. De maneira tal que se ele simplesmente quisesse ser um grande intelectual, pela mera ambição da cultura, ele tinha vantagem em continuar a vida interior. Se apenas desejasse ser um homem de ação, pela mera vantagem de o ser, ele deveria continuar a vida interior. Porque a vida interior verdadeira, plena, faz o homem executar a vontade de Deus com toda a perfeição e dá à alma recursos que são, em parte, a plenitude de seus recursos naturais e, em parte, carismas e dons que o fazem centuplicar as suas possibilidades. De maneira que ele fica muito maior nas outras atividades porque exatamente naquele elemento essencial ele soube ser grande.

Isso me faz lembrar um dito de Dom Chautard, o famoso autor de A alma de todo apostolado, para um político francês anticlerical, Clemenceau. Este, sabendo que Dom Chautard estava envolto em mil atividades, perguntou-lhe o seguinte:

– Como é que o senhor consegue levar a cabo tantas atividades num dia de 24 horas? Respondeu Dom Chautard:

– O segredo é que além de fazer tudo quanto faço, eu ainda rezo o Rosário. Então, acrescentando essa ocupação, há tempo para todas as outras.

É um paradoxo, porque acrescentando deveria diminuir o tempo. Mas nisso que parece uma brincadeira há uma verdade profunda: se dermos a Deus todo o tempo que devemos dar, dedicando-nos à vida interior, a Divina Providência velará por nós e teremos tempo para tudo. Essa é a grande verdade que se desprende da vida de Santo Alberto Magno.

Um elogio que desapareceu completamente

Eu gostaria de analisar rapidamente esse lindo elogio a ele, escrito no vitral da igreja dos dominicanos de Colônia:

Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes…

Coisas positivas, construtivas.

…refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus.

Quando é que hoje se elogia alguém por ser um refulgente destruidor das heresias ou flagelo dos maus? É verdadeiramente incrível como nós caímos, a tal ponto que esse elogio desapareceu completamente…                v

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 14/11/1966)

 

Revista Dr Plinio 248 (Novembro de 2018)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

11 de novembro – São Martinho de Tours, incansável apóstolo e taumaturgo

São Martinho de Tours, incansável apóstolo e taumaturgo

Nesse mês de novembro Dr. Plinio nos dá a conhecer alguns belos e tocantes aspectos da vida de São Martinho de Tours, um dos mais célebres heróis da Fé naqueles albores da Cristandade  medieval, venerado por suas grandes virtudes e denodado zelo pela salvação das almas.

Para se compreender bem o elemento de unidade da vida de São Martinho de Tours — cuja festa é celebrada em 11 de novembro — devemos considerar o que temos dito a respeito dos santos suscitados  pela Providência para serem missionários, evangelizadores, reis, príncipes, e daqueles de cujo apostolado decorreu o nascimento de nações inteiras para a Cristandade.

Factótuns de Deus

Há santos chamados a passar sua existência nos primórdios da vida religiosa de um povo, e quando essa trajetória espiritual começa a se consolidar, surgem outros apóstolos com vocação definida para continuar o trabalho daqueles. Fundam ordens religiosas, universidades, são grandes pregadores que incentivam as almas, etc.

Outros têm a curiosa tarefa de “fazer um pouco de tudo”. Sem pressa, sem dispersão, com perfeito domínio de si, enfronham-se em toda espécie de acontecimentos. Eles sustentam a boa causa em toda parte onde ela precise de um auxílio e nas mais diversas condições em que essa ajuda lhes é requerida. São, por assim dizer, os factótuns de Deus, aqueles que realizam tudo quanto desejam Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima.

Se analisarmos sob esse prisma a vida de São Martinho, a compreenderemos. Do contrário, ficaremos apenas com um conjunto de informações biográficas, sem maior sentido unitário.

Exemplo de caridade cristã

Vejamos então alguns dados sobre ele, apresentados por Dom Guéranger:
Martinho nasceu na Panônia, Hungria, no ano 316. Portanto, viveu numa época remota e em terras que, naquele tempo, eram semibárbaras. Algo semelhante à selva Amazônica, senão pior. Engajado muito cedo nos exércitos romanos, ele se torna conhecido somente quando partilha seu manto com um pobre nas portas de Amiens.

O império romano possuía alguns destacamentos militares em Amiens, situada na Gália, atual França. Devido a transferências internas, ele foi enviado da Panônia para aquela cidade gaulesa.

Não se sabe ao certo quando São Martinho se converteu, mas em determinado momento tornou-se catecúmeno, isto é, preparou-se para receber o Batismo. Nessa ocasião deu-se o famoso episódio: estando ele montado a cavalo, num período muito frio, encontrou-se com um mendigo que vagava pelas portas de Amiens, desamparado e sem agasalho. Tocado pela miséria do próximo, com extrema bondade o Santo dividiu seu próprio manto em duas partes, entregando a metade ao indigente.

 

Esse fato adquire maior significado na Europa, onde o inverno é bem mais rigoroso e agressivo ao corpo humano, do que em nossas regiões tropicais. Um brasileiro pode não ter manto, mas possui pulôveres. Quando esfria, ele permanece acalentado dentro de casa, ou, se precisar sair, usa uma condução qualquer que o permite manter-se protegido da baixa temperatura. O frio incomoda um pouco, e depois não se pensa mais nele.

No continente europeu, porém, o inverno é bastante sério. Nessas condições, andar léguas a cavalo sem manto, ou com metade dele, redunda em grande sacrifício. Por isso, o gesto de São Martinho comoveu toda a Idade Média como sendo uma expressão própria da caridade cristã, oposta à dureza do paganismo romano.

De maneira que esse episódio pode ser considerado o primeiro feito simbólico da vida dele, recordado na era medieval através de vitrais, medalhas, iluminuras, quadros, etc., enquanto crescia a devoção a São Martinho de Tours.

Apostolado e milagres

Uma vez batizado, deixa o exército e vai estudar com o grande doutor das Gálias, Hilário de Poitiers. O desejo de converter seus parentes, que eram pagãos, conduziu-o à Panônia.

Percebe-se como a existência de São Martinho é fecunda, semeada de viagens, de encargos, de missões evangelizadoras, etc. Ele havia sido um legionário romano na sua Panônia natal, de onde passou para a Gália. Em determinado momento, converteu-se, abandonou as fileiras militares e foi — ele, um “botocudo” da Hungria — estudar teologia e filosofia com Santo Hilário de Poitiers.

Em seguida o vemos retornar à Hungria, a fim de converter seus pais. Após esse tempo junto à família, regressou à Gália, onde fundou o mosteiro de Ligugé, o primeiro da França. Passou a levar uma vida contemplativa, praticando muitos milagres que o tornaram célebre, e logo afluíram discípulos a povoarem sua solidão. Assim, depois de ser um santo que procurou as pessoas, dirigiu-se a um exílio no qual foi procurado por elas…

Bispo da diocese de Tours

Continua a biografia:
Por ocasião da morte de Santo Hilário, ele foge dos habitantes de Poitiers que queriam tê-lo como bispo. A população de Tours será mais hábil. Em 371, confiscam-no por uma espécie de armadilha e o convencem a se ordenar sacerdote para ser elevado ao episcopado.

Esse esquivar-se das honras não é fenômeno muito comum em nossa época, como também não o é a corrida de povos atrás de um santo para que este se torne bispo.

Ora, no século IV, período histórico chamado de decadência e miséria, os santos pululam e os homens se apressam ao encalço deles. Como isso é diferente do pseudo-progresso, do pseudo-esplendor da era contemporânea!

São Martinho, então, deixa-se sagrar Bispo, mas sabe que a vocação contemplativa persiste nele. Fundou Marmoutier, um convento a três quilômetros de Tours, sua diocese. Essa casa religiosa floresceu, tornou-se seminário, centro de estudos e escola onde diversos futuros bispos se formaram. Trabalho assaz importante, pois de um bom seminário surgem bons sacerdotes e um bom episcopado.

E de novo constatamos como a vida de São Martinho foi extremamente fértil e rica em realizações pe-la causa da Igreja.

Operando milagres, o “selvagem” da Hungria, o ex-legionário romano, posto à frente da formação das almas, preparou uma geração de sacerdotes e de futuros sucessores dos Apóstolos.

Até o fim, um grande batalhador

Muitas vezes se dirigia à solidão de Marmoutier, onde era favorecido por visões de Nossa Senhora, mas também aguilhoado pelas perseguições do demônio. É a condição própria àqueles que se isolam: por um lado, visitados pelas consolações do Céu; por outro, importunados amiúde pelo inimigo de nossa salvação.

Para Santo Inácio de Loyola, a melhor prova do êxito de um retiro espiritual é o fato de a alma ser objeto, ao mesmo tempo, de graças extraordinárias e de investidas do demônio.

Assim sendo, compreende-se que, no seu isolamento, São Martinho estivesse sujeito a essas vicissitudes. De qualquer forma, ali se acrisolava no amor a Deus e ao próximo, traduzidos num incansável esforço de evangelização:

Seu zelo pelos povos transborda os limites de sua diocese. Ele é visto nas dioceses vizinhas e até em Artois, na Picardia; em Trèves na Bélgica, e mesmo na Espanha. Por toda a parte sua palavra, sustentada por seus milagres e caridade, opera maravilhas.

Sem abandonar suas prerrogativas episcopais, este homem se transforma num infatigável missionário, percorre as mais distantes regiões numa época em que tais deslocamentos não se faziam sem grandes incômodos, e realiza verdadeiras maravilhas com seus sermões e milagres.

Esse amor de Deus o leva a Flandres em novembro de 397, para ali estabelecer uma concórdia entre os monges, problema sempre difícil. E foi ali que ele, ancião de mais de 80 anos, faleceu na paz do Senhor.

Eis o fim sereno, em meio à luta, de um grande apóstolo e taumaturgo. Exemplo eloquente destes homens de Deus que cultivam e colhem os frutos das sementes que outros santos plantaram.

Plinio Corrêa de Oliveira

11 de novembro – Nossa Senhora, Mãe da Divina Providência

Nossa Senhora, Mãe da Divina Providência

O amor de Nossa Senhora pelas almas faz com que a Divina Providência lhes outorgue, através das mãos d’Ela, abundantes graças nas mais difíceis situações. Maria é Mãe de Deus e usa dessa condição para favorecer a cada um de nós. Dr. Plinio muito prezava essa antiga invocação mariana, sob o patrocínio da qual colocou um importante segmento de sua obra.

No mês de novembro(1) celebra-se a festa de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência, uma das belas invocações com que imploramos a infatigável assistência de Maria Santíssima.

Razão de nossa confiança

Na verdade, em meio ao nosso peregrinar por esta terra de exílio, a razão de nossa confiança é a tutela da Providência Divina, exercida por meio de Nossa Senhora. Deus provê a cada um de nós em nossas necessidades espirituais e temporais, a fim de realizarmos aquilo para o que fomos criados, ou seja, cumprirmos nossa vocação.

Podemos nos perguntar por que Nossa Senhora é chamada a Mãe da Divina Providência. Ela o é, não por ter gerado a Providência Divina, e sim porque, segundo os desígnios do Altíssimo, está destinada a aplicar maternalmente os decretos d’Ele. Donde o governo de Deus sobre nós se fazer com uma plenitude de carinho, de comiseração, de afeto, que esgota de modo completo tudo quanto o homem possa imaginar.

O fato de termos uma Mãe que dirige nossa vida espiritual, nosso apostolado, nossas ações diárias é, pois, o motivo superior pelo qual confiamos.

Lembro-me de uma bela e expressiva imagem de Nossa Senhora Mãe da Divina Providência, que foi objeto de minha veneração na igreja dos barnabitas, na Rua do Catete, na cidade do Rio de Janeiro. Esses religiosos — oficialmente conhecidos como Clérigos Regulares de São Paulo — difundiram essa devoção, incentivados por seu fundador, Santo Antônio Maria Zaccaria.

Aliás, outro santo, São Caetano de Tienne, contemporâneo de Santo Antônio Maria Zaccaria, terá sido de certo modo quem levou mais longe a confiança na Providência Divina. Com efeito, proibiu aos religiosos da ordem fundada por ele, que pedissem esmola: quando os teatinos precisavam de alguma coisa, deveriam ficar na rua, em atitude de oração a Nossa Senhora, certos de que Ela os atenderia. Quer dizer, colocavam-se inteiramente nas mãos da Divina Providência.

Sublime misericórdia do amor materno

Gostaria de chamar a atenção para o significado da palavra “mãe” e o alcance concreto que ela possui na questão da confiança.

Aquilo que sempre tornou sublime os laços entre a mãe autêntica e seu filho reside no fato de que ela, por sua natureza retamente desenvolvida, é levada a ter uma forma de dedicação à sua prole que nem o pai possui. Este, mesmo que seja ótimo, conserva em relação ao filho uma espécie de austeridade, pois representa de modo mais vigoroso certos princípios como a justiça, a ordem, a força, etc., mais próprio do elemento punitivo do casal.

Já o característico da mãe é demonstrar uma forma de carinho tal pelo filho que, mesmo nas ocasiões em que se impõe a ela admoestar o seu rebento, ela o faz mais suave e lentamente. Pelo contrário, é mais rápida em perdoar, em condescender, em esquecer, porque representa quase que só a misericórdia.

 

Na mãe, o traço de justiça se acha um tanto diluído, segundo a ordem natural das coisas, enquanto que o da indulgência é levado o mais longe possível. Daí haver, aliás, o perigo de o amor materno ocasionar alguma moleza, frouxidão, de tal maneira que, se não existisse o contraponto da figura paterna, a educação dada pela mãe, em numerosos casos, seria insuficiente.

O genuíno amor materno ama o filho porque é filho, ainda que este seja ruim; sobrepuja tudo e se vincula por misericórdia ao fruto de suas entranhas. Razão pela qual, todos têm em relação ao amor materno certas condescendências excepcionais, sabendo que ele pode atingir o mais alto grau de sublimidade.

 

Inimaginável ternura que regenera e santifica

Isto que diz respeito às mães terrenas, com maior propriedade se aplica a Nossa Senhora, exceto o perigo de demonstrar fraqueza e debilidade, que n’Ela não existem. Sua ternura para conosco é levada ao inimaginável, sem nenhuma cumplicidade com nossos defeitos. Compaixão, sim; complacência, não. Sem embargo do quê, segundo São Luís Grignion de Montfort, Maria Santíssima ama a cada um de nós mais do que todas as mães existentes no mundo amariam, juntas, um filho único. Isso diz respeito tanto a nós quanto a qualquer ímpio.

Nossa Senhora é Mãe da graça, e o amor d’Ela a um indivíduo ruim não consiste em fechar os olhos para sua maldade, mas em obter-lhe de Deus favores seletíssimos para que ele possa se arrepender e se emendar. Quer dizer, o amor materno de Maria tem força regeneradora para elevar e santificar uma alma; Ela é a Medianeira das graças necessárias para a justificação daquele a quem Ela ama. Por causa disso, sua misericórdia nunca é susceptível de uma condescendência errada, embora sua contemporização vá mais longe do que a de qualquer mãe terrena.

Confiar em Maria, sem desanimar jamais

A consideração dessas verdades me leva a insistir num ponto que nunca me canso de salientar: confiemos, confiemos e confiemos a todo instante em Nossa Senhora, lembrando-nos sempre de sua extrema meiguice para conosco, de sua compaixão para com as misérias de cada um de nós. Tenhamos presente que, na Salve Rainha, Nossa Senhora é chamada “Mãe de misericórdia”, e que o Lembrai-vos acentua a bondade d’Ela para com o pecador arrependido.

Não receio parecer repetitivo ao renovar essas recomendações, pois uma vida espiritual que não as contemple acaba se extraviando. Sem nos compenetrarmos da misericórdia de Maria Santíssima, nada de bom faremos. Cultivando-a, nossa alma se cumula de confiança, de alegria e de ânimo. Tendo a Mãe da Divina Providência como nossa própria Mãe, nada nos deve abater. Ela tudo resolverá se, confiantes, implorarmos seu maternal socorro.

1) Em muitas paróquias do Brasil essa festa é celebrada no dia 11 de novembro; em outros países, no dia 19 do mesmo mês.

Plinio Corrêa de Oliveira

10 de novembro – São Leão Magno

São Leão Magno

Sabendo da presença de hereges em solo pontifício, São Leão Magno empreendeu amplos esforços para combatê-los. Instituiu um tribunal em Roma — presidindo pessoalmente a muitas sessões —, com a finalidade de julgar as doutrinas heréticas. Proferiu sermões advertindo o povo, exortou a todos que denunciassem os praticantes das heresias.

Quando na Espanha rebentou a heresia priscilianista, São Leão prestou o devido apoio a São Turíbio, Bispo de Astorga, impulsionando os chefes de Estado a condenarem tal heresia, pois esta não era só a ruína da Igreja, mas também da ordem temporal.

São Leão Magno procedeu não somente com a autoridade de um Papa, mas, sobretudo, com a autoridade de um santo.

Os valores por ele defendidos de maneira heroica, foram confirmados por um impressionante prodígio: a grandiosa aparição de São Pedro nos céus, enfrentando Átila às portas de Roma. São Leão fazia assim retroceder o rei dos hunos. Um grande milagre da História da Igreja.

Utilizando-se da infalibilidade, a Igreja declarou heroica a prática de todas as virtudes por São Leão Magno.

Peçamos a ele que, quando raiar a aurora do Reino de Maria, as virtudes por ele praticadas.

 

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 140 (Novembro de 2009)

10 de novembro – O pontificado aliado à santidade

O pontificado aliado à santidade

São Leão Magno foi um dos maiores papas que a História registra. Lutou em seu pontificado contra numerosas heresias que então agitavam a Igreja.

Com a autoridade de Papa aliada à qualidade de Santo, cuja santidade foi confirmada por um dos maiores milagres da História da Igreja – a vitória sobre Átila e suas tropas que pretendiam invadir Roma –, fez sermões advertindo o povo contra os hereges, exortando-o a denunciá-los aos sacerdotes e vigários, para sofrerem as penas canônicas e, eventualmente, também as temporais.

Portanto, ele praticou uma virtude que hoje seria muito pouco apreciada, por ser oposta ao ecumenismo mal compreendido. O que diria São Leão Magno diante das heresias soltas em nossos dias?

Peçamos a ele que reacenda na Igreja esse espírito de discernimento, de intransigência e de luta, que seria suficiente para evitar ao mundo os terríveis castigos pelos quais inevitavelmente vai passar, se não se converter. Que ao raiar a aurora do Reino de Maria esse espírito esteja imensamente aceso e dure até o fim dos tempos.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/4/1967)

Revista Dr Plinio 248 (Novembro de 2018)