01 de dezembro – Santo Elói Ourives, ecônomo e apóstolo perfeito

Santo Elói Ourives, ecônomo e apóstolo perfeito

Perpetuado numa canção popular francesa, a figura do “grande Santo Elói” resplandece em sua época, unindo o extraordinário talento artístico ao discernimento ímpar de diplomata e, sobretudo, à excelência de suas virtudes. Dr. Plinio nos evoca as principais facetas da vida deste modelo de apóstolo, artesão e político.

Santo Elói distinguiu-se no seu tempo pelas qualidades sui generis que o caracterizaram, tendo sido sua vida semeada de fatos interessantíssimos dos quais nos dá conhecimento uma biografia escrita pelo Pe. Rohrbacher. Desta, algumas passagens merecem ser aqui comentadas.

 

Hábil ourives e diretor das finanças do reino

Escreve o ilustre hagiógrafo:
“Santo Elói foi dotado de invulgar personalidade. Viveu de 588 a 659. Natural de Limoges [França], revelou desde criança grande aptidão para os trabalhos manuais. Encaminhado para a profissão de ourives, tornou-se um dos mais hábeis artistas de seu tempo. Famoso é o caso da confecção do trono do Rei Clotário, que o queria ímpar e incrustado de pedrarias. Com o ouro recebido para tal fim, Elói fez não um, mas dois tronos igualmente preciosos.”

A ideia de um santo confeccionar um trono para um monarca, contribuindo com sua arte para a pompa real, talvez contrarie não poucos espíritos modernos, adeptos de uma simplicidade equivocada. Mais ainda os chocariam a iniciativa de Santo Elói de fazer algo aparentemente inútil: dois tronos em vez de um só…

“O rei então o nomeou seu ourives e diretor da Moeda.”

ais cargos tendiam a ser conexos naquele tempo, porque as moedas eram de ouro e quem exercia a função de ourives do rei poderia igualmente ser escolhido para dirigir a economia.

Como se vê, não era fácil a existência de alguns personagens daquela época.

 

Grande político e diplomata

“Sucedendo a Clotário seu filho Dagoberto, Santo Elói tornou-se grande amigo do soberano, revelando-se então insigne conselheiro, hábil político e diplomata.”

Vemos assim a ascensão de Santo Elói: de ourives passou a diretor da Moeda e, em seguida, diplomata.

“Afirma-se que os enviados de príncipes estrangeiros avistavam-se primeiro com ele, antes de se dirigirem ao monarca. Sua influência junto a Dagoberto era suficientemente grande para que o santo pudesse repreendê-lo contra sua moral, bastante relapsa, e também quanto ao seu modo desmazelado de trajar-se.”

Esta circunstância da vida de Santo Elói deu origem à conhecida canção popular francesa “Le bon Roi Dagobert” (ver quadro). Percebe-se, entretanto, que o bom Rei Dagoberto não era tão louvável assim, merecendo algumas censuras. Mas, possuía esta qualidade: simpatizava-se com Santo Elói, apreciava-o e devotava-lhe grande amizade. Mais ainda. Quando o santo conselheiro lhe chamava a atenção, o rei acatava a reprimenda com submissão e alegria.

Muito interessante o fato de Santo Elói corrigir o Rei quanto ao desmazelo de seus trajes, querendo assim que ele se vestisse com distinção e bom-gosto. Essa atitude do homem de Deus pode chocar certos espíritos contemporâneos, notadamente aqueles que chamaríamos de “heresia branca”. Pois, segundo esta, um rei deve usar roupas comuns e baratas, e desejar desfazer-se das galas e preeminências que cercam seu cargo.

Artífice de relicários e fundador de mosteiros

Continua a biografia:
“O tempo que lhe sobrava de seu trabalho na corte, de suas orações e obras de caridade, empregava-o em honrar com sua arte as relíquias dos santos.”

Hoje em dia vemos muitas pessoas aplicarem seu tempo livre em ninharias. O passatempo de Santo Elói era fazer relicários!

Imaginemos uma sala de estilo românico, pressagiando o gótico, cujas porta e janela dão para um pátio. A tarde começa a se confundir com o anoitecer. Nosso Santo, terminado seus afazeres, senta-se junto a uma mesa de ourives no palácio real, acende as velas de alguns candelabros, e continua a trabalhar nos lavores e polimentos de um bonito relicário, ornado de pedras preciosas, no qual ele guardará os restos de um bem-aventurado de sua devoção. Nessa tarefa, emprega ele toda a sua piedade e todo o seu talento artístico! É uma cena maravilhosa.

E se pensarmos que, na linguagem atual, Santo Elói era o Ministro da Fazenda daquele rei, que diferença em relação a certos estadistas contemporâneos!

“Atribuem-se-lhe os relicários de São Germano de Paris, São Denis, São Severino, São Martinho, Santa Colomba e Santa Genoveva. Além desses trabalhos, Santo Elói fundou numerosos mosteiros.”

Cumpre assinalar o extraordinário vigor de Santo Elói e sua intensa atividade. Afinal, era diplomata, político, ecônomo, ourives, artífice de relicários e ainda encontrava tempo e meios de fundar mosteiros! Foi um desses homens dos quais emanam mil obras, todas repletas de pensamento e santidade.

Zelo, sabedoria e bondade

“Tendo sido ordenado sacerdote, foi sagrado Bispo, ocupando a Sé episcopal de Noyon. Como muitos outros prelados da época merovíngia, foi um grande organizador, um apóstolo repleto de zelo, sabedoria e bondade.”

As fecundas ações deste homem de Deus evocam as de São Martinho de Tours, comentadas por nós em oportunidade anterior. Quer dizer, nas épocas de estruturação e organização da Cristandade medieval, a Providência suscitou vários santos que empreenderam inúmeras obras admiráveis. Um deles foi Santo Elói.

“Sua atividade irradiou-se para Flandres, Holanda e, segundo afirmam, Suécia e Dinamarca.”

Isso significa uma alta e árdua missão, pois naquele tempo a Suécia e a Dinamarca eram ainda habitadas por povos bárbaros. E até lá propagou-se o zelo apostólico do grande Santo Elói.

Velado por uma santa

Após essa vida de intenso serviço a Deus e ao próximo, ele receberia afinal o prêmio por suas virtudes. E o Pe. Rohrbacher registra esse tocante fato:
“Era grande sua fama, a tal ponto que, sabendo-o agonizante, a Rainha Santa Batilde fez longa viagem para vê-lo antes de morrer. Mas chegou a Noyon no dia seguinte ao de seu falecimento.”

Portanto, a magnífica existência de Santo Elói se encerra e logo se verifica esta bela cena: a Rainha Batilde, santa ela mesma, tendo notícia de que o Bispo de Noyon se achava à beira da morte, desloca-se por estradas difíceis, correndo riscos, protegida por um grande séquito, rezando para encontrar Santo Elói ainda vivo. Naturalmente, desejava receber algum conselho dele. Porém, alcança Noyon quando aquele já entregara sua alma a Deus.

Podemos imaginar a chegada de Santa Batilde à cidade, o cortejo de autoridades e de pessoas do povo que vão recebê-la e lhe transmitem a notícia da morte de Santo Elói. A Rainha se dirige imediatamente para junto do esquife, venera os restos mortais e eleva suas preces — por ele e a ele. É uma santa ao lado do cadáver de outro santo!

Eis um maravilhoso epílogo para uma vida pontilhada de episódios também maravilhosos, numa época repleta de maravilhoso.

Plinio Corrêa de Oliveira

Cristo rei – novembro – Significado da Realeza de Jesus Cristo

Significado da Realeza de Jesus Cristo

Perpetuado numa canção popular francesa, a figura do “grande Santo Elói” resplandece em sua época, unindo o extraordinário talento artístico ao discernimento ímpar de diplomata e, sobretudo, à excelência de suas virtudes. Dr. Plinio nos evoca as principais facetas da vida deste modelo de apóstolo, artesão e político.

Santo Elói distinguiu-se no seu tempo pelas qualidades sui generis que o caracterizaram, tendo sido sua vida semeada de fatos interessantíssimos dos quais nos dá conhecimento uma biografia escrita pelo Pe. Rohrbacher. Desta, algumas passagens merecem ser aqui comentadas.

 

Hábil ourives e diretor das finanças do reino

Escreve o ilustre hagiógrafo:
“Santo Elói foi dotado de invulgar personalidade. Viveu de 588 a 659. Natural de Limoges [França], revelou desde criança grande aptidão para os trabalhos manuais. Encaminhado para a profissão de ourives, tornou-se um dos mais hábeis artistas de seu tempo. Famoso é o caso da confecção do trono do Rei Clotário, que o queria ímpar e incrustado de pedrarias. Com o ouro recebido para tal fim, Elói fez não um, mas dois tronos igualmente preciosos.”

A ideia de um santo confeccionar um trono para um monarca, contribuindo com sua arte para a pompa real, talvez contrarie não poucos espíritos modernos, adeptos de uma simplicidade equivocada. Mais ainda os chocariam a iniciativa de Santo Elói de fazer algo aparentemente inútil: dois tronos em vez de um só…

“O rei então o nomeou seu ourives e diretor da Moeda.”

ais cargos tendiam a ser conexos naquele tempo, porque as moedas eram de ouro e quem exercia a função de ourives do rei poderia igualmente ser escolhido para dirigir a economia.

Como se vê, não era fácil a existência de alguns personagens daquela época.

 

Grande político e diplomata

“Sucedendo a Clotário seu filho Dagoberto, Santo Elói tornou-se grande amigo do soberano, revelando-se então insigne conselheiro, hábil político e diplomata.”

Vemos assim a ascensão de Santo Elói: de ourives passou a diretor da Moeda e, em seguida, diplomata.

“Afirma-se que os enviados de príncipes estrangeiros avistavam-se primeiro com ele, antes de se dirigirem ao monarca. Sua influência junto a Dagoberto era suficientemente grande para que o santo pudesse repreendê-lo contra sua moral, bastante relapsa, e também quanto ao seu modo desmazelado de trajar-se.”

Esta circunstância da vida de Santo Elói deu origem à conhecida canção popular francesa “Le bon Roi Dagobert” (ver quadro). Percebe-se, entretanto, que o bom Rei Dagoberto não era tão louvável assim, merecendo algumas censuras. Mas, possuía esta qualidade: simpatizava-se com Santo Elói, apreciava-o e devotava-lhe grande amizade. Mais ainda. Quando o santo conselheiro lhe chamava a atenção, o rei acatava a reprimenda com submissão e alegria.

Muito interessante o fato de Santo Elói corrigir o Rei quanto ao desmazelo de seus trajes, querendo assim que ele se vestisse com distinção e bom-gosto. Essa atitude do homem de Deus pode chocar certos espíritos contemporâneos, notadamente aqueles que chamaríamos de “heresia branca”. Pois, segundo esta, um rei deve usar roupas comuns e baratas, e desejar desfazer-se das galas e preeminências que cercam seu cargo.

Artífice de relicários e fundador de mosteiros

Continua a biografia:
“O tempo que lhe sobrava de seu trabalho na corte, de suas orações e obras de caridade, empregava-o em honrar com sua arte as relíquias dos santos.”

Hoje em dia vemos muitas pessoas aplicarem seu tempo livre em ninharias. O passatempo de Santo Elói era fazer relicários!

Imaginemos uma sala de estilo românico, pressagiando o gótico, cujas porta e janela dão para um pátio. A tarde começa a se confundir com o anoitecer. Nosso Santo, terminado seus afazeres, senta-se junto a uma mesa de ourives no palácio real, acende as velas de alguns candelabros, e continua a trabalhar nos lavores e polimentos de um bonito relicário, ornado de pedras preciosas, no qual ele guardará os restos de um bem-aventurado de sua devoção. Nessa tarefa, emprega ele toda a sua piedade e todo o seu talento artístico! É uma cena maravilhosa.

E se pensarmos que, na linguagem atual, Santo Elói era o Ministro da Fazenda daquele rei, que diferença em relação a certos estadistas contemporâneos!

“Atribuem-se-lhe os relicários de São Germano de Paris, São Denis, São Severino, São Martinho, Santa Colomba e Santa Genoveva. Além desses trabalhos, Santo Elói fundou numerosos mosteiros.”

Cumpre assinalar o extraordinário vigor de Santo Elói e sua intensa atividade. Afinal, era diplomata, político, ecônomo, ourives, artífice de relicários e ainda encontrava tempo e meios de fundar mosteiros! Foi um desses homens dos quais emanam mil obras, todas repletas de pensamento e santidade.

Zelo, sabedoria e bondade

“Tendo sido ordenado sacerdote, foi sagrado Bispo, ocupando a Sé episcopal de Noyon. Como muitos outros prelados da época merovíngia, foi um grande organizador, um apóstolo repleto de zelo, sabedoria e bondade.”

As fecundas ações deste homem de Deus evocam as de São Martinho de Tours, comentadas por nós em oportunidade anterior. Quer dizer, nas épocas de estruturação e organização da Cristandade medieval, a Providência suscitou vários santos que empreenderam inúmeras obras admiráveis. Um deles foi Santo Elói.

“Sua atividade irradiou-se para Flandres, Holanda e, segundo afirmam, Suécia e Dinamarca.”

Isso significa uma alta e árdua missão, pois naquele tempo a Suécia e a Dinamarca eram ainda habitadas por povos bárbaros. E até lá propagou-se o zelo apostólico do grande Santo Elói.

Velado por uma santa

Após essa vida de intenso serviço a Deus e ao próximo, ele receberia afinal o prêmio por suas virtudes. E o Pe. Rohrbacher registra esse tocante fato:
“Era grande sua fama, a tal ponto que, sabendo-o agonizante, a Rainha Santa Batilde fez longa viagem para vê-lo antes de morrer. Mas chegou a Noyon no dia seguinte ao de seu falecimento.”

Portanto, a magnífica existência de Santo Elói se encerra e logo se verifica esta bela cena: a Rainha Batilde, santa ela mesma, tendo notícia de que o Bispo de Noyon se achava à beira da morte, desloca-se por estradas difíceis, correndo riscos, protegida por um grande séquito, rezando para encontrar Santo Elói ainda vivo. Naturalmente, desejava receber algum conselho dele. Porém, alcança Noyon quando aquele já entregara sua alma a Deus.

Podemos imaginar a chegada de Santa Batilde à cidade, o cortejo de autoridades e de pessoas do povo que vão recebê-la e lhe transmitem a notícia da morte de Santo Elói. A Rainha se dirige imediatamente para junto do esquife, venera os restos mortais e eleva suas preces — por ele e a ele. É uma santa ao lado do cadáver de outro santo!

Eis um maravilhoso epílogo para uma vida pontilhada de episódios também maravilhosos, numa época repleta de maravilhoso.

Plinio Corrêa de Oliveira

Cristo rei – novembro – Reflexões em torno da Festa de Cristo Rei

Reflexões em torno da Festa de Cristo Rei

Aproveitando a ocasião de uma Festa de Cristo Rei, Dr. Plinio comenta, enlevado, os diversos reluzimentos da infinita majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo ao longo de sua passagem neste mundo. Majestade coroada nas glórias da Ressurreição e perpetuada nos grandiosos acontecimentos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Ao considerarmos a celebração da realeza de Cristo e, pois, da majestade do Filho de Deus, creio ser conveniente voltarmos nossos olhos para um aspecto pouco ressaltado quando se aborda esse tema.

Risco, dor e dever são inerentes à majestade

Majestade, do latim “major stare”, significa estar acima, no píncaro. Devemos então começar por compreender que essa condição de supremacia envolve muita reflexão. Não uma reflexão qualquer, mas inspirada, iluminada e elevada pela graça. Esse teor de pensamento patenteia, à pessoa que se encontra nessa posição suprema, o dever, o risco e a dor inerentes à sua condição. Porque possuir majestade consiste também — e não na menor medida — em aceitar a dor, o risco, as obrigações com todos os seus ônus.

Alguns espíritos contemporâneos, superficiais e avessos à reflexão, amigos das facilidades e inimigos da dor e do sofrimento, talvez se sintam contrariados com essa noção de majestade. Tal recusa, porém, não torna essa noção perempta, porque ela permanece invariável: se alguém se afasta dela, não é o conceito que decai, e sim esse alguém. Mais ou menos como um navio que afunda e, por isso, se distancia da luz do sol. Não é o astro que soçobra e desaparece, mas o navio. O sol continua a brilhar no alto dos céus.

A majestade autêntica provém da Fé

As grandes verdades e normas, os grandes princípios e planos, as grandes máximas e execuções são os aspectos por onde um homem, mesmo de condição comum, pode ter majestade. Portanto, essa majestade todo indivíduo deve desejar, sem nenhum prejuízo para a modéstia e a virtude da humildade que ele igualmente deve praticar.

Pois, entendamos, a majestade não é uma faceirice como uma gravata ou um atavio que vestimos para mostrar aos outros: “Veja, chegou-me de Paris”. Não, a autêntica majestade não é enfeite, e nunca ensoberbece aquele que a possui. Pelo contrário, o indivíduo que tem majestade se sente sempre pequeno diante dela, compreende que, por mais majestoso que seja, como simples indivíduo não é diferente de todo mortal. A majestade lhe vem da fé, da influência da Santa Igreja à qual ele se dispõe a aceitar. Se for honesto consigo mesmo, ele se perguntará sempre se levou sua própria majestade à altura para a qual foi criado.

O Rei por excelência, crucificado e rejeitado

Tocamos, então, no exemplo sublime que ilustra os conceitos acima considerados: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pensemos na majestade do Homem-Deus no Calvário, sentenciado, condenado e pregado na cruz. Sobre Ele recaíram as piores execrações possíveis. Era o rejeitado por excelência, como nenhum outro ser humano fora nem será. Durante três anos de sua vida pública, Nosso Senhor não fez senão procurar atrair os outros, manifestando-lhes uma sabedoria, uma misericórdia e uma bondade infinitas. Seu império sobre as forças da natureza tornou-se patente em mais de uma ocasião. Um poder capaz de levantar um morto sepultado há quatro dias e que já cheirava mal, com uma simples ordem: “Lázaro, sai para fora!”

As tempestades agitam as águas do mar e, a uma palavra d’Ele, tudo serena. Falta vinho, Ele manda encher algumas bilhas de água e, quando o mordomo se põe a servir, espanta-se com a qualidade do vinho que é oferecido aos convidados das bodas de Caná. A multidão tem fome? Ele multiplica os pães e os peixes e ordena aos Apóstolos saciar aquela gente. A comida se verifica tanta que, com os restos, ainda enchem doze canastras.

Por onde Nosso Senhor passava, maravilhas se sucediam. Poder, sabedoria, bondade e ternura insondáveis. Seu olhar, sua fisionomia, suas mãos e sua presença divinas estavam repletos de dons ofertados aos homens. O povo O proclama rei para em seguida rejeitá-Lo em favor do facínora Barrabás.

Rejeição completa, na qual Nosso Senhor nada perdeu de sua majestade infinita, de sua distinção incomparável. Qualquer um que, de olhar límpido e isento de preconceitos, O visse pregado na cruz, ajoelhar-se-ia e diria: “Meu Rei!”

Não houve nem haverá na História um monarca que tenha, sequer de longe, manifestado semelhante majestade.

Grandeza régia do cadáver divino

Nosso Senhor morre, alguns discípulos mais corajosos retiram o corpo d’Ele da cruz. Ao longo dos séculos, os pintores têm se empenhado em salientar um aspecto verdadeiro da descida da cruz, isto é, o corpo santíssimo de Jesus sujeito às leis da gravidade, sem vida, pendendo para onde o inclinam. Retirado do madeiro, o depositam no colo virginal de Maria Santíssima e o preparam para ser deixado na sepultura. Igualmente se esforçam os artistas em retratar a dor da Mãe e a inanição do Filho.

Entretanto, se me fosse dado sugerir algo a um pintor ou escultor, pediria que encontrasse um meio de apresentar, na simplicidade e misérias extremas dessa Mãe e desse Filho, a sublime majestade de ambos: a régia grandeza do cadáver divino, e como Maria se sentia dignificada com aquele tesouro depositado no seu colo.

 

Incomparável majestade da Ressurreição

Pensemos, em seguida, na Ressurreição e naquilo que poderíamos chamar de “re-esplendor” da majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo. No interior do jazigo, escuridão profunda. Mais majestoso do que todo o céu e do que toda a terra, ali repousa o corpo exangue do Redentor. Em determinado momento — imaginemos — a alma santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo a ele retorna e o revivifica, vencendo a morte.

Se um relâmpago, mera descarga elétrica, pode ser majestoso; se o sol, cujo fulgor é produto de gases em combustão, tantas vezes nos parece envolto em majestade, que dizer da apoteose que terá sido a alma de Cristo voltando ao seu corpo?

O tema é por demais elevado para nossas cogitações, e creio que pincel de artista algum seria capaz de representá-lo de maneira conveniente.

A pedra do sepulcro se move e o Senhor Glorioso abandona as trevas do túmulo para reaparecer na luz da vida. É a primeira festa de Páscoa da História da Igreja e que se repetirá, todos os anos, até o fim dos tempos. Majestade!

Pentecostes e as catacumbas: exemplos perfeitos de majestade

Poderíamos ainda evocar outras cenas que se seguiram à gloriosa Ressurreição do Rei Divino, as quais espargem reflexos de sua infinita majestade.

Cenáculo. Nossa Senhora e os Apóstolos estão ali reunidos, recolhidos em oração e recordações dos ensinamentos do Mestre. Sentem que algo de extraordinário está por acontecer. Seus corações se inflamam a cada nova oração, a cada nova lembrança das palavras de Jesus. O ambiente se reveste de grandeza, e os discípulos se tomam de um encantamento crescente pela pessoa de Maria Santíssima, vendo n’Ela a imagem do Filho. Tudo reluz.

Subitamente, quando pensam que atingiram o auge de suas cogitações, tudo ainda estava por vir: o Divino Espírito Santo aparece em forma de línguas de fogo e deita sobre cada um deles a plenitude de seus dons. Majestade!

Muda a cena. Correm os séculos, e estamos nas catacumbas de Roma. Labirintos escavados no subsolo da velha urbe. Terra onde os cristãos depositam os corpos inanimados dos seus mártires. Naqueles túneis vivem e transitam pessoas humildes e ilustres, ricos e estropiados, católicos de todas as condições que iam assistir a Missa celebrada pelo sucessor de Pedro.

É uma noite de Natal, digamos. Noite comum para os romanos antigos, alguns dos quais se embriagavam em orgias; mas, lá embaixo, naquela cidade sob a cidade, entre paredes ornadas com pinturas primitivas que lembram cenas evangélicas, o Papa celebra o nascimento e a glória de Cristo. Exemplos perfeitos de majestade.

Revestida de seu manto majestoso, a Igreja atravessa os séculos

É a majestade da Fé, a majestade do sobrenatural professada até nas condições hostis e adversas das catacumbas, desafiando o martírio e a morte, enfrentando o império mais poderoso da Terra, admirando a pessoa do vigário daquele Cristo que adoram, com uma reverência tão grande que sua admiração ilumina aquele subterrâneo inteiro.

Majestade das almas, e, mais ainda, majestade de Deus que de algum modo se comunica àqueles primeiros cristãos e brilha nos seus olhares e na suas demonstrações de Fé.

Majestade primitiva da Igreja que continha em germe todas as majestades que ela manifestaria ao longo dos séculos, nas suas liturgias e na sua história, como uma rainha revestida de um imenso e precioso manto de beleza.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 27/11/1982)

Cristo rei – novembro -OBEDIÊNCIA A CRISTO REI

OBEDIÊNCIA A CRISTO REI

Há séculos os católicos mantêm o belíssimo culto a Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto Rei de todas as criaturas. Mas, além das orações e da veneração aos símbolos, é preciso fazer algo mais para honrar essa divina realeza. O quê? Dr. Plinio o diz neste artigo.

A doutrina da realeza de Jesus Cristo está intimamente ligada à antiga e belíssima prática da entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares. Se alguém entroniza a imagem do Sagrado Coração de Jesus no lugar mais rico e mais nobre do lar, é exatamente porque reconhece que Ele é rei. Entretanto — triste constatação! —essa piedosíssima prática acha-se em nossos dias quase completamente abandonada.

Nessas condições, talvez não seja supérfluo recordar aqui a doutrina tradicional da Igreja sobre a realeza de Cristo.

Na sua infinita misericórdia, Deus dignou-se comparar o amor infinito com que nos ama, ao amor que nos têm nossos pais. Evidentemente, não quer isto dizer que Ele tenha reduzido na comparação as insondáveis dimensões de seu amor, para as amesquinhar até as proporções exíguas dos afetos de que os homens são capazes. Se Ele se serviu dessa comparação do amor paterno, foi apenas para nos dar a entender, de longe, o quanto Ele nos ama.

Se dermos à palavra “pai” o sentido  que ela tem na ordem natural, Deus não é apenas nosso Pai, mas, muito mais do que isto, por ser nosso Criador. Porém, como a função de pai, na natureza, não é senão a de coadjuvar Deus na obra da criação, se alguém merece na realidade o nome de Pai, é Deus. E nosso pai segundo a natureza outra coisa não é senão o depositário de uma parcela da paternidade que Deus tem sobre nós.

O mesmo se dá com a realeza de Jesus Cristo. Para nos fazer compreender a autoridade absoluta que, como Deus, Ele tem sobre nós, Jesus Cristo dignou-se comparar-se com um rei. Entretanto, como é por Ele que reinam os reis, e a autoridade dos reis só é autêntica por provir d’Ele, na realidade o único Rei, Rei por excelência, é Ele. E os reis ou chefes de Estado não são senão seus  humildes acólitos, dos quais Ele se digna servir-se na obra da direção do mundo. Cristo é Rei por ser Deus. Chamando-O de Rei, queremos simplesmente afirmar a onipotência divina, e nossa obrigação de obedecer-Lhe.

Obediência! Eis aí um dos conceitos contidos essencialmente no conceito da realeza de Nosso Senhor. Cristo é Rei, e a um rei deve-se obediência. Festejar a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar seu poder sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele. Como é que se obedece a um rei?

A resposta é simples: conhecendo-lhe as vontades e cumprindo-as com amorosa e pormenorizada exatidão. Assim, pois, o único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer sua vontade, e segui-la.

Dessa noção tão clara, tão simples, tão luminosa, segue-se um programa de vida, também ele claro, luminoso e simples.

Para conhecer a vontade de Cristo Rei, devemos conhecer o Catecismo. Porque é ali, através do estudo dos Mandamentos, estudo este que só será completo com o estudo de toda a doutrina católica, que conhecemos a vontade de Deus. E para seguir essa vontade, devemos pedir a graça de Deus pela oração, pela prática dos Sacramentos e por nossas boas obras. Finalmente, pela vida interior, isto é, pela devoção a Nossa Senhora — tesouro doutrinário e espiritual constituído pela Igreja ao longo dos séculos —, seguiremos a vontade de Deus.

Disse Nosso Senhor que o Reino de Deus está dentro de nós mesmos. Ora, este pequeno reino — pequeno como extensão mas infinito como valor, porque custou o Sangue de Cristo — cada um de nós deve conquistar para Nosso Senhor, destruindo tudo aquilo que, dentro de nós, se oponha ao cumprimento de sua Lei.

Finalmente, as leis de Cristo se aplicam, não apenas a um indivíduo em particular, mas aos povos e nações.

Que os povos conheçam e pratiquem na sua organização doméstica, social e política, os ensinamentos tradicionais da Igreja, que são a expressão da própria vontade de Deus, e Jesus Cristo será Rei.

Plinio Corrêa de Oliveira (Transcrito da “Última Hora”, de 8/1/1982. Título nosso.)

Cristo rei – novembro – O olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo

O olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo

Se numa noite sem luar contemplarmos com espírito de Fé o céu estrelado, ele produzirá grande efeito sobre nós. E nos fará lembrar algo infinitamente superior: o olhar do Redentor, no qual há galáxias de santidade, de virtudes que pousam sobre nós como uma abóbada protetora.

Quando a pessoa se porta ordenadamente face à ordem do universo, pelo fato de seu próprio senso do ser procurar o maravilhoso nas coisas que constituem o universo que ela procura conhecer, tende ela a ver muito mais os aspectos espirituais do que os materiais nas criaturas que a circundam.

O sentido da vida terrena

Então, no exemplo tantas vezes utilizado da criança que busca o maravilhoso na teteia dourada, vermelha, azul, verde, etc., à medida que a criança vai se desenvolvendo, se ela tem, por exemplo, uma boa mãe, quando esta lhe oferece sorrindo a teteia, em certo momento, ela percebe estar querendo mais bem à mãe do que à teteia. Porque tomando contato, ao mesmo tempo, com dois seres excelentes — um relacionado mais diretamente ao corpo, como a teteia; outro dizendo respeito à alma, que é o carinho da mãe —, por aspirar ao mais maravilhoso, a criança deseja o carinho da mãe.

Ai da mãe que não tem com a criança esse carinho, e que não a ajude a sobrepor esse valor moral ao material! Porque essa é a missão de uma mãe, e ela tem obrigação de cumpri-la.

Mas ai também dos familiares que não criam em torno de seus pequenos um ambiente robusto, suculento e benfazejo de manifestação de qualidades do espírito, no qual a criança vá entendendo desde logo que esse convívio de alma é o fundamental da ordem do universo!

Este é um ponto muito importante, porque as criaturas de uma ordem mais elevada têm uma função normativa e orientadora em relação a todas as inferiores. E os espíritos são o que há de mais alto no universo. Conhecendo-os e estando voltados para eles, conhecemos melhor o que está abaixo.

Então, ser sensível às almas e querer encontrar para si uma ambientação, na qual o nosso senso do ser, do maravilhoso, nosso senso católico se sintam como o navio que atracou no cais e ali está na serenidade, longe das tormentas, este é o sentido da vida terrena.

O ambiente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus

A alma encontra este sentido superior da existência quando é tocada pela graça a propósito de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e de toda a ordem celeste propriamente dita. Quer dizer, ela “vê” espíritos — sobretudo um valor de alma —, almas de uma categoria, de uma beleza, de uma maravilha tais que ela fica compreendendo ser este o verdadeiro ponto em torno do qual tudo gravita, longe ou fora do qual tudo gira errado, e que a vida está em compreender e desejar isto, ou seja, mais especificamente, o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

As descrições que tenho feito do Sagrado Coração de Jesus, como deve ser visto, amado, dão inteira e linearmente isto. Ele é divinamente superior a qualquer consideração, por um lado. Por outro lado, na sua superioridade, Ele habita em nós mais do que nós mesmos. Ao mesmo tempo em que está no alto de um Céu inatingível por nós, Ele habita no fundo de cada um de nós e tem a possibilidade de tomar contato conosco, fazendo estremecerem cordas de nossas almas que não sabíamos existirem. Assim é Ele!

Para minha sensibilidade — não digo nem um pouco que seja uma coisa obrigatória —, o ambiente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus traz isso. Existem na Europa milhares de igrejas de um valor artístico incomparavelmente maior do que o dela, mas há uma coisa qualquer nessa igreja por onde, estando lá, tenho a impressão de que os seus divinos olhos estão pousando sobre mim naquele momento, e me delicio em sentir-me visto e envolvido pela serenidade afetiva, doce e cheia de sabedoria de Nosso Senhor, mas ao mesmo tempo pelo império d’Ele, segundo o qual Jesus aceita quem for assim e rejeita quem não o for. E o pior que pode haver é ser rejeitado por Ele.

Mais alvos do que a neve

Tudo isso junto, formando um panorama que paira por cima. A sensação de grandeza que se tem, às vezes, quando se olha para o céu muito estrelado não é nada em comparação com essa impressão dos olhos de Nosso Senhor Jesus Cristo — que eu imagino castanhos quase claros — pousando sobre nós, olhando-nos a fundo, e nos fazendo entrar nessas imensidades de serenidade, de força e de tudo o mais que há n’Ele, e que são verdadeiramente incomparáveis!

Para quem não tenha haurido isso tão fundamente na alma que, a bem dizer, quase nem precise ir à Igreja do Coração de Jesus, aconselho irem, e procurarem rezar ali, impregnar-se daquilo, porque há qualquer coisa ali que não é propriamente o olhar de Nosso Senhor para São Pedro, mas é um olhar d’Ele. Nessa igreja, todos os mistérios da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria vêm à tona.

Por exemplo, quanto nós gostaríamos de nos ver fisicamente olhados por Ele! Tenho a impressão de que “asperges me hyssopo et mundabor, lavabis me et super nivem dealbabor”(1); o olhar de Nosso Senhor lavar-me-ia completamente, e eu ficaria mais alvo do que a neve!

Ali, diante do olhar d’Ele, eu diria: “Anima Christi, sanctifica me!” Eu estaria tendo o que desejo, o ideal de minha vida! Aquele olhar meio interrogativo, ligeiramente reprobatório, enormemente amoroso, envolvente e, para dizer mais, encomiástico, no seguinte sentido: não há barreiras, venha; elogio é isto!

E tocando, não o grosso bordão dos sinos de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas o sino leve e alegre de Nossa Senhora, a alegria do perdão. Ela põe junto dessa seriedade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo uma nota qualquer de louçania que fala em perdão, em esperança, em alegria, que a completa admiravelmente. Tudo isso está e tem fundamento n’Ele, mas Nosso Senhor é grande demais para, num olhar só, podermos abarcá-Lo. Então, olha-se para Maria Santíssima, e Ela diz: “Meu filho!” Porque ao cabo de algum tempo aquela imensidade nos faz sentir tão pequenos, tão pequenos, tão pequenos, “petit vermisseau et misérable pécheur”(2), que se tem vontade de dizer: “Senhor, não me esmagues de tanto me amar!” Mas entra Ela e dá um repouso, uma distensão, está feito tudo na perfeição.

Portanto, não é que exista n’Ela e não n’Ele; mas é alguma coisa que existe n’Ele e, através d’Ela, se explicita melhor.

Conhecimento por conaturalidade

Esses estados de alma constituem o afeto que devemos procurar na vida. Não tendo esse afeto, não adianta nada, porque nenhuma forma de afeto é autêntica sem isso.

Por exemplo, se alguém me informar: “Fulano de tal quer muito bem a você porque foi educado com você desde pequeno…”, diz-me pouco, porque se nossas almas são diferentes nesse ponto, o que fazer?

Entretanto, alguém que eu tenha conhecido, procedente de Chandernagor, em quem, olhando, percebo esse estado de alma no fundo, minha vontade é de abraçá-lo e dizer:
“Meu irmão ou — conforme a idade — meu filho, há quanto tempo nos esperávamos! Há quanto tempo nos pressentíamos!”

Eu falava há pouco do céu estrelado. Ele produz efeito muito grande, não tem dúvida. Mas se eu, ao contemplar esse céu estrelado, lembrar-me do olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo pousando sobre mim, é algo infinitamente superior ao céu estrelado, mas que tem certa analogia, cujo analogado primário é o Céu, a partir do qual, na imensidade de suas virtudes e qualidades, Ele olha para mim. Há n’Ele galáxias de santidade, de virtudes que pousam sobre minha cabeça como uma abóbada protetora!

A partir daí vem o desejo da boa amizade segundo Deus, amar o próximo como a si mesmo por amor de Deus, podendo dar origem a um relacionamento humano que, com tal plenitude, creio eu, talvez não tenha sido tão frequente na própria Idade Média.

Suponho que se a Idade Média tivesse continuado, o Sagrado Coração de Jesus teria revelado essa devoção de qualquer forma. A grande maravilha d’Ele foi perdoar as rupturas da Idade Média e, apesar disso, chamar para essa devoção.

Infelizmente, essa devoção, de modo geral, foi muito rejeitada ou aceita de uma maneira sentimental, completamente errada.

Quando me refiro à sensibilidade em relação ao ambiente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, às graças, etc., entendo a sensibilidade reta, pela qual o homem tem um conhecimento por conaturalidade.

Em geral, quando se fala de conhecimento, tem-se em vista somente o racional — tão nobre, elevado, digno —, entretanto, julgo necessário frisar o conhecimento adquirido pela sensibilidade para entender que nesse conjunto — razão e sensibilidade — encontra-se a cognição completa. O querer bem é, portanto, ver e entender outrem assim, por conaturalidade.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/2/1986)

1) Do latim: Asperge-me com o hissopo e serei purificado, lava-me e ficarei mais alvo do que a neve.
2) Do francês: vermezinho e miserável pecador.

Cristo rei – novembro – Nosso Senhor Jesus Cristo deve reinar efetivamente sobre nós

Nosso Senhor Jesus Cristo deve reinar efetivamente sobre nós

Celebrar a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar seu poder sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele.
Há exatamente 70 anos, Dr. Plinio lembrava o profundo significado da Solenidade de Cristo Rei.

 

Neste domingo em que a Santa Igreja de Deus celebra a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, encher-se-ão, no mundo inteiro, os templos católicos com uma multidão piedosa que irá depositar aos pés dos altares suas súplicas e suas orações. Contemplando em espírito essa imensa multidão, composta de pessoas oriundas de todas as raças e de todos os pontos do globo, tão numerosa que, segundo a previsão do Apocalipse, “ninguém a pode recensear”, um pensamento se apodera de mim. E ao mesmo tempo eu experimento o desejo imperioso de o comunicar aos meus leitores.

Ai daqueles que, por covardia ou egoísmo, calaram os bons conselhos que poderiam ter dado

Ser-me-ia, sem dúvida, muito mais grato e mais fácil cingir-me exclusivamente a considerações de ordem geral sobre a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho, porém, a certeza de que tais considerações outros as farão. Mas o pensamento que está em mim, posso eu porventura ter a certeza de que todos os demais o tiveram, e de que em hipótese afirmativa o externarão? Uma dolorosa negativa me responde a esta pergunta. E, por isto, deixando a outros uma tarefa, aliás, incontestavelmente indispensável e fundamental, vou fazer a tarefa mais ingrata, mais obscura, mais desagradável, porém mais necessária: a de dizer uma verdade áspera e dolorosa, neste grande dia de festa.

Os bons pensamentos têm isto de característico: quando aproveitados, servem de remédio, tanto a nós mesmos quanto ao próximo. Quando, porém, nós os rejeitamos em nossa vida interior, ou os calamos em nossas relações com o próximo, eles se transformam, segundo São Paulo, em carvões ardentes que nos causticam e calcinam a alma. Ai dos que receberam e, por egoísmo ou covardia, não atenderam aos bons conselhos! Ai também dos que, por covardia ou egoísmo, calaram os bons conselhos que eles poderiam ter dado! Estes conselhos salutares, que eles não externaram, queimá-los-ão a eles próprios pelo interior, como brasas ardentes. E no dia do juízo serão levados à conta de talentos inaproveitados.

Aí vão minhas reflexões, portanto…

Quantos procuram implantar o Reino de Cristo no mundo, esquecidos de que devem começar por si mesmos…

Quando pronunciou, em Lisieux, sua magistral alocução, o então Cardeal Pacelli, já predestinado pelo Espírito Santo a reger futuramente a Igreja de Deus, fez uma queixa amarga, que nos cabe hoje recordar. Disse ele que entre os muitos homens que desobedecem hoje às palavras dos Pontífices, há uma categoria que causa especial mágoa ao Papa. Não se trata dos que não têm Fé, e nem dos que, tendo uma Fé morta e inoperante, não procuram ouvir o que o Papa lhes diz. Os que mais fazem sofrer o Papa — e este é o ponto que nos interessa — são os que, aos pés do púlpito, em atitude externa correta e reverente, ouvem a palavra do Vigário de Cristo comunicada pela Hierarquia Eclesiástica… mas não a compreendem; se a compreendem não a amam, e se a amam platonicamente não lhe dão execução!

Assim, no dia de hoje, quantos e quantos católicos, elevados pelo Batismo à dignidade de cidadãos do Reino de Deus, nem sequer cumprirão o preceito dominical! Quantos outros católicos, ainda, indo à igreja, ouvirão algum sermão sobre a Realeza de Jesus Cristo, sem saber, entretanto, e sem procurar saber em que sentido se deve atribuir a esta tão clara e tão litúrgica festa! Quantos católicos, finalmente, acompanhando até o próprio texto da Liturgia Sagrada, lerão as maravilhosas lições que ela contém sobre a Realeza de Jesus Cristo e não a compreenderão! Quantos os católicos que procuram implantar o Reino de Cristo no mundo inteiro, esquecidos ou ignorantes de que devem começar por implantar dentro de si mesmos! E quantos outros supõem que podem implantar realmente dentro de si o Reino de Cristo, sem sentir um desejo ardente e devorador de o implantar no mundo inteiro! Em outros termos, não são tais católicos do mesmo jaez daqueles que ouvem corretamente… porém, só com ouvidos do corpo e não com os da alma, o que lhes diz a Igreja pela voz dos Pontífices?

A doutrina da Realeza de Jesus Cristo está intimamente ligada à belíssima e piedosíssima prática da entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares. Se se entroniza a imagem do Sagrado Coração de Jesus no lugar mais rico e mais nobre do lar, é exatamente porque se reconhece que Ele é Rei. Entretanto, quanto lar há por aí, em que a imagem está entronizada na sala, mas em que Cristo não está entronizado nos corações!

Evidentemente, não quero exagerar a tristeza, já de per si tão grande, deste quadro, cometendo a injustiça de desprezar o que há de belo e de bom apesar destas lacunas. Qualquer ato de piedade, qualquer atitude de reverência para com a Igreja de Deus, por mais superficial e insignificante que seja, deve ser por nós, católicos, apreciado, amado e estimulado com um zelo imenso, reflexo direto de nosso amor a Deus. Longe de nós, pois, um pessimismo de sabor farisaico, que nos fizesse contestar todo e qualquer valor a estas práticas de piedade, desde que sejam sinceras, por mais que a frieza ou a ignorância lhes toldem o brilho sobrenatural.

Entretanto, feita esta reserva, a verdade aí está: a queixa de São João ainda hoje é muitas vezes procedente: “in propria venit et sui eum non receperunt”…

Jesus Cristo, o Rei por excelência

Não seria, aliás, difícil conhecer a doutrina da Igreja sobre a Realeza de Jesus Cristo.

Na sua infinita misericórdia, Deus Se dignou de comparar o amor infinito com que nos ama ao amor que nos têm nossos pais. Evidentemente, não quer isto dizer que Ele tenha reduzido na comparação as insondáveis dimensões de seu amor, para as amesquinhar até as proporções exíguas dos afetos de que os homens são capazes. Pelo contrário, se Ele se serviu dessa comparação do amor paterno, foi apenas para nos dar a entender, de longe, o quanto Ele nos ama. Se dermos à palavra “pai” o sentido que ela tem na ordem natural, Deus não é apenas nosso Pai, mas muito mais do que isto, por ser nosso Criador. Porém, como a função de pai, na natureza, não é senão de coadjuvar a Deus na obra da Criação, se alguém merece na realidade o nome de Pai, é Deus. E nosso pai, segundo a natureza, outra coisa não é senão o depositário de uma parcela da paternidade que Deus tem sobre nós.

O mesmo se dá com a Realeza de Jesus Cristo. Para nos fazer compreender a autoridade absoluta que, como Deus, Ele tem sobre nós, Jesus Cristo dignou-Se de Se comparar com um Rei. Entretanto, como é por Ele que reinam os reis — e a autoridade dos reis só é autêntica por provir d’Ele — na realidade, o único Rei, Rei por excelência, é Ele. E os reis ou chefes de Estado não são senão seus humildes acólitos, dos quais Ele se digna servir-Se na obra da direção do mundo. Cristo é Rei por ser Deus. Chamando-O de Rei, queremos simplesmente afirmar a Onipotência divina, e nossa obrigação de Lhe obedecer.

A um rei se deve obediência!

Obediência! Eis aí um dos conceitos contidos essencialmente no conceito da Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo é Rei, e a um Rei se deve obediência. Festejar a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar Seu poder sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele.

Como é que se obedece a um rei? A resposta é simples: conhecendo-lhe as vontades e cumprindo-as com amorosa e pormenorizada exatidão.

Assim, pois, o único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer sua vontade e segui-la. Dessa noção tão clara, tão simples, tão luminosa, um programa de vida, também ele claro, luminoso e simples, se segue.

Para conhecer a vontade de Cristo Rei, devemos conhecer o Catecismo. Porque é ali, através do estudo dos Mandamentos — estudo este que só será completo com o estudo de toda a Doutrina Católica — que conhecemos a vontade de Deus. E para seguir esta vontade, devemos pedir a graça de Deus pela oração, pela prática dos Sacramentos e por nossas boas obras; finalmente, pela vida interior, isto é, pela leitura espiritual, pela meditação. E pela vida vivida exclusivamente à luz do Catecismo, seguiremos a vontade de Deus.

Disse Nosso Senhor que o Reino de Deus está dentro de nós mesmos. Ora, este pequeno reino, pequeno como extensão, mas infinito como valor, porque custou o Sangue de Cristo, cada um de nós o deve conquistar para Nosso Senhor, destruindo tudo aquilo que, dentro de nós, se oponha ao cumprimento de sua lei.

Finalmente, as leis de Cristo se aplicam não apenas a um indivíduo em particular, mas aos povos e nações. Que os povos conheçam e pratiquem na sua organização doméstica, social e política, as Encíclicas — que são a expressão da própria vontade de Deus —, e Jesus Cristo será Rei.

Em outros termos, sejamos bons católicos; sendo-o, seremos necessariamente apóstolos; e sendo apóstolos, seremos necessariamente soldados de Cristo Rei.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de “O Legionário”, Nº 372, de 29 de outubro de 1939)

Cristo rei – novembro – Majestade, ápice da grandeza

Majestade, ápice da grandeza

Em Nosso Senhor Jesus Cristo o equilíbrio entre a majestade e a bondade encantava a Dr. Plinio. O Sagrado Coração de Jesus tão majestoso, mas sempre com uma bondade levada ao último limite do excogitável, deu-lhe a ideia, desde pequeno, de que o padrão mais alto da majestade era Ele. E, por sua vez, havia ali um lugar naturalmente posto para a devoção a Nossa Senhora.

A majestade se distingue da grandeza, porque ela é o ápice da grandeza. Mas não é qualquer ápice dela que define a majestade.

Conjugação entre finalidade e perfeição

Tomem, por exemplo, algo banal como os quatro dentes de um garfo. Há uma razão para que sejam nesse número: corresponde às dimensões do bocado que a boca humana normalmente ingere, ao menos nos costumes do Ocidente. Eles foram calculados pelo costume, pela tradição e por um certo bom senso presente em tudo.
Entretanto, se o garfo perder um dente, não vale mais nada. Pode-se jogá-lo fora. Se for de prata, mandamos fundi-la para vender o metal, mas ele, enquanto instrumento, já não tem utilidade.
A imagem do garfo íntegro traz consigo uma ideia de perfeição. Aquilo que é completo é perfeito. Embora a perfeição possua graus, no seu gênero determinado, naquele seu estilo, tudo quanto é completo é perfeito.
A coisa perfeita é, então, aquela que por si mesma realiza toda a sua missão. O garfo não realiza a missão de alimentar o homem e, sim, de espetar alimentos, e isto é suficiente.
As noções de completo e suficiente se conjugam. E quando algo adquire esta suficiência, passa a ter, em linguagem filosófica, a perfeição. Possui um grau, pelo menos mínimo, de perfeição. Eu posso imaginar, por exemplo, um garfo de ouro pertencente à Rainha Elizabeth. Este seria, sem dúvida, mais perfeito.

 

Majestade: a grandeza daquele que tem o poder supremo

Ora, a majestade é a grandeza daquele que está colocado como primeiro, ou numa ordem de coisas, ou numa associação perfeita possuidora de todos os elementos necessários para subsistir como deve. Ele é a chave de cúpula fora da qual todo o resto se esvai.
Só há duas sociedades perfeitas, de fato: a Igreja e o Estado.
Este é o ensinamento da Igreja: Ela é uma sociedade perfeita, tem todos os elementos para realizar a sua missão, e tem o governo soberano, acima do qual não há nenhum.
A Igreja é destinada à ordem espiritual, o Estado à ordem temporal.
O Estado é aquela sociedade perfeita de um povo, ou de vários, colocados sob a direção de um mesmo poder público soberano, não há nenhum outro acima dele.
Alguém dirá: “Mas a família não é uma sociedade perfeita?”
Não, ela é a cellula mater da nação. Se quiserem, em certo sentido, do Estado. Mas não é uma sociedade perfeita.
Outro objetará: “Um partido político não pode ser tido como sociedade perfeita?” Chama-se partido, logo não é perfeito, porque é uma parte. A sociedade perfeita é um todo.
“Bem, mas uma Universidade não é uma sociedade perfeita?” Não. Porque ela existe dentro do Estado e precisa dele. O Estado não precisa dela, está por cima.
Então, a verdadeira majestade, no sentido pleno da palavra, é a grandeza daquele que tem o poder supremo na sociedade perfeita: É o Rei, ou é o Imperador.
Assim se compreende melhor a etimologia: majus stat1. É aquele maior do que todos. Este tem majestade.

A majestade é, antes de tudo, de Deus

A majestade é, antes de tudo, de Deus. Ele é a Majestade. Em comparação com Deus, quis sustinebit?2 Quem é qualquer coisa em comparação com Ele? E em união com Ele, logo abaixo d’Ele, Cristo Rei. Nosso Senhor Rei tanto da Igreja quanto do Estado. É evidente. O Estado tem obrigação, em suas leis, de conformar-se em tudo com os desígnios de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Abaixo de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora. Porque o governo de todo o universo foi entregue por Deus a Ela, que Se tornou a Imperatriz. Depois vem o Papa, e de modo sucessivo o Rei, o Imperador, o chefe de Estado.
Como se explica que chefes de Estado se constituam com um poder que nega a majestade?
Por erro deles. Porque mesmo numa nação independente, de índole republicana, se deveria reconhecer a grandeza daquele que ocupa, embora temporariamente, as funções supremas. O fato de elas serem provisórias diminui a grandeza da situação pessoal de quem as exerce. Porém, não diminui a função em si.
Por exemplo, o doge de Veneza era chefe de Estado provisório. Ele era eleito por dez anos. Mais tarde parece ter passado a ser vitalício. Enquanto era provisório, não era hereditário, ou seja, não pertencia à família dele aquele poder. Qual era a dignidade dele? Era a de ser doge. Doge quer dizer duque, em dialeto veneziano. Duque temporário, mas soberano de uma região riquíssima, mas pequena. Ficava ridículo ser imperador. Ninguém é imperador de Luxemburgo, por exemplo. No entanto, ele estava cercado de um fausto, do qual dá bem ideia o Palácio dos Doges. Ou seja, o poder público, de si, deve ter majestade.

Em Saint-Germain l’Auxerrois, um fato que ilustra a majestade

Alguém poderia dizer: “O senhor tratou da majestade enquanto ligada ao cargo. Uma pessoa não pode ter majestade por um dom natural?”
Pode, mas nesse caso ela tem um dos elementos da majestade e, por ampliação, se afirma que ela tem majestade. Quer dizer, se ela tem uma tal supremacia pessoal que, olhando-a se pensa na realeza, ela tem os elementos que caracterizam o rei. Ela não é um rei, mas é majestosa.

Certa vez, minha família ouviu Missa na Igreja de Saint-Germain l’Auxerrois, em Paris. E viram entrar a Princesa Isabel acompanhada de uma dama. Como ela era princesa, e a Primeira Guerra Mundial não tinha arrebentado ainda, se prestava, mesmo nas Repúblicas, a honra de dar-lhes um lugar no presbitério. Ela entrou e foi direto para lá, ocupando o lugar que lhe estava reservado.

 

Terminada a Missa, minha mãe e minha avó, que não a conheciam pessoalmente, viram a dama de honra da princesa se levantar e ir caminhando em direção a elas, dirigindo-lhes a palavra:
— Eu sou a Baronesa de Muritiba, dama de honra da Princesa Isabel. Ela viu as senhoras desde o presbitério, achou que fossem brasileiras. Então, me mandou manifestar seu desejo de conhecê-las. Se quiserem, ela as espera na sacristia.

 

Foram até lá: Cumprimentos, homenagens, e, na conversa, a princesa soube que minha mãe era casada com um parente do João Alfredo3, deputado no tempo do Império, muito chegado à Imperatriz. Soube também que meu avô era chefe monarquista em São Paulo, e uma porção de histórias assim. E o resultado foi um convite da Princesa Isabel para todos os membros de minha família irem tomar lanche na sua residência, em Boulogne-sur-Seine.
Foram todos, até as crianças, porque naquele tempo era costume conhecerem-se as famílias inteiras, e não algumas pessoas. Eu tenho certeza que a Princesa Isabel não se espantou nenhum pouco de ver umas dez ali. E para elas era uma ocasião de poder dizer a vida inteira: “Eu conheci a Princesa Isabel!”
Um dos meus tios tinha um filho surdo-mudo que aprendeu a falar com um sistema inventado em Viena, o que naquele tempo era novidade. Esse menino era meio détraqué4. Apesar disso o levaram, por medo de deixá-lo muito deprimido se todos os outros fossem e ele não. Acredito bem, aliás, ter Dona Lucilia, a grande favorecedora desse sobrinho, votado em favor da ida dele.

Chegamos, ficamos todos em pé esperando a princesa. Afinal, ela entrou, cumprimentos. Quando ela foi se aproximando, meu primo, que elevava a voz muito mais alto do que o natural, pois não ouvia, começou a falar:
— Essa é a princesa? Onde se viu? Princesa tem coroa, tem cetro, tem manto bonito! Ela está vestida como vovó!
A Princesa Isabel ouviu isto e, com muita bondade, disse-lhe sorrindo:
— Pois é, meu filho, não tenho nem o manto nem a coroa, mas eu sou a Princesa Isabel, e tenho gosto em conhecer você.
Ela era muito majestosa, um modelo de majestade!

Pendor para o excelente

É próprio do espírito humano reto, bem constituído, ver uma coisa boa e apetecê-la. Voltemos mais uma vez ao exemplo do garfo: O espírito humano bem formado apetece sempre a algo melhor. De maneira que, tendo se alegrado por algum tempo com um garfo bom, ele começa a pensar: “E como seria um garfo melhor?”
Assim, dependendo do pendor pessoal, o ser humano é atraído por mil outras coisas que o levam a cogitar na perspectiva de serem cada vez melhores, algumas delas atingindo o nível de perfeição. Esta, a seu modo, corresponde à majestade naquele gênero.
Por exemplo, existem milhares de idólatras de automóveis. Imaginem um indivíduo desses tão tacanho, que nunca tivesse ouvido falar numa Rolls-Royce. Mas quando ele encontra um veículo desses, numa propaganda, fica encantadíssimo. Lê os prospectos, contente por existir algo dessa categoria que jamais será dele, porque nunca terá o dinheiro para comprá-la e mantê-la. Qual é a razão dessa alegria? Ele viu a possibilidade de um exemplar melhor dentro da ordem de coisas de que ele gosta.
Contudo, se aparecesse um automóvel superior, mais perfeito, ele se alegraria ainda mais. Porque é natural que esse pendor para o excelente, para o supremo de determinadas coisas, e para o muito bom de várias outras, desabroche na alma humana.
Logo, é compreensível que, desde pequeno, eu tenha desejado, conhecido e voltado minha alma a certas majestades. Como isto se fez?

Coração de Jesus de majestade infinita

 

Na Igreja do Coração de Jesus5 havia todas as impressões ocasionadas pelo culto, pela liturgia, pelos cânticos, pelo órgão, pelo ambiente de recolhimento, mas, sobretudo, pela Pessoa de Nosso Senhor, enquanto mostrando o Seu Coração aos homens. Esta devoção, pelo próprio nome da Igreja, era inculcada nela por várias formas. Na torre, aquela imagem dourada do Coração de Jesus, com os braços abertos para toda a humanidade. Aquela majestade d’Ele com os braços abertos, me entusiasmava!

Dentro tem também uma imagem, no altar lateral à esquerda de quem olha para o Tabernáculo. Não pretendo dizer nem um pouco que ela tenha valor artístico, nem é uma obra de arte, é de artesanato. No entanto, muito tocante, muito nobre, e com o coração de Jesus exprimindo muita bondade, com uma grandeza misteriosa, parecendo emanar algo para mim, vindo do vermelho bem escolhido do seu manto, dos ornatos dourados… Mas, sobretudo, de sua cabeça, os cabelos… sobretudo, o olhar, os traços do rosto. Ele me parecia tão majestoso, e tão bom ao mesmo tempo! Tão infinitamente superior, e com tanta pena, tão voltado para mim, e tão misericordioso, que eu pensava: “Majestade é isto! E eu gosto desta majestade!”
Quando me deparei, na ladainha do Coração de Jesus, com aquela invocação “Cor Iesu majestatis infinitæ, miserere nobis”6, adotei-a e a inscrevi entre as minhas invocações prediletas, desde logo!
No teto do Coração de Jesus vem a mesma majestade expressa por uma pintura representando Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque. E há um letreiro, em caracteres dourados sob fundo verde, escrito em francês, pois essa Santa era francesa: “Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, e por eles foi tão pouco amado.”

Esse equilíbrio entre a majestade e a bondade me encantava! Ele, tão majestoso na aparição, mas sempre com uma bondade levada ao último limite do excogitável. Deu-me a ideia de que ali estava o padrão mais alto e pleno da majestade. Sendo Ele Rex regum et Dominus dominantium – Rei dos reis e Senhor de todos aqueles que têm domínio –, era natural que se concebesse n’Ele uma majestade dessa elevação.

Nossa Senhora preenche o hiato entre Nosso Senhor e o pecador

Donde, por sua vez, um lugar naturalmente posto para a devoção a Nossa Senhora. Porque o culto à majestade do Sagrado Coração cria a seguinte situação: Quando deitamos atenção, a majestade d’Ele é tão grande, que a pessoa se sente aniquilada: “Como me aproximar d’Ele? Como dizer-Lhe: Eis-me aqui? Quando sinto em mim o pecado original no qual fui concebido, experimento o primeiro impulso de todas as desordens que todo homem tem em si! Isso tudo me distancia d’Ele.”
Fazendo essas considerações, eu adorava a majestade d’Ele enquanto me recusando, olhando para aquilo que em mim causa-me desgosto e, se eu pudesse, jogaria fora. Esta exclusão, eu a adoro! De outro lado, porém, ela me apavora. Porque Ele é tudo. E, rejeitado por quem é tudo, o que eu sou? Se Ele não me rejeitasse, eu não O adoraria. Se Ele me rejeita, desapareço… Então, qual é a solução?

No hiato entre Ele e mim ‒ que, por alguns lados, deve ser visto como um abismo escuro ‒ há uma réstia de luz: Nossa Senhora, Mãe d’Ele e minha, a qual, como ensina a Igreja, quis a morte de seu Divino Filho para nos redimir, e a teria querido mesmo se fosse para salvar somente a mim ou a qualquer outro homem que há na Terra. Quanta misericórdia!

A superioridade de Maria Santíssima

Mas Nossa Senhora não é divina, não tem aquela superioridade Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela é superior a mim a jardas, anos-luz, centúrias de séculos, não tem dúvida! Contudo, é uma criatura. Por isso, ouso me aproximar d’Ela e recitar o Memorare, a Salve Regina, e florescer! Porque Ela faz ponte entre Ele e mim. Este é o bem-estar de minha alma!
Naquele episódio do boletim do Colégio São Luís7, quando eu estava rezando aflito diante da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e me sentia olhado por Ela com uma bondade, uma ternura, uma disposição para me perdoar, com uma pena de mim, uma coisa extraordinária, duas ideias vieram juntas, como num relâmpago. A primeira era: “Parece mamãe!”; a segunda: “Mamãe não chega, nem de longe, aos pés d’Ela!”
A maternalidade d’Ela comigo, não por ser eu, Plinio, não. É por um qualquer, um prequeté pecador, um cisco de menino pecador, aparecendo diante d’Ela, trêmulo, mais movido pela atrição do que pela contrição; a esse menino, Ela deixa cair a pétala de um sorriso!
Deste fato veio-me a convicção: Ou eu me agarro a Ela a vida inteira, ou eu me perco! Meu negócio é com Ela! Recorrendo a Ela, pedindo, querendo saber a respeito d’Ela, e girando em torno d’Ela, ao serviço d’Ela. Minha vida é para Ela!
Com frequência, rezando a Salve Regina, eu me lembro disso e, de algum modo, revivo bem exatamente aquela sensação. Quando vou ao Coração de Jesus, visito-A enquanto sendo a Mãe que me sorriu! É evidente. E o meu hábito é este mesmo: entro, inclino-me diante do Santíssimo, faço uma adoração rápida e vou direto para junto do altar d’Ela, para vê-La de perto.
E a imagem do Sagrado Coração de Jesus? É claro, vou vê-la, adoro ao Sagrado Coração de Jesus, venero a imagem d’Ele, sei que a maior homenagem, a primeira, se deve a Ele. Mas, em consideração à ideia da mediação d’Ela, sem a qual eu não me salvaria, creio ser mais respeitoso ir pedir primeiro a Ela para pôr minha alma em condições de aparecer diante d’Ele. E acredito que nenhum teólogo sério tenha alguma objeção a isto.

 

A admiração diante da grande majestade

Pelo velho hábito de lecionar, que leva à deformação de dar a muitas coisas o caráter de aula, apresentei o conceito de majestade tão claro no seu conteúdo abstrato. Entretanto, ao tratar do Sagrado Coração de Jesus, passou-se do abstrato para o concreto mais sublime, mais perfeito que possa haver, provocando uma impressão de majestade muito grande que convida ao silêncio na consideração das naturezas divina e humana na Pessoa d’Ele, sob a invocação do Sagrado Coração. Esta é a majestade das coisas postas por Deus na ordem do universo.
Desde quando eu era pequeno me intrigava ver certos líquidos que postos em recipientes de gargalo muito estreito não saíam, permanecendo retidos por uma rolha invisível. Passei anos sem entender o porquê, julgando que um dia compreenderia isso em função de algo mais alto. Meu professor de Física deu-me uma explicação, mas não me interessou.
Porém, essa velha imagem de meu curso de Física me veio ao espírito, de repente, quando foi abordado o tema a respeito da majestade. Pensei: “Está vendo? É como a admiração. Ela, diante da grande majestade, fica sem saber se expandir, como o líquido no gargalo, porque desperta movimentos de alma tão grandes, que o ‘gargalo’ da voz humana é insuficiente para transmitir.” E nós ficamos no mutismo de quem quisera ter outros meios de expressão e não os tem. Se fosse músico, tocaria uma melodia; se fosse poeta, comporia uma poesia, porque elas dizem muitas coisas que as palavras não exprimem. Não sendo músico nem poeta, admiro pelo silêncio.
No caso de Nosso Senhor Jesus Cristo, é muito mais do que uma admiração, é uma adoração, um ato de culto. Eis o que se deu. Fico feliz por minhas palavras terem conseguido despertar este ato de culto em relação a Ele.v

(Extraído de conferência 29/10/1985)

1) Do latim: (sentido literal) o maior está de pé.
2) Do latim: Quem subsistirá?
3) João Alfredo Corrêa de Oliveira, tio-avô de Dr. Plinio.
4) Do francês: desequilibrado, demente.
5) Santuário do Sagrado Coração de Jesus, igreja situada no Bairro Campos Elíseos, em São Paulo.
6) Do latim: Coração de Jesus, de majestade infinita, tende piedade de nós.
7) Sobre isso, ver Revista Dr. Plinio n. 122, p. 18-23.

30 de novembro – Santo André, Apóstolo: imitador do Divino Mestre em sua Paixão na Cruz

Santo André, Apóstolo: imitador do Divino Mestre em sua Paixão na Cruz

Ao ler a narração da morte de Santo André, Apóstolo, Dr. Plinio incentiva, uma vez mais, seus filhos espirituais ao amor à Cruz.

A Igreja comemora no dia 30 de novembro a festa do Apóstolo Santo André. Extraídas do Pe. Rohrbacher, como também do Abbé Daras, são as seguintes notas biográficas que passaremos a comentar.

“Santo André, primeiro Apóstolo a reconhecer Cristo, ao qual levou seu irmão Pedro, futuro primeiro chefe da Igreja, teve sempre um grande amor à Cruz. Na hora de sua morte, ao ver o madeiro no qual iriam pregá-lo, saudou-o com alegria.”

A saudação de Santo André à Cruz, feita neste momento, não deve ser considerada como pura literatura, pois cada palavra contém uma gravidade e um significado. Depois de açoitado, e ensanguentado, diante de sua cruz, a qual era em forma de “X” — por isto conhecida como Cruz de Santo André — está postado o Apóstolo mártir. Diante dela ele profere as seguintes palavras:

Cruz belíssima, desejada e amada com doçura

“Ó Cruz belíssima, que foste glorificada pelo contato que tiveste com o Corpo de Cristo! Grande Cruz, docemente desejada, ardentemente amada, sempre procurada, e afinal preparada para meu coração apressado, desejoso de ti.”

Eis a beleza da exclamação de um homem para a hora do sofrimento que Deus preparou para ele, e para a aceitação do cálice que ele tem de beber, a fim de obter sua glória no Céu. Cálice este, que, quando não sorvido, não alcança o prêmio celeste. Chega afinal a hora de seu máximo sofrimento, de seu martírio. Ele conhece o sofrimento, pois refletiu incontáveis vezes sobre a Paixão de Nosso Senhor, que assume sua alma nessa circunstância.

A cruz, que era um objeto de desprezo, um instrumento de punição para criminosos, contudo é por ele intitulada como “cruz belíssima”.

Por que belíssima? Ela foi glorificada pelo contato que teve com o Corpo de Cristo. Então ele acrescenta que a desejara com doçura.

Neste gesto é possível notar os inúmeros anos de amor ao martírio, que lhe tinha sido previsto e profetizado, a espera do momento em que ele faria por Deus este ato de holocausto desinteressado. Por amor a Jesus, ele deixou-se matar, assemelhando-se ao vaso de Santa Maria Madalena, quebrado com unguento junto aos pés do Senhor, sem utilidade prática, num ato de amor  desinteressado, em holocausto que não tinha outra razão de ser, senão seu próprio sacrifício. De forma tal que mesmo não sendo útil às almas, ou edificante para muitos, e ainda que não fosse uma humilhação para os adversários da Igreja, para manifestar a Deus que ele levava seu amor até aquele ponto, desejou a Cruz docemente, como algo suave.

Que beleza é a alma de um mártir, e quão belos sãos os esplendores existentes na alma de um mártir!

O que dá sentido à vida não é o prazer, mas a Cruz

“Grande Cruz, docemente desejada, ardentemente amada,…”

De todos os modos os homens fogem do sofrimento. O sofrimento é exatamente o que não desejam. Qualquer forma de luta contra as paixões, qualquer forma de renúncia ao mal, causa-lhe horror. A ideia predominante é de que a vida foi dada ao homem para que ele possa obter proveitos e vantagens, e que é preciso gozá-la, e o que não é fruir a vida, é morrer.

Pelo contrário, Santo André amava ardentemente sua cruz, compreendendo que o verdadeiro sentido da vida de um homem não é o gozo ou o prazer que tem, mas o sacrifício que pratica. Isto dá sentido à vida de um homem e, portanto, todo homem verdadeiramente sobrenatural, verdadeiramente homem, almeja o encontro com sua grande Cruz, com seu grande martírio.

Este é o filho da Cruz, o amigo da Cruz, como fala São Luís Grignion de Montfort.

Amar a Cruz, da qual todos fogem

“… sempre procurada…”

Não são muitos os homens que no momento de prestar contas a Deus, podem dizer que sempre buscaram a Cruz, e que em todos os acontecimentos de sua vida procuraram o sacrifício. Pelo contrário, geralmente os homens fogem da Cruz, pois não desejam de forma alguma o sacrifício. Entretanto, Santo André pôde dar de si mesmo o testemunho: “sempre procurada”. Assim, no instante de ele aproximar-se de sua cruz, estava disposto ao sacrifício.

Continua:
“… e afinal preparada para meu coração apressado, desejoso de ti.”

Manifesta-se aqui que Deus afinal concedera a Cruz para o coração que tinha grande afã da crucifixão.

O martírio significa o último holocausto. Nosso Senhor afirmou: “Ninguém tem um maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15, 13).

Ninguém pode dar maior prova do amor de Deus, do que desejar desta forma a Cruz.

“Cruz preparada para o meu coração, desejoso de ti, recolhe-me, ó cruz! Realmente abraça-me, retira-me dos homens, leva-me depressa, diligentemente, ao Mestre. Por ti Ele me receberá, Ele que por ti me resgatou.”

Pode haver uma oração mais bela do que esta? Existirá uma alma mais pronta para a visão beatífica do que uma alma que no momento da morte fala de tal forma?

Pode haver cátedra semelhante à Cruz?

“Por três dias esteve pregado na cruz, e durante três dias, do alto da cruz, ensinou aos homens”.

O fato é tão impressionante que pertence àqueles aos quais não competem comentários… Ficar dias preso à cruz, pregando ao povo, e ao cabo desses dias morrer, é um milagre extraordinário.

Apresenta a cruz como a mais grandiosa e augusta de todas as cátedras, cátedra do homem que sofre e, em nome de seu sofrimento, fala ao povo e produz enorme impressão. É uma tão grande plenitude de apostolado, que verdadeiramente não se sabe o que dizer.

Imaginemos um homem que era idoso, atado à cruz, no desconforto tremendo daquela situação, com açoites marcando seu corpo, possivelmente com as mãos e os pés perfurados. Nessa dor tremenda é mantido em vida por um verdadeiro milagre. Continua pregando ao povo, e a um povo ardoroso, contrito, provavelmente genuflexo, que lhe “bebia” as palavras, uma por uma. É uma das mais belas cenas de pregação católica de todos os tempos e de todos os lugares.

Pode-se imaginar quais foram as palavras, os ensinamentos, as graças, enfim, o martírio de Santo André? Que cátedra! Quem durante a vida possuiu uma cátedra semelhante à Cruz?

“Senhor, Rei Eterno da glória, recebei-me assim pendido como estou ao madeiro, à Cruz tão doce. Vós sois meu Deus, Vós a quem vi. Não permitais que me desliguem da Cruz; fazei isto por mim, Senhor, que conheci a virtude da Vossa Santa Cruz.”

E com estas palavras expirou.

Prêmio no Céu e nesta terra

Uma morte tão pulcra, da qual poder-se-ia dizer que apenas a de Nosso Senhor superou em beleza, era merecedora das maiores honras por parte da Santa Igreja, como de fato constatou-se séculos depois.

“Santo André foi sempre objeto de grande devoção por parte dos católicos. Assim foi, com indescritível entusiasmo, que a cabeça do santo foi recebida em Roma por Pio II, a 11 de abril de 1462. O Papa dirigiu-se ao encontro da preciosa relíquia. O cardeal grego, Besarion apresentou-lhe a caixa que a continha, e que estava colocada sobre um estrado. Antes de receber o sagrado depósito, Pio II pronunciou tocante alocução. Depois, beijou, chorando, a cabeça do Apóstolo, rezou diante dela; em seguida tomou-a nas mãos, segurando-a bem no alto, fez a volta no estrado para mostrá-la a todos os assistentes. Neste ponto, cantos e gritos dessa imensa multidão elevaram-se de todas as partes como uma única e grande voz, implorando a misericórdia de Deus.

A cabeça do Apóstolo foi depositada em São Pedro.”

Vê-se a descrição da linda cerimônia com que o Papa Pio II recebeu a relíquia de Santo André. O crânio de Santo André estava no Império Bizantino, infelizmente cismático. E à medida que os turcos invadiam o Império, algumas das relíquias insignes foram sendo retiradas do Império e levadas por mãos fiéis para terras católicas, onde pudessem ser adequadamente veneradas. Assim ocorreu com o crânio sagrado de Santo André.

Esse crânio foi recebido pelo Papa com toda a veneração narrada. Ele mesmo toma o relicário onde estava o crânio, e dá a volta no estrado para mostrar ao povo que o crânio de Santo André estava em Roma. Depois, o crânio, com enorme veneração, é levado até à Basílica de São Pedro e é colocado num relicário embutido numa das colunas da Basílica Vaticana.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 30/11/1964 e 29/11/65)

30 de novembro – Santo André Apóstolo

Santo André Apóstolo

Quando lemos a narração evangélica sobre o encontro de Jesus com seus primeiros discípulos, não podemos deixar de louvar a fidelidade de Santo André.

Fiel a São João Batista, ele não hesitou um instante em obedecer à orientação do Precursor que lhes apontava o Cordeiro de Deus a ser seguido. Nosso Senhor era a realização da profecia do Batista. E Santo André, dócil à voz da graça, teve a glória de dar início à grandiosa história dos apóstolos.

Plinio Corrêa de Oliveira

30 de novembro – A mais augusta das cátedras

A mais augusta das cátedras

Santo André amava ardentemente a sua cruz, compreendendo que não é o gozo e o prazer que dão sentido à vida de um homem, mas o sacrifício que ele realiza. Portanto, todo homem verdadeiramente sobrenatural deseja carregar sua própria cruz.

Nosso Senhor disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Ninguém pode dar maior prova do amor de Deus, do que desejar, por esta forma, a cruz.

A cruz é a mais grandiosa e augusta de todas as cátedras. É a cátedra do homem que sofre e que, em nome e com os acentos de seu sofrimento, fala ao povo. Isso representa uma tal plenitude de apostolado, que verdadeiramente não se sabe o que dizer!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 30/11/1964 e 29/11/1965)

Revista Dr Plinio 188 (Novembro de 2013)