Qual diamante incrustado nos Alpes, entre a Baviera e a Áustria, encontra-se a célebre cidade de Salzburg, em cujas cercanias surgiu a melodia celebrada pelo mundo inteiro como a música de Natal por excelência: o Stille Nacht.
Em sua versão original alemã, a primeira estrofe do Stille Nacht refere-se à “noite santa e silenciosa, onde tudo dormia, com exceção do venerável e altamente santo casal”. De fato, com inspirada perfeição, sua melodia reflete o imenso e recolhido silêncio de uma noite sagrada.
Nessa noite, onde parece não haver lugar senão para o silêncio, terá Nossa Senhora pronunciado alguma frase, além das manifestações, plenas de amor e afeto, com que as mães costumam se dirigir aos seus filhos recém-nascidos? E São José? Terá ele dito alguma palavra Àquele que era o seu Criador e Redentor? Ou preferiu não quebrar a sacralidade do momento nem mesmo dirigindo-se à sua Santíssima Esposa? Não consta nos Evangelhos ter havido qualquer diálogo ou palavra nessa hora: diante da manjedoura, seja da parte de Maria ou de seu Castíssimo Esposo, não havia outra atitude senão o respeitoso silêncio da adoração (Cf. Lc 2,16).
É verdade que, algumas horas depois, chegaram os pastores e narraram o que lhes havia dito o Anjo do Senhor (Lc 2,17); mas, com que tom de voz eles contaram a Maria a aparição da milícia celestial? Tudo leva a crer que contiveram o jorro de sua vivacidade pastoril e que contaram baixinho o que havia acontecido, a fim de não despertar o adorável Menino ou impedir o recolhimento de sua Mãe, que “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19).
Na gruta de Belém havia, sobretudo, o eloquente silêncio do Menino-Deus: seu recolhimento dizia mais do que todos os sábios e doutores diriam ao longo da História. Jesus nada falou, mas disse tudo. Em seu silêncio não havia qualquer forma de omissão, mas sim uma mensagem cujo conteúdo, dotado de potência (Mc 1,27), remediaria todas as indigências do mundo antigo: era Deus que se revelava aos homens, com atitudes de menino e grandezas de Criador.
Com efeito, Jesus-Menino não necessitava falar, pois era a própria Palavra Divina, o “Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Poderia haver silêncio mais eloquente?
Ainda hoje, como na gruta de Belém, para Ele falar às almas, basta seu divino silêncio. Ele nos fala com o palpitar de seu coraçãozinho, num tom harmônico e constante, pacífico e acolhedor que só pode ser escutado com o ouvido do coração.
O silêncio eloquente de seu Natal nos convida a imergir na verdadeira alegria da noite silenciosa, nos chama para o recolhimento, para a interiorização, para perceber a voz da graça dentro de nossa alma batizada e inabitada pelo Deus que se fez menino.
Que silêncio e que doçura da noite mais eloquente da História! Silêncio que transcende às leis físicas e ecoa por mais de dois mil anos, não pelas vastidões do Universo, mas de coração a coração em todas as santas e silenciosas noites de Natal.
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