Realizando o altíssimo plano de Deus para a Civilização Cristã, o Príncipe São Casimiro soube aliar a nobreza e o laicato à santidade perfeita, sendo uma pedra de escândalo para sua época e difundindo o aroma da Santa Igreja pela sua pureza ilibada e seu zelo na defesa da Fé.
Temos uma ficha biográfica1 sobre um príncipe da época em que a Hungria era chamada o “Reino Apostólico da Hungria”. Trata-se de São Casimiro, da Polônia, cuja festa se comemora no dia 4 de março.
São Casimiro, príncipe polonês, veio ao mundo em 5 de outubro de 1458. Foi o terceiro filho de Casimiro III, Rei da Polônia e Grão-Duque da Lituânia, e de Isabel da Áustria, filha do Imperador Alberto II. Desde o berço foi formado na virtude e piedade pelos cuidados de sua mãe, princesa muito católica.
Esta ficha biográfica traz uma série de observações. A primeira delas, a respeito da qual não podemos deixar de insistir, é o grande número de nobres e de pessoas pertencentes a dinastias reinantes, que foram elevadas, durante a Idade Média, à honra dos altares, esfarrapando a lenda revolucionária de que os nobres não eram senão uns imorais, corruptos, sanguessugas.
No caso concreto, eu me comprazo em afirmar o fato de São Casimiro ter vivido na corte de seus pais, no século XV. Como vemos, a mãe dele era descendente da família imperial Habsburg.
Uma corte segundo a Civilização Cristã
Para efeito das teses que temos em vista não é uma coisa tão concludente considerar um príncipe qualquer que, em determinado momento, deixou a corte para abraçar o estado religioso. Sem dúvida, é uma ação nobre, piedosa, edificante, mas para as nossas teses o mais concludente é o fato de ele ter continuado a viver na corte e aí se ter santificado.
Por causa da impregnação de “heresia branca”2 sob a qual o mundo contemporâneo está sujeito, ainda prevalece no subconsciente de muitas pessoas a ideia de que só padres e freiras podem alcançar a santidade. Fora desse âmbito é tão raro o surgimento de um santo, que se considera um caso extraordinário, quase monstruoso. Como na natureza pode brotar um rabanete de tamanho excepcional, assim a graça produz, às vezes, um santo leigo. Parece uma coisa maravilhosa, uma exceção à regra.
Contudo, um santo leigo não é exceção à regra, mas a realização perfeita do plano da Providência. Ademais, o fato de um nobre ter se conservado íntegro na corte de um rei, mostra-nos esse ambiente como um elemento dentro do qual um católico pode viver e santificar-se.
Neste sentido, constitui uma espécie de elogio ao ambiente onde o santo viveu e uma afirmação de que, com frequência, a santidade perfumou a atmosfera nobiliárquica, contrariamente à pregação revolucionária. Então, em vez de serem lupanares, lugares medonhos de perdição e corrupção, as cortes foram, em numerosos casos, receptáculos da santidade onde a virtude atuou, teve prestígio e influência, realizando assim o ideal da Civilização Cristã.
Segundo esse ideal, o que é a corte real? O rei é a imagem terrena de Deus; logo, a corte terrena é imagem da celeste. Numa corte autenticamente católica, em face de um rei santo, os cortesãos deveriam ser a representação dos Anjos e Santos diante de Deus três vezes Santo. Ora, que isso tenha tido, em determinadas circunstâncias históricas, importantes parcelas de realização deve nos encher de entusiasmo e alegria, são exemplos que devemos opor à crítica revolucionária.
Alguém poderia objetar: “Em um número grande de casos, as cortes foram assim. Mas esse número grande é colhido a esmo ao longo de mil anos de história, de maneira que é possível encontrar numerosos exemplos de muitas coisas. Isto não prova que as cortes, a fortiori, tenham sido sempre assim, mas apenas uma vez ou outra. Daí nada se deduz.”
Ora, se as monarquias produziram isso pouco, eu quero saber o que as repúblicas produziram. Por exemplo, quem já ouviu falar em senador santo? Vê-se, então, a diferença existente entre uma coisa e outra, e quanto esses fenômenos são significativos.
Por outro lado, está provado que nas cortes mais depravadas houve sempre uma prestigiosa corrente de reação. Por exemplo, um personagem histórico sobre o qual pouco se tem falado entre nós, e que é muito interessante, é o Delfim Luís Fernando, filho de Luís XV, homem excelente, irmão da Madame Louise de França, que morreu carmelita e da qual ainda se procuram elementos para o processo de canonização, e também da Rainha da Sardenha, Madame Clotilde, irmã de Luís XVI, declarada bem-aventurada pela Santa Sé. Isto na tão putrefata corte de Versailles, no tempo de Luís XV.
Continuemos a análise da ficha sobre São Casimiro.
Alma penitente e de uma pureza convidativa
Sua pureza e castidade foram, desde a infância, absolutamente virginais e evangélicas. Era difícil imaginar um príncipe de maior inocência, de maneiras mais belas e com méritos mais elevados. A pureza de seu coração e de seu corpo brilhava em toda a sua conduta, de modo que todos os que o viam ou com ele tratavam, sentiam-se movidos à castidade.
Seu espírito era tão unido a Deus, que sua paz interior se manifestava na grande serenidade do seu rosto. Todos os seus servos, ao seu exemplo, eram cheios de bondade e se destacavam pela extraordinária misericórdia para com todos os visitantes e os pobres que iam lá pedir esmola. Pode-se formar uma ideia da felicidade dos súditos de tão santo príncipe.
Aqui temos um personagem que poderia figurar na pintura de um vitral em uma catedral. Príncipe da casa real, com irmãos reis, São Casimiro era um jovem de alta cultura e condição social, no qual se reuniam todos os dons físicos, intelectuais e espirituais; era um varão muito justo, misericordioso e bondoso.
É interessante notar a castidade enorme deste Santo. Uma nota curiosa desta castidade é a sua comunicatividade. Ele era tão puro que transmitia aos outros o desejo de o serem também. Isso tem uma beleza especial, porque muitas vezes encontramos pessoas puras, dignas de admiração e homenagem, mas a quem Nossa Senhora não deu o dom de tornar comunicativa essa virtude.
Ora, uma das melhores formas de fazer apostolado é ter essa virtude comunicando-se de uma pessoa para outra, como por osmose.
Mas, como Deus está irado com o mundo, esses dons se tornam raríssimos. Por esse motivo, devemos recorrer a São Casimiro para compreender o que é a pureza convidativa e irradiante, e assim atrair as pessoas para a prática dessa virtude contrária à impureza, à voluptuosidade, também conquistadoras, e que arrastam para o mal. A virtude arrastando para o bem é uma coisa que pouco se vê em nossos dias e, no entanto, dá tanta glória a Nossa Senhora!
São Casimiro teve, entre outros, o dom da continência, que o tornou casto toda a vida, num celibato muito puro. Para corresponder com maior facilidade a tantas graças, cobriu seu corpo com rudes cilícios e o macerou com longos jejuns. Com frequência, passava noites inteiras dormindo sobre uma tábua e, algumas vezes, dormia nas portas das igrejas, onde era encontrado de manhã, com o rosto virado para o chão. Todas essas mortificações, o Santo praticava sem ferir qualquer das pompas que a dignidade de sua Casa, ou a consideração das pessoas com as quais vivia, pareciam exigir do seu estado.
Há um outro aspecto interessante aqui: é a atitude de São Casimiro vestindo roupas régias e levando cilício por baixo. Ele quer fazer penitência, mas sabe que sua condição lhe impõe vestir-se com a pompa inerente à sua categoria. E como ele não é igualitário, usa tudo quanto é necessário para a manutenção de seu estado. Vemos nisso o equilíbrio do verdadeiro Santo.
Qual o valor disso? Este Santo considerava tão nobre e justo que um príncipe, ou qualquer pessoa de maior categoria social, tivesse um estado de vida superior, que ele, fazendo penitências de todos os modos, encobria sua mortificação para ostentar sua nobre condição aos olhos de todos, qualificando isso como um verdadeiro dever de estado a ser cumprido.
Desde seus primeiros anos São Casimiro se desinteressou dos prazeres do mundo, das diversões e da vida folgada. Seus prazeres, os mais atraentes, eram de passar várias horas seguidas rezando diante dos altares. O palácio de nosso Santo era um lugar de devoção, onde se rezava a Deus o dia inteiro. Quando ele assistia ao Santo Sacrifício da Missa, não era raro que tivesse êxtases no momento de se operar a transubstanciação.
Uma das virtudes em que mais se esmerou o grande São Casimiro foi a cordial devoção a Nossa Senhora, à qual chamava de “minha Boa Mãe”. Daqui veio a conservar os virgíneos candores desse arminho, apesar do real estado e da viçosa idade… Não contente de recitar todos os dias um longo hino, composto por ele, no qual cantava os mistérios da Encarnação e os gloriosos privilégios da Mãe de Deus, quis ainda ser enterrado com essa oração e uma imagem de Nossa Senhora, a qual cento e vinte anos depois, por ocasião do processo de canonização, quando foi aberta a sua sepultura, foi encontrada junto ao corpo.
O Santo é sempre uma pedra de escândalo
Ao completar Casimiro treze anos, os Estados da Hungria, não estando satisfeitos com seu Rei, Matias Corvino, enviaram deputados ao Rei Casimiro III para que seu filho obtivesse a coroa da Hungria em detrimento de Matias. Casimiro III prometeu-lhes seu filho e o enviou com um exército para apoiar seu direito à eleição, contra Matias, que não aceitava sua deposição. Tendo chegado às fronteiras da Hungria, São Casimiro soube que Matias acabava de reunir dezesseis mil homens para ir à frente dos poloneses e que tornara a conquistar o coração dos súditos. Soube também que o Papa Sisto IV se declarara pelo rei destronado e enviara uma embaixada a seu pai, para fazê-lo abandonar a empresa.
Foi então que o jovem príncipe percebeu a demasiada facilidade com que seu pai escutara os deputados húngaros. Tendo, então, reconhecido a injustiça da expedição a que o tinham atraído, ele se recusou a fazer qualquer outro ataque e voltou para a Polônia.
Foi mandado pelo pai para tomar conta da coroa da Hungria, e só quando chegou à fronteira percebeu que não estava depondo um usurpador, mas o rei legítimo. A partir desse momento ele se recusou a combater.
Vejam a preocupação em não derrubar um governo legítimo. Ao contrário desta nossa época em que os governos são tão mais perecíveis quanto mais legítimos, e tanto mais estáveis quanto mais ilegítimos são.
Estes são alguns preciosos exemplos de virtudes dados por São Casimiro, e temos que aproveitá-los para a nossa santificação.
Para não aumentar o desgosto de seu pai, que planejara aquele empreendimento, retirou-se para o Castelo de Dobczyce, onde se entregou a austeras penitências. Ao fim deste tempo voltou ao palácio real, onde já encontrou tudo mais em paz.
Casimiro, inimigo nato de toda espécie de intriga, era sumamente vigilante em tudo o que dizia. Tinha palavras inflamadas quando falava a respeito da beleza da virtude e do feliz estado de uma alma em paz, em amizade com Deus.
Seu zelo pela Religião Católica correspondia a tanta piedade. Fez conhecer em diversas ocasiões sua aversão pelos que corrompem a Fé da Igreja. Ele empregou todo o seu poder em extirpar o cisma dos russos. Em virtude disso, fez agir seu zelo ante o Rei, seu pai, a fim de confiscar todas as igrejas cismáticas e impediu mais tarde que estas fossem restituídas aos cismáticos.
É muito bonito ver o seu zelo contra os hereges, virtude que sempre acompanha a alma da pessoa verdadeiramente pura. Havia certas igrejas, no reino do pai dele, entregues aos cismáticos, e ele fez questão de que de lá fossem expulsos.
Nesta biografia consta um grande gesto de heroísmo e de energia da parte de São Casimiro: o confisco dos bens da igreja cismática e o impedimento desta funcionar na Polônia. Gesto que está à altura de um inquisidor ou da alma de um Santo.
Mas, tirando esse gesto, o que nós vemos? As virtudes suaves, amáveis, que tornam um homem atraente. Não notamos as virtudes do batalhador. Por quê? Precisamente porque na Europa de então vivia-se o período chamado de “anarquia feudal”.
Os senhores feudais, os príncipes se destacavam todos pela tendência excessiva a combater, a manter, uns com os outros, um estado de guerra contínuo, por razões muitas vezes fúteis que levavam a Santa Sé a pronunciar condenação em cima de condenação.
Duas influências nefastas contribuíam para a existência desse estado de coisas. Em primeiro lugar, pela influência bárbara, embora remota, mas que ainda se fazia sentir e levava esses homens a não poder viver tranquilos. De outro lado, houve também uma explosão de vaidade a que, infelizmente, as Cruzadas do Oriente tinham dado lugar.
Como se sabe, na Europa houve várias Cruzadas, das quais a mais vitoriosa foi a da Espanha e Portugal contra os mouros que invadiram a Península Ibérica. Também houve Cruzadas coroadas de belo êxito contra os turcos, vindos do Sul, que invadiram mais de uma vez a Hungria, ou contra os pagãos do Mar Báltico que queriam impedir a expansão da Religião Católica.
Mas, ao par dessas, empreendeu-se a série de Cruzadas mais célebres destinadas à libertação do Santo Sepulcro, que, no total, umas pelas outras, redundaram no fracasso, em grande parte por causa do espírito de vaidade e de exibição que se apoderou dos cruzados. Sabendo que todo o Oriente tinha os olhos voltados para eles e que os atos de coragem praticados para a reconquista do Santo Sepulcro haveriam de redundar em fama, boa reputação e em glória para eles, tinham a pretensão de ocupar, no Oriente, os primeiros lugares nas batalhas, destacando-se e ganhando celebridade no Ocidente, dentro do contexto deles. Portanto, não abandonaram o contexto que ficava na Europa; apenas saíram fisicamente dele, mantendo a preocupação de ali se tornarem célebres.
Assim, acontecia muitas vezes que, com pasmo e verdadeiro escândalo para todo o mundo, quando chegava a hora de o General-chefe distribuir as posições de guerra, e não distribuía para esse ou aquele nobre um lugar onde ele teria ocasião de realizar grandes proezas, esse nobre não aceitava e entrava em luta contra o outro designado para tal posição. Então, na primeira linha, os cruzados guerreavam entre si em vez de lutar contra o adversário. Resultado: naturalmente, saíam derrotados.
Isso contaminou toda a nobreza europeia com uma espécie de vício de fanfarronada militar, cujo resultado foi que, terminadas as Cruzadas, mesmo na Europa as lutas entre os feudos fossem incessantes, e todos os Estados europeus vivessem numa agitação e numa fermentação contínua por causa disso. Essa era a “anarquia feudal”.
Essa situação favoreceu indiretamente a causa da Revolução, pois para coibir essa anarquia, os reis começaram a exercer uma autoridade brutal sobre os senhores feudais até quebrá-los, passando para a monarquia absoluta dos tempos modernos, certamente muito menos digna de aplauso do que a feudal como o ideal medieval a tinha imaginado.
Tratava-se, nesse tempo, de fazer uma reação contra esse espírito de fanfarronada, de vaidade militar, em favor da luta contra o gérmen da Revolução que se vinha acumulando.
Temos, então, um príncipe que faz o escândalo daquele século. São Casimiro vai invadir a Hungria porque, em virtude de direitos hereditários e por aclamação popular, fora eleito Rei daquele país no lugar do monarca deposto. Porém, quando chega à fronteira e recebe a notícia: “O Papa considera a sua causa falsa. Julgou o assunto e reconhece o Rei Matias como verdadeiro monarca. Aliás, este já subiu ao trono novamente, porque as diferenças existentes entre ele e os súditos foram aplacadas. Portanto, o Rei legítimo está no seu palácio”, São Casimiro se detém na fronteira e diz: “Se esse é o pensamento do Papa, eu paro, submeto-me e volto para trás. Não irei conquistar um reino ao qual não tenha direito.”
Isso era o contrário da mentalidade da “anarquia feudal”, segundo a qual ele deveria dizer: “Eu provarei, pela ponta de minha espada, que sou homem de coragem e conseguirei o que eu quero!” E avançaria contra toda razão e todo direito, para mostrar ser audacioso.
Suscitado para rebater a Revolução de seu tempo
Também, nessa época, começava a se acentuar a ideia de que um príncipe que reza muito, dá esmola aos pobres e tem um trato
muito afável não possui as virtudes verdadeiramente militares e não é um homem corajoso, o qual, segundo a concepção errada, não é afável nem piedoso; ao contrário, é um fanfarrão disposto a toda hora a brigar com qualquer pessoa, e não conhece o oposto harmônico que é exatamente a placidez, a serenidade, o amor à paz, o equilíbrio que dão o verdadeiro valor à coragem.
Na realidade, a fanfarronada estava substituindo a coragem sincera. Ora, São Casimiro enfrentou toda essa posição errada de seu século e praticou tais virtudes, ditas moles, mas que naquela época era preciso ter uma coragem extraordinária para praticar, porque todo o mundo as desprezava.
Com efeito, o Santo é equilibrado, forte, vigoroso, heroico se necessário, mas capaz também de não praticar esse falso heroísmo de ponta de faca se as circunstâncias pedem dele outra forma de heroísmo, que consiste em enfrentar a opinião pública. Esse herói é, portanto, o tipo do verdadeiro príncipe que devemos venerar e honrar.
Nota-se como Nossa Senhora o suscitou, no fundo, para salvar o feudalismo. Se os senhores feudais tivessem seguido esse exemplo, a “anarquia feudal” se aplacaria por si mesma, e teria sido muito difícil a implantação da monarquia absoluta e pré-revolucionária dos tempos modernos.
Nós devemos ver em São Casimiro o varão que teve coragem de resistir à pressão de seu tempo, de fazer o contrário do que convinha à Revolução da época. Esta é a verdadeira coragem, e quem a possui conquista as demais, inclusive a de derramar o seu sangue no campo de batalha se as circunstâncias exigirem.
Se vejo alguém com coragem de enfrentar a opinião pública, embora nunca tenha dado provas de bravura numa batalha campal, sou capaz de afirmar: “Esse homem tem grande possibilidade de ser um herói no campo de batalha.”
Entretanto, de um herói no campo de batalha, eu me perguntaria: “Que probabilidade ele tem de enfrentar a opinião pública?”
Porque quem enfrenta o mais difícil, isto é, a opinião vigente, é capaz de expor a sua vida.
Alguém perguntará: “Mas será verdade, Dr. Plinio, que é mais difícil enfrentar a opinião pública do que o adversário no campo de batalha?”
É nobilíssimo, belíssimo, empolgante enfrentar o adversário no campo de batalha a serviço de uma guerra justa e, sobretudo, sagrada. Mas há muita gente disposta a correr o risco de entrar em combate por medo de ser objeto de caçoada se permanecer na retaguarda. Logo, tais pessoas têm mais medo da risada do que da metralhadora.
Assim, nós podemos considerar São Casimiro como um verdadeiro herói.
Difundindo o aroma de santidade
Estando São Casimiro enfermo, diziam os médicos, e o importunavam seus domésticos, que lhe era necessário o casamento para conservar sua vida e saúde, tão importantes ao bem público. Desprezando com uma heroica constância os avisos dos médicos, respondeu-lhes ele uma sentença digna de seu espírito casto, generoso e celestial: “Não conheço outra vida e outra saúde mais que a Cristo, por cuja companhia desejo desatar-me”.
Deus lhe fez a graça de revelar o dia e a hora de sua morte, para a qual ele se preparou particularmente. No dia 4 de março do ano de 1483, aos vinte e quatro anos, expirou docemente entregando a sua alma a Deus. Seu corpo foi levado com grande pompa fúnebre para a Catedral de Santo Estanislau, em Welms, capital do ducado do qual ele era senhor, e recebeu ali as honras da sepultura. Operou-se grande número de milagres por sua intercessão.
Cento e vinte anos após a sua morte, seu corpo e as ricas vestes com que fora enterrado foram encontrados incorruptos, construindo-se uma riquíssima capela de mármore para conservação desta relíquia. São Casimiro é padroeiro da Polônia e modelo de pureza para a juventude.
Nós temos falado em muitas ocasiões a respeito dos Santos fundadores de povos ou de ciclos de civilização, e que por sua ação extraordinária movem a História. Porém, também podemos considerar que há uma outra categoria de Santos que nascem e se tornam exímios na prática de uma virtude, a qual eles vão representar em toda a vida da Igreja. E, para que a atenção dos fiéis não se desvie deste ponto central, esses Santos morrem relativamente jovens e a sua vida fica circunscrita à prática daquela virtude.
Considerem, por exemplo, São Luís Gonzaga. Ele fez pouca coisa, mas morreu no apogeu da virtude, ainda adolescente. Se ele tivesse realizado numerosas obras, as atenções se voltariam para o que ele fez, em vez de se concentrarem no que ele foi, e o principal exemplo a ser dado por ele acabaria esquecido.
Tais Santos nos mostram que a santidade consiste, sobretudo, em ter uma ação de presença dentro da Igreja, em difundir o aroma dessa santidade, não só enquanto estão vivos, mas depois de mortos. E que a vida deles, tão precocemente imolada e, em geral, oferecida em benefício da Igreja Católica, é um elemento preciosíssimo para a salvação das almas.
(Extraído de conferências
de 3/3/1964, 3/3/1966,
3/3/1967 e 25/11/1974)
1) Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. IV, p. 177-180.
2) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na cultura, na arte, etc. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.