O papel da oração na Comunhão dos Santos

No Mar Mediterrâneo, cruzados enfrentaram terrível tempestade e foram salvos em virtude das preces de monges.
Esse fato mostra a prevalência da oração sobre todos os recursos humanos e comprova o dogma da Comunhão dos Santos.

 

O episódio que vamos comentar é narrado por Montalembert(1), em sua obra “Les Moines d’Occident”. O texto é o seguinte:

O Conde Raul de Chester(2), fundador da abadia cisterciense de Dieulacres, voltava da Cruzada durante a qual havia tomado Damieta e se cobrira de glória, quando uma violenta tempestade caiu sobre o navio em que ele viajava. Eram já dez horas da noite e, como o perigo aumentava a cada instante, o Conde exortou os que viajavam a redobrarem os esforços até mais um minuto, prometendo que então a tempestade cessaria. Ele próprio se pôs a manobrar e trabalhou mais do que qualquer um. Em seguida, o vento parou, o mar se acalmou e, tendo o piloto perguntado a Raul por que ele lhe tinha ordenado de trabalhar apenas um minuto a mais, o Conde respondeu: “Porque, a partir daquela hora, os monges e outros religiosos que meus ancestrais e eu estabelecemos em vários lugares se preparavam para cantar o Ofício. E nesse momento eu sabia que eles estariam rezando, e esperava do Céu, graças a eles, que a tempestade parasse”.

Embora separados por enorme distância, estavam unidos em Deus

Este é um lindíssimo episódio que, sendo ou não real, pouco importa, indica um princípio da Doutrina Católica.

O fato nos apresenta a imagem poética de um grupo de cruzados atravessando o Mediterrâneo. Naquela época, sendo os meios de navegação tão insuficientes, cruzar o Mar Mediterrâneo — o qual, em última análise, é um grande lago — era uma façanha náutica.

Podemos imaginar a situação aflitiva: a noite escura, o Mediterrâneo cheio de incógnitas para eles, a tempestade que sopra e os homens que se apavoram, a nau naturalmente cheia de cruzados, com suas pesadas armas, das quais não podem abrir mão jogando-as no fundo do mar, porque, abordando em terra firme, precisariam dessas armas para se defender. Uma cena que lembra, algum tanto, o episódio da tempestade no Lago de Tiberíades, e os Apóstolos em torno de Nosso Senhor.

Não está ali Jesus, mas — “christianus alter Christus”(3) — um homem de Fé, que é o Conde de Chester. Ele sabe poder contar com as orações dos religiosos que viviam nas numerosas abadias fundadas por seus ancestrais. E que a gratidão dos verdadeiros religiosos jamais se desmente. Portanto, tinha confiança de que na hora certa o Ofício começaria e que logo no início aquelas orações se uniriam às dos descendentes dos fundadores e, principalmente, segundo as intenções de quem era, provavelmente, o primogênito na linha dos fundadores.

Então, ele pede apenas mais um minuto de atenção, de paciência e de perseverança porque sabia que a tempestade iria amainar. A tempestade cessa e o Conde diz: “Os monges começaram a recitar o Ofício”.

É o poder da prece, que ignora as distâncias. Naquele tempo, a distância entre a Inglaterra, o Norte da França e o Mediterrâneo se percorria devagar, atravessando povos muito diferentes, estradas incertas; eram espaços psicologicamente enormes que separavam o local da tragédia iminente e daquele onde a solução devia se operar.

Os monges não sabiam que os descendentes de seus benfeitores estavam em perigo; tudo os separava, exceto uma coisa que os unia: o vértice. Os religiosos e os cruzados olham para Deus. Nele se encontram a oração daquele que pede e a necessidade de quem precisa. E a oração de uns liberta os outros.

O mais bonito é considerar o seguinte: a tomar a narração ao pé da letra, os monges naquela mesma hora teriam começado a cantar. Deveria haver uma decalagem de horário, e a hora não poderia ser exatamente a mesma no relógio do Conde e no da abadia. Mas Deus, que não se atrapalha com a Ciência e não se deixa prender por esses pequenos pormenores, operou essa maravilha. E quis fazer jogar algo à maneira de uma coincidência de horários que, na realidade, não existia.

Duas formas de heroísmo se encontram: a do cruzado no alto mar e a do monge na capela

Desse belo fato podemos tirar algumas lições.

A primeira delas, e a mais importante, é a prevalência da oração sobre todos os outros recursos humanos. Leão XIII escreveu uma frase num de seus documentos, que nunca mais me saiu do espírito. Afirmava ele que em seu tempo havia muitos homens que agiam para promover a Causa Católica. Entretanto, eles agiam mais do que rezavam. E que se rezassem tanto quanto agissem, eles obteriam muito mais do que simplesmente pela ação. Porque o grande meio de vitória do homem é a oração. É um meio que não dispensa a ação, mas prepara para ela e a torna fecunda. Mas é um meio indispensável e supereminente em relação à ação.

Vemos aqui essa tese perfeitamente ilustrada. O Conde de Chester foi um cruzado. Atraído pela graça de Deus, ele fora até o Oriente. Ação. E para a luta, a mais bela e mais nobre forma de ação. No Oriente ele arranca ao poder dos maometanos uma cidade importante: Damieta. Êxito na ação. Entretanto, vemos a necessidade da oração. Ele tem a sua vida exposta a um perigo enorme, frente ao qual quase não lhe adiantaria nenhuma indústria humana: uma tempestade, açoitando o mar onde ele se encontrava. Oração. E sua prece assegura a preservação da vida dele e de seus bravos. Muito mais do que isso: ele dá um exemplo de como Deus atende a oração e vela por aqueles que confiam na prece dos outros. Mostra-nos o dogma da Comunhão dos Santos, por assim dizer, funcionando e fazendo com que essas duas formas de heroísmo se encontrem: o do cruzado no alto mar, e o do monge pontual na capela, rezando com Fé por aqueles que estão expostos a riscos.

A oração tem um valor maior do que a ação

Daí nós deduzimos a importância de nossa oração, do nosso Rosário, do Ofício recitado ou cantado. Precisamos ter Fé de que, para o êxito da causa da Contra-Revolução, este esforço de oração tem um valor maior do que o próprio esforço nobre e indispensável da ação. Mesmo quando se trata de grandes guerreiros, que realizaram grandes feitos e conseguiram grandes vitórias para a Igreja, o papel da oração é preponderante. Essa é a grande lição que devemos tirar desse episódio.

Mas há uma outra: por que Deus permitiu terem eles chegado ao extremo da aflição, para só depois intervir? Exatamente para provar a confiança n’Ele. As horas de extrema aflição são as horas da Providência, as horas da misericórdia. O verdadeiro católico, quando vê que tudo parece perdido, reza e confia mais do que nunca, porque sabe que é a hora do sorriso de Nossa Senhora. Nesse fato vemos o sorriso de Maria Santíssima, que intervém e resolve a situação desses guerreiros.  v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de Conferência de 3/8/1973)

 

1) Charles de Montalembert, Les Moines d’Occident. Paris: Lecoffre, 1860, vol. VI, p. 35

2) Raul de Blondeville, Conde de Chester (1172-1232). Participou da quinta Cruzada, durante a qual Jean de Brienne conquistou Damieta, em 1218.

3) O cristão é outro Cristo.

Prece ao Imaculado Coração de Maria

Dai-nos, ó Mãe, uma união com vosso Sapiencial e Imaculado Coração, de maneira tal que sejamos para convosco como uma gota d’água lançada no mar.

Nós Vos pedimos que nos concedais uma devoção intensa à Sagrada Eucaristia, ao Sagrado Coração de Jesus, ao vosso Sapiencial e Imaculado Coração e, ó Mãe, em meio às tristezas de todas as crises contemporâneas, dai-nos cada vez mais devoção ao Papado, à Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, com seu caráter hierárquico, ordenado por vosso Divino Filho, sem as abominações com as quais seus inimigos procuram desfigurá-la.

Que se cumpra, minha Mãe, tudo quanto previstes em Fátima. E, sobretudo, que venha o vosso Reino, no qual desejamos ser os vossos escravos mais atentos, humildes e amorosos.

Estes pedidos nós Vos apresentamos por meio de nossos Anjos da Guarda, ó Sapiencial e Imaculado Coração de Maria!

Arca da Esperança

Com sua Fé inabalável e íntegra, Nossa Senhora foi a Arca da Esperança do futuro. Todas as expectativas do Antigo Testamento acerca do Messias, todas as promessas e certezas contidas no  Evangelho de que Ele seria o Rei da Glória e o centro da História, todas as realizações do Novo Testamento, toda a grandeza que a Igreja haveria de atingir ao longo dos séculos e todas as virtudes que ela haveria de semear sobre a face da Terra inteira, tudo isso viveu dentro de uma só alma — a alma mil vezes bendita de Maria Santíssima!

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 75 (Junho de 2004)

Lamparinas de Deus…

Dr. Plinio, arauto da Eucaristia, teve sempre especial apreço pelo valor simbólico das lamparinas que, junto ao tabernáculo, indicam a Presença Real de Jesus nas Sagradas Espécies. Acompanhemos uma analogia feita por ele, ao recordar o dia de seu próprio Batismo.

 

A lamparina acesa durante a noite diante do tabernáculo, até o momento em que raie o sol é a luz! E, quem passa toda a noite em adoração tem naquela fagulha um elemento de esperança do sol que vai nascer!

Em algumas almas percebemos a chama da graça que arde. De certo modo, cada alma humana é uma lamparina para a vida espiritual.

Imaginem uma igreja com uma lamparina em cada um de seus vários altares. Em algumas delas as chamas sobem, engrandecem, depois diminuem; parecem mover-se dentro da escuridão. Em outras são fixas, calmas, serenas, como que se imolam sem nenhuma excitação, até o ponto final. Às vezes crescem de um lado e parecem querer subir ao céu por uma via própria.

Imaginemos o universo das lamparinas de todas as igrejas! Como seria encantador, no silêncio da noite, observarmos a história de cada uma. Se tivéssemos o dom do discernimento dos espíritos, perceberíamos em cada alma como a lamparina da graça de Deus se move: ora se acende, ora pelo contrário enlanguesce, helas, às vezes toma vento, deita fumaça, suja o teto… E estende-se a mão meiga de Nossa Senhora que a limpa e, a lamparina continua a brilhar.

Se tivéssemos os olhos voltados para isso, compreenderíamos o que o Batismo deu a cada um de nós: ser algo à maneira de uma lamparina dentro da casa de Deus, mas com pavio aceso e não apagado; pavio que brilha e não pavio morto! E a história da alma de cada de um de nós poderia ser comparada à de uma lamparina.

Aqui está uma lamparina que, tendo demorado seis meses para acender-se , deveria arder pelo menos até setenta anos.

Quanto ao resto do tempo, Deus o saberá.

Se eu fosse estudar a história dessa lamparina, diria que no meio de mil provações e desventuras, uma alegria a manteve ereta como um gládio. E a alegria provinha deste fato: sou lamparina na casa de meu Deus, aos olhos de minha Mãe! De minha Mãe celeste e também aos olhos, tão insondavelmente menores, mas tão insondavelmente carinhosos, de minha mãe terrena.

Na presença deles ardi, procurando o teto o tempo inteiro e dessa maneira procurando dar a glória que dei! Sei que não foi o que deveria, Ela que perdoe; mas, algo está feito, algo está dado, algo resta para dar. 

 

(Extraído de conversa em 7 de junho de 1979)

Obra-prima da Inocência

Nascida de um conjunto de circunstâncias e, sobretudo, de graças especiais, a Sainte Chapelle não foi concebida apenas por um artista, mas por um ambiente e um modo de ser que caracterizou a alma medieval.

 

Lembro-me de quando, há muitos anos atrás, visitei por primeira vez a Sainte Chapelle, edificada por São Luís Rei a fim de abrigar uma preciosa relíquia: espinhos da coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao entrar, fiquei encantado!

O recinto sagrado possuía dois patamares, sendo o inferior reservado aos servidores e empregados da corte.

Zeloso pelo bem espiritual de seus súditos, o Rei se comprazia em assistir à Santa Missa em presença de todos eles. Celebrava-se, então, o Santo Sacrifício na parte superior da capela para a corte, e, concomitantemente, na inferior para os criados.

Chamaram-me a atenção as proporções da parte inferior, que são inteiramente diversas do que encontramos habitualmente. Quando nos indagamos se o ambiente é alto, logo chegamos a uma conclusão negativa; porém, se nos perguntamos se ele é baixo, percebemos que tal afirmação seria exagerada. Esse ambiente possui uma proporção especial para quem nele se detenha a rezar, que poderia ser definido assim: um ambiente elevado, porém muito íntimo, como que o mais íntimo gabinete de Deus, ou sua mais interna sala. Esta atmosfera produz na alma uma perspectiva que concilia a elevação com a intimidade.

Como se consegue produzir essa sensação? É possível notar que todas as colunas são muito esguias e tênues, não demonstrando força rústica. Elas desabrocham como palmeiras, cujas folhas se encontram no teto. Abrem-se de modo tão harmonioso, gradual e perfeito, que causam a impressão de que o teto está a uma grande altura, onde acabam as folhas das palmeiras, ao mesmo tempo em que esta altura pode ser alcançada pelo homem. Fica-se assim misteriosamente elevado. Na intimidade sente-se uma grande elevação, e na elevação uma grande intimidade. O homem mede toda a grandeza de Deus, mas se sente atraído até Deus. Afetuosamente e carinhosamente elevado.

Doce e suave penumbra

Ao subir ao andar superior, vemos que a iluminação do ambiente emana dos belos vitrais, de tal forma que uma doce e suave penumbra era o elemento dominante desse recinto. Havia um presbitério com o altar para as celebrações litúrgicas, e as naves laterais onde permaneciam os fiéis. O ambiente fora feito para receber muitas pessoas em um pequeno espaço, ou ao menos causar a ideia de que o local era pequeno.

Porém o conjunto era melhor…

As ogivas exercem o seu incomparável fascínio sobre os espíritos. Nota-se como são belas; entretanto, vistas em conjunto, são mais bonitas do que cada uma em particular, à semelhança da Escritura quando diz que Deus, ao criar o universo, repousou no sétimo dia, considerando a obra que tinha realizado. E que se Lhe tornou patente que cada coisa era bela, entretanto o conjunto era superior a cada coisa em particular. Bem se pode aplicar esse princípio à Sainte Chapelle. Todas as colunas são belas, as pinturas as tornam ainda mais belas, mas o conjunto é muito superior a tudo. O mais belo é o conjunto.

Toda a leveza, delicadeza e elevação da Sainte Chapelle fazem-se notar não apenas no teto ou na torre, mas também num detalhe: um florão, no qual pousou um anjo. A figura do anjo está numa tal proporção com o florão, que se diria que, ao menor movimento dele, o florão vergava e ele perderia o equilíbrio. É semelhante a um pássaro que pousasse sobre uma flor

O ângulo formado por ambas as partes das ogivas causam a impressão de que o teto está apertado. Entretanto, essa forma esguia aumenta o efeito de leveza. Pois quanto mais o teto é espaçoso, tanto mais causa a impressão de rude, enquanto que, tanto mais estreito, maior é a impressão de que vai atirar-se ao céu. Também a torre do campanário é como um gráfico do desejo do homem medieval de subir até Deus. O próprio colorido do céu aumenta a beleza da Sainte Chapelle, pois ela seria mais bonita imaginada no meio das nuvens e construída no céu, do que nesse vale de lágrimas.

Monarca guerreiro para um reino de paz

A imagem de São Luís proporciona uma ideia real do que poderia ter sido esse santo rei. Vê-se nele uma indiscutível majestade real. Não a majestade de um rei agressor e anexador de terras que não lhe pertencem, mas de um monarca defensor, firme e tranquilo de seus direitos, seguro de terras que recebeu e sobre as quais tem o direito de mandar. Um rei guerreiro, que combate se necessário, por ser o seu dever, para manter a integridade do seu reino. Sua fisionomia traduz uma determinação e uma decisão admiráveis.

A atitude e a fisionomia de São Luís causam a impressão de calma, segurança, e de uma determinação a qualquer extremo, no caso de ter de lutar, que demonstram bem o rei cruzado e batalhador que teve guerras para sustentar, mas que soube orientar essas guerras de tal modo que não só saiu-se vitorioso, mas proporcionou a seu povo um reinado de paz.

O irrealizável feito realidade

Poder-se-ia afirmar que a Sainte Chapelle é feita de vitral, de tal forma o que há de pedra é o estrito necessário para sustentar os vitrais e escorar o teto. O restante é todo feito de cristal ou de vidro tão bem trabalhado na diversidade de cores, na precisão dos desenhos e na elegância das formas, que chega a tocar no inimaginável.

Ao entrar nessa capela, tem-se a impressão de que o irrealizável tornou-se realidade, e o que surge à mente é a seguinte ideia: “Não pensava que fosse possível, com os elementos desta terra, realizar uma coisa tão semelhante ao Céu.” Realmente, isso se tornou possível devido à Fé.

Caso esse edifício não fosse concebido por almas elevadas à vida sobrenatural pela graça — remidas e resgatadas pelo sangue preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo, que lhes abriu as portas do Céu e lhes infundiu a abundância da graça —, e construído em séculos de Fé, por sua própria capacidade o homem jamais cogitaria uma maravilha como essa.

Extraordinária inocência

A Sainte Chapelle deixa entrever uma extraordinária inocência de alma, o que permitiria chamá-la a Capela da Inocência. Para conceber algo assim, a alma precisa ser profundamente inocente. A Sainte Chapelle é a obra-prima da temperança, nela tudo é lindo, magnífico e arrebatador. Porém, com um equilíbrio que permite à inocência atingir o auge de seu entusiasmo. Auge sereno, calmo, refletido, o qual frutifica em meditação e contemplação.

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 12/4/1989)

Devoção da aurora do Reino de Maria

Poder-se-ia perguntar se depois de São Luís Maria Grignion de Mont­fort houve mais algum progresso na devoção à Santíssima Virgem.

Foi o progresso da devoção ao Imaculado Coração de Maria, que é uma espécie de quintessência da devoção a Nossa Senhora, assim como a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma quintessência da devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Afirmo isso baseado nas mensagens de Fátima, nas quais é impressionante o número de vezes em que Nossa Senhora se refere ao Coração d’Ela, muito mais do que às outras devoções. Vê-se ser esta a devoção da aurora do Reino de Maria.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/4/1967)

INCOMPARÁVEL MAJESTADE

NUNCA HAVERÁ UMA SIMPLES CRIATURA QUE MEREÇA TANTO A NOSSA ADMIRAÇÃO QUANTO MARIA SANTÍSSIMA, PORQUE N’ELA HABITAM, DE MODO SINGULAR E ÚNICO, A GRANDEZA E A MAJESTADE DE DEUS. MAIS DO QUE TODOS OS ANJOS E SANTOS, É ELA O PERFEITÍSSIMO ESPELHO DA MAGNIFICÊNCIA DIVINA.

NOSSA SENHORA POSSUI INCOMPARÁVEL MAJESTADE, INTEIRAMENTE HARMÔNICA COM SUA MISERICÓRDIA, E PERTO DA QUAL EMPALIDECEM TODAS AS DEMAIS GRANDEZAS.

QUE SÃO AS MAJESTADES DO SOL, DOS OCEANOS, DO MAIOR DOS REIS, DO MAIS INTELIGENTE DOS SÁBIOS, EM CONFRONTO COM A DE MARIA?

A MAJESTADE DA MÃE DE DEUS É SOBERANA, ÚNICA, SUPERIOR, NA QUAL SE FUNDEM TODAS AS FORMAS DE GRANDEZA. POR ISSO, IMENSA SERÁ A FELICIDADE DAQUELES QUE PUDEREM ADMIRÁ-LA, ETERNAMENTE, EM SEU TRONO DE GLÓRIA NO MAIS ALTO DOS CÉUS!

 

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Superexcelente misericórdia

Nossa Senhora, sendo Mãe, seu Coração Imaculado não é mais misericordioso do que o Sagrado Coração de Jesus — seria um absurdo imaginar isso —, porém seu Imaculado Coração faz ver mais a misericórdia do Sagrado Coração de Jesus do que Ele próprio.

Seria mais ou menos como quando os raios do Sol se concentram através de uma lente e põem fogo numa folha seca. A lente é tão pouco em comparação com o Sol, mas sem ela esse fogo não pegaria.

Portanto, o Imaculado Coração de Maria seria, por assim dizer, uma lente do Sagrado Coração de Jesus, uma como que concentração da misericórdia do Sagrado Coração de Jesus. Então, Ela, debaixo desse aspecto, tem uma superexcelente misericórdia.

Ademais, Maria Santíssima é especialmente nossa advogada, pois sendo mera criatura é mais plenamente conatural conosco do que o seu Divino Filho que, enquanto Homem Deus, é juiz. Por essas razões, dir-se-ia que o Imaculado Coração de Maria representa, num largo e glorioso sentido, muito especialmente a bondade e a misericórdia do Sagrado Coração de Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 26/10/1980)

Assemelhar-se ao Varão de Dores

Em mais uma exposição dedicada a comentar o opúsculo de São Luís Grignion de Montfort, Dr. Plinio ressalta a divina figura de Nosso Senhor Jesus Cristo como o “vir dolorum” — varão a cujas dores devemos estar associados, com veneração e gratidão profundas; a Ele nos unindo de modo crescente, ao aceitarmos os sofrimentos que a vida nos traz.

 

No intuito de afervorar seus discípulos no amor à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim prossegue São Luís Grignion de Montfort: 

“Numquid et vos vultis abire” (Jo 6, 67)?

Isto é: “quereis vós também retirar-vos?”. Foi a pergunta que Nosso Senhor dirigiu aos apóstolos, quando alguns começaram a abandoná-Lo após ouvi-Lo proclamar que sua carne era verdadeira comida, e seu sangue verdadeira bebida. Ou seja, quando Ele aludiu à Sagrada Eucaristia. Vários discípulos se escandalizaram e O deixaram. Ele, então, fez aos que ficaram essa pergunta, cheia de melancolia patética: “Vós também quereis ir?” Como quem dissesse: “Se quiserdes, ide também vós”.

É uma pergunta de transpassar a alma de qualquer ouvinte que tenha um mínimo de sentimento. Nosso Senhor foi abandonado estúpida e ingratamente. Nessa ocasião, São Pedro pronunciou aquela frase magnífica: “Aonde iremos, Senhor, se só Vós tendes palavra de vida eterna?” (Jo 6, 68). Estava tudo dito, nada havia a acrescentar.

Riquezas, prazeres e honras: causas de abandono da Cruz

“Numquid et vos vultis abire?” (Jo 6, 67). Quereis vós também abandonar-me, fugindo de minha Cruz, como os mundanos, que nisto são outros tantos Anticristos; “Antichristi multi?” (1 Jo 2, 12)

Por mundano devemos entender aquele que coloca as esperanças de sua felicidade apenas neste mundo e nesta vida, procurando tão-somente as coisas terrenas. Esse foge da Cruz de Nosso Senhor e, por isso, São Luís Grignion o compara ao Anticristo.

Quereis, enfim, conformar-vos ao século presente, desprezar a pobreza de minha Cruz, para correr após as riquezas?

 Conforme o pensamento do santo autor, o apego às riquezas do século, ou seja, do mundo, seria um primeiro fator que inclina o homem a se recusar a seguir o Divino Mestre nas vias do sofrimento.

Evitar a dor de minha Cruz para procurar os prazeres?

O segundo motivo para a mesma recusa é a busca desordenada dos prazeres.

Odiar as humilhações de minha Cruz, para ambicionar as honras?

Estão, portanto, indicados os três grandes atrativos do mundo: as riquezas, os prazeres e as honras.

Onde não está a Cruz, não está Nosso Senhor

Tenho, na aparência, muitos amigos que me fazem protestos de amor, mas no fundo me odeiam, pois não amam a minha Cruz…

Esse pensamento de São Luís Grignion nos leva a uma importante consideração. Com efeito, pessoas há que parecem ser muito devotas de Nosso Senhor, mas, na hora de aceitar o sofrimento, de provar seu amor à Cruz, não o fazem. Ora, diz o santo, no fundo tais pessoas odeiam o Redentor, pois rejeitam sua Cruz.

A frase é dura, mas verdadeira. Interpretando-a, poder-se-ia apontar como ridícula a afirmação que se ouve aqui e ali: “cada um pratica a religião a seu modo; uns amam Nosso Senhor com a Cruz; outros O amam sem ela”. Pelo que nos ensina São Luís, essa postura de alma é equivocada. Onde não entra a Cruz, não se acha o Redentor. E o requinte de amor a Ele é o amor à sua Cruz. Cumpre ter espírito de sacrifício, pois sem isto não existe autêntica adoração ao nosso Salvador.

Compreendemos assim quanto é adequada a expressão de que todo católico deve se assemelhar ao Redentor enquanto “vir dolorum, um varão de dores”. Parece-me que esse qualificativo descreve de modo magnífico o Divino Mestre ao longo de sua existência terrena: um varão repleto de dores, que sofre profunda e lucidamente, e faz do sofrer o seu viver. Donde o autêntico católico dever se conformar a esse augusto exemplo, e levar sua cruz como Nosso Senhor levou a d’Ele, varonilmente, peito aberto, sem olimpismo, mas sem fraquezas.

Peçamos à Santíssima Virgem que nos alcance a inestimável graça de amarmos assim a Cruz de seu Divino Filho.

Necessidade da graça para tomarmos a sério esses ensinamentos

“Muitos [são] amigos de minha mesa, e pouquíssimos de minha Cruz. A este apelo amoroso de Jesus elevemo-nos acima de nós mesmos; não nos deixemos seduzir pelos nossos sentidos, como Eva; não olhemos senão o autor e consumador de nossa fé, Jesus crucificado. Fujamos da concupiscência do mundo corrompido; amemos Jesus Cristo da melhor maneira, isto é, através de toda sorte de cruzes. Meditemos bem estas admiráveis palavras de nosso amável Mestre, que encerram toda a perfeição da vida cristã: ‘Si quis vult venire post me, abneget semetipsum et tollat crucem suam, et sequatur me!’ (Se alguém quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me)” (Mt 16, 24).

Vemos, assim, qual é o convite feito para os genuínos amigos da Cruz. Nosso Senhor Jesus Cristo fez tudo por nós. Seria inteiramente lógico que, por retribuição, nós O seguíssemos. Porém, a maldade do homem é tal que precisamos pedir uma graça particular para tomarmos a sério esses ensinamentos, os quais entretanto são de molde a comover as pedras; devemos implorar o dom da fé capaz de mover montanhas, e termos os olhos sempre voltados para a Cruz.

Pensemos: a morte de Cristo causou tanta perturbação no universo que o sol se toldou no firmamento, a terra tremeu e outros fenômenos do gênero se verificaram. Ora, se as próprias criaturas materiais como que se manifestaram diante da morte do Filho de Deus e Lhe preparam aquele funeral, como posso tomar conhecimento da Paixão e não me incomodar?

Pois a maldade do homem decaído pelo pecado original o levará a ser indiferente aos padecimentos de Cristo e à sua Cruz, caso ele não seja auxiliado pela graça. A inclinação para essa indiferença, qualquer um pode sentir dentro de si: ouvirá diversos sermões a respeito dos sofrimentos de Nosso Senhor, os mais lógicos e atraentes; porém, sem uma assistência da graça, daria no mesmo se lhe narrassem a Guerra de Troia. Quer dizer, não o abalaria nem o moveria a nenhuma boa disposição.

Daí adquirirem especial valor aquelas palavras singelas do cântico “Stabat Mater”, frutos da piedade popular, acessível e amável: Santa Mãe, fonte de amor, fazei-me sentir a intensidade de vossa dor, fazei-me chorar convosco. Quer dizer, depois de Nosso Senhor ter feito tudo por mim, preciso pedir a Maria Santíssima que me alcance graças para eu ter pena d’Ele, pois a Cruz, sem o socorro da graça, pode me parecer apenas um pedaço de madeira, e todo um ciclo de conferências sobre a beleza e riqueza do sofrimento não nos tocará a alma.

Oferecer com alegria nossos sofrimentos e renúncias

Ao concluir esses comentários, gostaria de frisar como é excelente nutrirmos em nós, de maneira constante, o desejo de um verdadeiro amor à Cruz, no seguinte sentido: se Nosso Senhor Jesus Cristo, se a Virgem Santíssima, minha Mãe e minha Senhora, pedirem-me alguma coisa, devo dá-la com alegria, sobretudo em se tratando de algo que me exija sacrifício, renúncia, sofrimento, de maneira que minha dor seja uma gota dentro do oceano das dores que Ambos padeceram por nós na Paixão. É por essa forma que melhor me unirei a Eles.

Uma vez mais: não deixemos de implorar a graça de termos esse abrasado amor à Cruz, de nos tornarmos ardentes amigos dela, não querendo coisa mais elevada e mais cobiçada do que a Cruz de nosso Salvador.

 

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência em 8/7/1967)

"Illuminans umbratica"

“Illuminans umbratica” é uma bela invocação para antes de fazermos um exame de consciência, pois é Nossa Senhora quem ilumina as coisas que estão na sombra.

Nós, como temos sombras em nossas almas, devemos pedir a Maria Santíssima que nos ilumine, para vermos bem o que existe em nosso interior e nos fazer discernir as tramas do demônio contra nossa vida espiritual.

Plinio Corrêa de Oliveira, (Extraído de conferência de 18/8/1965)